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  • O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann | Crítica

    O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann | Crítica

    ograndegatsby-posterCom um visu­al deslum­brante e um elen­co com vários nomes de peso, O Grande Gats­by (The Great Gats­by, EUA/Australia, 2013), dirigi­do por Baz Luhrmann, é com certeza um dos filmes mais esper­a­dos deste semestre.

    O lon­ga con­ta a história de Nick Car­raway (Tobey Maguire), um aspi­rante a escritor que ao se mudar para Nova York, deixa sua paixão pelas letras de lado por con­ta do tra­bal­ho na bol­sa de val­ores. Ele mora ao lado da man­são do mis­te­rioso Jay Gats­by (Leonar­do DiCaprio), que sem­pre está dan­do grandes e lux­u­osas fes­tas e, para sua sur­pre­sa, um dia é con­vi­da­do para uma delas. Do out­ro lado da ilha vive sua pri­ma Daisy (Carey Mul­li­gan) e seu mari­do Tom Buchanan (Joel Edger­ton), com o qual estu­dou jun­to na fac­ul­dade. O des­ti­no de todos aos poucos é entre­laça­do por con­ta de um grande seg­re­do que Gats­by esconde.

    O enre­do foi basea­do no famoso romance homôn­i­mo do escritor amer­i­cano F. Scott Fitzger­ald, pub­li­ca­do em 1925, que já foi adap­ta­do duas vezes para o cin­e­ma. A primeira em 1949, dirigi­da por Elliott Nugent, e a segun­da e mais con­heci­da adap­tação, dirigi­da por Jack Clay­ton em 1974, com Robert Red­ford e Mia Farrow.

    As luxuosas festas na mansão do Gatsby
    As lux­u­osas fes­tas na man­são do Gatsby

    Difí­cil não ficar mar­avil­ha­do com toda a recon­strução da época e seus fig­uri­nos estu­pen­dos ao assi­s­tir O Grande Gats­by. Moti­vo aliás que fez Luhrmann ficar con­heci­do tam­bém pelos lon­gas Moulin Rouge — Amor em Ver­mel­ho (2001) e Romeu + Juli­eta (1996). Nes­ta adap­tação, o dire­tor tam­bém decid­iu explo­rar exten­si­va­mente a téc­ni­ca trav­el­ling para mostrar a Nova York da déca­da de 20 e seus arredores. O resul­ta­do ficou visual­mente muito inter­es­sante, mas pelo seu uso muito repet­i­ti­vo logo ficou algo cansati­vo. Aliás, são só nes­tas cenas em que o 3D é real­mente perce­bido. Há out­ro recur­so visu­al que foi muito bem tra­bal­ha­do: as várias ani­mações cri­adas para retratar visual­mente o tex­to da história nar­ra­da pelo Nick, como se ele estivesse escreven­do naque­le momento.

    A Nova York da década de 20
    A Nova York da déca­da de 20
    Capa da trilha sonora
    Capa da tril­ha sonora

    A tril­ha sono­ra é out­ro aspec­to bem inter­es­sante do filme, pois con­trasta total­mente com o esti­lo e ima­gens da época, out­ra car­ac­terís­ti­ca pecu­liar do dire­tor. Var­ian­do bas­tante de esti­lo mas ten­do sem­pre algum ele­men­to mais eletrôni­co no meio, a tril­ha traz para o pre­sente todo aque­le ambi­ente fes­ti­vo, e tam­bém aumen­ta ain­da mais a sen­sação de arti­fi­cial­i­dade e vazio que todo este glam­our e mate­ri­al­is­mo trazem con­si­go. As músi­cas são com­postas por nomes famosos como Bey­on­cé, will.i.am, Flo­rence + The Machine, Lana del Rey e Jack White.

    Tobey Maguire, Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan e Joel Edgerton
    Tobey Maguire, Leonar­do DiCaprio, Carey Mul­li­gan e Joel Edgerton

    O maior defeito de O Grande Gats­by é não deixar espaço para que o espec­ta­dor pos­sa tirar suas próprias con­clusões e exerci­tar min­i­ma­mente sua imag­i­nação. O prin­ci­pal cul­pa­do dis­to é a pre­sença de uma nar­rador que está sem­pre pre­ocu­pa­do em explicar tudo que se está ven­do nos mín­i­mos detal­h­es, como se ele estivesse lit­eral­mente lendo um livro e as ima­gens da tela fos­sem ape­nas uma rep­re­sen­tação do tex­to. O uso da nar­ração é tão exces­si­vo que a atu­ação de profis­sion­ais tão tal­en­tosos como o Leonar­do DiCaprio (que recen­te­mente fez Djan­go Livre) e a Carey Mul­li­gan (do óti­mo Dri­ve), ficam em segun­do plano. O roteiro, escrito pelo próprio Luhrmann e por Craig Pearce, tam­bém não faz questão de man­ter qual­quer tipo de mis­tério ou pos­sív­el dúvi­da a respeito da inter­pre­tação de uma situ­ação, não per­den­do tem­po para logo explicar tudo, seja por flash­backs ou narração.

    Cena da adaptação de 1974 com Bruce Dern, Sam Waterston, Mia Farrow, Robert Redford e Lois Chiles
    Cena da adap­tação de 1974 com Bruce Dern, Sam Water­ston, Mia Far­row, Robert Red­ford e Lois Chiles

    Na adap­tação de 1974, dirigi­da por Clay­ton e rote­i­riza­da por Fran­cis Ford Cop­po­la, muitas coisas ficam suben­ten­di­das e o mis­tério sobre quem é real­mente esse mis­te­rioso Gab­sty e quais suas intenção, só é rev­e­la­do muito aos poucos. Com­para­n­do com a ver­são atu­al, é difí­cil não se sen­tir trata­do como alguém que não con­segue enten­der nada do que está acon­te­cen­do na tela, de tão exager­a­do que são as expli­cações ou então a demon­stração das inten­sões dos per­son­agens por movi­men­tos físi­cos exager­a­dos. Cer­tos momen­tos a impressão é de que este roteiro foi feito para sanar todas as dúvi­das que o out­ro criou, para não haver assim qual­quer sen­sação de confusão.

