O principal homenageado da Bienal do Livro Paraná 2010 foi o crítico literário Wilson Martins, falecido no início deste ano. Como fechamento, o último Evento Nobre da Bienal, intitulado Wilson Martins: mestre da crítica, foi debatido por dois amigos do crítico, os escritores Miguel Sanches Neto e Affonso Romano de Sant´anna.
Miguel Sanches Neto é escritor, crítico literário em diversos suplementos e atualmente leciona na Universidade de Ponta Grossa, no Paraná. Affonso Romano de Sant´anna também é escritor, professor e crítico. Ambos os escritores tiveram uma estreita relação de amizade com o crítico que vivia intensos sentimentos de amor e ódio com a sociedade literária do Brasil.
Wilson Martins foi autor de diversas obras, destacando-se a História da Inteligência Brasileira e a Crítica Literária no Brasil. Além disso, ganhou alguns dos principais prêmios literários nacionais, como o Jabuti e o Prêmio Machado de Assis. Ele morreu no começo deste ano, com 88 anos, em Curitiba. Para saber mais sobre a vida dele, leia este pequeno resumo feito pelo jornal Estadão, na matéria “Morre o crítico literário Wilson Martins”.
Afinal, Wilson Martins significava o quê para a cena literária brasileira? Affonso Romano conta que seu primeiro contato com o crítico se deu por conta de um texto que este escreveu sobre um de seus primeiros livros. Ele inicia o debate da Bienal do Livro Paraná 2010 fazendo uma breve analogia dizendo que hoje estamos vivendo um momento interessante na política brasileira em que os candidatos dão apenas opiniões amenas sobre assuntos polêmicos, havendo uma moderação de discurso. Para ele isso é comum, pois a expressão ¨ser político¨ é ser parcial, é não correr riscos e justamente era isso que Wilson Martins não fazia com os livros que chegavam em suas mãos. O escritor também afirma que o crítico não poupava opiniões, mesmo que muitas vezes em tom ácido e contraditório, em relação às opiniões da mídia, fazendo assim valer a existência da crítica no país.
Miguel Sanches Neto conta que já acompanhava o trabalho do crítico até ter a oportunidade de entrevista-lo pela Revista Joaquim. Ele relata que nesse momento surgiu uma grande amizade, aprendendo a reconhecer quando Wilson não gostava de alguma obra e a lidar com seu modo de criticar. Miguel acredita que o papel do crítico é criar a sua própria verdade e era justamente isso que Wilson Martins fazia, de forma bem humorada. Havia muita sinceridade no que escrevia, agindo sempre muito independentemente tanto da academia como da crítica, que alimentava os cânones da literatura. O escritor conta sobre muitos momentos em que pôde acompanhar de perto o trabalho de Wilson, inclusive os boicotes que foi sofrendo ao longo do tempo devido a sua imparcialidade, que não era aceita pelos suplementos em que escrevia.
Os escritores, na Bienal do Livro Paraná 2010, contam que realmente o crítico não aceitava sugestões sobre quem, ou o quê, deveria escrever. Ele recebia diariamente inúmeros volumes de novos autores e de obras desconhecidas as quais ele dava certa prioridade, dizendo que o prazer de um crítico estava em descobrir um grande autor e uma grande obra. Os convidados também ressaltam a falta que há hoje de um crítico, e até resenhista, que saiba olhar com olhos ávidos para o que se produz no contemporâneo, assim como as obras que circulam no além-mídia, pois se acaba por fazer apenas uma reportagem informativa e não uma produção de conhecimento crítico, necessário para a formação de leitores.
A importância do trabalho de Wilson Martins é caracterizada como fundamental. Miguel Sanches Neto afirma que as universidades devem dar mais atenção ao trabalho do autor, principalmente para se levar em conta que um bom crítico deve ter uma bagagem cultural de alto nível e ser capaz de ler os mais diversos genêros, pois nem tudo que a mídia apresenta deve ser consumido. Dentro dos comentários sobre a necessidade de se ler o crítico no meio acadêmico, Affonso Romano de Sant´anna cita situações como a da professora Flora Sussekind, que há pouco tempo atrás criticou a obra de Wilson Martins e seus seguidores, acusando que a crítica havia morrido há muito tempo, deixando clara a posição beletrista e canônica que os cursos de Letras mantém ainda hoje.
O assunto do debate foi fundamentado, principalmente, com a atual situação da crítica no país e de que forma a mídia trabalha para manter um espaço na ampliação da literatura em revistas, jornais, sites e etc. Há um descontentamento enorme por conta da parcialidade exagerada de quem escreve, ou ainda, com o ideário acadêmico de que a literatura só era verdadeira no passado, valorizando os chamados cânones. Essas atitudes se afirmam como uma grande ilusão pois a proliferação de feiras, bienais, jornadas literárias e etc comprovam que os contemporâneos também querem discutir o que é produzido hoje e a Bienal do Livro Paraná 2010 foi um terreno rico para isso.
O interrogAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quiser pode escutar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue computador e ouvir onde preferir.
Ouça a palestra completa: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o download)
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