Tag: adaptação cinematográfica

  • Os Miseráveis | Crítica

    Os Miseráveis | Crítica

    osmiseráveis-posterMusi­cais sem­pre divi­dem o públi­co de cin­e­ma, ain­da mais se tratan­do do cin­e­ma con­tem­porâ­neo que preza em man­ter o foco na ação e diál­o­gos. Os Mis­eráveis (Les Mis­érables, Reino Unido, 2012) de Tom Hoop­er, já chegou queren­do realizar duas grandes façan­has, primeiro a de adap­tar um cânone de cin­co vol­umes do roman­tismo francês e segun­do o de trans­por um musi­cal de teatro para a nar­ra­ti­va cinematográfica.

    Os Mis­eráveis se pas­sa em um perío­do del­i­ca­do na políti­ca e na sociedade france­sa do sécu­lo XIX. Em 1815 acon­tece a Batal­ha de Water­loo, con­heci­da pela que­da de Napoleão Bona­parte e do retorno da Monar­quia. É nesse cli­ma de descrença e retorno das repressões que o pro­tag­o­nista Jean Val­jean, um homem con­de­na­do à prisão por roubar um pão para ali­men­tar o sobrin­ho, é apre­sen­ta­do. Se hoje um homem pobre é con­de­na­do por esse mes­mo ato, imag­ine a situ­ação no sécu­lo XIX numa França eco­nomi­ca­mente arrasa­da e porém imer­sa nos moral­is­mos monarquistas.

    osmiseráveis1
    A óti­ma car­ac­ter­i­za­ção dos motins de 1832

    Jean Val­jean é o homem feri­do pela injustiça, após 19 anos encar­cer­a­do em regime de escravidão é joga­do à liber­dade em uma sociedade que exclui qual­quer um que vá para a prisão. A tra­jetória do homem, que dura cer­ca de 17 anos indo até os momen­tos cru­ci­ais dos motins de jun­ho de 1832, é mar­ca­da por escol­has, nem sem­pre politi­ca­mente cor­re­tas mas car­regadas de redenção. Val­jean ten­ta sem­pre ser o opos­to do que cobram as leis da época, exager­adas e que priv­i­le­giam ape­nas os grandes. Ao pas­so que ten­ta ser o “bom cristão”, Val­jean enx­er­ga niti­da­mente as des­graças que o povo francês vivia por con­ta das leis monárquicas e ten­ta aci­ma de tudo ser um humanista.

    As adap­tações de livros para as telas sem­pre cor­rem o risco de não atin­girem toda a nar­ra­ti­va e con­stru­irem um enre­do alheio à for­ma que os escritores o fazem. E não é difer­ente com uma obra de mais de mil pági­nas que tra­ta rica­mente dos seus per­son­agens como é o caso de Os Mis­eráveis, de Vic­tor Hugo. No lon­ga, o espec­ta­dor é lev­a­do a já saber o mote da história e de com­preen­der os vários nuances das relações entre Val­jean, Cosette, Fan­tine e todos os out­ros per­son­agens que com­põem a obra, pois várias situ­ações ape­nas acon­te­cem sem as suas causas prévias.

    Como o lon­ga foi basea­do no musi­cal de teatro dos anos 80, de Claude-Michel Schön­berg, Alain Bou­blil e Her­bert Kret­zmer, ele con­ta ape­nas com dois grandes atos onde muitos even­tos do livro são livre­mente adap­ta­dos para dar maior veloci­dade à peça de quase três horas.

    osmiseráveis2
    O filme abre com uma cena emocionante

    O lon­ga abre com uma cena extrema­mente bela e grandiosa de Jean Val­jean (Hugh Jack­man) e out­ros pre­sos puxan­do um navio. A cena é digna de espetácu­lo, uma obra de arte impecáv­el mostran­do jus­ta­mente a que veio. Aliás, Os Mis­eráveis é um tipo de filme para ser grandioso como espetácu­lo, a direção de arte chega exager­ar por exem­p­lo com os dentes dos per­son­agens — os clos­es nas bocas são bem exager­a­dos — visivel­mente estragados.