    Muitas flores e talento, mas pouco conteúdo
    Muitas flo­res e tal­en­to, mas pouco conteúdo

    O Grande Gats­by tin­ha grandes chances de ser um dos destaques do cin­e­ma deste ano, mas acabou sendo ape­nas uma exper­iên­cia visual­mente deslum­brante por con­ta da fra­ca adap­tação do roteiro, que não se pre­ocupou em insti­gar o inter­esse do espec­ta­dor para algo além de coisas boni­tas na tela. Nem o elen­co de peso con­seguiu tornar a história do filme razoavel­mente cativamente.

  • Crítica: Corações Sujos

    Crítica: Corações Sujos

    A Segun­da Guer­ra Mundi­al dava seus últi­mos sus­piros em 1945, um dos últi­mos momen­tos dela foi o fim do con­fli­to no Pací­fi­co, entre os Esta­dos Unidos e Japão, com o primeiro bom­barde­an­do as cidades de Hiroshi­ma e Nagasa­ki, fazen­do com que os japone­ses se ren­dessem. No Brasil, se for­ma­va a maior colô­nia de japone­ses fora do Japão e a notí­cia não foi bem rece­bi­da por boa parte dos imi­grantes que vivi­am seg­re­ga­dos, não falavam o por­tuguês e eram proibidos de ler jor­nais e revis­tas japoneses.

    O lon­ga Corações Sujos (Brasil, 2011), dirigi­do por Vicente Amor­im, basea­do no livro-reportagem homôn­i­mo (Com­pan­hia das Letras) de Fer­nan­do Morais, faz um recorte do momen­to que vivi­am as colô­nias japone­sas, já em expan­são, no esta­do de São Paulo. O enre­do é con­ta­do por Miyu­ki, esposa do fotó­grafo Taka­hashi, se focan­do em per­son­agens de um lugar coman­da­do por um homem tradi­cional, ex-mil­i­tar do exérci­to japonês e dota­do de um sen­ti­men­to de hon­ra para com imper­ador do Japão. Ao rece­berem as notí­cias (em por­tuguês) do fim da guer­ra, os mais tradi­cionais se recusam a acred­i­tar, afi­nal, o Japão era invic­to em sua história béli­ca. Aos que com­preen­di­am o por­tuguês era quase impos­sív­el não acred­i­tar, mes­mo que de for­ma dolorosa.

    E foi com essa descrença que surge a sei­ta ter­ror­ista Shin­do Ren­mei. Divi­di­dos entre kachigu­mis — rad­i­cal­is­tas e com boa parte do apoio — e os makegu­mis — con­formis­tas e inti­t­u­la­dos de for­ma pejo­ra­ti­va como corações sujos — as peque­nas colô­nias pas­saram a enfrentar atos de ter­ror­is­mo e perseguição que deixou mor­tos, feri­dos e muitos japone­ses pre­sos pelo DOPS, a polí­cia da época. Era uma guer­ra frat­ri­ci­da basea­da em um amor desme­di­do pela nação deix­a­da para trás e claro, pela figu­ra do imper­ador, con­sid­er­a­do imor­tal pelos japoneses.

    Corações Sujos traz uma história descon­heci­da, tão silen­ciosa quan­to a própria cul­tura japone­sa. Assim como out­ros mas­sacres no inte­ri­or do país, envol­ven­do out­ras cul­turas, ficaram cal­adas durante muito tem­po. Tra­bal­han­do com uma comu­nidade em foco, o lon­ga mostra o dra­ma do amor pela hon­ra vis­to por todas as faces. Seja pelos olhos de Miyu­ki, que logo no íni­cio con­ta que perdeu tudo nes­sa guer­ra, seja pelos olhos dos que decidi­ram empun­har armas e matar seus con­ter­râ­neos, ou ain­da das ati­tudes brasileiras em relação ao apego dos imi­grantes com sua cul­tura. Não há mocin­hos ou ban­di­dos em Corações Sujos, há ape­nas pes­soas machu­cadas por uma guer­ra, acred­i­tan­do cega­mente no que con­sid­er­avam certo.

    Mes­mo com pro­dução total­mente brasileira, Corações Sujos con­ta um elen­co japonês — atores de 13 Assas­si­mos (2010), de Takashi Miike ‚do belo A Par­ti­da (2008), entre out­ros — e quase todo com diál­o­gos japone­ses, dan­do força no sen­ti­do de que real­mente só se fala­va essa lín­gua nas colô­nias. Hou­ver­am recla­mações quan­to aos papeis apa­ga­dos dos brasileiros no enre­do do filme, mas não vejo esse fato como prob­le­ma já que o con­fli­to se baseia entre os próprios imi­grantes e as autori­dades locais que entraram com a repressão da época e com pouco entendi­men­to de causa. Creio que o maior prob­le­ma do lon­ga seja a pou­ca explo­ração da questão políti­ca expli­ca­da no con­tex­to e do enfoque na roman­ti­za­ção do roteiro, mas ess­es são artí­fi­cios de mer­ca­do, nada exager­a­dos nesse caso.


    Roda­do no inte­ri­or de São Paulo — muito próx­i­mo dos lugares reais do con­fli­to — o filme con­ta com uma óti­ma pro­dução, direção de arte e tam­bém com os famosos silên­cios do cin­e­ma e cul­tura japone­ses. E bem na ver­dade, não há muito o que se diz­er, havia uma espé­cie de torre de babel onde todos estavam, imi­grantes entre si e brasileiros não se enten­di­am e não que­ri­am se faz­er enten­der, cada um com sua ver­dade, pas­san­do isso muito bem no longa.

    Acred­i­to que o val­or de um filme como Corações Sujos este­ja no con­hec­i­men­to de causa, con­tra a total ignorân­cia que temos sobre histórias que for­maram nos­so país tão mul­ti­fac­eta­do. Ape­sar da pro­dução nacional cor­rer bem em cir­cuitos alter­na­tivos, a pro­dução mais com­er­cial beira ao fol­hetim tele­vi­si­vo e Corações Sujos desem­pen­ha bem o papel de traz­er um out­ro olhar para esse tipo de produção.

    Trail­er:

  • Crítica: Intocáveis

    Crítica: Intocáveis

    O lon­ga Intocáveis (Intouch­ables, França, 2011), dirigi­do pela dupla Eric Toledano e Olivi­er Nakache, chega atrasa­do no Brasil — e só vem graças ao Fes­ti­val Var­ilux- mostran­do mais do jeito francês de faz­er filmes com um ape­lo, dig­amos, com­er­cial. O lon­ga é uma comé­dia, com pitadas de dra­ma, dig­nos de você sair inspi­ra­do do cinema.

