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  • Crítica: [REC]³ Gênesis

    Crítica: [REC]³ Gênesis

    Em 2007, o primeiro [REC] (Espan­ha, 2007) meio que abalou qual­quer um lig­a­do ao cin­e­ma de hor­ror. Durante cer­to perío­do, foi assun­to de qual­quer con­ver­sa que desvi­asse para o tema, e com muito méri­to. Não era ino­vador, não era rev­olu­cionário, mas era uma abor­dagem difer­ente de temas bati­dos (found footage, zumbis etc.). A acla­ma­da recepção ger­ou o óbvio remake amer­i­cano, Quar­ente­na (Quar­an­tine, EUA, 2008), que é desnecessário, porém muito bem exe­cu­ta­do, e a ain­da mais óbvia sequên­cia, [REC] Pos­suí­dos ([REC]², Espan­ha, 2009), que divid­iu opiniões, até tem seus defen­sores, mas, para mim, é um fra­cas­so retumbante. 

    Com­preen­sív­el que os parâmet­ros definidos por [REC] eram muito altos, o que difi­cul­taria a vida de qual­quer con­tin­u­ação, mas a coisa é MUITO ruim. Várias séries, espe­cial­mente den­tro do hor­ror, viver­am fenô­meno semel­hante nos anos 70/80, com um bai­ta primeiro filme e sequên­cias ruins/irregulares, mas que ain­da guar­davam cer­to charme – muitas vezes pela total inap­tidão envolvi­da, mas OK

    E aí cheg­amos a [REC]³ Gêne­sis (Espan­ha, 2012)… Enquan­to os dois primeiros foram ambos dirigi­dos pela dupla Paco Plaze e Jaume Bal­a­gueró, o ter­ceiro fica inteira­mente a car­go do primeiro (Bal­a­gueró diri­girá soz­in­ho o já temi­do quar­to – e, queiram os deuses, últi­mo – episó­dio da série). E sim, con­fir­man­do o que eu já temia, a coisa con­segue ficar pior. 

    Só para deixar explíc­i­to, o tex­to a seguir con­tém spoil­ers. O que não faz mui­ta difer­ença num filme que pri­ma pela obviedade durante todos os seus menos de 80 min­u­tos (só uns 70 efe­ti­va­mente de filme e mais uns 8 de inter­mináveis créditos…).

    A história de [REC]³ Gêne­sis se pas­sa durante o casa­men­to do casal de pro­tag­o­nistas menos caris­máti­co que eu vi em muito tem­po, Clara (Leti­cia Dol­era, que, pelo menos, é boni­ta) e Kol­do (Diego Mar­tin). Logo no iní­cio do filme somos apre­sen­ta­dos ao tio que está com a mão enfaix­a­da porque foi mor­di­do por um cão no vet­er­inário que pare­cia estar mor­to. E a lig­ação deste [REC]³ Gêne­sis com os out­ros dois filmes da série ter­mi­na aí. 

    Por mais alguns min­u­tos, somos apre­sen­ta­dos a uma série de per­son­agens desin­ter­es­santes, até que, durante a fes­ta, o tal do tio resolve desen­volver os sin­tomas da con­heci­da infecção e começar a atacar. E aí surgem tam­bém uns out­ros zumbis ( zumbis, infec­ta­dos, dá igual) do nada, sabe-se lá como, aparente­mente vesti­dos como se fizessem parte da fes­ta, mas já infectados. 

    Se as coisas seguis­sem por esse cam­in­ho dos primeiros 20 min­u­tos, seria mais uma sequên­cia ruim, ape­nas. Mas não, as novi­dades pul­u­lam a par­tir daí. A história pas­sa a girar em torno casal, que parece ter um tipo de lig­ação cós­mi­ca tão forte que faz com que um sin­ta o out­ro quase que telepati­ca­mente. E, óbvio, durante a con­fusão ini­cial, eles se separam. 

    E o glo­rioso Kol­do vai parar numa igre­ja, onde já se refu­gia­ram alguns sobre­viventes, já que os infec­ta­dos não podem pis­ar em solo sagra­do e são feri­dos com água ben­ta. E, den­tro da igre­ja, ao ver uma está­tua de São Jorge, o herói tem a bril­hante ideia de se vestir como uma espé­cie de cav­aleiro tem­plário (???) para ir atrás de sua ama­da Clara, que ele desco­bre estar na sala de con­t­role do lugar após ela infor­má-lo, via aut­o­falante, que está grávi­da. Sur­preen­den­te­mente, ele con­segue con­vencer um out­ro sujeito a se fan­tasiar e ir com ele, aparente­mente para ensi­nar o cam­in­ho. Sujeito este que, como um bom camisa ver­mel­ha (Star Trek, lem­bram?), vai mor­rer na primeira oportunidade. 

