Tag: artistas

  • Café Literário: HQ — Cruzamento de Linguagens

    Café Literário: HQ — Cruzamento de Linguagens

    Um Café Literário que esta­va ansiosa­mente esperan­do par­tic­i­par na Bien­al do Livro Rio 2011 era HQ: Cruza­men­to de Lin­gua­gens, com os artis­tas André Dah­mer, Lourenço Mutarel­li, Rafael Coutin­ho e Rafael Sica, medi­a­dos por Lobo Bar­ba Negra.

    O bate papo se ini­ciou com a per­gun­ta de como era o proces­so cria­ti­vo de cada artista. Coutin­ho disse que cos­tu­ma ini­ciar a par­tir de um con­ceito, Mutarel­li tam­bém, mas ulti­ma­mente esper­a­va o desen­ho — prin­ci­pal­mente de seus sketch­books — dar o tex­to. Já Sica uti­liza bas­tante a obser­vação, enquan­to Dah­mer afir­ma que nun­ca con­seguiu for­mar um méto­do pois nor­mal­mente não dava certo.

    Um tópi­co que cada vez mais é difí­cil de não entrar nes­sas con­ver­sas é jus­ta­mente como a inter­net influ­en­cia em seus tra­bal­hos e a sua importân­cia no papel do quadrin­ista atu­al. Muitos começam pub­li­can­do ape­nas na inter­net hoje tem seus desen­hos impres­sos por edi­toras, como é o caso do Sica e do Dah­mer. Mas em bus­ca de se tornar con­heci­do na web, muitas vezes alguns autores cri­am uma obsessão em torno da divul­gação do seu tra­bal­ho e sua pro­dução aca­ba sendo afe­ta­da. Dah­mer comen­ta que este é um prob­le­ma que está acon­te­cen­do cada vez mais e que o artista dev­e­ria estar mais pre­ocu­pa­do na cri­ação e não na divul­gação, pois isto que é o mais impor­tante, não o contrário.

    Nos últi­mos tem­pos, Sica ten­tou faz­er algu­mas exper­i­men­tações com for­matos difer­entes na inter­net, mas chegou a con­clusão que as pes­soas não tin­ham mui­ta paciên­cia para desen­hos mais lon­gos ou seri­ados neste meio. Coutin­ho acres­cen­tou que ape­sar dis­so, a web dá mais pos­si­bil­i­dades em relação ao papel, não pos­suin­do muitas das suas lim­i­tações, poden­do se ir bem mais além. Uma refer­ên­cia inter­es­sante para essas várias pos­si­bil­i­dades é um quadrin­ho do filme TRON: O Lega­do que explo­ra as novi­dades do HTML 5 e pode ser lido gra­tuita­mente aqui, mas infe­liz­mente o mes­mo está só em inglês. Out­ra tam­bém é o site do artista Scott McCloud, que foi um dos primeiros a faz­er exper­i­men­tos difer­entes do que sim­ples­mente “escanear” e pub­licar os tra­bal­hos. Ele tam­bém pub­li­cou um livro sobre o assun­to pub­li­ca­do aqui no Brasil como Rein­ven­tan­do os Quadrin­hos, pela edi­to­ra M. Books.

    Quan­do o assun­to da con­ver­sa entrou na parte de quais as refer­ên­cias de cada artista, muitas vezes um momen­to del­i­ca­do que eles ten­tam evi­tar, respon­den­do muitas vezes de for­mas nada especí­fi­cas, enquan­to os espec­ta­dores esper­am ansiosa­mente, Mutarel­li deu uma óti­ma respos­ta dizen­do que o mel­hor lugar para você pegar influên­cias é em você mes­mo. Out­ro comen­tário inter­es­sante sobre o assun­to foi o de Coutin­ho, que falou que vive­mos em uma época bem inter­es­sante, onde se podia piratear o que se quisesse.

    Ao con­tar sobre os seus tra­bal­hos, Mutarel­li disse que ten­tou recen­te­mente faz­er um pro­je­to mais exper­i­men­tal, ain­da não pub­li­ca­do, mas teve várias difi­cul­dades pois as pes­soas diziam que não enten­di­am nada e que não fazia sen­ti­do. Mas isso acon­te­ceu porque elas não viam que era só uma história e que bas­ta­va só par­tic­i­par, isto que era o mais impor­tante na sua visão. É pre­ciso enten­der o que aqui­lo diz para o leitor e não o que o autor que­ria dizer.