    O enre­do, basea­do no livro O Segun­do Sus­piro (Intrin­se­ca), tra­ta do refi­na­do tetraplégi­co Philippe em bus­ca de uma espé­cie de enfer­meiro, um cuidador como se diz por aqui. Cansa­do dos mes­mos tediosos home­ns, cheios de refer­ên­cias, for­mação e com pou­ca humanidade, ele resolve dar uma chance ao ocioso Driss, um sene­galês que só entrou na fila para con­seguir um seguro-desem­prego. Os momen­tos que estas duas fig­uras dis­tin­tas vão pas­sar jun­tos — fig­uras de uma Paris polar­iza­da entre o nati­vo e o imi­grante — vão dar tom a várias descober­tas sim­ples do sen­ti­do de amizade, sem forçar nen­hu­ma barra.

    Intocáveis, ape­sar de ser rotu­la­do como uma comé­dia e se pas­sar na cap­i­tal român­ti­ca de Paris, em nen­hum momen­to o espec­ta­dor enx­er­ga a mitó­log­i­ca cap­i­tal a não ser em uma cena que a Torre Eif­fel serve de sim­ples ele­men­to fig­u­ra­ti­vo de algo mais inter­es­sante. As cenas entre o sub­úr­bio da cap­i­tal, onde vive Driss e sua grande família, e a man­são onde vive o rico Phillippe, não deix­am que o lon­ga aban­done de lado os ques­tion­a­men­tos de uma França con­tem­porânea e nem um pouco român­ti­ca. Aliás, falan­do em não roman­tismo, o lon­ga tem aque­la beleza dramáti­ca de filmes de amizade que víamos — ah! os bons tem­pos amer­i­canos — na sessão da tarde em dra­mas como A Cura, ou ain­da, Patch Adams.

    O filme fez um grande suces­so logo que foi lança­do e o ator Omar Sy, que faz Driss, chegou a des­ban­car o francês Jean Dujardim, de O Artista, na cat­e­go­ria de mel­hor ator no prêmio Cesar. De fato, Omar tem um caris­ma con­quis­ta­dor, as piadas do per­son­agem são extrema­mente diver­tidas e ele tra­bal­ha muito bem com o vet­er­a­no François Cluzet, for­man­do uma boa dupla.

    O cin­e­ma francês vai muito bem, obri­ga­do. Mas, claro que os amer­i­canos não perder­am tem­po, com a crise de cri­ação que car­regam há anos, prom­e­tem para logo um remake do lon­ga. Mas creio que Intocáveis, assim como muitos filmes agradáveis vin­dos ulti­ma­mente da França — vide o pri­moroso Min­has Tarde com Mar­guerite - ten­ha um charme pecu­liar, sen­sív­el sem ser dramáti­co e difí­cil de ser repro­duzi­do. Assista Intocáveis para sen­tir, pelo menos durante a duração do filme, que podemos ter grandes ami­gos em um mun­do cheio de rótu­lo e divisórias. O Fes­ti­val Var­ilux de Cin­e­ma Francês acon­tece de 15 a 23 de agos­to de 2012 e o Intocáveis abre o evento.

    Trail­er:

  • Livro: Guerra dos Tronos — George R. R. Martin

    Livro: Guerra dos Tronos — George R. R. Martin

    Os ingre­di­entes estão todos lá: a ambi­en­tação da tra­ma em um momen­to dis­tante da história dos home­ns, em que o nat­ur­al e o sobre­nat­ur­al coex­is­tem (nem sem­pre em har­mo­nia); a descrição detal­ha­da de lugares e per­son­agens, trans­portan­do o leitor para um uni­ver­so fan­tás­ti­co; um con­fli­to a ser resolvi­do; lutas de espa­da, sangue e muitas cabeças cor­tadas. O que, então, faz a obra de George R. R. Mar­tin difer­en­ciar-se de tan­tas out­ras do mes­mo gênero e tornar-se suces­so edi­to­r­i­al, com dire­ito a adap­tação para fei­ta TV pela HBO?

    Uma das respostas para essa per­gun­ta está na for­ma como Mar­tin com­bi­na todos os ele­men­tos cita­dos aci­ma, crian­do uma história que deixa o leitor o tem­po todo de sobressalto.

    Guer­ra dos tronos apre­sen­ta, em lin­has muito gerais, três núcleos prin­ci­pais: Ned Stark e sua família, habi­tantes do Norte; Robert Baratheon e a família Lan­nis­ter, que imper­am sobre os Sete Reinos; Daen­erys e Khal Dro­go, este últi­mo coman­dante dos guer­reiros nômades dothrakis. A história começa quan­do Jon Arryn, espé­cie de braço dire­ito do rei Robert, morre e pre­cisa ser sub­sti­tuí­do. Para a função, Robert escol­he Ned Stark, des­en­cade­an­do uma série de não acon­tec­i­men­tos na vida dos per­son­agens prin­ci­pais e dos vários (e igual­mente impor­tantes) per­son­agens secundários que per­me­iam a trama.

    Resu­min­do assim, a história parece um tan­to sim­plista, mas acred­ite, não é. Os even­tos que se seguem a par­tir desse con­fli­to ini­cial são impre­visíveis, a tra­ma tor­na-se com­plexa a intrin­ca­da, e nen­hum per­son­agem é poupa­do. Mar­tin não segue a clás­si­ca fór­mu­la da jor­na­da do herói, por exem­p­lo, em que um per­son­agem aparente­mente comum é “chama­do” a cumprir uma mis­são, enfrentan­do inúmeros obstácu­los para completá-la.

    A leitu­ra de Guer­ra dos tronos é um exer­cí­cio de desapego literário – nada impede que, ao virar da pági­na, seu per­son­agem favorito sofra uma morte ines­per­a­da, ou que alguém que você enten­dia como o vilão da história faça algo bon­doso. Não há vilões e mocin­hos; é o intrin­ca­do jogo de inter­ess­es e intri­gas que move os per­son­agens, tor­nan­do o livro, assim, tão inter­es­sante. Mar­tin tira o leitor da zona de con­for­to, difer­ente de out­ros títu­los desse gênero, que pecam pela obviedade.