    osmiseráveis5
    A comi­ti­va do impiedoso Javert

    Claro que há a neces­si­dade de se con­tex­tu­alizar a história que se pas­sa em um momen­to bas­tante críti­co da história da França. As pes­soas mor­rem de doenças, ven­dem seus dentes e cabe­los para poder com­prar pão e Vic­tor Hugo retra­ta essa dor até que o leitor sin­ta na sua pele. Mas aqui tudo fica explici­ta­mente artís­ti­co, inclu­sive a sujeira e a tris­teza. Mas claro que se deve levar em con­ta que o lon­ga é um musi­cal e car­rega todas as car­ac­terís­ti­cas do gênero. Muitos clos­es pro­lon­ga­dos nos ros­tos dos per­son­agens can­tan­do, cenários ora bas­tante escuros, ora con­trastantes com foco no tra­bal­ho de direção de arte, visivel­mente inspi­ra­da nos pin­tores do sécu­lo 19, e a con­strução do roteiro em for­ma­to musi­cal com muitas canções cati­vantes — preste atenção na músi­ca Do You Hear the Peo­ple Sing? que ini­cia a fase dos motins — são ele­men­tos muito bem executados.

    O elen­co é bas­tante inter­es­sante e con­segue dar con­ta de can­tar, ain­da mais levan­do em con­ta que o dire­tor exigiu que não hou­vessem play­backs, ou seja, todos can­tavam enquan­to atu­avam e ouvi­am um pianista através de um pon­to audi­ti­vo. Hugh Jack­man demon­stra uma cer­ta fal­ta de rit­mo em alguns momen­tos mas sua car­ac­ter­i­za­ção como Val­jean, prin­ci­pal­mente na primeira parte, é muito forte. Anne Hath­away se sai muito bem, é uma Fan­tine com cenas muito boni­tas. Já Aman­da Seyfried como Cosette e Rus­sel Crowe como Javert não segu­ram muito bem seus papéis, soan­do bas­tante fal­sos, a primeira que há vários filmes não me con­vence muito, sem­pre pare­cen­do uma ado­les­cente inse­gu­ra e Crowe, ape­sar de ser um óti­mo ator, não chega aos pés da mal­dade de Javert. Hele­na Bon­ham Carter e Sasha Baron Cohen são os malan­dros Thenardiers, com uma estéti­ca muito pare­ci­da com os seus papéis no tam­bém musi­cal Sweeney Todd, de Tim Bur­ton. Mas um dos grandes destaques do time de atores é o pequeno Daniel Hut­tle­stone como Gavroche, o pequeno meni­no de rua que tem uma enorme rep­re­sen­tação dramáti­ca nas cenas do motim.

    osmiseráveis4
    Anne Hath­away como Fantine

    Os Mis­eráveis merece destaque pela ousa­dia de Tom Hop­per de adap­tar cin­e­matografi­ca­mente um musi­cal que por si só já tem suas com­plex­i­dades. É um lon­ga que tra­bal­ha com a emoção do espec­ta­dor e quan­do vis­to de uma tela como a do IMAX con­segue cumprir seu papel, já que musi­cais requerem uma dis­posição do públi­co e tam­bém da neces­si­dade dos enre­dos soarem mais próx­i­mos do públi­co. Mas por out­ro lado ain­da ten­ho min­has dúvi­das se esse é um filme que vai per­manecer no imag­inário como uma grande adap­tação. Res­ta acred­i­tar que o espec­ta­dor sin­ta-se toca­do a ler o livro que provavel­mente vai deixá-lo ain­da mais impres­sion­a­do com os per­son­agens e esse forte momen­to histórico.

    Trail­er:

    http://www.youtube.com/watch?v=9LRPeJEYAZk

  • Crítica: Batman — O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    Crítica: Batman — O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    O mel­hor a faz­er para aproveitar ao máx­i­mo esse filme é se infor­mar o menos pos­sív­el a respeito de sua história. Quan­to menos sou­ber, maiores serão as surpresas.

    Não que o últi­mo filme da trilo­gia dirigi­da por Christo­pher Nolan depen­da ape­nas das revi­ra­voltas e rev­e­lações do roteiro. Exis­tem out­ros méri­tos que tor­nam o filme muito atraente. O pre­sente tex­to pre­tende, sem rev­e­lar ele­men­tos do enre­do, jus­ta­mente apon­tar ess­es méritos.

