O Mestre (The Master, E.U.A., 2012), o aguardado novo longa de Paul Thomas Anderson, já nasceu com bastante expectativa. Em 2008 o diretor foi um dos mais indicados ao Oscar — mas levou apenas duas estatuetas — trazendo Daniel Day-Lewis em Sangue Negro, um papel arrebatador como um homem do petróleo no início do século XX, mostrando o novo rosto da modernidade marcada pela solidão e individualismo. Nesse novo longa, o diretor segue um caminho parecido trazendo uma trama ficcional, apesar de ser bem realista, do surgimento da Cientologia, uma religião que tem agregado muitos americanos e vive na sombra do mistério.
Ninguém permaneceu igual depois da Segunda Guerra Mundial, eram vísiveis as marcas do combate nos corpos e mentes dos homens que voltavam de lá. E para quem ficou desse lado do oceano havia uma comoção em busca de uma fé, de explicações que ajudassem a compreensão e o sentido da vida. O momento era propício para o encontro de dois homens, Freddie Quell, um veterano da marinha perturbado pelo passado e alcoólatra, e Lancaster Dodd, um homem inteligente, carismático e ambicioso que começa a conseguir fiéis com as suas ideias de “A Causa”.
A primeira parte de O Mestre é dedicada à introdução de Freddie (Joaquin Phoenix), um homem de poucas palavras e trejeitos brutos, apresentado sobre uma trilha sonora bem ao estilo do diretor, alta e apoteótica. O espectador se apropria da imagem de Freddie voltando da Guerra, se embriagando — ele faz sua própria bebida — e levando seus dias de uma forma sem maiores perspectivas até conhecer Dodd (Philip Seymour Hoffmann) em um momento de decadência. Apesar da relação dos dois personagens ser o motor do enredo, o foco sempre permanece em cima de Freddie e suas reações desmedidas.
Ele “deve deixar de ser um animal estúpido” é o que diz Dodd, e Freddie é caracterizado exatamente dessa forma, seus trejeitos físicos mostram que seu corpo foi deformando com o tempo, assim como suas feições faciais e grunhidos que ele emite em alguns momentos. Já o homem, o mestre da Causa é calmo, perseverante e além de médico, cientista, filósofo e como ele mesmo diz “acima de tudo, sou um homem”.
O longa tem um ritmo bastante parecido com o anterior Sangue Negro, com uma narrativa arrastada, focada nos personagens que em seus contextos históricos, por mais chamativos que sejam, são apenas plano de fundo. Em ambos os filmes os protagonistas e coadjuvantes são uma excelência à parte. Tanto Joaquin Phoenix e Daniel Day-Lewis se susbmetarem a excelentes trabalhos de atuação e vivência dos personagens. E vale ressaltar que em O Mestre, os coadjuvantes também são defensores de uma fé extrema, não há como não relacionar os ataques defensivos de Lancaster Dodd com o culto encenado do pastor Elie Sunday de Sangue Negro.
A Cientologia surgiu em 1952 e logo depois virou igreja. Segue os preceitos de L. Ron Hubbard, que morreu em 1986, supostamente interpretado aqui por Philip Seymour. Hubbard criou a Dianética, prática focada no poder da mente sobre o corpo, onde muitos de seus exercícios são exibidos no filme. Apesar das especulações do longa se basear na historia da crença, ele não se compromete muito com o assunto e acaba caindo na mistificação da Causa e que tipo de grupo misterioso eles seriam.
Paul Thomas Anderson filmou em 65 mm, fazendo com que o longa tenha um aspecto muito próximo da estética da época. A trilha sonora foi feita por Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, que causa obrigatoriamente um momento dramático em cenas apáticas, o que de fato não é ruim, dando um tom de espetáculo para várias cenas, contribuindo assim com o estilo exagerado do diretor.
O longa concorre a três Oscares nesse ano e de fato é bastante competente nos três atores apontados. Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams — sendo a mais fraca do trio — são a base do filme. O Mestre é misterioso e tem isso a seu favor, mas com um roteiro tão arrastado não possui as mesmas seduções de Sangue Negro e também passa longe do estilo Magnólia de um Paul Thomas no fim dos anos 90.
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