    Out­ro traço inter­es­sante da obra é que cada capí­tu­lo é iden­ti­fi­ca­do pelo nome de um per­son­agem e é sob a óti­ca dele, naque­le momen­to, que sabe­mos o que acon­tece, avançan­do pro­gres­si­va­mente na tra­ma. Porém, ao faz­er isso, Mar­tin esqui­va-se de descr­ev­er algu­mas das cenas mais esper­adas no livro, o que pode ger­ar cer­ta frus­tração durante a leitu­ra. Algu­mas cenas de batal­ha, assim como o des­ti­no de alguns per­son­agens, não são detal­hadas, sendo resum­i­dos em pou­cas lin­has. Quem lê um livro de quase 600 pági­nas esperan­do um “des­fe­cho” para algu­mas situ­ações apre­sen­tadas, sem obtê-las, pode sen­tir essa fal­ta, um tan­to incô­mo­da. Da mes­ma for­ma, a descrição detal­hadís­si­ma dos per­son­agens e suas ves­ti­men­tas, emb­o­ra impor­tante, às vezes parece desnec­es­sari­a­mente esmi­uça­da e deixa a tra­ma arrastada.

    Ain­da assim, o sal­do da história é pos­i­ti­vo, e as ressal­vas descritas aci­ma se tor­nam por­menores diante da grandiosi­dade da obra, que ameal­hou alguns prêmios de mel­hor romance de fan­ta­sia na época de sua pub­li­cação nos Esta­dos Unidos, em 1996. 

    O desen­ro­lar do livro é sur­preen­dente; os per­son­agens tomam rumos ines­per­a­dos e os acon­tec­i­men­tos, da for­ma como são dis­pos­tos, imprimem rit­mo à tra­ma. Guer­ra dos tronos faz parte de uma série de sete livros (for­man­do As crôni­cas de gelo e fogo), dos quais ape­nas três foram lança­dos no Brasil. Irre­sistív­el, assim que ter­mi­nar o primeiro livro, você vai quer­er ler o segun­do vol­ume da saga, com a certeza de que o inver­no está mes­mo chegando…

  • Crítica: Natimorto

    Crítica: Natimorto

    Lourenço Mutarel­li é um dos escritores mais inter­es­santes e híbri­dos da lit­er­atu­ra atu­al e Nati­mor­to (Brasil, 2011), dirigi­do por Paulo Mach­line, é a adap­tação do segun­do livro deste escritor con­heci­do pela den­si­dade e iro­nia de suas obras.

    Um homem e uma mul­her numa pro­pos­ta de tentarem viv­er suas vidas, lit­eral­mente, num quar­to de hotel. Os per­son­agens se resumem no homem (Lourenço Mutarel­li), uma espé­cie de pro­du­tor musi­cal e a mul­her (Simone Spo­ladore), uma can­to­ra de ópera. Enquan­to o cotid­i­ano da relação vai se con­stru­in­do, eles pas­sam a dis­cu­tir, entre cig­a­r­ros e cafés, seus futur­os através da asso­ci­ação de embal­a­gens de cig­a­r­ro e car­tas do Tarô.

    O enre­do de Nati­mor­to se foca neste con­vívio claus­trofóbi­co, exem­pli­f­i­can­do de for­ma muito inter­es­sante o sufo­ca­men­to das relações. Os dois per­son­agens podem sair o momen­to que quis­erem da situ­ação pro­pos­ta, mas não há a ini­cia­ti­va. Ele por não acred­i­tar na vida fora do quar­to e sen­tir que sua vida se resume em lamen­to, café e cig­a­r­ros e ela por ter a neces­si­dade de alguém que ali­mente a sua per­spec­ti­va de existên­cia, ou seja, uma relação extrema­mente simbiótica.

    Antes de ser con­heci­do pela sur­preen­dente obra e bem suce­di­da adap­tação de O cheiro do Ralo, Lourenço Mutarel­li era famoso pelos seus quadrin­hos obscuros e reple­tos de um humor negro incon­fundív­el. Além dis­so, o paulista tam­bém é con­heci­do na lit­er­atu­ra con­tem­porânea pelas idioss­in­cra­cias e por con­stru­ir diál­o­gos inteligentes pau­ta­dos por movi­men­tos de câmeras-nar­ra­ti­vas que vem e vão durante as cenas literárias.

    O fato de Mutarel­li usar recur­sos de roteiro para escr­ev­er seus romances não sig­nifi­ca que as adap­tações de seus tra­bal­hos, para o cin­e­ma, devam sem­pre ser trans­postas de for­ma lit­er­al. Há detal­h­es na nar­ra­ti­va literária que surtem efeito aos olhos do leitor mas, quan­do pas­sadas para uma nar­ra­ti­va de imagem, elas aparentam serem mais lon­gas ou fazem pouco sen­ti­do num deter­mi­na­do plano. Na adap­tação de Nati­mor­to, ocor­reu isso algu­mas vezes, como, por exem­p­lo, nos lon­gos diál­o­gos reple­tos de reflexões, numa espé­cie de bate e vol­ta con­si­go mes­mo, do per­son­agem sociofóbi­co inter­pre­ta­do pelo próprio Mutarel­li. Os lon­gos diál­o­gos no lon­ga se tor­nam, em algum momen­tos, um pouco cansativos por ocu­parem difer­entes tem­pos do que ocorre na nar­ra­ti­va literária. No livro, os dis­cur­sos se desen­volvem em muitas pági­nas, enquan­to no filme eles são suprim­i­dos a uma cena do roteiro.

    Por out­ro lado, out­ras situ­ações se encaixaram per­feita­mente, como em muitos momen­tos onde os planos seguem à risca as descrições do livro em que o nar­rador apon­ta a câmera para a boca de deter­mi­na­do per­son­agem, como se o leitor — ago­ra espec­ta­dor — final­mente pudesse enten­der deter­mi­na­da situ­ação descri­ta no livro.

    Em Nati­mor­to há pou­cas cenas exter­nas, o que aca­ba fazen­do a atenção se voltar para as inter­pre­tações, como a do próprio escritor que se mostra inse­guro no íni­cio do filme mas que, com o pas­sar do tem­po, se tor­na uma pre­mis­sa psi­cológ­i­ca do per­son­agem. A aparên­cia miú­da e ner­vosa de Mutarel­li con­funde, de for­ma muito inter­es­sante, o cri­ador e a criatu­ra. Já Spo­ladore faz um papel que acred­i­to com­bi­nar com ela, pos­suin­do uma voz forte e um olhar irôni­co cabív­el à personagem.