    Durante todo o Café Literário, foi inter­es­sante notar a difer­ença de cada um dos artis­tas, ape­sar de o assun­to — assim como as várias per­gun­tas — não fugirem muito dos bate papos que nor­mal­mente se faz. Infe­liz­mente a con­ver­sa ficou meio lim­i­ta­da tam­bém pois Dah­mer acabou não abrindo muito espaço para os out­ros quan­do começa­va a falar, pois sim­ples­mente se alon­ga­va demais em suas opiniões. Mas no ger­al, foi óti­mo ouvir várias das exper­iên­cias e opiniões de cada autor.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o seu com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Tam­bém já fize­mos uma lon­ga entre­vista com o Rafael Sica e uma matéria sobre o lança­men­to da HQ Ordinário e um debate com o autor, se você tiv­er inter­esse em saber mais sobre ele.

    Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

    [wpau­dio url=“http://www.interrogacao.com.br/media/bienallivrorio11/BienalRio11-CL-HQ_cruzamento_de_linguagens.mp3” text=“Café Literário: HQ — Cruza­men­to de Lin­gua­gens” dl=“0”]

  • Crítica: Meia Noite em Paris

    Crítica: Meia Noite em Paris

    A real­i­dade ali­men­ta a ficção e vice-ver­sa e para um escritor a relação das duas pode, inclu­sive, ser ter­apêu­ti­ca. Em Meia Noite em Paris (Mid­night In Paris, Espanha/E.U.A., 2011), Woody Allen colo­ca um escritor — sem­pre uma per­son­ifi­cação de si mes­mo — cara a cara com seus ído­los, dan­do a ele uma chance para ali­men­tar ain­da mais sua paixão pelo passado.

    Gil Pen­der (Owen Wil­son) é um escritor frustra­do que tra­bal­ha com roteiros hol­ly­wood­i­anos e está noi­vo de Inez (Rachel McAdams). Ele e a noi­va deci­dem acom­pan­har os pais dela numa viagem de negó­cios até Paris, a cidade, que segun­do Gil, man­tém os espíri­to dos anos áure­os da Lit­er­atu­ra e que o inspi­ra pro­fun­da­mente. Além de nos­tál­gi­co, o escritor está con­fu­so em ter que lidar com sua vida super­fi­cial de roteirista e noi­vo de uma mul­her que em pouco con­diz com suas ideias. E é passe­an­do pela mág­i­ca Paris que Gil Pen­der vai ali­men­tar sua real­i­dade com boas dos­es de uma diver­ti­da mág­i­ca literária onde seus ído­los o aju­dam a dar rumos para sua vida.

    Woody Allen é sem­pre o mes­mo e de for­ma nen­hu­ma essa afir­mação é ruim. O dire­tor apos­ta no seu esti­lo para sem­pre tratar assun­tos diver­tidos e com boas dos­es de inteligên­cia e sar­cas­mo. Em Meia Noite em Paris é a magia de suas próprias paixões que mesclam o son­ho e o real em situ­ações que não são absur­das e sim total­mente dese­jáveis. O lon­ga tem um cli­ma que lem­bra bas­tante A Rosa Púr­pu­ra do Cairo (1985) em que a per­son­agem de Mia Far­row dese­ja muito a ficção mas não sabe lidar com ela quan­do esta se tor­na a sua realidade. 

    Talvez na atu­al­i­dade, a român­ti­ca Paris não ofer­eça mui­ta inspi­ração literária, mas no ini­cio do sécu­lo a cap­i­tal france­sa era o des­ti­no de boa parte dos grandes escritores — que vivi­am seu auge — em bus­ca de inspi­ração na van­guardista cap­i­tal cul­tur­al e fug­in­do da fal­ta de recon­hec­i­men­to à lit­er­atu­ra na Améri­ca. A cap­i­tal france­sa da época, habita­da pela arte e cul­tura, é a que se apre­sen­ta em Meia Noite em Paris. Ao invés de ape­nas um enre­do como des­cul­pa para exibir os pon­tos turís­ti­cos da cidade, o lon­ga traz um uni­ver­so oníri­co e deli­cioso para o espec­ta­dor, seja ele um nova­to ou um vel­ho con­heci­do dos filmes do americano.