    Mas a Clara não está soz­in­ha na tal sala de con­t­role, está com o padre que cel­e­bra­va o casa­men­to. E ele mata a chara­da na hora: os infec­ta­dos são, na ver­dade, uma espé­cie de anjos caí­dos. Assim sendo, bas­ta uma oração para que eles con­gelem e parem de atacar. Ou seja, os zumbis mais con­ve­nientes do mun­do! E tam­bém desco­b­ri­mos que, na ver­dade, todos são um só. E que, refleti­dos no espel­ho, todos eles são como a meni­na Medeiros do primeiro filme…

    E a Clara, óbvio, escapa de tudo que lhe acon­tece, com a aju­da de um sujeito fan­tasi­a­do de Bob Espon­ja (ou John Espon­ja, por causa dos dire­itos autorais), até que ela resolve virar badass zom­bie hunter, arru­ma uma moto­sser­ra, arran­ca um pedaço do vesti­do e começa a arregaçar com os zumbis. Tipo uma Alice do Res­i­dent Evil on drugs, mas com um visu­al híbri­do de Jill Valen­tine e Ash do Evil Dead. \o/

    Então, cheg­amos a cena do reen­con­tro, quan­do ela está fug­in­do por um túnel, depois de det­onar uns zumbis, que não só pas­sa bem abaixo da coz­in­ha do lugar, onde Kol­do aca­ba de enfrentar o tio do iní­cio da história com uma bat­edeira, mas que tam­bém tem uma lig­ação dire­ta com esta coz­in­ha, com esca­da e tudo! Os infec­ta­dos a seguem pela esca­da e, assim como começou, o ímpeto de matar some dela, e bate o deses­pero para que o casal con­si­ga abrir logo a grade que os sep­a­ra. E eles con­seguem, claro. E a grade fica lá aber­ta, e eles se esque­cem que os bichos eram sim capazes de subir tam­bém. Mas os infec­ta­dos aparente­mente des­en­canam e vão emb­o­ra, porque o casal tem tem­po de se bei­jar, faz­er juras de amor blá blá blá, até que a coz­in­ha seja infes­ta­da de zumbis (que vier­am de todo lugar, MENOS do túnel onde já estavam). 

    Daí pra frente, nos últi­mos min­u­tos, a coisa con­tin­ua indo ladeira abaixo, mas aí já é spoil­er demais. Não que acon­teça algo que real­mente val­ha a pena ser vis­to, mas…

    Resu­min­do, [REC]³ Gêne­sis não só é ruim, é pior do que eu sequer con­seguia con­ce­ber. E é claro que ele, assim como o segun­do, tam­bém terá seus defen­sores. Se eu já não os enten­do em relação ao [REC] Pos­suí­dos, nem sei o que pen­sar quan­do a este aqui. A ten­ta­ti­va de comé­dia é patéti­ca, o hor­ror não causa um úni­co sus­to, menos ain­da a sen­sação de descon­for­to per­ma­nente do primeiro, e o gore não acres­cen­ta nada. 

    Den­tre os prin­ci­pais prob­le­mas de [REC] Pos­suí­dos, talvez o mais incô­mo­do para mim ten­ha sido a frustra­da ten­ta­ti­va de se colo­car as questões reli­giosas, “bem con­tra o mal”, coisas do gênero. Sim, o primeiro filme já dava a dica de que a coisa seria mais ou menos assim, mas nada fica explíc­i­to, o que muito con­tribuía para a história. O segun­do escan­car­ou e jogou no ven­ti­lador. E o ter­ceiro ele­va isso a uma potên­cia constrangedora. 

    Há muito, MUITO tem­po eu não via um filme tão ruim. E olha que eu sou bem cha­to e gos­to de bas­tante porcaria… 

    Trail­er:

  • A Dama e a Morte

    A Dama e a Morte

    A Morte já foi human­iza­da inúmeras vezes na Lit­er­atu­ra, Quadrin­hos e no Cin­e­ma. Como não lem­brar, por exem­p­lo, da Morte que entrou em greve no livro As Inter­mitên­cias da Morte, do por­tuguês José Sara­m­a­go. No cur­ta A Dama e a Morte (La dama y la muerte, 2009), de Javier Recio Gra­cia, gan­hador do Goya espan­hol — equiv­a­lente ao Oscar — de mel­hor ani­mação, a morte é aque­la figu­ra clás­si­ca com uma enorme capa pre­ta e ros­to de caveira. E prin­ci­pal­mente, com a teimosia iner­ente a alguém que deve cumprir sua função.

