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  • O Vagabundo (1916), de Charles Chaplin | Análise

    O Vagabundo (1916), de Charles Chaplin | Análise

    vagabundo-charles-chaplin-analise-capaO primeiro plano do filme mostra aque­las car­ac­terís­ti­cas por­tas do tipo “saloon”. Depois de alguns segun­dos, por detrás das por­tas, surgem dois pés em um pas­so alarga­do, semel­hante ao de um pin­guim. É Chap­lin. Sim­ples assim. No lugar de sua car­ac­terís­ti­ca ben­gala, o Car­l­i­tos ago­ra está com um vio­li­no na mão. O filme é “O Vagabun­do” (The Vagabond), de 1916, real­iza­do para a pro­du­to­ra Mutu­al Film Cor­po­ra­tion. O cineas­ta Charles Chap­lin está com liber­dade total e recur­sos quase ilim­i­ta­dos, ain­da que com a “obri­gação” de pro­duzir 12 comé­dias de suces­so por ano. Sendo o ter­ceiro filme de um con­tra­to sub­stan­cial, já que o salário do primeiro ano fora de 670 mil dólares mais os bônus, em “O Vagabun­do” é pos­sív­el perce­ber uma ambição melo­dramáti­ca latente.

    Surgi­do em 1914, Car­l­i­tos (no orig­i­nal: Lit­tle Tramp) tem sua fac­eta sen­ti­men­tal ger­mi­na­da neste cur­ta. No enre­do, um vio­lonista itin­er­ante, Chap­lin, encon­tra uma jovem, Edna Purvionce, a primeira e eter­na musa do cineas­ta, apri­sion­a­da por um grupo de ciganos. Os dois fogem jun­tos e começam a morar na estra­da. Um pin­tor encon­tra Edna no meio da flo­res­ta e se encan­ta. Ele a hom­e­nageia em um quadro chama­do “A Irlan­da em pes­soa”. Quan­do este é expos­to em uma gale­ria, a mãe ver­dadeira de Edna recon­hece o retra­to de sua fil­ha. O pin­tor con­duz a mul­her ao encon­tro de Edna, que decide par­tir jun­to com ela, mas levan­do tam­bém o Vagabun­do. E tudo isso em 24 minutos!

    Com lon­gos planos aber­tos em uma câmera estáti­ca, o filme apre­sen­ta uma decu­pagem car­ac­terís­ti­ca do iní­cio do cin­e­ma. Os preenchi­men­tos dos enquadra­men­tos já demon­stram um artista em proces­so de sofisti­cação, o que fica níti­do logo na primeira gag (efeito cômi­co, pia­da) do filme. Car­l­i­tos toca seu vio­li­no em frente a por­ta de um bar, e, enquan­to isso, uma trupe de músi­cos chega em frente à out­ra por­ta do bar. Quan­do Car­l­i­tos aca­ba sua per­fo­mance, vai recol­her o din­heiro com os fre­quen­ta­dores do esta­b­elec­i­men­to. Pouco tem­po depois, um músi­co da trupe tam­bém vai pedir din­heiro, mas é rechaça­do já que momen­tos antes Chap­lin tam­bém tin­ha pedi­do din­heiro. Óbvio que isso aca­ba em mui­ta con­fusão e cor­re­ria. Mas o que me intri­ga, é como Chap­lin já pen­sa­va em usar o som como ele­men­to con­sti­tu­ti­vo de uma gag. E não só o som, mas a imagem. Há um enquadra­men­to, por exem­p­lo, em que é pos­sív­el ver, em primeiro plano, a trupe de músi­cos tocan­do e, em segun­do plano, no fun­do do quadro, um Chap­lin, bem pequeni­no, com seu vio­li­no. É uma con­strução dis­tin­ta, levan­do em con­ta­to a for­ma como eram usa­dos os planos gerais nos filmes daque­la época.

    Edna Purvionce, a primeira e eterna musa de Charles Chaplin
    Edna Purvionce, a primeira e eter­na musa de Charles Chaplin

    Ver Edna Purvionce na tela é sem­pre um praz­er, ain­da mais que em quase toda sua car­reira no cin­e­ma ela esteve ao lado de Chap­lin. O ros­to redon­do e afi­la­do da atriz, sem­pre soube faz­er caras e bocas per­feitas para os filmes do cineas­ta, cuja atu­ação encon­tra­va na per­for­mance de Edna uma figu­ra quase que ami­ga. Na ver­dade, olhar os dois na tela era, em muitos momen­tos, teste­munhar uma amizade artís­ti­ca. Em “O Vagabun­do”, Edna se desta­ca e real­mente incor­po­ra a “cigana escrav­iza­da”. Deixan­do de lado a aparên­cia angel­i­cal, a atriz está suja, com roupas ras­gadas e os cabe­los com­ple­ta­mente desengonçados.