    Bat­man: o Cav­aleiro das Trevas Ressurge (The Dark Night Ris­es, USA, 2012) é uma con­tin­u­ação dire­ta de seus ante­ces­sores. Há muitas menções e con­se­quên­cias dos even­tos ocor­ri­dos nos dois filmes ante­ri­ores. Tra­ta-se de uma ver­dadeira con­clusão, como se os três filmes for­massem uma úni­ca história, de modo muito semel­hante a trilo­gias como O Sen­hor dos Anéis e De Vol­ta para o Futuro.

    Bat­man é um per­son­agem de histórias em quadrin­hos que há muito tem­po tornou-se um mito da cul­tura pop. Ao lon­go de mais de 70 anos de existên­cia, teve inúmeras abor­da­gens e con­cepções em diver­sas mídias. A série sessen­tista com Adam West, os filmes de Tim Bur­ton, peças de teatro, con­tos literários, mil­hares e mil­hares de pági­nas de quadrinhos.

    Mes­mo no uni­ver­so dos quadrin­hos, parece que exis­tem diver­sos “bat­men” difer­entes. O pro­tag­o­nista da famosa história O Cav­aleiro das Trevas, de Frank Miller, é um boca­do difer­ente do Bat­man do final da déca­da de 1950 (que con­tra­ce­na­va com per­son­agens como o Batcão e o Batmirim).

    O que Christo­pher Nolan fez em sua trilo­gia foi cri­ar uma nova abor­dagem para o homem morcego. Emb­o­ra ten­ham muitos ele­men­tos e per­son­agens reti­ra­dos dos quadrin­hos, Nolan tomou diver­sas liber­dades na trans­posição e con­strução de seu uni­ver­so fic­tí­cio. Por­tan­to, os fãs podem se diver­tir encon­tran­do as refer­ên­cias e alusões às histórias em quadrin­hos orig­i­nais, mas não há neces­si­dade de ser um leitor famil­iar­iza­do com os quadrin­hos para apre­ciar os filmes.

    Um exem­p­lo é o Coringa. A ver­são dos quadrin­hos tem a pele bran­ca e cabe­los verdes alter­ados por um aci­dente quími­co, comete crimes visan­do din­heiro, é um boca­do histriôni­ca e está con­stan­te­mente rindo e tagare­lando piadas. Já no filme, o per­son­agem inter­pre­ta­do por Heath Ledger usa maquiagem, tem cica­trizes em for­ma de um sor­riso, mas não ri o tem­po todo. Comete crimes, mas não pelo din­heiro. Sua ver­dadeira intenção é ten­tar cor­romper as pes­soas, fazê-las pas­sar por cima de seus princí­pios e lim­ites morais.

    Nolan vai trans­for­man­do o mate­r­i­al dos quadrin­hos e adaptando‑o para um sis­tema nar­ra­ti­vo onde os per­son­agens gan­ham out­ras dimen­sões e sig­nifi­ca­dos. A intenção é cri­ar uma história de super-herói de uma per­spec­ti­va “real­ista”, mas ain­da assim encon­tramos alguns absur­dos, típi­cos das histórias de super-heróis. Por exem­p­lo, a arma de micro-ondas do primeiro filme ou a recon­sti­tu­ição da bala com impressão dig­i­tal do segundo.

    Esse ter­ceiro filme tam­bém apre­sen­ta uma cer­ta quan­ti­dade de absur­do. Entre­tan­to, talvez com a exper­iên­cia adquiri­da no filme A Origem, Nolan trans­for­ma esse absur­do em algo como uma atmos­fera oníri­ca. Em muitos momen­tos Bat­man: O Cav­aleiro das Trevas Ressurge tem um jeito de son­ho. Há uma série de ele­men­tos que acabam gan­han­do um aspec­to sim­bóli­co. São lap­sos de tem­po, cenários e situ­ações que pas­sam um estran­ho cli­ma de irre­al­i­dade ao mes­mo tem­po em que o roteiro despe­ja uma enorme quan­ti­dade de infor­mações e per­son­agens sobre o espectador.

