Tag: adaptações cinematográficas

  • Companhia das Letras lança livro que inspirou A minha versão do Amor

    Companhia das Letras lança livro que inspirou A minha versão do Amor

    Des­de sua morte em 2001, aos 70 anos, a obra de Morde­cai Rich­ler – incluin­do o roteiro que lhe ren­deu uma indi­cação ao Oscar – con­tin­ua como uma das mais sig­ni­fica­ti­vas her­anças literárias da história do Canadá. A min­ha ver­são do Amor, adap­tação do últi­mo e mel­hor romance de Rich­ler (pub­li­ca­do no Brasil com o títu­lo A ver­são de Bar­ney, pela Cia. Das Letras), não é ape­nas uma car­in­hosa cel­e­bração de seu lega­do, mas é tam­bém um raro exem­p­lo de um filme basea­do numa grande obra literária que faz justiça ao mate­r­i­al base.

    Estre­la­do pelo indi­ca­do ao Oscar Paul Gia­mat­ti no papel de Bar­ney Panof­sky, um homem aparente­mente nor­mal que leva uma vida extra­ordinária, e pelo vence­dor do Oscar Dustin Hoff­man como seu pai, o filme osten­ta um grande elen­co que inclui Rosamund Pike, a indi­ca­da ao Oscar Min­nie Dri­ver, Rachelle Lefevre, Scott Speed­man, Bruce Green­wood, Mark Addy, Jake Hoff­man e a estre­ante Anna Hop­kins. Pro­duzi­do por Robert Lan­tos, cuja ten­ta­ti­va para levar a pro­lixa nar­ra­ti­va de Rich­ler para o cin­e­ma lev­ou mais de uma déca­da, o filme foi dirigi­do por Richard J. Lewis a par­tir de um roteiro de Michael Konyves. Copro­duzi­do por Lyse Lafontaine, Domeni­co Pro­cac­ci e Ari Lan­tos, A min­ha ver­são do Amor é uma pro­dução da Serendip­i­ty Point Films em asso­ci­ação com a Fan­dan­go de Roma e a Lyla Films de Mon­tre­al. Mark Mus­sel­man é o pro­du­tor exec­u­ti­vo do filme.

    O Livro:
    Bar­ney Panof­sky, o per­son­agem-nar­rador de A Ver­são de Bar­ney, déci­mo romance do cel­e­bra­do escritor canadense Morde­cai Rich­ler, está pos­ses­so — e bêba­do, como sem­pre —, porque seu vel­ho desafe­to e ex-ami­go, Ter­ry McIv­er, está para lançar um livro auto­bi­ográ­fi­co em que lhe faz pesadas acusações. Fer­ven­do em ansiedade e uísque doze anos, entre baforadas num onipresente charu­to Monte Cristo, Bar­ney liga para o seu advo­ga­do e per­gun­ta: “Pos­so proces­sar por calú­nia alguém que me acu­sou, num tex­to pub­li­ca­do, de mal­tratar mul­heres, de ser uma fraude int­elec­tu­al, de pro­duzir lit­er­atu­ra bara­ta, de ser um bêba­do propen­so à vio­lên­cia e provavel­mente tam­bém assas­si­no?”. O advo­ga­do, do out­ro lado da lin­ha, não titubeia na respos­ta: “Eu diria que ele não está muito longe da verdade”.

    Acabrun­hado, Bar­ney decide, então, recon­sti­tuir a supos­ta ver­dade dos fatos de sua vida. Bus­can­do a origem das acusações, ele engrena sua prosa sar­cás­ti­ca e auto-irôni­ca, que fez a fama de Rich­ler e é comu­mente com­para­da à demoli­do­ra verve humorís­ti­ca, de corte judaico, de Philip Roth e Woody Allen. Será que podemos con­fi­ar na ver­são de Bar­ney? — é o que se per­gun­tará várias vezes o leitor. Até a últi­ma pági­na, sua grande certeza é a de que tem nas mãos uma obra de “um grande estilista, com um tremen­do ouvi­do para a paró­dia e o diál­o­go cômi­co”, como escreveu James Shapiro, no New York Times. 

    Morde­cai Rich­ler (1931–2001) nasceu em Mon­tre­al, no Canadá. Pub­li­cou dez romances, entre eles The Appren­tice­ship of Dud­dy Kravitz, St. Urbain’s Horse­man e Solomon Gursky Was Here.

  • Crítica: Um Bonde Chamado Desejo

    Crítica: Um Bonde Chamado Desejo

    O cin­e­ma e a lit­er­atu­ra sem­pre tiver­am uma estre­i­ta lig­ação, afi­nal o proces­so de cri­ação de um leitor per­ante uma obra literária é de con­strução da imag­i­nação. Com o surg­i­men­to do cin­e­ma, aumen­taram as pos­si­bil­i­dades de se ver atores/atrizes sendo dirigi­dos por grandes dire­tores e dan­do vida à grandes clás­si­cos da lit­er­atu­ra. E foi com essa pre­mis­sa que nas primeiras décadas do surg­i­men­to da séti­ma arte, a maio­r­ia da pro­dução era foca­da na adap­tação dos livros para a tela, ten­do seu auge na déca­da de 50, com grandes clás­si­cos Hollywoodianos .