    E Chap­lin é Chap­lin. Com planos aber­tos em meio a natureza, o vagabun­do como músi­co itin­er­ante é bril­hante, afi­nal, toda a fome e ener­gia do per­son­agem explode em uma per­for­mance mar­cante. O vio­li­no e o cor­po de Chap­lin se tor­nam um só. Car­l­i­tos inclu­sive chega a pas­sar o arco do instru­men­to em seu nar­iz! Com o vio­li­no, em momen­tos de har­mo­nia seu cor­po se move suave­mente, e em momen­tos de ten­são ele é con­traí­do e joga­do por uma força que, obvi­a­mente, Chap­lin se deixa levar, chegan­do inclu­sive a cair em uma bacia de água! Nes­ta cena, Chap­lin e Edna estão em rit­mos para­le­los. Enquan­to o vagabun­do se empol­ga com seu instru­men­to, a atriz tam­bém se deixa levar pela músi­ca, e no mes­mo instante em que o cor­po de Chap­lin se move de for­ma sel­vagem, Edna lava a roupa fre­neti­ca­mente. Pura sintonia!

    Chap­lin se livra dos ciganos que pren­di­am Edna e foge com ela, mas antes cospe na cara do cigano mal­va­do, inter­pre­ta­do pelo gigante Eric Camp­bel, porém de uma maneira “dis­tin­ta”, como aque­las belas está­tuas que jor­ram água pelos lábios. Em uma leve câmera baixa, Chap­lin toma as rédeas da car­ru­agem dos ciganos, e em um pequeno trav­el­ling (movi­men­to de câmara em que esta real­mente se deslo­ca no espaço) para trás, apre­sen­ta um boni­to plano com os “vilões” cor­ren­do deses­per­ada­mente pela estra­da. Depois, não há bons ou maus per­son­agens, somente descober­tas. Um pin­tor sem inspi­ração encon­tra Edna. Uma mãe des­o­la­da encon­tra sua fil­ha per­di­da. E o vagabun­do quase perde o que havia encontrado.

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    Um dos grandes trun­fos de Chap­lin se dá na for­ma como ele uti­liza o cenário em sua vol­ta, em uma espé­cie de trans­fig­u­ração da real­i­dade. Há filmes do perío­do Mutu­al em que esta car­ac­terís­ti­ca é lev­a­da a extremos, ver “A Casa de Pen­hores” (1916), mas em “O Vagabun­do”, Chap­lin alia este poder de trans­for­mação a uma sen­si­bil­i­dade român­ti­ca, o que vai ser a pedra de toque de obras pos­te­ri­ores, como “O Garo­to” (1921) e “O Cir­co” (1928). Assim, são notavéis os sim­ples momen­tos de Chap­lin preparan­do “uma coz­in­ha ao céu aber­to” em uma mesa impro­visa­da, que­bran­do ovos com um marte­lo e lavan­do min­u­ciosa­mente o ros­to man­cha­do e mal­trata­do de Edna.

    No final, o pin­tor retor­na, em um car­ro, com a mãe de Edna e um grupo de pes­soas que estavam na exposição para o local onde Chap­lin mora­va. A sen­ho­ra, niti­da­mente rica, resolve dar um maço de din­heiro para Car­l­i­tos, que, sem titubear, recusa e ain­da afas­ta a ofer­ta com a pal­ma de sua mãe dire­i­ta – eis a elegân­cia de um vagabun­do. Neste momen­to, o sem­blante do Car­l­i­tos muda. Na ver­dade não é somente Car­l­i­tos ali, mas tam­bém o próprio Chap­lin. Na cena, há 4 atores em um plano amer­i­cano (quan­do a pes­soa é enquadra­da do joel­ho para cima), mas é níti­do como o cor­po do Vagabun­do enche o quadro.

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    O críti­co e dire­tor francês François Truf­faut, escreveu que a primeira fase da car­reira de Chap­lin se per­gun­ta “Será que exis­to?”. Acred­i­to que out­ra per­gun­ta que tam­bém norteia esta fase é “Porque que eu exis­to?”, e no final de “O Vagabun­do” há uma respos­ta. Car­l­i­tos existe para aqui­lo: Abraçar Edna, tocar no próprio ros­to sur­pre­so pela par­ti­da da par­ceira, diz­er “Adeus peque­na garo­ta” (Good­bye Lit­tle Girl), sor­rir lev­e­mente e lev­an­tar a mão esquer­da, sem ace­nar, para um car­ro que leva a sua amada.

    Entre 1914 e 1922, Charles Chap­lin pro­duz­iu 69 cur­tas. Deste perío­do, a min­ha fase favorita é a da Mutu­al. Nos 12 filmes feitos para pro­du­to­ra é pos­sív­el ver um cineas­ta fervil­han­do de ener­gia e ideias. No entan­to, nes­ta época o cineas­ta esta­va pre­ocu­pa­do em agradar o públi­co, o que fez com que muitos dos filmes da Mutu­al tivessem finais felizes, apres­sa­dos e mal con­struí­dos. Exem­p­lo dis­so é o des­fe­cho de “O Vagabun­do”. Acred­i­to que se o cur­ta ter­mi­nasse com Chap­lin de costas para a câmera, olhan­do o car­ro de Edna indo emb­o­ra, o efeito seria mais coer­ente com a pro­pos­ta do cur­ta: apre­sen­tar um vagabun­do que sem­pre está procu­ran­do um lugar onde pos­sa se encaixar. No final, Edna tem um insight e fica deses­per­a­da. O car­ro vol­ta e Chap­lin vai emb­o­ra jun­to com os out­ros per­son­agens. Foi algo muito rápi­do. Não que um final feliz seja um prob­le­ma, mas há um con­traste entre a epi­fa­nia de Edna e o com­por­ta­men­to que ela esta­va apre­sen­tan­do des­de que con­heceu o pin­tor. Porém, esta difer­ença não prej­u­di­ca a con­strução do per­son­agem de Chap­lin no cur­ta. “O Vagabun­do” é uma peque­na aven­tu­ra sen­ti­men­tal que ain­da pode emo­cionar, afi­nal, assim como a obra-pri­ma melo­dramáti­ca “O Garo­to”, este é “um filme com um sor­riso, e talvez uma lágrima…”.