    Nati­mor­to é uma exper­iên­cia inter­es­sante para o cin­e­ma nacional que vem apo­s­tan­do em tra­bal­ho menos hiper­re­al­is­tas e con­fig­u­ran­do asso­ci­ações com a lit­er­atu­ra fei­ta no pre­sente. Mes­mo para os desacos­tu­ma­dos a um cin­e­ma com mais diál­o­gos e exper­i­men­tal, o filme vale o ingresso.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=PfoHx-kHUhQ

  • Crítica: Eu e Meu Guarda-Chuva

    Crítica: Eu e Meu Guarda-Chuva

    Há tem­pos que o públi­co infan­til não era favore­ci­do com um bom filme nacional e Eu e Meu Guar­da-Chu­va (Brasil, 2010), dirigi­do por Toni Van­zoli­ni e basea­do no livro homôn­i­mo de Bran­co Mel­lo, veio para ten­tar suprir parte des­ta lacuna.

    Três mel­hores ami­gos, Eugênio (Lucas Cotrim), Fri­da (Rafaela Vic­tor) e Cebo­la (Vic­tor Froiman) estão no seu últi­mo dia de férias, antes das aulas começarem na nova esco­la. Para aproveitar ao máx­i­mo o tem­po que ain­da lhes res­ta, deci­dem faz­er algo emo­cio­nante: vis­i­tar o pré­dio do colé­gio para pixá-lo. Lá se deparam com o fan­tas­ma do Barão Von Staffen (Daniel Dan­tas), o fun­dador do colé­gio, que apri­siona Fri­da em sua ter­rív­el sala de aula e os dois ami­gos vão ten­tar faz­er de tudo para salvá-la.

    O enre­do de Eu e Meu Guar­da-Chu­va é muito bem tra­bal­ha­do e con­segue des­per­tar a curiosi­dade e a cria­tivi­dade do públi­co mais jovem, com temas um pouco mais com­plex­os do que se vê nor­mal­mente em lon­gas do gênero. Boa parte do filme se pas­sa den­tro do son­ho de Eugênio e, como é nor­mal no mun­do oníri­co, são dados vários “pulos” de um ambi­ente para out­ro de maneiras bem engraçadas, além de ter vários ele­men­tos fan­ta­siosos. O lon­ga tam­bém faz uma bela críti­ca ao sis­tema de ensi­no que só se pre­ocu­pa em os alunos dec­o­rarem a matéria para dar “respos­ta exatas”, para assim agradar o ego do pro­fes­sor, e com a sua estru­tu­ra ain­da muito antiga.

    O filme con­segue traz­er uma magia pare­ci­da com a que havia em O Caste­lo Rá-Tim-Bum. Mas infe­liz­mente, difer­ente deste, os atores prin­ci­pais não con­seguem ser tão envol­ventes, pois a atu­ação fica na maio­r­ia das vezes no mecâni­co, com­pro­m­e­tendo a imer­são na magia de Eu e Meu Guar­da-Chu­va. Mas, os out­ros atores, com algu­mas óti­mas par­tic­i­pações espe­ci­ais, fiz­er­am um bom trabalho.

    Ape­sar de ter óti­mas locações e uma bela fotografia, com efeitos espe­ci­ais sim­ples mas bem real­iza­dos, a qual­i­dade da imagem em ger­al de Eu e Meu Guar­da-Chu­va é pés­si­ma, toda gran­u­la­da, que inco­mo­da bas­tante. Com uma pro­dução tão aten­ciosa com os detal­h­es é difí­cil enten­der como isso foi acon­te­cer, até porque faz tem­po que não vejo um filme nacional com tal tipo de problema.

    Eu e Meu Guar­da-Chu­va é um filme mági­co e bas­tante diver­tido, algo que já faz um tem­po não apare­cia no cin­e­ma nacional. Não só a cri­ança­da, mas tam­bém os adul­tos irão se diver­tir nes­sa viagem onírica.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=lManmp1yVCs

  • Crítica: Comer, Rezar, Amar

    Crítica: Comer, Rezar, Amar

    Basea­do no best-sell­er homôn­i­mo da escrito­ra Eliz­a­beth Gilbert, Com­er, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love”, USA, 2010), dirigi­do por Ryan Mur­phy, segue os padrões hol­ly­wood­i­anos na bus­ca do maior ibope e, é claro, do maior lucro.

    Liz Gilbert (Julia Roberts) é uma mul­her mod­er­na que ape­sar de ter tudo o que é cul­tur­a­mente dito ser necessário para ela (mari­do, emprego, din­heiro e suces­so), se sente infe­liz e cada vez mais estag­na­da. Após se divor­ciar do seu fra­cas­sa­do casa­men­to e con­seguir sen­tir nova­mente o gos­to de viv­er inten­sa­mente e ser mais com­ple­ta, decide par­tir em uma jor­na­da físi­ca e espir­i­tu­al, para lit­eral­mente com­er, rezar e amar.

    Com­er, Rezar, Amar pos­sui um esti­lo bem de diário pes­soal de viagem, com a pro­tag­o­nista rev­e­lando suas peque­nas con­quis­tas, angús­tias e dese­jos a respeito dos acon­tec­i­men­tos vivi­dos. Por isso mes­mo, tra­ta-se de uma visão bem fem­i­ni­na dos fatos, a qual talvez não agrade muito o públi­co mas­culi­no em ger­al (“filme de meni­na” segun­do o Rubens Ewald Fil­ho). Mas não estou de for­ma nen­hu­ma levan­do esta afir­mação ao extremo, para mim não foi um fator que chegou a incomodar.

    É inter­es­sante notar o com­por­ta­men­to de Liz Gilbert durante Com­er, Rezar, Amar como uma mera tur­ista, onde as filosofias e ensi­na­men­tos são ape­nas con­sum­i­dos, como quan­do você com­pra uma peque­na estat­ue­ta, para se adap­tar à sua real­i­dade amer­i­cana, não haven­do uma trans­for­mação mais pro­fun­da de val­ores. Aliás, o filme brin­ca as vezes com essa dual­i­dade entre ape­nas con­sumir val­ores de out­ras cul­turas como mero obje­to dec­o­ra­ti­vo, só que de maneira extrema­mente sutil, talvez até não inten­cional, como em sua com­pul­são de ter que com­prar peque­nas estat­ue­tas e sím­bo­los e de pre­cis­ar um quar­to todo dec­o­ra­do para meditação.

