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  • Café Literário: Heloisa Seixas e João Paulo Cuenca

    Café Literário: Heloisa Seixas e João Paulo Cuenca

    O leitor que nun­ca fora seduzi­do por um exce­lente romance, que atire a primeira pedra! Mes­mo que haja con­tro­vér­sias entre os escritores sobre a ¨util­i­dade¨ da leitu­ra, uma coisa é fato: a lit­er­atu­ra causa algu­ma espé­cie de sen­ti­do no leitor, uma ato de sedução ocorre no momen­to ínti­mo da relação leitor e obra. Foi com esse enfoque que os escritores Heloisa Seixas e João Paulo Cuen­ca, debat­er­am A sedução do romance: onde está sua força? no Café Literário, medi­a­do por Luis Hen­rique Pel­lan­da, do dia 09 de out­ubro, na Bien­al do Livro Paraná 2010.

    Heloisa Seixas é car­i­o­ca, romancista, cro­nista, tradu­to­ra e um de seus con­jun­tos de con­tos mais con­heci­dos é Pente de Vênus. A escrito­ra já escreveu con­tos para vários suple­men­tos cul­tur­ais e é casa­da com o escritor Ruy Cas­tro. Já João Paulo Cuen­ca, que tam­bém é car­i­o­ca, faz parte do rol de escritores bem cota­dos e con­tem­porâ­neos. Em breve terá um roteiro adap­ta­do pelo dire­tor Luis Fer­nan­do Car­val­ho e lançou recen­te­mente O úni­co final feliz para uma história de amor é um aci­dente, que faz parte do pro­je­to Amores Expres­sos.

    Os seg­re­dos de um bom romance literário nen­hum escritor con­ta. Já, nós leitores, podemos enu­mer­ar mil­hares de adje­tivos que nos fiz­er­am entor­pecer por deter­mi­na­da obra e/ou per­son­agens. Pen­san­do nes­sa situ­ação de leitor que Luis Hen­rique Pel­lan­da ini­ciou o bate-papo com os dois escritores, afi­nal o que os seduz­iu como leitor para pos­te­ri­or neces­si­dade de escrita?

    Para Heloisa Seixas a respos­ta foi ime­di­a­ta, con­tan­do da sua aprox­i­mação, segun­do ela pre­coce, aos 12 anos com a obra O Pri­mo Basilio, de Eça de Queiroz. Logo em segui­da, rela­ta de for­ma oníri­ca a iden­ti­fi­cação que hou­vera durante a leitu­ra com uma das per­son­agens que acabou a acom­pan­han­do durante cer­to perío­do. Inclu­sive, Heloisa con­ta de out­ras situ­ações em que estes per­son­agens a man­tinham numa real­i­dade onde as ficções, fos­sem de livros ou na TV, man­tinham uma por­ta aber­ta e de diál­o­go que somente ela como leito­ra podia aces­sar. Mas, defin­i­ti­va­mente, afir­ma que se não fos­sem as histórias con­tadas, e a cap­tura de atenção destas, ela jamais seria escrito­ra ou sen­tiria a neces­si­dade de cri­ar suas próprias narrativas.

    João Paulo Cuen­ca diz que Fer­nan­do Sabi­no com Encon­tro Mar­ca­do mudou a sua relação com a lit­er­atu­ra. O escritor con­ta que é um trági­co exis­ten­cial­ista, sem­pre fora assim, e esse livro somente reforçou essa neces­si­dade de ques­tion­a­men­to sen­ti­do des­de da infân­cia. Inclu­sive, ele expli­ca o ato de ler deve ter esse efeito, deve ger­ar um anti-equi­líbrio, um desapren­diza­do. A leitu­ra, e a lit­er­atu­ra para Cuen­ca, não devem sal­var ninguém e sim deses­ta­bi­lizar o sis­tema e até mes­mo causar descon­for­to. Para ele o autor nun­ca deve ser refer­ên­cia para nada e sim um grande cau­sador de polêmi­cas e questionamentos.

    A questão da função literária retornou muitas vezes no diál­o­go dos escritores. Ambos desa­cred­i­tam que o autor ten­ha algu­ma função especí­fi­ca na con­strução de um romance, inclu­sive, Heloisa comen­ta que a obra é até mes­mo uma con­strução egoís­ta de quem escreve. Para ela o romance é um dos atos mais ínti­mos do autor, pois mexe com os sen­ti­men­tos deste, sendo uma relação de amor e ódio do íni­cio ao fim. A car­i­o­ca brin­ca dizen­do que o escritor que acred­i­ta que sua lit­er­atu­ra é útil para algo, vendeu a alma ao diabo.