    Assista ao filme com­ple­to abaixo:

  • Crítica: TED

    Crítica: TED

    Quan­do cri­ança, John (Mark Wahlberg) não tin­ha muitos ami­gos e se sen­tia um estran­ho em relação às out­ras cri­anças, até que no Natal de 1985 ele gan­ha no Natal o clás­si­co ursin­ho Ted­dy. Quan­tas cri­anças não tiver­am um dess­es nes­sa época? Mas com John foi difer­ente, numa noite ele faz um pedi­do para que seu novo ami­go fos­se um “ami­go de ver­dade” e Ted sim­ples­mente gan­ha vida. Com uma intro­dução nar­ra­da em tom de fábu­la, a comé­dia de humor negro Ted (Ted, EUA, 2012), dirigi­da por Seth Mac­Far­lane, con­ta a história desse meni­no e seu urso, que acabam crescen­do jun­tos. Mas aos 35 anos, John se vê em um dile­ma, enquan­to seu ursin­ho gos­ta de levar uma vida boêmia e desregra­da, cheia de dro­gas e álcool, sua namora­da Lori (Mila Kunis), dese­ja um rela­ciona­men­to mais adul­to e sério com ele, sem a má influên­cia do seu amigu­in­ho nada comum.

    Ted é uma típi­ca comé­dia amer­i­cana, só que fei­ta para agradar prin­ci­pal­mente a ger­ação dos anos 80, cujas piadas vão faz­er mais sen­ti­do, e os fãs de humor nada politi­ca­mente cor­re­to. O dire­tor Seth Mac­Far­lane é mais con­heci­do por ter cri­a­do as séries ani­madas Fam­i­ly Guy e Amer­i­can Dad, que sat­i­rizam a fun­do a cul­tura amer­i­cana. Neste seu primeiro lon­ga, Seth tam­bém faz a dubla­gen do ursin­ho Ted, inclu­sive fazen­do uma brin­cadeira no meio do filme sobre sua voz ser igual a do Peter Grif­fin, per­son­agem prin­ci­pal do Fam­i­ly Guy, que tam­bém é dubla­do por ele.

    É quase impos­sív­el não gar­gal­har com a chu­va de clichês lança­dos pelos diál­o­gos entre John e Ted, que man­tém vivos muitos dos seus gos­tos de cri­ança. O lon­ga é reple­to de refer­ên­cias sendo ati­radas por todos os lados, onde nada pas­sa impune pela boca nada-politi­ca­mente-cor­re­ta do pequeno Ted, que em cer­to momen­to brin­ca que quan­do famoso fora con­fun­di­do com o Alf — o E.Teimoso, além de citar Star Wars, Top Gun e claro, Flash Gor­don, o grande vício dos dois per­son­agens. Além dis­so, o filme segue o mes­mo esti­lo de Fam­i­ly Guy, onde os per­son­agens vai e vem inter­agem com cele­bri­dades do mun­do real, pare­ci­do com o que tam­bém acon­tece nos filmes do Sacha Baron Cohen (O Dita­dor, Bruno e Borat), seguin­do inclu­sive o mes­mo humor ácido.

    O lon­ga acabou viran­do meme nas redes soci­ais por con­ta do dep­uta­do Pro­tó­genes Queiroz ter se queix­a­do no twit­ter dizen­do que lev­ou seu fil­ho de 11 anos ao cin­e­ma e ter assis­ti­do a uma infâmia. Ape­sar de ter um urso fofo como um dos pro­tag­o­nistas, não há engano de que o filme não é para cri­anças, o trail­er e o car­taz veic­u­la­do do mes­mo deixa isso bem claro. Mas mes­mo assim, casos pare­ci­dos ain­da se repe­ti­ram várias vezes. Ver a clas­si­fi­cação indica­ti­va parece que anda meio em falta…

    Ted é imperdív­el para quem ado­ra se diver­tir com piadas de humor negro e está cansa­do de filmes bonit­in­hos e politi­ca­mente cor­re­tos. E o nív­el de diver­são aumen­ta ain­da mais se você tam­bém acom­pan­hou séries como Flash Gor­don e pas­sou uma infân­cia agi­ta­da nos anos 80.

    Con­fi­ra o trail­er de Ted abaixo:
    httpv://www.youtube.com/watch?v=ayiOcR4nEnI

  • Crítica: Vovó…Zona 3

    Crítica: Vovó…Zona 3

    A comé­dia talvez seja o gênero no cin­e­ma mais injustiça­do e dífi­cil de se exe­cu­tar ao lon­go dess­es mais de 100 anos de história da séti­ma arte. Des­de Chap­lin e seu humor críti­co até as atu­ais comé­dias mescladas com o roman­tismo bobo, o esti­lo vem sem­pre ten­tan­do se ren­o­var e refor­mu­lar as vel­has piadas. Vovó…Zona 3 (Big Mom­mas: Like Father, Like Son, USA, 2010), dirigi­do por John White­sell vem — tomara! — para com­ple­tar a trilo­gia ini­ci­a­da pelo come­di­ante amer­i­cano Mar­tin Lawrence, do dis­farce da grande Vovó negra infil­tra­da nas mais diver­sas situações.