    Um dos pon­tos mais inter­es­santes no elen­co de Meia Noite em Paris é jus­ta­mente a escol­ha de atores que cos­tumeira­mente atu­am em filmes mais com­er­ci­ais estarem em exce­lentes atu­ações. Owen Wil­son real­mente impres­siona no papel de Gil Pen­der, um Woody Allen mais alto e loiro, mas que em nen­hum momen­to deixa de ter o sar­cas­mo, a gagueira e a neu­rose típi­cas dos per­son­agens alter-ego do cineas­ta. Já Mar­i­on Cot­ti­lard empres­ta seu charme francês para uma per­son­agem de época incrív­el, sem citar tam­bém os out­ros atores que inter­pre­tam as fig­uras cânones da Lit­er­atu­ra e Artes Pás­ti­cas memoravelmente.

    Mas Meia Noite em Paris não se des­ti­na a ser ape­nas um filme sobre paixões literárias com ares de hom­e­nagem. O lon­ga traz à tona muito das cos­tumeiras críti­cas — e ao mes­mo tem­po paixões — do dire­tor sobre o pas­sa­do e a val­oriza­ção dele,superando a pre­mis­sa do que o anti­go é supe­ri­or ao atu­al. Ele pro­va que de for­ma nen­hu­ma desiste do seu próprio estilo.

    Ain­da, Allen colo­ca à pro­va e faz pia­da — e boas piadas — do int­elec­tu­al­is­mo acadêmi­co. O dire­tor pro­va que a ver­dadeira arte é aque­la em que a vida exper­i­men­ta a arte e vice-ver­sa, deixan­do mais claro o esti­lo que mar­cou a fil­mo­grafia do diretor. 

    Sim, Woody Allen é sem­pre o mes­mo e isso nun­ca será prob­le­ma. Com Meia Noite em Paris — vale ressaltar que é o filme com maior número de cópias de filmes do dire­tor no Brasil até hoje — deixa claro que seus filmes não são para uma mino­ria e muito menos de cun­ho int­elec­tu­al. O lon­ga vale para qual­quer tipo de expec­ta­dor que vá em bus­ca de risos ou em bus­ca de genial­i­dade. Com certeza o filme vale o ingres­so e inúmeras vezes se possível.

    Um úni­co porém é o car­taz de divul­gação no Brasil ser tão pouco con­dizente com o filme em si. Vale a pena con­ferir o belís­si­mo tra­bal­ho do car­taz inter­na­cional, um mix entre a figu­ra do escritor Gil Pen­der e o quadro A Noite Estre­la­da de Van Gogh.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=kdgdX2Sra5Y

  • Crítica: Profissão:Músico

    Crítica: Profissão:Músico

    profissão: músico

    A pop­u­lar­iza­ção do MP3 e do down­load de músi­cas pela inter­net mexeu com a estru­tu­ra do comér­cio da indús­tria fono­grá­fi­ca, e de várias out­ras tam­bém. Este é um fato inques­tionáv­el e con­heci­do por muitos, prin­ci­pal­mente pelos próprios artis­tas. Profis­são: Músi­co é um doc­u­men­tário, dirigi­do por Daniel Igná­cio Var­gas, que abor­da jus­ta­mente esta mudança a par­tir da per­spec­ti­va dess­es artistas.

    O doc­u­men­tário Profis­são: Músi­co con­ta um pouco da exper­iên­cia do Pro­je­to CCOMA, um duo de jazz instru­men­tal con­tem­porâ­neo, com a história deles como pano de fun­do e tam­bém pos­sui relatos de out­ros artis­tas ao redor do mun­do. A mon­tagem do média metragem foi muito bem fei­ta e pos­sui um rit­mo bem dinâmi­co, muitas vezes exibindo mais de um vídeo na tela ao mes­mo tem­po, com cortes bem rápi­dos, refletindo bas­tante as car­ac­terís­ti­cas do con­ceito mashup (mis­tu­ra), que aliás car­ac­ter­i­za grande parte da pro­dução dess­es próprios músicos.

    No próprio site do média metragem Profis­são: Músi­co tem-se a seguinte infor­mação: “Ago­ra, não bas­ta só tocar. A profis­são de músi­co mudou muito nos últi­mos anos. A inter­net trouxe o artista para per­to do públi­co e vice-ver­sa, não impor­tan­do mais se este músi­co vive em Lon­dres ou no inte­ri­or das mon­tan­has do Sul do Brasil. O Faça Você Mes­mo (DYI) é a for­ma revis­i­ta­da para faz­er o próprio mar­ket­ing no mun­do dig­i­tal.” que é a pre­mis­sa base deste documentário.