    O pon­to alto do filme está em sua pas­sagem pela Itália com as tomadas exibindo pratos típi­cos, assim como par­cial­mente a preparação deles, que são de dar água na boca. Além dis­so, é bem diver­tido a expli­cação, e demon­stração, de como os ital­ianos se comu­ni­cam e o que se deve faz­er para se apren­der este idioma. Tam­bém temos belas ima­gens da Índia e Indonésia, ape­sar de que todos os lugares, pes­soas e cos­tumes de Com­er, Rezar, Amar seguem a visão amer­i­cana estereoti­pa­da dos out­ros país­es (os ital­ianos ficaram bem inco­moda­dos, veja o porque). Para reforçar mais ain­da este con­ceito, temos um per­son­agem brasileiro que diz que aqui é nor­mal os pais bei­jarem os fil­hos na boca. Pelo menos não ser­e­mos mais lem­bra­dos ape­nas só pelo car­naval, fute­bol e macacos.

    Com­er, Rezar, Amar é aque­le típi­co filme para se sair da sessão com um sen­ti­men­to de com­ple­tude, depois de uma boa lon­ga, até demais, dose de auto-aju­da. Mas isso sem ter se apro­fun­da­do muito em nen­hum assun­to e tam­bém evi­tan­do tópi­cos mais incô­mo­d­os e del­i­ca­dos, para poder preser­var uma cul­tura do con­sumir, ado­rar e casar (falan­do em matrimônio, breve­mente a auto­ra lançará um novo livro jus­ta­mente sobre este tema).

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=LIGfQYg4lSQ

  • Crítica: O Bem Amado

    Crítica: O Bem Amado

    o bem amado

    Basea­do na telen­ov­ela de suces­so da déca­da de 70, O Bem Ama­do (Brasil, 2010), dirigi­do por Guel Arraes, é uma das adap­tações nacionais mais aguardadas do ano para as telas do cinema.

    Na fic­tí­cia Sucu­pi­ra, o recém-eleito prefeito Odori­co Paraguaçu (Mar­co Nani­ni) tem como prin­ci­pal meta políti­ca con­stru­ir um cemitério para a cidade, mas não pode inau­gurá-lo até con­seguir um fale­ci­do. O tem­po vai pas­san­do e as coisas vão começan­do a com­plicar para ele, prin­ci­pal­mente dev­i­do a forte oposição que vai crescen­do. Afim de sal­var seu manda­to, está dis­pos­to a faz­er tudo que for preciso.

    O Bem Ama­do está sendo bas­tante comen­ta­do por ter sido lança­do jus­ta­mente em um ano de eleições. Afi­nal, nada mel­hor do que uma comé­dia, por ser bas­tante acessív­el e leve, para estim­u­lar o olhar críti­co em relação aos políti­cos. Infe­liz­mente o filme não traz nada de novo à reflexão sobre o assun­to, tudo que ele abor­da já foi vis­to e revis­to mil­hões de vezes, servi­do ago­ra mais ape­nas como algo para se dar risada.

    Algu­mas tomadas do lon­ga são bem engraçadas, como as diva­gações de Odori­co a respeito da inau­gu­ração do “faraôni­co” cemitério, mas as piadas em ger­al são as já bati­das em tan­tos pro­gra­mas de humor tele­vi­sivos. Além dis­so O Bem Ama­do investe pesada­mente em repetições e prin­ci­pal­mente nas inter­pre­tações escan­dalosas, cheias de gri­tos, que nas primeiras vezes até gera algu­mas risadas, mas depois fica muito cansati­vo. Ape­sar dis­so, as analo­gias rela­cio­nan­do Sucu­pi­ra e o Brasil, usan­do vídeos e ima­gens históri­c­as, esti­lo mock­u­men­tary (fal­so doc­u­men­tário), con­seguem dar um rit­mo mais acel­er­a­do, tor­nan­do a exper­iên­cia menos tediosa.

    Não cheguei a acom­pan­har a telen­ov­ela, então infe­liz­mente não pude faz­er nen­hu­ma com­para­ção em relação ao lon­ga. Se você chegou a ver os dois, gostaria de saber: o que você achou da adap­tação? Foi rel­a­ti­va­mente fiel?

    Como entreten­i­men­to puro, ape­nas para dar risadas sem a mín­i­ma reflexão, O Bem Ama­do é o filme cer­to. Já para aque­les que não aguen­tam mais per­son­agens total­mente este­ri­oti­pa­dos, diál­o­gos bati­dos e situ­ações esti­lo “Zor­ra Total”, sugiro procu­rar out­ra coisa para assistir.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=ChmKFr1TQT8

  • Crítica: Kick-Ass — Quebrando Tudo

    Crítica: Kick-Ass — Quebrando Tudo

    Kick-Ass - Quebrando Tudo

    Muito se está falan­do que Kick-Ass — Que­bran­do Tudo (Kick-Ass, EUA/Reino Unido, 2010), Matthew Vaughn, é a grande novi­dade, o últi­mo “como é que eu nun­ca pen­sei nis­so antes?”, mas infe­liz­mente ele está longe de ser isso. Ape­sar de abor­dar vários temas bem inter­es­santes, o faz de maneira bem super­fi­cial e, de cer­ta for­ma, ado­les­cente demais.

    Dave Lizews­ki (Aaron John­son) é um típi­co nerd: sem grandes aptidões físi­cas, nada pop­u­lar na esco­la e vici­a­do em pornografia (para os “politi­ca­mente incor­re­tos”: pun­heteiro) e quadrin­hos. Um dia, con­ver­san­do com seus ami­gos diz: “Por que é nor­mal as pes­soas quer­erem ser uma Paris Hilton e não um Homem Aran­ha? Por que nun­ca ninguém pen­sou em vestir um uni­forme e sair pelas ruas ten­tan­do sal­var o mun­do?”.