    Faz alguns anos que o agente da FBI Mal­colm (Mar­tin Lawrence) não pre­cisa mais se camu­flar como Vovó­zona. Ago­ra ele se pre­ocu­pa mais em con­vencer seu entea­do Trent (Bran­don T. Jack­son) ir para a uni­ver­si­dade ao invés de ser um rap­per famoso como o garo­to quer. Numa das ten­ta­ti­vas de Trent con­vencer o padras­to ele o segue até uma mis­são perigosa e aca­ba se envol­ven­do com os ban­di­dos persegui­dos pela FBI. É a hora de sal­var as suas vidas e isso requer a vol­ta da Vovó­zona e uma sobrin­ha estran­ha, a Char­maine, elas têm que encon­trar um pen­drive escon­di­do numa esco­la de artes para garotas. 

    Mar­tin Lawrence tem um esti­lo muito pare­ci­do com o de Eddie Mur­phy nos anos 80 e 90, incluin­do muitos tre­jeitos e mod­os de falar, mas aca­ba fican­do des­percer­bido como Mal­colm e como Vovó­zona. Em Vovó…Zona 3, ele apos­ta numa sen­ho­ra bem menos car­i­ca­ta, sem tan­tos diál­o­gos áci­dos como os ante­ri­ores. Bran­don Jack­son é um ator bem razoáv­el, que em muitos momen­tos aca­ba forçan­do a inter­pre­tação, ele se sai mel­hor como a gordinha trav­es­ti­da Char­mainne do que com seu per­son­agme Trent, que não con­vence em nen­hum momento. 

    O roteiro de Vovó…Zona 3 é bas­tante fra­co, sendo o mais ruim dos três lon­gas da série rec­hea­do de clichês. O que o dire­tor ten­tou dessa vez foi traz­er a fór­mu­la com foco nos ado­les­centes, no esti­lo do atu­al High School Musi­cal e afins, com garo­tas boni­tas e prob­le­mas de pop­u­lar­i­dade entre alunos. Nada foge do sen­so comum, inclu­sive as piadas que não se dão tra­bal­ho de faz­er rir. As cenas com mais ação envol­ven­do o agente e os ban­di­dos soam tão fra­cas que causam sono, ou seja, sem graça e sem ação.

    Neste gênero, ou na maio­r­ia deles, as sequên­cias podem estra­gar uma boa idéia. Por­tan­to, torço que Vovó…Zona 3 seja o últi­mo da série e que a grande Vovó do primeiro lon­ga de 2000 fique lá onde dev­e­ria estar, uma comé­dia diver­ti­da e sem sequências. 

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=1YmU8aMgpdM

  • Crítica: Amor por Contrato

    Crítica: Amor por Contrato

    A mídia ofer­ta prati­ca­mente tudo e os pro­du­tos surgem o tem­po todo, as vezes de for­ma pas­si­va e em out­ros momen­tos de modo agres­si­vo e obri­gatório, há um imper­a­ti­vo nos out­doors e cam­pan­has de TV. Amor por Con­tra­to (The Jone­ses, USA, 2009), do dire­tor Der­rick Borte, foca esse assun­to em um meio pas­si­vo e inclu­sive em uma situ­ação pecu­liar, numa família.

    Os Jones aparentam ser uma família comum ao son­ho amer­i­cano, mudam-se para um sub­úr­bio nobre, são inve­ja­dos pelos viz­in­hos que os vêem como a feli­ci­dade per­fei­ta, rica e feliz. Tudo isso seria real se os Jones não fos­sem parte de uma cam­pan­ha pub­lic­itária, no esti­lo con­heci­do como self-mar­ket­ing, que foca em cam­pan­has mais indi­re­tas que por out­ro lado obtém um resul­ta­do muito supe­ri­or ao esti­lo comum de mar­ket­ing, val­orizan­do exata­mente o que o usuário espera e sente em relação ao produto.

    Kate Jones (Demi Moore) é a cabeça pen­sante do pequeno grupo e a mel­hor vende­do­ra, segui­da pelos jovens que rep­re­sen­tam seus fil­hos e em últi­mo lugar está o estre­ante Steve Jones (David Duchovny), pai dessa supos­ta família, um expe­ri­ente nego­ci­ador de car­ros, mas pés­si­mo nesse ramo de self-mar­ket­ing. Os qua­tro tem alguns meses para faz­er crescer a ven­da de pro­du­tos em seg­men­tos especí­fi­cos, que vão des­de car­ros até jóias e pequenos cos­méti­cos. Tudo pode­ria dar cer­to nesse meio tem­po se os Jones não fos­sem pes­soas comuns con­viven­do em situ­ações comuns, sendo lev­a­dos a ques­tionar até que pon­to vale­ria a pena sem­pre desem­pen­har um papel que gera uma reação em cadeia nas pes­soas em sua volta.