    Uma sen­ho­ra idosa olha nos­tál­gi­ca pela janela do quar­to. Vemos uma fotografia de um sen­hor que ela acari­cia com saudade. Como se esperasse algu­ma coisa ela se dei­ta para dormir e aca­ba ten­do um belo son­ho com sim­páti­ca Morte a levan­do, final­mente. Ela só não con­ta­va com a astú­cia de um médi­co que vai faz­er qual­quer coisa para que ela per­maneça, afi­nal, essa é a sua reputação.

    A Dama e a Morte é uma diver­ti­da ani­mação em 3D com cores ani­madas e detal­h­es diver­tidos. Ques­tiona jus­ta­mente a escol­ha de alguém quer­er ir e o dev­er do médi­co de sal­var. Sem nen­hu­ma fala a ani­mação prom­ete reflexão risadas prin­ci­pal­mente com a dis­pu­ta entre a Morte e o médi­co reconhecido.

    La dama y la muerte from Dere­cho a Morir Dig­na­mente on Vimeo.

  • Crítica: Cela 211

    Crítica: Cela 211

    O que esper­ar de um lon­ga ten­do como pano de fun­do uma pen­i­ten­ciária na efer­vescên­cia de uma rebe­lião? Eu diria que muito, quan­do se tra­ta do cin­e­ma atu­al espan­hol. Cela 211 (Cel­da 211, Espanha/França, 2009) adap­ta­do do livro homôn­i­mo de Fran­cis­co Perez Gan­dul e dirigi­do por Daniel Monzón, é um thriller mescla­do com dra­ma, trazen­do uma visão pecu­liar de den­tro de uma rebelião.

    É o primeiro dia de Juan Oliv­er (Alber­to Ammann) como fun­cionário de uma pen­i­ten­ciária e durante a visi­ta ao local aca­ba acon­te­cen­do um aci­dente com ele. Ao invés de ser socor­ri­do é ape­nas deix­a­do na cela 211, ao mes­mo tem­po se dá ini­cio uma rebe­lião de pre­sos da ala de segu­rança máx­i­ma. Ao se ver acoa­do pelos pre­sos e pelo líder da rebe­lião, Mala­madres (inter­pre­ta­do pelo óti­mo Luis Tosar), o fun­cionário toma a decisão de se pas­sar por um pri­sioneiro e com isso, lidar com os mais pecu­liares, e ines­per­a­dos, fatos e con­tornos que se apre­sen­tarão durante esse dia.

    É nesse aspec­to, nas decisões, que durante a tra­ma são necessárias às per­son­agens, que Daniel Monzón mostra um cin­e­ma de alto nív­el. Esta­mos acos­tu­ma­dos com uma visão elit­ista ou pura­mente mar­gin­al (no sen­ti­do de estar a margem da sociedade) em relação a essas pes­soas pri­vadas de seus dire­itos civis. Em Cela 211 vemos a cadeia como uma peque­na sociedade hier­ar­quiza­da em que tudo, como aqui fora, tem o seu preço. Os sen­ti­men­tos de pri­vação e inca­paci­dade são destaques nes­sas per­son­agens que, inde­pen­dentes de seus val­ores morais, devem agir para não serem víti­mas de seu próprio sis­tema cri­a­do den­tro da cadeia.

    Cela 211 não se atém aos clichês dos filmes de ação pas­sa­do den­tro de uma pen­i­ten­ciária em rebe­lião. O dire­tor se focou nas per­son­agens que, em todos os momen­tos, são deci­si­vas no desen­ro­lar do dra­ma. O trata­men­to estéti­co da pelícu­la se dá em muitos momen­tos com fil­ma­gens, em pre­to e bran­co, das câmeras de segu­rança do local, deixan­do o espec­ta­dor mais aten­to quan­to ao que real­mente acon­tece lá den­tro, com­par­til­han­do a ânsia da polí­cia que espera os con­tatos dos pre­sos. Ain­da, destaque para as atu­ações sem­pre inter­es­san­tísi­mas dos atores espan­hóis que sem­pre pare­cem botar muito sangue em seus personagens.

    O cin­e­ma espan­hol vem gan­han­do notório destaque des­de da déca­da de 80 com Pedro Almod­ó­var e suas pecu­liari­dades. Hoje com a pre­mi­ação Goya, uma espé­cie de Oscar espan­hol, temos a opor­tu­nidade de saber a quan­tas anda a qual­i­dade desse cin­e­ma tão visa­do atual­mente. Cela 211 é um filme para agradar ciné­fi­los e espec­ta­dores que busquem uma boa dose de ação. No mais, é esper­ar que a aut­en­ti­ci­dade da pelícu­la não seja abal­a­da com algum remake dos americanos.

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    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=gX3BX4Q-aHU