Apesar de carregar o rótulo de comédia romântica e seguir um determinado roteiro padrão do gênero, O Lado Bom Da Vida (Silver Linings Playbook, USA, 2012), de David O. Russel, baseado no livro homônimo de Matthew Quick é um longa que foge dos clichês narrativos, flertando com algumas facetas sobre limites dos relacionamentos e tratando de forma leve e sensível as formas diferentes que as pessoas lidam com os fins e suas próprias instabilidades mentais e sentimentais.
Pat Solatano Jr. é um homem que ficou cerca de oito meses internado em um hospital psiquiátrico diagnosticado com bipolaridade. Ele já demonstrava alguns sintomas do transtorno antes de ter uma crise de violência após encontrar sua esposa com o amante no chuveiro da sua casa. Durante esses meses, Pat assiste à tratamentos de positividade e auto-estima, além dos medicamentos que não gosta de tomar. Recém-saído da internação ele quer somente reconquistar a esposa e ter uma vida comum.
Mas não é simples se livrar dos fantasmas que tanto lhe causaram dor. Agora morando com os pais, ele necessita se tornar obsessivo com outras coisas para se acalmar. Corre muito para gastar energia, lê inúmeros livros um atrás do outro e passa o tempo todo lembrando das dicas ouvidas dos especialistas do hospital. Pat quer manter a todo custo sua sanidade e em um jantar na casa de um velho amigo, conhece Tiffany. Ela é ao mesmo tempo idêntica e o oposto de Pat. Perdeu o marido repentinamente e também passou por alguns surtos, mas tem uma personalidade mais determinada do que Pat. Ela aceita suas loucuras, algumas obsessões, procura suas próprias resoluções e tenta entender que ninguém mantém um nível de sanidade o tempo todo.
A relação de Pat e Tiffany é o que faz o enredo de O Lado Bom da Vida ser um tanto atraente e divertido. Os encontros dos dois são instáveis e ao mesmo tempo redentores. Pat precisa de um subterfúgio e um laço com a ex-mulher. Tiffany precisa de um parceiro para uma competição de dança. E nesses momentos aparentemente tolos, mas bem próximos da vida real, que Pat e Tiffany vão construir uma relação divertida, com altos e baixos e muitas peculiaridades.
“Preste atenção nos sinais” é o que diz várias vezes Tiffany para Pat Solatano. Ao invés de reagir sobre qualquer situação ele deveria apenas observar tentando compreender. É engraçado ver vários elementos de auto-ajuda embutidos no roteiro de O Lado bom da Vida – incluindo o título nas duas línguas, já que em inglês é uma expressão para “algo bom encontrado numa situação ruim” – mas que dentro do enredo são apenas cenas pertinentes e divertidas para quem sofre de bipolaridade, um diagnóstico nada incomum atualmente. A pessoa que sofre do transtorno de bipolaridade pode ir de um extremo ao outro em questão de pouco tempo. No longa é mostrado a importância da pessoa sempre manter em mente que tudo é passageiro, inclusive a tristeza e as lembranças.
Mas esse uso exagerado da positividade também pode incomodar o espectador, principalmente pela repetição no roteiro da crença de que acreditando tudo pode acontecer. Não que isso seja ruim, mas o filme chega pregar um tanto de exagero no lema de “tudo fica bem no final se você quiser assim”. Mas como dito anteriormente, as cenas de auto-ajuda soam extremamente sarcásticas e cínicas colocadas no contexto dos personagens.
São cenas como Pat tentando ler toda a lista de livros que sua mulher ensina em literatura em pouco tempo e no meio da noite ficando irritado com o pessimismo de Ernest Hemingway, acordando todos na vizinhança ou quando se encontra com Tiffany em uma lanchonete onde ambos causam uma cena caótica tentando provar um para o outro que não são malucos, que fazem o espectador dar algumas risadas sobre a inconstância de ser humano.
Tanto Bradley Cooper (Se beber não case e etc), acostumado a ser visto em papéis de galã e Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes e o ótimo Inverno da Alma), a mais nova queridinha do cinema americano, estão bem diferentes dos seus costumeiros papéis no cinema. Ele está em um papel simples e engraçado e ela se sai muito bem como uma instável jovem viúva. O elenco ainda conta com um Robert De Niro, que já teve seus tempos áureos, mas que sai bem como o pai de Pat, deixando claro que muito das loucuras dos filhos são herdadas dos pais.
O Lado Bom da Vida é um filme agradável que merece destaque por fugir dos costumeiros casais perfeitos de comédias românticas. Apesar do longa conseguir segurar o público pela inconstância divertida de seus personagens, que buscam sua sanidade em pequenas coisas em um mundo tão inconstante, é bastante exagero ele concorrer a sete Oscares em 2013.
Trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=FM3S4GBlwYA