    O mar­ket­ing pesa­do e indi­vid­ual é o foco de Amor por Con­tra­to, o que lev­an­ta, em muitos momen­tos, sen­ti­men­tos assus­ta­dores sobre quem são real­mente as pes­soas que con­vive­mos, fazen­do ques­tionar se não somos parte de uma grande cam­pan­ha pub­lic­itária de for­ma pas­si­va, todos os dias. Claro que a comé­dia fun­ciona muito bem durante o filme, uma fór­mu­la que já fun­cio­nou, mes­mo que de for­ma difer­ente, no óti­mo Show de Tru­man (1998) de Peter Weir. Muitas situ­ações diárias, em que sabe­mos que deter­mi­na­da situ­ação surge exata­mente para causar impacto e dese­jo, são tão sutis no nos­so dia a dia que é impos­sív­el não cair na risa­da com taman­ha orig­i­nal­i­dade no filme. A tril­ha sono­ra e o desen­ro­lar dos acon­tec­i­men­tos são pon­tos chaves, tam­bém. Não optan­do por músi­cas pop­u­lares, como cos­tumeira­mente Hol­ly­wood faz, a tril­ha sabe bal­ancear de for­ma orig­i­nal cada cena, crian­do cli­mas que fun­cionam muito bem no decor­rer do filme

    Amor por Con­tra­to tin­ha tudo para ser mais um filme no grande vol­ume de lança­men­tos de fim de ano nos cin­e­mas. Mas a sur­pre­sa é boa, prin­ci­pal­mente por tratar de um assun­to pecu­liar para a época de lança­men­to, 24 de dezem­bro no Brasil, ques­tio­nan­do a família e as relações de con­sum­is­mo surgi­das com a neces­si­dade de se ter tudo que se vê nas mídias e nas pes­soas com quem se con­vive. Além de ser uma comé­dia inteligente, ele cumpre um papel inter­es­sante ao mostrar que as pes­soas são facil­mente manip­u­ladas, prin­ci­pal­mente se forem estim­u­ladas a faz­er parte de um padrão social.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=ZRnxoNQZA5Q

  • Crítica: O Bem Amado

    Crítica: O Bem Amado

    o bem amado

    Basea­do na telen­ov­ela de suces­so da déca­da de 70, O Bem Ama­do (Brasil, 2010), dirigi­do por Guel Arraes, é uma das adap­tações nacionais mais aguardadas do ano para as telas do cinema.

    Na fic­tí­cia Sucu­pi­ra, o recém-eleito prefeito Odori­co Paraguaçu (Mar­co Nani­ni) tem como prin­ci­pal meta políti­ca con­stru­ir um cemitério para a cidade, mas não pode inau­gurá-lo até con­seguir um fale­ci­do. O tem­po vai pas­san­do e as coisas vão começan­do a com­plicar para ele, prin­ci­pal­mente dev­i­do a forte oposição que vai crescen­do. Afim de sal­var seu manda­to, está dis­pos­to a faz­er tudo que for preciso.

    O Bem Ama­do está sendo bas­tante comen­ta­do por ter sido lança­do jus­ta­mente em um ano de eleições. Afi­nal, nada mel­hor do que uma comé­dia, por ser bas­tante acessív­el e leve, para estim­u­lar o olhar críti­co em relação aos políti­cos. Infe­liz­mente o filme não traz nada de novo à reflexão sobre o assun­to, tudo que ele abor­da já foi vis­to e revis­to mil­hões de vezes, servi­do ago­ra mais ape­nas como algo para se dar risada.

    Algu­mas tomadas do lon­ga são bem engraçadas, como as diva­gações de Odori­co a respeito da inau­gu­ração do “faraôni­co” cemitério, mas as piadas em ger­al são as já bati­das em tan­tos pro­gra­mas de humor tele­vi­sivos. Além dis­so O Bem Ama­do investe pesada­mente em repetições e prin­ci­pal­mente nas inter­pre­tações escan­dalosas, cheias de gri­tos, que nas primeiras vezes até gera algu­mas risadas, mas depois fica muito cansati­vo. Ape­sar dis­so, as analo­gias rela­cio­nan­do Sucu­pi­ra e o Brasil, usan­do vídeos e ima­gens históri­c­as, esti­lo mock­u­men­tary (fal­so doc­u­men­tário), con­seguem dar um rit­mo mais acel­er­a­do, tor­nan­do a exper­iên­cia menos tediosa.

    Não cheguei a acom­pan­har a telen­ov­ela, então infe­liz­mente não pude faz­er nen­hu­ma com­para­ção em relação ao lon­ga. Se você chegou a ver os dois, gostaria de saber: o que você achou da adap­tação? Foi rel­a­ti­va­mente fiel?