    Ten­nessee Williams foi um dos dra­matur­gos mais adap­ta­dos pro cin­e­ma e tam­bém um dos mais pro­lí­fi­cos, muito a frente de sua época. Teve uma vida com­pli­ca­da por causa de seus prob­le­mas com o pai e com a esquizofre­nia de sua irmã. Sua depressão o lev­ou ao alcoolis­mo mas, ape­sar dis­so, ele sem­pre escreveu peças extrema­mente insti­gantes e desafi­ado­ras para os padrões de seu tem­po. Sua peça mais inter­es­sante talvez ten­ha sido Um bonde chama­do dese­jo (A street­car named desire) , que fez imen­so suces­so no teatro e foi adap­ta­da para o cin­e­ma, pelo dire­tor Elia Kazan , sob o títu­lo Uma rua chama­da peca­do (A Street­car Named Desire, EUA, 1951), con­tan­do com estre­las como a já famosa Vivien Leigh e o galã Mar­lon Bran­do.

    Blanche DuBois (Vivien Leigh) é uma mul­her inde­pen­dente e cheia de admi­radores, mas após perder sua pro­priedade e ter uma crise de “ner­vos”, ela vai morar com sua irmã mais nova, Stel­la (Kim Hunter) e seu cun­hado, Stan­ley (Mar­lon Bran­do). A del­i­cadeza de Blanche logo entra em con­fli­to com o com­por­ta­men­to agres­si­vo de Stan­ley, crian­do uma ten­são que nun­ca tin­ha sido expos­ta de tal for­ma no cinema.

    Claro que o roteiro de Uma rua chama­da peca­do foi bas­tante mod­i­fi­ca­do para o cin­e­ma, afi­nal a lit­er­atu­ra já era uma arte com mais liber­dade de ousa­dias do que o audio­vi­su­al e cer­tas questões do enre­do dev­e­ri­am ser adap­tadas para a sociedade da época. Algu­mas car­ac­terís­ti­cas que divergem do livro são bem visíveis, como a fal­sa inocên­cia de Blanche, que teve um caso com um aluno de 17 anos e teve uma enorme var­iedade de amantes. Ain­da, no orig­i­nal a questão da morte do mari­do de Blanche e o fato dele ser homos­sex­u­al ficam bem claros, mas como na déca­da de 50 ess­es assun­tos eram tabus, eles são bem implíc­i­tos. Pelo fato do lon­ga se focar de for­ma pri­morosa na ten­são entre Blanche e Stan­ley, estas lim­i­tações não afe­taram em prati­ca­mente nada o resul­ta­do final.

    Uma rua chama­da peca­do, mar­ca o retorno de Vivien Leigh aos cin­e­mas, após seu imen­so suces­so como Scar­lett O’Hara, em E o Ven­to Lev­ou, de Vic­tor Flem­ing. Já Mar­lon Bran­do, ain­da esta­va no começo de sua car­reira. A quími­ca entre os dois atores é tão forte que o filme foi con­sid­er­a­do eróti­co demais para a época, ape­sar de não haver con­ta­to algum entre Blanche e Stan­ley, mas a ten­são entre os dois é tão forte que se tor­na sexual.

    Fatos curiosos sem­pre cir­cu­lam em torno de filmes clás­si­cos, prin­ci­pal­mente nos anos 50 em que Hol­ly­wood vivia uma efer­vescên­cia cin­e­matográ­fi­ca. Vivien Leigh, por exem­p­lo, sofria de transtorno bipo­lar, e em diver­sos momen­tos ela não con­seguia dis­tin­guir a vida real da vida de sua per­son­agem. Segun­do as lendas, o dire­tor Elia Kazan se uti­li­zou desse fato para dar mais vida à Blanche de Uma rua chama­da peca­do. Mór­bido ou não, é mais uma das lendas que tor­nam o cin­e­ma hol­ly­wood­i­ano dessa época tão inter­es­sante. Não havia muitos recur­sos de imagem, de som e as maquia­gens eram muito sim­ples. A beleza das atrizes eram nat­u­rais e os “efeitos espe­ci­ais” eram mín­i­mos, dessa for­ma a atu­ação era o prin­ci­pal atra­ti­vo do filme. E nesse aspec­to, os per­son­agens de Bran­do e Leigh foram os mais per­feitos exem­p­los disso.

    Mes­mo que os filmes de aven­tu­ra estivessem fazen­do muito suces­so, assim como a ficção cien­tí­fi­ca, Uma Rua Chama­da Peca­do mudou com­ple­ta­mente o rumo desse seg­men­to. Diver­sos ele­men­tos con­sid­er­a­dos polêmi­cos na época estão nesse filme e mes­mo assim ele foi um enorme suces­so. Uma lição para os filmes atu­ais, que vivem repetindo a mes­ma fór­mu­la e não atingem o mes­mo pata­mar de atores e dire­tores, como Vivien Leigh, Mar­lon Bran­do, Elia Kazan e out­ros astros da época de ouro do cinema.

    Cena do Filme:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=2rYPjJIyKP8