    Ini­cial­mente a jor­na­da é muito pare­ci­da, às vezes até idên­ti­ca, com a de Peter Park­er em Homem Aran­ha, do heroi ini­ciante que vai apren­den­do em cima de seus fra­cas­sos e lim­i­tações, com dire­ito até de uma “Mary Jane” para impres­sion­ar. Só que des­ta vez sem a mor­di­da da aran­ha mutante. Tam­bém é impos­sív­el não com­pará-lo com Watch­men, de Zack Sny­der, que pos­sui a mes­ma pre­mis­sa de super heróis sem poderes espe­ci­ais, mas com uma com­plex­i­dade de per­son­agens e um ques­tion­a­men­to pro­fun­do da moral e da sociedade que são abor­da­dos aqui muito super­fi­cial­mente. Assim como os dois casos aci­ma, Kick-Ass — Que­bran­do Tudo tam­bém foi basea­do em uma HQ, neste caso de Mark Mil­lar e John Romi­ta Jr. que foi lança­da aqui no Brasil pela Edi­to­ra Panini.

    Kick-Ass — Que­bran­do Tudo vai por uma ver­tente muito mais de entreten­i­men­to do que pela bus­ca da real­i­dade. Se você procu­ra algo mais real, sugiro assi­s­tir Mirage­man, de Ernesto Díaz Espinoza, que retra­ta um super herói lati­no, que tam­bém não pos­sui nen­hum poder e luta ape­nas com seus con­hec­i­men­tos, e muito treino, de artes mar­ci­ais. Não sei se é coin­cidên­cia, mas ambos os filmes têm vários ele­men­tos em comum e alguns tão pare­ci­dos que chega até a inco­modar. Aliás, dá para falar um monte de várias coisas que estão sendo vis­tas como novi­dades aqui, mas que já foram usadas (e muito) em vários out­ros longas.

    Ain­da não li o quadrin­ho, mas pelo que eu pude acom­pan­har de out­ras pes­soas que já ler­am, várias momen­tos que trazi­am grandes ápices na história foram total­mente reti­ra­dos no filme. Além de trans­for­má-lo em algo muito mais cool, e con­sumív­el, do que real­mente é. Mas uma impressão que ficou é que muitas tomadas de Kick-Ass — Que­bran­do Tudo pare­ci­am que se fos­sem vis­tas em uma HQ iri­am fun­cionar per­feita­mente, mas que no lon­ga acabaram fican­do vazias.

    Difer­ente­mente de vários out­ros filmes do mes­mo gênero, Kick-Ass — Que­bran­do Tudo não se intim­i­da em mostrar toda sua vio­lên­cia e palavrões que tem como per­son­agem mais san­guinário, e que acabou gan­han­do o maior destaque é Hit Girl (Chloe Moretz), uma meni­na de ape­nas 11 anos. Acom­pan­ha­da sem­pre pelo seu pai Big Dad­dy (Nico­las Cage), que de cer­ta for­ma é uma sáti­ra do Bat­man, que já são dois super hero­is ini­ci­a­dos, que acabam aju­dan­do Kick-ass em sua jor­na­da. Dev­i­do prin­ci­pal­mente à ess­es ele­men­tos mais fortes Matthew Vaughn teve que ban­car todo o orça­men­to pois nen­hum grande estú­dio quis inve­stir no filme.

    Kick-Ass — Que­bran­do Tudo é um óti­mo cin­e­ma pipoca para quem gos­ta de mui­ta ação e vio­lên­cia explíci­ta, não se pre­ocu­pan­do com o que é ou não é politi­ca­mente cor­re­to. Mas para quem quer algo a mais, ele deixa a desejar.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=dLvheMk0Rc8

  • Crítica: Príncipe da Pérsia — As Areias do Tempo

    Crítica: Príncipe da Pérsia — As Areias do Tempo

    príncipe da pérsia

    Faz­er qual­quer tipo de adap­tação não é uma tare­fa muito fácil, muitas vezes se aca­ba optan­do por releituras, e geral­mente não agradam os fãs da obra orig­i­nal. Príncipe da Pér­sia: As Areias do Tem­po (Prince of Per­sia: The Sands of Time , EUA, 2010), de Mike Newell, con­segue ser a mel­hor adap­tação de um jogo já real­iza­da até ago­ra e não terá mui­ta difi­cul­dade em agradar à ambos os públicos.

    A história é bem sim­ples: Das­tan (Jake Gyl­len­haal) é um príncipe ado­ti­vo, que jun­to com seus dois “irmãos” invade Ala­mut, uma cidade sagra­da, sob sus­peitas que ali estavam sendo pro­duzi­das armas e ven­di­das para seus inimi­gos. Após a toma­da da cidade, ele pre­cisa fugir dev­i­do á acusasões pelo assas­i­na­to de seu “pai”, o Rei Shara­man (Ronald Pick­up). Nes­ta fuga aca­ba con­hecen­do prince­sa Tam­i­na (Gem­ma Arten­ton) que o aler­ta que talvez há bem mais mis­térios que ele pode­ria acred­i­tar a respeito da morte de seu pai e da invasão á cidade.

    É inevitáv­el para mim faz­er várias com­para­ções com o mun­do dos jogos, aprovei­tan­do a exper­iên­cia que tive com vários deles, ape­sar de nun­ca ter sido grande jogador da série Prince of Per­sia. O rit­mo do Príncipe da Pér­sia: As Areias do Tem­po se assemel­hou bas­tante a eles: mui­ta ação entre­laça­da de dialó­gos que logo acom­pan­ham mais ação. Muitas vezes a sen­sação era a de estar assistin­do uma das cur­tas “cenas” pre­sentes no meio dos jogos, enquan­to se é prepara­do, ou é dado algu­ma expli­cação ao jogador, para con­tin­uar com a próx­i­ma “par­ti­da”. As sim­u­lações do Das­tan procu­ran­do meios de sair de uma situ­ação difí­cil, igual uma mis­são (quest) de jogos, que mes­mo usan­do téc­ni­cas já bati­das do cin­e­ma, ficou bem inter­es­sante quan­do colo­ca­da den­tro desse con­tex­to. Às vezes o lon­ga pare­cia um Machin­i­ma (ani­mações feitas, geral­mente, usan­do cenas de jogos), só que ao con­trário des­ta vez, o real imi­tan­do o virtual.