    Entre­tan­to, essa sen­sação de irre­al­i­dade é entremea­da por even­tos desagra­dav­el­mente verossímeis. À luz da tragé­dia ocor­ri­da durante a exibição do filme em Den­ver, é muito per­tur­bador ver uma cena em que os vilões tomam de assalto pes­soas em seu local de tra­bal­ho. A rep­re­sen­tação da vio­lên­cia que­bran­do o cotid­i­ano é bru­tal e assustadora.

    São diver­sos per­son­agens que vão con­duzin­do a tra­ma, mas sem dúvi­da o grande pro­tag­o­nista é Bruce Wayne (Chris­t­ian Bale). Através dele Nolan tece uma série de con­sid­er­ações sobre cul­pa, respon­s­abil­i­dade, apa­tia, revol­ta, deter­mi­nação e fracasso.

    A exem­p­lo do que fez com o Coringa, Nolan tam­bém trans­for­ma Bane (Tom Hardy) em algo muito mais impac­tante na tela do cin­e­ma do que era nas pági­nas de quadrin­hos. Emb­o­ra muito mais ameaçador e poderoso que o Coringa, Bane não tem o mes­mo caris­ma que seu ante­ces­sor. Ain­da assim, isso não com­pro­m­ete o resul­ta­do do filme.

    Seli­na Kyle (Anne Hath­away), a Mul­her-Gato, talvez seja a per­son­agem mais fiel à sua ver­são em quadrin­hos: uma ladra esper­ta, caris­máti­ca e com­ple­ta­mente imprevisível.

    E ain­da encon­tramos os vel­hos con­heci­dos Lucius Fox (Mor­gan Free­man), Alfred Pen­ny­worth (Michael Kane) e James Gor­don (Gary Old­man), além de novos ros­tos como Miri­am Tate (Mar­i­on Cotil­lard) e o dete­tive John Blake (Joseph Gordon-Levitt).

    Christo­pher Nolan orques­tra todo esse pes­soal em meio a um roteiro intrin­ca­do, con­stru­in­do o capí­tu­lo final de sua obra e dan­do a impressão de que tudo tin­ha sido plane­ja­do des­de seu iní­cio, em 2005, com Bat­man Begins.

    Por isso é difí­cil com­parar Bat­man: O Cav­aleiro das Trevas Ressurge com os out­ros dois grandes filmes de super-heróis do ano: Os Vin­gadores e O Espetac­u­lar Homem-Aran­ha. Os dois apre­sen­tam um uni­ver­so fic­tí­cio mais leve e sim­ples, cheio de cor e de pos­si­bil­i­dades fab­u­losas, como trans­for­mações físi­cas, voos, super-força. Mas, além dis­so, ess­es filmes são clara­mente pro­je­ta­dos visan­do mer­ca­do e envolvem uma série de profis­sion­ais. O con­t­role que a Warn­er deu a Nolan sobre os rumos da sua trilo­gia de Bat­man con­fer­em aos filmes uma car­ac­terís­ti­ca quase que de tra­bal­ho autoral.

    E assim o Bat­man ter­mi­na, mas de uma maneira muito inter­es­sante. Quan­do o filme aca­ba, o que se tem é o fim de um ciclo e a aber­tu­ra de diver­sas pos­si­bil­i­dades que podem ser seguidas. Inclu­sive a de deixar as som­bras para trás e ten­tar aproveitar um pouco a luz que res­ta do dia.

    Trail­er:

  • Frango com Ameixas (Poulet aux Prunes) (2011), de Vincent Paronnaud & Marjane Satrapi

    Depois do suces­so da graph­ic nov­el Per­sépo­lis (2007), adap­ta­da para o cin­e­ma em uma fab­u­losa ani­mação, a quadrin­ista ira­ni­ana Mar­jane Satrapi, nova­mente em parce­ria com Vin­cent Paron­naud, deixa um pouco de lado a sua auto­bi­ografia, para res­gatar uma anti­ga história de família, ago­ra em Fran­go com Ameixas (Poulet aux Prunes,2011,França, Ale­man­ha, Bél­gi­ca).