    O debate se deu, como um todo, de for­ma muito aber­ta e bem ref­er­en­ci­a­da com as obras dos dois escritores e as obras que influ­en­cia­ram o cam­in­ho de ambos. A relação leitor/livro/autor é total­mente dinâmi­ca e só é fun­cional quan­do os três tra­bal­ham jun­tos. Out­ra metá­fo­ra inter­es­sante vin­da de João Paulo Cuen­ca é que o ato de escr­ev­er um romance é como estar num labrir­in­to escuro onde a luz, no fim, fica oscilan­do. É esse proces­so de descober­ta do próprio autor que aca­ba por refle­tir na descober­ta do leitor no livro, ambos bus­cam algo na obra. E enfim, o debate pro­va que não há uma úni­ca for­ma de sedução da lit­er­atu­ra para com o leitor, ela é um mecan­is­mo que faz girar os saberes o tem­po todo, fazen­do sur­gir essa sen­sação de exper­iên­cia a três: leitor/livro/autor.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

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  • Livro: Estive em Lisboa e Lembrei de Você — Luiz Ruffato

    Livro: Estive em Lisboa e Lembrei de Você — Luiz Ruffato

    Estive em Lisboa e Lembrei de Você

    Em mea­d­os de 2005 foi cri­a­do o pro­je­to Amores Expres­sos. Nele, dezes­seis escritores brasileiros via­jari­am para diver­sas cidades ao redor do mun­do e cada um iria escr­ev­er um romance basea­do em sua viagem. O pro­je­to cau­sou as mais diver­sas reações, pois se ques­tion­a­va de onde iria sair o din­heiro para custear as via­gens, e se era necessário que saíssem do país para bus­car inspi­ração. Entre ess­es escritores esta­va Luiz Ruffa­to, e o resul­ta­do da viagem dele foi o livro Estive em Lis­boa e Lem­brei de Você.

    Polêmi­cas à parte, Ruffa­to é bas­tante con­heci­do no meio literário con­tem­porâ­neo. Nasci­do em Minas Gerais, na cidade de Cataguas­es, já gan­hou diver­sos prêmios impor­tantes, como o da APCA (Asso­ci­ação Paulista de Críti­cos de Arte) e o Macha­do de Assis, da Fun­dação Bib­liote­ca Nacional. Algu­mas de suas obras mais impor­tantes são Eles eram muitos cav­a­l­os e a série Infer­no Pro­visório.

    Em Estive em Lis­boa e Lem­brei de Você, Ruffa­to foi a Lis­boa e nos trouxe a história de um rapaz chama­do Sergin­ho. Des­gos­toso com a vida que lev­a­va no Brasil, após prob­le­mas amorosos e finan­ceiros, ele con­ver­sa com seu Oliveira (por­tuguês res­i­dente de sua cidade) e resolve ir para Lis­boa “ten­tar a vida”. Após o choque ini­cial, Sergin­ho se adap­ta à vida por­tugue­sa e começa a tra­bal­har como garçom. Faz amizades, aprende um novo vocab­ulário e se aven­tu­ra pela cidade. Logo no iní­cio do livro encon­tramos uma nota do autor dizen­do que este foi basea­do numa entre­vista que ele fez com Sér­gio de Souza Sam­paio, o Serginho.

    Luiz Ruffa­to tem uma imen­sa facil­i­dade para retratar cidades. Em Eles eram muitos cav­a­l­os ele fala de São Paulo com taman­ha intim­i­dade que se pode imag­i­nar que ele seja paulis­tano. O mes­mo acon­tece com Estive em Lis­boa e Lem­brei de Você. O autor con­segue descr­ev­er as diver­sas par­tic­u­lar­i­dades da cidade, com um tom literário que poucos con­seguem cri­ar. Sua prosa é bas­tante fluí­da, com poucos pará­grafos e sua escri­ta con­tínua faz com que o leitor entre em con­ta­to dire­to com seus personagens.

    Ruffa­to não criou nen­hu­ma for­ma nova na Lit­er­atu­ra, mas trouxe uma sim­pli­ci­dade envol­vente que há muito não víamos na Lit­er­atu­ra. E inclu­sive, o autor esteve entre os final­is­tas do Prêmio São Paulo de Lit­er­atu­ra 2010, junta­mente com nomes da lit­er­atu­ra con­tem­porânea como Chico Buar­que e Bernar­do Car­val­ho.

    Infe­liz­mente, pou­ca atenção é dada à lit­er­atu­ra con­tem­porânea, prin­ci­pal­mente nas salas de aula. Muito tem acon­te­ci­do em nos­so meio literário, muitos escritores surgem com obras inter­es­santes e com pen­sa­men­tos que mere­cem ser con­heci­dos. Ruffa­to tem um papel impor­tante nesse meio, pois suas obras são um óti­mo exem­p­lo da lit­er­atu­ra con­tem­porânea brasileira, reflexo da soci­dade que vive­mos e dos cos­tumes dessa ger­ação. Ape­sar de ter óti­mos tra­bal­hos pub­li­ca­dos ele ain­da não é recon­heci­do pelo grande públi­co. Esper­amos que essa situ­ação mude muito em breve.