    Como entreten­i­men­to puro, ape­nas para dar risadas sem a mín­i­ma reflexão, O Bem Ama­do é o filme cer­to. Já para aque­les que não aguen­tam mais per­son­agens total­mente este­ri­oti­pa­dos, diál­o­gos bati­dos e situ­ações esti­lo “Zor­ra Total”, sugiro procu­rar out­ra coisa para assistir.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=ChmKFr1TQT8

  • A Noite Do Vampiro

    A Noite Do Vampiro

    Os vam­piros não são mais seres medonhos e ladrões de sangue como Bram Stok­er descreveu em seu clás­si­co Drácu­la, de 1987. Hoje, eles tomaram con­ta do imag­inário pop­u­lar e são febre entre nove de dez ado­les­centes, pas­saram do mito de medo para fig­uras pop con­tem­porâneas. Em A Noite do Vam­piro (2006), do ani­mador Alê Camar­go, o vam­piro tam­bém é uma figu­ra comum, urbana e aci­ma de tudo, divertida.

    A Noite do Vam­piro é uma ver­são paulista de um Nos­fer­atu atra­pal­ha­do. Assim que resolve deitar em seu leito, o vam­piro se vê acoa­do por um predador muito pior que ele mes­mo. A ani­mação é rec­hea­da de detal­h­es cômi­cos que mes­mo as vezes beiran­do a pieguice arran­ca algu­mas boas risadas.

    O ani­mador Alê Camar­go tra­bal­ha com 3D des­de 1996 e con­ce­beu A Noite Do Vam­piro jun­ta­mente com a Buba Filmes, sua pro­du­to­ra. Gan­hou vários prêmios com o cur­ta que, com uma atmos­fera noir e uso de piadas pastelão, fez jus ao públi­co do Ani­ma Mun­di de 2007.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=kMX163I2bxI

  • Promoção “Gente Grande” ENCERRADA: ganhe convites para o filme

    Promoção “Gente Grande” ENCERRADA: ganhe convites para o filme

    gente grande

    O sorteio já foi real­iza­do e os vence­dores serão comu­ni­ca­dos por email.

    Para mar­car o lança­men­to de Gente Grande, que estreia dia 24 de setem­bro, o inter­ro­gAção, jun­ta­mente com a Espaço Z, estarão sorte­an­do 5 pares de con­vite do filme. Pro­moção vál­i­da para todo Brasil.

    A pro­moção vai até dia 6 de Out­ubro e os vence­dores serão noti­fi­ca­dos por email no dia seguinte.

    Sinopse: ‘Gente Grande’ é uma comé­dia sobre cin­co ami­gos, que fazi­am da parte do mes­mo time de bas­quete, que se re-encon­tram após vários anos para o funer­al do seu treinador. Com as esposas e os fil­hos na cidade, eles pas­sam jun­tos o fim de sem­ana de 4 de jul­ho, na casa do lago onde,alguns anos antes, comem­o­raram o campe­ona­to. E, ao remem­o­rar os tem­pos anti­gos, eles desco­brem que envel­he­cer não sig­nifi­ca nec­es­sari­a­mente amadurecer.

    O sorteio já foi real­iza­do e os vence­dores serão comu­ni­ca­dos por email.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=HKVve_VSz58

  • O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin

    O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin

    o grande ditador

    Em 1940 a Segun­da Guer­ra Mundi­al esta­va há 5 anos de ofi­cial­mente ter­mi­nar. Nesse ano o cineas­ta Char­lie Chap­lin lança­va O Grande Dita­dor (The Great Dic­ta­tor, USA, 1940), com um dos roteiros mais ousa­do, engraça­do e com forte críti­ca social sobre esse momen­to que real­mente mar­cou a história do cinema.

    Logo nos crédi­tos ini­ci­ais de O Grande Dita­dor somos avisa­dos que a semel­hança entre os per­son­agens do filme com a real­i­dade é uma mera coi­cidên­cia, o que sabe­mos não ser ver­dade. Chap­lin apre­sen­ta dois per­son­agens fisi­ca­mente idên­ti­cos, mas em situ­ações opostas. Ade­noid Hynkel é o grande dita­dor da Tomâ­nia, uma nação que afun­da­da numa crise pas­sa a crer em coisas como grandes líderes e raças supe­ri­ores. Já o out­ro, o inti­t­u­la­do bar­beiro de judeus (Car­l­i­tos), é o típi­co desajeita­do que perdeu a memória na guer­ra e não entende o que está acon­te­cen­do em Tomâ­nia e mais pre­cisa­mente no gue­to em que vive.

    O enre­do de O Grande Dita­dor é incrív­el, trazen­do o para­lelis­mo da vida dos dois per­son­agens, ambos inter­pre­ta­dos por Chap­lin, que fun­cionam como car­i­catos cômi­cos das fig­uras cen­trais da época. Hynkel e o Bar­beiro nun­ca se encon­tram, mas suas vidas estão interli­gadas, pois a vida de um sem­pre aca­ba estando em jogo com as decisões do outro.

    Nas primeiras cenas vemos o per­son­agem de Car­l­i­tos em meio a guer­ra, sem­pre per­di­do com cenas cômi­cas do front. Chap­lin deixa claro a banal­iza­ção com a seriedade da guer­ra e o mal uso das supos­tos poderes béli­cos. Logo isso fica ain­da mais níti­do com as cenas de dis­cussão, sobre acor­dos de “paz”, entre Hynkel e o nar­ci­sista Ben­zi­no Napaloni, dita­dor de Bac­téria, uma clara refer­ên­cia entre a relação de Hitler com Ben­i­to Mus­soli­ni da Itália.