    Fran­go com Ameixas, que tam­bém se tra­ta de uma adap­tação dos quadrin­hos para o cin­e­ma, con­ta a vida de Nass­er Ali (Math­ieu Amal­ric de O Escafan­dro e a Bor­bo­le­ta), um tal­en­toso músi­co, tocador do tar (uma espé­cie de vio­li­no, típi­co do Irã). Seu instru­men­to, além de ser a úni­ca coisa que ain­da lhe traz praz­er, traduz em cada nota o amor que man­tém por Irâne, uma anti­ga paixão da qual teve que abrir mão.

    Desilu­di­do, para sat­is­faz­er os dese­jos de sua mãe, Ali se casa com Nahid, com quem tem dois fil­hos. Um dia, cansa­da do iso­la­men­to e fal­ta de obri­gações do mari­do para com ela e as cri­anças, em um exces­so de rai­va que­bra o ado­ra­do instru­men­to de Ali. O músi­co decide então deitar em sua cama e esper­ar pela morte. A par­tir daí a espera de Ali é nar­ra­da em oito capí­tu­los, nos quais con­ta des­de o rela­ciona­men­to com seus fil­hos Farzaneh e Mozaf­far, até o dia em que se encon­tra com Azrael, o anjo da morte islâmico.

    Difer­ente das primeiras obras de Mar­jane Satrapi, como Per­sépo­lis e Bor­da­dos, Fran­go com Ameixas traz uma história pecu­liar de um homem, cuja melan­co­l­ia e desilusão com a vida que gostaria de ter tido e não teve, o faz optar por desi­s­tir. Mas ao mes­mo tem­po Satrapi não perde o humor para tratar de temas del­i­ca­dos como a vida e a morte. Fran­go com Ameixas em vários momen­tos apre­sen­ta cenas cômi­cas, como quan­do Ali em um de seus devaneios imag­i­na o futuro de seu fil­ho Mozaf­far: após sair do Irã e ir morar nos EUA, com­prar uma casa e um car­ro, vive um típi­co ‘son­ho amer­i­cano’ com sua mul­her e seus fil­hos obesos.

    Ape­sar de não ser mais uma auto­bi­ografia, Nass­er Ali foi um tio-avô queri­do de Satrapi, por isso Fran­go com Ameixas traz ain­da, alguns temas já abor­da­dos em suas anti­gas obras, como a arte, a mitolo­gia, a decadên­cia famil­iar e a feli­ci­dade. Para quem gos­ta da auto­ra, Fran­go com Ameixas é mais um belo tra­bal­ho que merece ser saboreado.

    Trail­er
    :

    httpv://www.youtube.com/watch?v=RwRyHTjzh2c

  • Livro: O Grande Gatsby — F. Scott Fitzgerald

    Livro: O Grande Gatsby — F. Scott Fitzgerald

    Eu quero escr­ev­er uma história sim­ples, bela e extraordinária”

    F. Scott Fitzger­ald em cor­re­spondên­cia para o seu edi­tor Maxwell Perkins em 1922. Três anos depois pub­li­caria O Grande Gats­by (Pen­guin-Com­pan­hia, tradução de Vanes­sa Bar­bara e intro­dução e notas de Tony Tan­ner), romance con­sid­er­a­do por muitos como um dos mel­hores do sécu­lo XX.

    Fitzger­ald nos con­cede uma jor­na­da através da obsessão de um homem que se entre­ga a um mun­do de val­ores duvi­dosos, movi­do ape­nas por um amor do pas­sa­do. Tam­bém é a história de pes­soas super­fi­ci­ais que vivem sobre a ilusão da eter­na juven­tude, beleza e riqueza; não se impor­tan­do com nada a não ser a si mesmos. 

    Nick Car­raway, jovem grad­u­a­do em New Haven e ex-com­bat­ente da Primeira Guer­ra Mundi­al, nar­ra sua mudança para West Egg e aca­ba se tor­nan­do viz­in­ho do mis­te­rioso Jay Gats­by que pro­move fes­tas extrav­a­gantes em sua man­são, atrain­do a alta sociedade local que espec­u­la sobre o seu pas­sa­do: ninguém con­hece Gats­by pes­soal­mente, mas todos já ouvi­ram algu­ma supos­ta história sobre suas ações, entre elas, que já teria cometi­do assassinato. 