    Infe­liz­mente, a argu­men­tação — assim como a pre­mis­sa base — uti­liza­da em Profis­são: Músi­co é vaga demais e de cer­ta maneira irre­al­ista. O son­ho de todo artista, inde­pen­dente da área, é poder viv­er somente da sua pro­dução, mas são ape­nas poucos — exceções — que con­seguem isto. O foco do doc­u­men­tário — e ele deixa claro logo no iní­cio — é jus­ta­mente os músi­cos que não são essas mino­rias e que tra­bal­ham muito para con­seguir sobre­viv­er, ou seja, a real­i­dade deles é com­ple­ta­mente out­ra. Seria necessário um out­ro tipo de pen­sa­men­to para poder se apro­fun­dar em pos­síveis alter­na­ti­vas para esta out­ra real­i­dade. Ou seja, não dá para ficar ten­do como mod­e­lo de com­para­ção as exceções de um mer­ca­do que já se sabe — e ele mes­mo afir­ma isso — estar em ruí­nas, o que infe­liz­mente não acon­tece no doc­u­men­tário, ele fica pre­so na visão saudo­sista de como as coisas eram mel­hores no passado.

    A impressão que fica é que o respon­sáv­el por isso foi de cer­ta for­ma a inter­net. Será que foi esque­ci­do que a maio­r­ia dos artis­tas não faz parte do pequeno grupo de exceções e que tem que batal­har e ir atrás de con­seguir gan­har o seu pão e de divul­gar o seu tra­bal­ho? Pelo meu con­hec­i­men­to — pos­so estar engana­do — faz muito tem­po, bem antes da idade média, que artis­tas muitas vezes pre­cisavam faz­er out­ra coisa para se sus­ten­tar, além da sua arte, ape­nas não havia na época o car­go de pro­du­tor, divul­gador, etc, então eles acabavam sendo mul­ti-profis­sion­ais sem mes­mo saberem. As exceções tam­bém eram aque­les que, como hoje, con­seguiam viv­er prin­ci­pal­mente — difí­cil diz­er se total­mente, talvez só aque­les que eram “apadrin­hados” por alguém rico, que de cer­ta for­ma os tor­navam súdi­tos de um só um sen­ho­rio — de sua arte, e estes muitas vezes ain­da pas­savam por situ­ações muito difí­ceis. Seria mes­mo essa difi­cul­dade um prob­le­ma atual?

    Out­ro pon­to impor­tante que tam­bém não foi ques­tion­a­do em Profis­são: Músi­co é a qual­i­dade da músi­ca pro­duzi­da. Pode ser que um músi­co nun­ca ven­ha a ter suces­so porque sim­ples­mente ele não pos­sui um públi­co que goste da músi­ca dele, ou ele é tão pequeno que não con­segue sus­ten­tar o artista. E é jus­ta­mente a inter­net que con­segue aju­dar os artis­tas a encon­trarem seu públi­co, que muitas vezes pode estar seg­men­ta­do em várias partes do mun­do. Vejo ela mais como uma solução do que parte do prob­le­ma. Só aqui no Brasil temos dois exem­p­los de músi­cos que con­seguiram chegar a fama graças a inter­net: Mal­lu Mag­a­l­hães e a ban­da Can­sei de ser Sexy. Além dis­so, há vários sites que aju­dam estes a divul­gar seu tra­bal­ho, e até gan­har din­heiro, como o MySpace e o brasileiro Tra­ma Virtual.

    Durante Profis­são: Músi­co são recol­hi­dos depoi­men­tos de vários artis­tas do mun­do inteiro e, em especí­fi­co, as opiniões dos músi­cos Naná Vas­con­ce­los e Philip (tam­bém dono de uma loja de dis­cos na França, pelo que eu pude achar), são geni­ais em suas obser­vações sobre como o mer­ca­do mudou e qual é a real­i­dade do artista ago­ra. Ape­sar dos vários prob­le­mas, o doc­u­men­tário vale a pena ser assis­ti­do jus­ta­mente pela opinião dess­es dois músicos.

    Para mais infor­mações sobre o doc­u­men­tário, vis­ite o site ofi­cial do projeto.

    Só para não ger­ar nen­hum mal enten­di­do: de maneira algu­ma invali­do o tra­bal­ho dos cri­adores do doc­u­men­tário ao expres­sar min­has obser­vações aci­ma. Acred­i­to que opiniões difer­entes são uma óti­ma opor­tu­nidade de diál­o­go e tam­bém de apren­diza­do para todos que par­tic­i­pam da conversa.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=wkXUDfvaLoE