    O Grande Dita­dor é cheio de cenas que reme­tem às situ­ações de ten­são que a Segun­da Guer­ra Mundi­al causa­va e, Chap­lin fez dis­so uma pelícu­la em que tudo parece mais cômi­co se vis­to desse ângu­lo inocente que a comé­dia traz. Para reforçar os gestos car­i­catos dos dois per­son­agens prin­ci­pais o dire­tor abusa das cenas lon­gas, e um pouco exager­adas, como os dis­cur­sos fer­vorosos de Hynkel numa lín­gua incom­preesív­el. O filme foi o primeiro do dire­tor usan­do o som das vozes. Chap­lin acred­i­ta­va que o som iria mudar o expres­sion­i­mo do cin­e­ma, o tor­nan­do mais banal.

    Na fil­mo­grafia do dire­tor havia o clás­si­co Tem­pos Mod­er­nos, de 1936, que já o mostra­va como pai das sáti­ras soci­ais. Dizen­do que a vida era uma comé­dia se vista de per­to, fez de seus filmes obras de arte, sem nen­hum tipo de gra­tu­idade, e muito rep­re­sen­tan­ti­vas sobre os fatos que estavam mudan­do o cur­so da humanidade. E mes­mo com toda essa “lev­eza” Chap­lin foi exi­la­do dos EUA, por con­ta desse filme.

    O Grande Dita­dor é um clás­si­co pela cria­tivi­dade e ousa­dia do dire­tor. Em um perío­do em que as artes pisavam em ovos e o cin­e­ma era lim­i­ta­do pelo cin­e­ma-pro­pa­gan­da-total­itário, ele produziu/dirigiu/atuou em um filme que até hoje parece ousa­do demais, porém com a sub­je­tivi­dade sufi­cien­te­mente sen­sív­el para a época.

    Enquan­to, nes­ta época, muitos filmes, livros e obras amer­i­canos prefe­ri­am vis­ar ape­nas o entreten­i­men­to, O Grande Dita­dor é mar­ca­do pela críti­ca social e fal­ta de sen­ti­do do futuro. A arte da época foi mar­ca­da pelas car­i­cat­uras do que pode­ria vir a ser o futuro, como fica claro em out­ras obras do dire­tor e em obras literárias visionárias que retratam o total­i­taris­mo como 1984, de George Orwell.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=3OmQDzIi3v0

  • Crítica: Encontro Explosivo

    Crítica: Encontro Explosivo

    encontro explosivo

    Filmes com muitas explosões, car­ros, motos, armas e tiros para todo o lado, sem fal­tar uma boa dose de romance, estão cada vez mais comuns. Encon­tro Explo­si­vo (Knight and Day, EUA , 2010), de James Man­gold, é mais um deles que, ten­tan­do agradar um públi­co maior, se jun­ta a esta macar­rona­da de gêneros, com a super fór­mu­la: ação + comé­dia + romance — sangue + cen­sura = super público.

    June Havens (Cameron Diaz) é uma amer­i­cana sim­ples, boni­ta, de cer­to modo ingênua e medrosa, que tra­bal­ha em uma ofic­i­na restau­ran­do car­ros anti­gos. Roy Miller (Tom Cruise) é um agente secre­to (o mel­hor deles é claro), muito seguro e do tipo bonitão que encan­ta as mul­heres. Ess­es dois per­son­agens, total­mente opos­tos um do out­ro, ao lit­eral­mente se tombarem no aero­por­to, se apaixon­am e acabam se envol­ven­do em uma aven­tu­ra que vai mudar total­mente a vida de ambos. Lin­do não? Os opos­tos se atrain­do, um cara cav­al­heiro e inteligente, sal­van­do a lin­da donzela de sua vida paca­ta e sem aventuras.

    Mis­tu­ran­do sem­pre tomadas de ação com romance e comé­dia, Encon­tro Explo­si­vo não desagra­da nesse aspec­to, mas erra por pos­suir um rit­mo fra­co, difi­cul­tan­do uma imer­são maior nos acon­tec­i­men­tos do filme. E como comé­dia ele tam­bém deixa a dese­jar, não saben­do uti­lizar muito bem cer­tos ele­men­tos da cul­tura ger­al, como foi feito em Esquadrão Classe A de Joe Car­na­han, con­segue ape­nas algu­mas risadas per­di­das ao lon­go dos acon­tec­i­men­tos. Um pon­to de destaque é a tril­ha sono­ra do filme, que ficou muito legal, prin­ci­pal­mente com algu­mas músi­cas da ban­da Gotan Project, que mis­tu­ra tan­go com alguns ele­men­tos mais modernos.

    Prin­ci­palmene depois de Mis­são Impos­sív­el (os três), e mais algum out­ro filme do gênero, Tom Cruise parece que está chegan­do ao modo Deus, onde ele con­segue faz­er o impos­sív­el até com uma bala de men­ta e um clips de papel (Mac­gyver que se cuide) e é prati­ca­mente imor­tal e infalív­el. Encon­tro Explo­si­vo pode­ria ter se saí­do muito bem se tra­bal­has­se ess­es ele­men­tos de herói agente secre­to super ultra bonzão de maneira sat­i­riza­da ou diver­ti­da, como por exem­p­lo o exce­lente Dupla Implacáv­el de Pierre Morel, mas fal­ha jus­ta­mente por levar a sério demais todos ess­es ele­men­tos. James Bond, Jason Bourne e até mes­mo Ethan Hunt, pare­cem meras baratas com­para­das com Roy Miller.