    O que ninguém sabe é que Gats­by pre­tende repe­tir o pas­sa­do: reen­con­trar o seu amor per­di­do na juven­tude, Daisy, ago­ra casa­da com o agres­si­vo Tom Buchanan, que mora na parte opos­ta da baía, em East Egg (onde moram os ricos na ilha fic­tí­cia*, West Egg é a parte pobre). Ele ali­men­ta esper­anças de que um dia ela pos­sa vis­i­tar uma de suas fes­tas e assim reconquistá-la.

    Os anos 1920 foram os anos de pros­peri­dade econômi­ca na Améri­ca do Norte, prin­ci­pal­mente nos Esta­dos Unidos, após a Primeira Guer­ra Mundi­al — perío­do con­heci­do como Roar­ing Twen­ties. Após a recessão, a econo­mia amer­i­cana entra­va em uma nova fase. A indús­tria auto­mo­bilís­ti­ca pro­duzia em mas­sa, o cin­e­ma e o rádio eram as prin­ci­pais for­mas de entreten­i­men­to, o jazz se tor­na­va bas­tante pop­u­lar e a pro­pa­gan­da tin­ha um papel impor­tante na mídia. Tam­bém nes­ta déca­da foi insti­tuí­da, em 1923, a Lei Seca (que teve seu fim em 1933) – onde pro­duzir, vender, impor­tar e expor­tar bebidas alcoóli­cas era ile­gal. O crime orga­ni­za­do – a máfia, lid­er­a­da por Al Capone – pas­sou lucrar muito com a ven­da clan­des­ti­na. Nes­sa época, o mate­ri­al­is­mo e o egoís­mo se tornaram parte do son­ho amer­i­cano e isso ficou muito bem retrata­do em O Grande Gats­by.

    O livro tam­bém tra­ta dos prob­le­mas que acar­retam quan­do vive­mos do pas­sa­do e do fim das ilusões da juven­tude. A tris­teza está pre­sente do começo ao fim. A obra con­tin­ua atu­al e é vál­i­da para aque­les que ain­da não tiver­am con­ta­do com esse clás­si­co americano.

    *Acred­i­to que talvez fiquem con­fu­sos com min­ha expli­cação sobre East e West Egg, mas a tradu­to­ra fez uma car­tografia da região no blog da Com­pan­hia.

    ***

    Há seis adap­tações do romance para o cin­e­ma, mas recomen­do a ver­são de 1974 com Robert Red­ford (Gats­by) e Mia Far­row (Daisy) no papeis prin­ci­pais. O roteiro é de Fran­cis Ford Cop­po­la, em sub­sti­tu­ição a Tru­man Capote, demi­ti­do pelo estú­dio. A direção ficou por con­ta de Jack Clayton.

    Está em pós-pro­dução a adap­tação em 3D (não me per­gunte, eu tam­bém não sei o moti­vo) para o cin­e­ma de O Grande Gats­by estre­la­da por Tobey Maguire, na pele de Nick Car­raway, Leonar­do Di Caprio, como Jay Gats­by, Joel Edger­ton inter­pre­ta Tom Buchanan e o papel de Daisy ficou para Carey Mul­li­gan; com estreia pre­vista ain­da para este ano. É esper­ar para ver o resultado.

    ***

    E como pre­sente para o bra­vo e destemi­do leitor (a) que chegou até aqui, fique com o jogo de Super Nin­ten­do do livro mais famoso de F. Scott Fitzger­ald . Não pre­cisa agradecer.

  • Crítica: Os três Mosqueteiros

    Crítica: Os três Mosqueteiros

    ¨Um por todos e todos por um¨ é uma dessas fras­es literárias que viraram dita­do pop­u­lar com uma facil­i­dade tremen­da e que tem tudo para voltar à tona por algu­mas sem­anas nas salas de cin­e­ma de cir­cuito com­er­cial. Os Três Mos­queteiros (The Three Mus­ke­teers, Ale­man­ha, França, EUA e Inglater­ra, 2011), de Paul W.S. Ander­son é a mais nova adap­tação do romance históri­co de Alexan­dre Dumas e que, com algu­mas mod­i­fi­cações no enre­do, tra­bal­ha com uma ver­são mais atu­al­iza­da da história dos con­heci­dos heróis de espada.