    As perseguições em Príncipe da Pér­sia: As Areias do Tem­po pos­suem acroba­cias de faz­er os olhos de qual­quer um bril­harem. Não deve ter sido à toa que o asses­sor de Park­our, do lon­ga, foi o próprio cri­ador da téc­ni­ca, David Belle France. Práti­ca que aliás já foi tes­ta­da em out­ros filmes como 13º Dis­tri­to e Casi­no Royale, mas que não con­seguiram ter tan­ta beleza quan­do des­ta vez. Os efeitos espe­ci­ais não deix­am nada a dese­jar. Além da óti­ma qual­i­dade, foram muito bem mon­ta­dos, não fican­do muito exager­a­dos. Já as ambi­en­tações não chegam a sur­preen­der, fican­do no mais do mes­mo de filmes no deser­to (e será que dá para sur­preen­der em um lugar que prati­ca­mente só tem areia?).

    Mas Príncipe da Pér­sia: As Areias do Tem­po aca­ba sofren­do do mes­mo defeito de muitos dess­es jogos: uma história muito fra­ca, um romance total­mente platôni­co e sem sal (só para diz­er que tem mes­mo), e muitas, mas muitas lutas e perseguições. Os primeiros ele­men­tos pare­cem só exi­s­tir para de algu­ma for­ma jus­ti­ficar todas as cenas de ação. O que, neste caso, acabou não inter­ferindo muito no resul­ta­do final, pois a diver­são é garantida.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=E8-ozguY1YI

  • Crítica: Homem de Ferro 2

    Crítica: Homem de Ferro 2

    homem de ferro 2

    Homem de Fer­ro 2 (Iron Man 2, EUA, 2010), de Jon Favreau, con­tin­ua exata­mente onde o primeiro ter­mi­nou. Com todo o mun­do saben­do que Tony Stark (Robert Downey Jr.) é o homem por trás do herói, o gov­er­no faz pressão para que ele entregue sua armadu­ra, e toda a tec­nolo­gia rela­ciona­do a ela, como meio de “segu­rança” para os mil­itares. Além dis­so, Tony enfrenta Ivan Vanko (Mick­ey Rourke), um anti­go inimi­go da família, que mostra que ele não é o úni­co capaz de con­stru­ir super armamentos.

    O inves­ti­men­to no mar­ket­ing para Homem de Fer­ro 2 foi estu­pen­do, geran­do uma espec­ta­ti­va muito grande em torno do lança­men­to. Ten­taram repe­tir o mes­mo efeito pro­duzi­do na divul­gação de Bat­man, O Cav­aleiro das Trevas, mas não con­seguiram. No final do filme o que pre­domi­nou foi uma sen­sação de vazio, me per­gun­tan­do “tá, e daí? foi só isso?”. Não sei bem diz­er se foi o(s) trailer(s) que “estragou” várias das sur­pre­sas do filme, que acabou entre­gan­do alguns momen­tos chaves. Sem men­cionar o fato de algu­mas cenas do trail­er final não estão no lon­ga. Mais alguém perce­beu isso? Parece que havia ape­nas mais do mes­mo, ape­nas com efeitos espe­ci­ais mel­hores e com duração maior.

    Algo que havia me chama­do bas­tante atenção no primeiro Homem de Fer­ro foram as inter­faces dos com­puta­dores de Tony, super mod­er­nas e com con­ceitos bem inter­es­santes e ino­vadores, ape­sar das “piad­in­has” com os robôs aux­il­iares desastra­dos ficarem meio forçadas. Nes­ta con­tin­u­ação tudo isso pare­ceu total­mente banal. Não que dev­e­ria ser nova­mente algo total­mente ino­vador, tan­to é que não se pas­sou muito tem­po des­de o primeiro filme, mas ficou fal­tan­do algo. Acred­i­to que isso se deu pelo fato de tudo pare­cer tão sim­ples demais. Para invadir um super com­puta­dor do gov­er­no você ape­nas pre­cisa mex­er um pouco a mão em cima de um tecla­do ou dar uns toques em um “iphone” Stark e tcharam! você inva­diu o sistema.

    Isso sem falar nas cenas de ação. As perseguições, explosões, …, … pare­cem ape­nas aque­les fogos de artifí­cio do ano novo, onde você já sabe prati­ca­mente decor todas as for­mas de explosão que vão acon­te­cer. Sem nen­hu­ma ten­são, expec­ta­ti­va ou medo, você sim­ples­mente fica ven­do as coisas explodin­do. Quan­do o vilão decide atacar, nun­ca ninguém é feri­do, ape­nas obje­tos e con­struções ficam em mil pedaços pelos ares. Não que eu esper­a­va uma carnific­i­na, até porque o filme tem clas­si­fi­cação indi­ca­da de 12 anos, mas cus­ta­va colo­car algu­mas pes­soas (civis) voan­do por causa das explosões e fican­do com arran­hões? Já as lutas ficaram de uma frieza eston­teante, pare­cia ess­es bonequin­hos de plás­ti­co na mão de uma cri­ança que brin­ca fazen­do eles se debaterem. Você sabe que não pode acon­te­cer nada demais com eles, pois eles são “imor­tais”. Homem de Fer­ro 2 lem­brou ness­es aspec­tos o pés­si­mo Homem Aran­ha 3, cau­san­do um cer­to tédio durante a sua exibição.

    A mes­ma decepção ocor­reu com os per­son­agens do filme. Cadê a evolução, trans­for­mações e a human­iza­ção deles? Em um uni­ver­so onde os heróis e os vilões são ape­nas pos­síveis por causa da alta tec­nolo­gia, parece que eles em si se tornaram tam­bém máquinas, para não diz­er sim­ples­mente fun­cionais e sem qual­quer tipo de emoção. Por aca­so alguém ficou min­i­ma­mente comovi­do com o “sofri­men­to” de Tony com o próprio enve­na­men­to por causa da “bate­ria” den­tro de seu peito? Não pre­cisan­do men­cionar Scar­lett Johans­son, que esta­va prati­ca­mente sem sal no papel de Natasha Romanov. Ela está muito mais boni­ta e sen­su­al em filmes como Vicky Cristi­na Barcelona ou até no fra­co Spir­it.

    Faz­er mais do mes­mo não é muito difí­cil, e para quem quer ver ape­nas isto, Homem de Fer­ro 2 não deve decep­cionar. Mas se você espera algo a mais, não acred­i­to que vá encon­trar mui­ta coisa, nes­sas duas horas e pouco, para se entreter.

    Para quem não sabe, no final (após todos os inter­mináveis crédi­tos) tam­bém há uma peque­na toma­da extra.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=BAKwSXEJ08Q