    Encon­tro Explo­si­vo repete todas as fór­mu­las que já foram muito usadas e, por tam­bém ter bas­tante roman­tismo e a vel­ha história do príncipe encan­ta­do e da prince­sa, pode até agradar mui­ta gente jus­ta­mente por essa repetição. O públi­co alvo prin­ci­pal é o fem­i­ni­no, mas acred­i­to que se subes­ti­mou este públi­co, com uma visão as vezes até meio machista. Vocês, mul­heres, tam­bém acharam isso?

    Out­ra críti­cas interessantes:

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=sPOy5KWVPgY

  • Crítica: Uma Noite Fora de Série

    Crítica: Uma Noite Fora de Série

    Uma Noite Fora de Série

    Seguin­do a onda dos filmes lança­dos na época do dia dos namora­dos amer­i­cano, Uma Noite Fora de Série (Date Night, EUA, 2010), de Shawn Levy, tem tam­bém como públi­co-alvo os casais, só que des­ta vez aque­les já casa­dos e com filhos.

    Phil (Steve Carell) e Claire Fos­ter (Tina Fey) são um casal comum de classe média (para os “padrões” amer­i­cano é claro) e tem dois fil­hos, um meni­no e uma meni­na. Uma vez por sem­ana eles saem para um pro­gra­ma a dois (Date Night), sem­pre no mes­mo restau­rante e comen­do a mes­ma comi­da. Lá con­ver­sam sobre seus tra­bal­hos, fil­hos e ficam obser­van­do out­ros casais e ten­tan­do adi­v­in­har qual é a história dos dois.

    Até aí temos as clás­si­cas tomadas do casal chegan­do em casa, cansa­dos do tra­bal­ho, ten­do um pseu­do-momen­to de con­ver­sas ínti­mas e uma frustra­da ten­ta­ti­va de sexo na cama, que dev­e­ria ser uma situ­ação engraça­da se não fos­se tão “comum”. Seus fil­hos são retrata­dos como “pequenos dia­bin­hos” bagun­ceiros que, na ver­dade, são ape­nas um estor­vo para os pais. Ben­di­to o dia no qual uma babá fica respon­sáv­el por cuidar deles. É sur­preen­dente notar que em todo filme, não é pos­sív­el perce­ber nen­hum sinal de afe­to para com os fil­hos e tam­bém entre o casal. Aliás, não há qual­quer sinal de quími­ca entre os dois e tudo é força­do demais, pare­cen­do uma cópia muito mal fei­ta do Sr. e Sra. Smith, de Doug Liman.

    Após Phil e Claire saberem que dois de seus mel­hores ami­gos, tam­bém um casal que se encaixa na mes­ma descrição, vão se sep­a­rar dev­i­do ao des­gaste da relação, os dois deci­dem ten­tar mudar esta situ­ação e vão jan­tar em um restau­rante difer­ente do usu­al. Mas como ele é um dos mais badal­a­dos da cidade, é necessário faz­er reser­vas ante­ci­padas para obter uma mesa e, como eles não havi­am feito isso, deci­dem se pas­sar por um casal que não apare­ceu. Quase no fim da jan­ta são abor­da­dos por dois caras, que solici­tam para saírem do restau­rante e pedem para eles entre­garem o pen­drive que roubaram. Assim a famosa tro­ca de iden­ti­dade foi ini­ci­a­da. Daqui adi­ante mui­ta con­fusão, situ­ações hilari­antes e diver­são para dar e vender. Mas não é nada dis­so que acontece.

    Dá até para imag­i­nar uma con­ver­sa entre os pro­du­tores: “O que é que pode ser engraça­do tam­bém?” um pro­du­tor per­gun­ta. “Ei, teve uma vez que ouvi a história de um cara que foi sair de uma vaga e bateu no car­ro da frente e eles ficaram gru­da­dos!” fala alguém, out­ro adi­ciona “tam­bém poderíamos colo­car um cara tipo o Eddie Mur­phy no out­ro car­ro gri­tan­do e fazen­do caras e bocas! E… ele pode­ria ser na ver­dade o motorista de um táxi!”. E no final out­ra pes­soa acres­cen­tou “se colo­car­mos umas cenas de perseguição com ess­es dois car­ros gru­da­dos estare­mos ino­van­do no gênero de perseguição de car­ros!”. É claro que isto não pode­ria estar com­ple­to se não fos­se a adição de vários ester­ióti­pos racis­tas e sex­u­ais no enre­do do Uma Noite Fora de Série.

    A impressão que fica é que várias fór­mu­las que “der­am cer­to” em seri­ados de tele­visão, foram lit­eral­mente copi­adas, se jun­tou dois atores “come­di­antes” de suces­so e mais alguns out­ros que tiver­am algum destaque, e o filme esta­va prati­ca­mente pron­to. Além de não pos­suir nen­hum méri­to cin­e­matográ­fi­co ou artís­ti­co, Uma Noite Fora de Série é extrema­mente pre­con­ceitu­oso e, na fal­ta de uma palavra mel­hor, idiota.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=IDfyhXzkLuw