    O romance históri­co, nesse caso tam­bém con­heci­do como capa-e-espa­da, do francês Alex­adre Dumas, tem a típi­ca nar­ra­ti­va da época em que muitos aspec­tos históri­cos e pecu­liares do momen­to são retrata­dos em for­ma de aven­tu­ra com mui­ta ação e heróis. Em Os Três Mos­queteiros, Athos, Porthos, Aramis e o jovem D’Artag­nan são apre­sen­ta­dos com a clás­si­ca visão fan­ta­siosa de heróis com espadas do sécu­lo 17 mas com uma roupagem tem­pera­men­tal mais bem humora­da do que na época. Ape­sar de bem car­ac­ter­i­za­dos a per­son­al­i­dade de cada um é deix­a­da mais de lado e o espíri­to de equipe e amizade é que os man­tém unidos pelas aven­turas em favor da França. E pen­san­do no entreten­i­men­to do espec­ta­dor que o lon­ga dá enfâse nas mirabolantes estraté­gias do grupo e, prin­ci­pal­mente, nos due­los e batal­has que, nes­sa adap­tação, con­tam com alguns efeitos de CGI inter­es­santes como bul­let-time e ações em câmera lenta.

    O dire­tor Paul W.S. Ander­son é respon­sáv­el por algu­mas sequên­cias mal suce­di­das como Res­i­dent Evil e Alien Vs. Predador e a espera em torno de Os três Mos­queteiros era bem abaixo da média. Talvez, esse pouco entu­si­as­mo sobre o dire­tor, ten­ha facil­i­ta­do para que o lon­ga adap­ta­do do clás­si­co francês ten­ha cau­sa­do algu­mas sur­pre­sas. O dire­tor soube con­duzir bem os per­son­agens e situ­ações, incluin­do Mil­la Jovovich, esposa do mes­mo, como a per­for­máti­ca vilã Mila­dy, ou ain­da, Christoph Waltz que vem garan­ti­n­do papéis de vilão frio e sar­cás­ti­co, como o Cardeal de Riche­lieu entre out­ros atores de carreira.

    O 3D que não vem demon­stran­do grandes atra­tivos, prin­ci­pal­mente quan­do não se tra­ta de ani­mações, em Os três Mos­queteiros mostra uma das mel­hores per­for­mances da últi­ma leva de lon­gas com a tec­nolo­gia. O cenário de uma Europa com cores con­trastates e cli­ma aven­tureiro lem­bra muito a estéti­ca de games (uma das prefer­ên­cias do dire­tor) e jun­tan­do com uma boa dose de cria­tivi­dade, a tec­nolo­gia tridi­men­sion­al fun­cio­nou bem em boa parte dos momen­tos em que foi utilizada.

    Aliás, um dos pon­tos altos de Os três mos­queteiros está na estéti­ca e direção de arte. Graças ao enre­do orig­i­nal do livro, que con­ta com um sen­sa­cional­is­mo um tan­to aguça­do de Alexan­dre Dumas que não via tan­ta beleza assim na vida bur­gue­sa da França na época, a pro­dução grá­fi­ca enche os olhos do espec­ta­dor nes­sa nova adap­tação. O fig­uri­no é pom­poso e faz jus ao flo­resci­men­to estéti­co e cul­tur­al do momen­to, a sun­tu­osi­dade dos palá­cios e até as várias visões aéreas são de escol­has que não se deix­am pas­sar des­perce­bidos ao espectador.

    Claro que, Os três mos­queteiros é um lon­ga que não prom­ete muito, mas aca­ba deixan­do o espec­ta­dor bem sat­is­feito. Talvez não seja a mel­hor adap­tação da obra literária mas talvez, jus­ta­mente nesse aspec­to, resi­da algu­mas coisas inter­es­santes como a escol­ha do dire­tor de incluir um diri­giv­el ao enre­do, ou ain­da, de usar téc­ni­cas bem mod­er­nas para deixar as lutas e as cenas de ação sob um olhar mais diver­tido. Sem mui­ta lenga lenga, Os três Mos­queteiros é um lon­ga diver­tido de se assi­s­tir. Não vai mudar os rumos do cin­e­ma, mas tam­bém não aliena. Vale a pipoca do fim de semana.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=JsCXftLiv40

  • Companhia das Letras lança livro que inspirou A minha versão do Amor

    Companhia das Letras lança livro que inspirou A minha versão do Amor

    Des­de sua morte em 2001, aos 70 anos, a obra de Morde­cai Rich­ler – incluin­do o roteiro que lhe ren­deu uma indi­cação ao Oscar – con­tin­ua como uma das mais sig­ni­fica­ti­vas her­anças literárias da história do Canadá. A min­ha ver­são do Amor, adap­tação do últi­mo e mel­hor romance de Rich­ler (pub­li­ca­do no Brasil com o títu­lo A ver­são de Bar­ney, pela Cia. Das Letras), não é ape­nas uma car­in­hosa cel­e­bração de seu lega­do, mas é tam­bém um raro exem­p­lo de um filme basea­do numa grande obra literária que faz justiça ao mate­r­i­al base.

    Estre­la­do pelo indi­ca­do ao Oscar Paul Gia­mat­ti no papel de Bar­ney Panof­sky, um homem aparente­mente nor­mal que leva uma vida extra­ordinária, e pelo vence­dor do Oscar Dustin Hoff­man como seu pai, o filme osten­ta um grande elen­co que inclui Rosamund Pike, a indi­ca­da ao Oscar Min­nie Dri­ver, Rachelle Lefevre, Scott Speed­man, Bruce Green­wood, Mark Addy, Jake Hoff­man e a estre­ante Anna Hop­kins. Pro­duzi­do por Robert Lan­tos, cuja ten­ta­ti­va para levar a pro­lixa nar­ra­ti­va de Rich­ler para o cin­e­ma lev­ou mais de uma déca­da, o filme foi dirigi­do por Richard J. Lewis a par­tir de um roteiro de Michael Konyves. Copro­duzi­do por Lyse Lafontaine, Domeni­co Pro­cac­ci e Ari Lan­tos, A min­ha ver­são do Amor é uma pro­dução da Serendip­i­ty Point Films em asso­ci­ação com a Fan­dan­go de Roma e a Lyla Films de Mon­tre­al. Mark Mus­sel­man é o pro­du­tor exec­u­ti­vo do filme.

    O Livro:
    Bar­ney Panof­sky, o per­son­agem-nar­rador de A Ver­são de Bar­ney, déci­mo romance do cel­e­bra­do escritor canadense Morde­cai Rich­ler, está pos­ses­so — e bêba­do, como sem­pre —, porque seu vel­ho desafe­to e ex-ami­go, Ter­ry McIv­er, está para lançar um livro auto­bi­ográ­fi­co em que lhe faz pesadas acusações. Fer­ven­do em ansiedade e uísque doze anos, entre baforadas num onipresente charu­to Monte Cristo, Bar­ney liga para o seu advo­ga­do e per­gun­ta: “Pos­so proces­sar por calú­nia alguém que me acu­sou, num tex­to pub­li­ca­do, de mal­tratar mul­heres, de ser uma fraude int­elec­tu­al, de pro­duzir lit­er­atu­ra bara­ta, de ser um bêba­do propen­so à vio­lên­cia e provavel­mente tam­bém assas­si­no?”. O advo­ga­do, do out­ro lado da lin­ha, não titubeia na respos­ta: “Eu diria que ele não está muito longe da verdade”.

    Acabrun­hado, Bar­ney decide, então, recon­sti­tuir a supos­ta ver­dade dos fatos de sua vida. Bus­can­do a origem das acusações, ele engrena sua prosa sar­cás­ti­ca e auto-irôni­ca, que fez a fama de Rich­ler e é comu­mente com­para­da à demoli­do­ra verve humorís­ti­ca, de corte judaico, de Philip Roth e Woody Allen. Será que podemos con­fi­ar na ver­são de Bar­ney? — é o que se per­gun­tará várias vezes o leitor. Até a últi­ma pági­na, sua grande certeza é a de que tem nas mãos uma obra de “um grande estilista, com um tremen­do ouvi­do para a paró­dia e o diál­o­go cômi­co”, como escreveu James Shapiro, no New York Times. 

    Morde­cai Rich­ler (1931–2001) nasceu em Mon­tre­al, no Canadá. Pub­li­cou dez romances, entre eles The Appren­tice­ship of Dud­dy Kravitz, St. Urbain’s Horse­man e Solomon Gursky Was Here.