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  • Trilogia Nikopol (2012), de Enki Bilal | HQ

    Trilogia Nikopol (2012), de Enki Bilal | HQ

    Somos todos mon­stros de nós mesmos

    trilogia-nikopol-2012-de-enki-bilal-hq-capaAo ler “Trilo­gia Nikopol”, do Enki Bilal, nos deparamos com a seguinte reflexão gilber­tiana: “Quem hoje fala de futuro, sabe­mos que fala num tem­po que já é quase pre­sente, tal a rapi­dez com que esta­mos pas­san­do de pre­sente a futuro. Nun­ca mais do que hoje o homem viveu tem­po aparente só mod­er­no já tão alcança­do pelo pós-mod­er­no e ain­da influ­en­ci­a­do pelo pré-mod­er­no”. O que um per­nam­bu­cano tem em comum com um iugoslavo?

    Ao abrir “Além do Ape­nas Mod­er­no”, de Gilber­to Freyre, e ler esse tre­cho, fiquei com von­tade de escr­ev­er sobre Bilal, um autor muito novo e difí­cil pra mim, mas que me desafiou a for­mu­lar algu­mas con­sid­er­ações sobre sua trilogia.

    A Edi­to­ra Nemo fez um óti­mo tra­bal­ho ao reunir “A Feira dos Imor­tais”, “A Mul­her Armadil­ha” e “Frio Equador” num encader­na­do auda­cioso lança­do em 2012 por aqui, traduzi­do por Fer­nan­do Scheibe.

    Enlaçan­do resum­i­da­mente as histórias, Bilal afir­ma que “se suce­dem nos três livros, cacos obsedantes e grotescos de nos­so mun­do, deuses egíp­cios ver­gonhosa­mente mal­trata­dos, um homem com nome de cidade da Ucrâ­nia (…), uma emblemáti­ca e aber­rante mul­her de pele bran­ca e cabe­los azuis nat­u­rais, ani­mais, ver­dadeiros, fal­sos (…) uma pirâmide voado­ra (…) e tam­bém histórias de amor e son­hos de cin­e­ma”. Este é o mosaico que vamos explo­rar a seguir.

    Esta­mos em março de 2023, Paris. A atmos­fera “facis­ti­za­da” da cidade — mul­ti­povoa­da e sec­ciona­da em dis­tri­tos desiguais – é alter­a­da (em ple­na farsa eleitoral) pela aparição de uma pirâmide, esta­ciona­da no céu cinzen­to, pro­por­cio­nan­do um mal-estar cole­ti­vo aos habi­tantes, sobre­viventes desse “uni­ver­so de degenerescên­cia, mis­éria e imundície”.

    Os ocu­pantes da pirâmide voado­ra exigem com­bustív­el ao dita­dor Fer­di­nand Chou­blanc. O silên­cio dele a respeito do fato “não tran­quil­iza ninguém”.

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    No inte­ri­or da pirâmide, os deuses egíp­cios estão pre­ocu­pa­dos com o sum­iço de Hórus, con­de­na­do a perder sua condição eter­na por deserção e práti­cas sub­ver­si­vas con­tra a “ordem uni­ver­sal e a san­ta eternidade”. Nesse momen­to, Anúbis, Bes, Bastet e a cúpu­la inteira tra­mavam os cam­in­hos necessários para recap­turar Hórus e obri­gar Chou­blanc a ced­er com­bustív­el à pirâmide.

    O proces­so de nego­ci­ação entre o dita­dor e os deuses fica ten­so, pois Chou­blanc sug­ere algo nada amigáv­el: “Estou pron­to a ced­er-lhes todo o com­bustív­el de que vocês neces­si­tam, (…) mas sob a condição de que vocês me con­cedam a imor­tal­i­dade em con­tra­parti­da”, pro­pos­ta que é inter­romp­i­da brus­ca­mente pelo cha­cal: “Bas­ta, Jean- Fer­di­nand Chou­blanc! Está fora de questão con­trari­ar a ordem universal!”

    O dita­dor é expul­so da pirâmide, encer­ran­do as nego­ci­ações. Para­le­lo a esse acon­tec­i­men­to, o jor­nal “A Voz Legal” (instru­men­to pux­as­aquista de Chou­blanc) pub­li­ca um con­jun­to de notí­cias que pode tumul­tu­ar ain­da mais os rumos de Paris.

    A impren­sa local tra­ta das nego­ci­ações entre Chou­blanc e Anúbis com cin­is­mo e vista grossa — típi­co dos jor­nal­is­tas “lambe-botas” dos dias de hoje -, atribuin­do tal como proces­so à “fineza diplomáti­ca”, detur­pan­do o que teste­munhamos nos basti­dores piramidais.

    Corte para a lin­ha 4 (Met­ro­pol­i­tano): Porte D’Orléans de Clig­nan­court. Em proces­so de descon­ge­la­men­to, Alcide Nikopol ain­da não con­segue lem­brar como chegou ali. Joga­do na beira dos tril­hos, a úni­ca sen­sação que o tor­tu­ra é a forte dor na região da per­na amputa­da no aci­dente aéreo da sua cela criogêni­ca. Um sono de 30 anos.

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    Eis que Hórus surge para “aux­il­iar” Nikopol com o grave fer­i­men­to, mas como para tudo é pre­cis­ar tro­car, o pás­saro lança sua pro­pos­ta: ofer­e­cer uma “per­na” (de fer­ro, extraí­da dos tril­hos) para Nikopol, e este con­ced­er seu cor­po para hospedar o espíri­to de Hórus. “E foi assim que teve lugar, no dia 03 de março de 2023, no metrô Alésia, a posse do cor­po de Alcide Nikopol por Hórus de Hierakonópolis”.

    Tal encon­tro, pro­movi­do na primeira sequên­cia da trilo­gia (“A Feira dos Imor­tais”) ger­ou uma resul­tante de forças que irá sacud­ir a supos­ta tran­quil­i­dade do gov­er­no de Chou­blanc, ali­men­tan­do con­fli­tos políti­cos ter­restres e divi­nos, pren­den­do a res­pi­ração do leitor.

    Nikopol e Hórus. Dois deser­tores, dois inimi­gos do poder, dois cor­pos em per­fei­ta sin­to­nia e con­ju­gação. Cor­pos e espíri­tos unidos, Hórus começa sua empre­ita­da e define para Nikopol seus obje­tivos na Ter­ra: depor Chou­blanc e con­stru­ir seu império. Após burlar todas as bar­reiras, final­mente Hórus manip­u­la a mente do gov­er­nante e vai dire­to ao ponto:

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    O pro­longa­men­to da história (ini­ci­a­da nos anos 80) segue com “Mul­her Armadil­ha”, expon­do a fase de Nikopol dois anos após seu inter­na­men­to (eles e Chou­blanc enlouque­ce­r­am com a exper­iên­cia men­tal via-Hórus).

    Através de um lev­an­ta­men­to hemero­grá­fi­co da época, Bilal cos­tu­ra o panora­ma políti­co do perío­do que Hórus/Nikopol pro­movem o golpe à Chou­blanc, para situ­ar o leitor historicamente.

    Após ser con­de­na­do e iso­la­do numa câmara criogêni­ca, Hórus é lib­er­ta­do aci­den­tal­mente e vol­ta com tudo, rein­cor­po­ran­do-se ao cor­po de Nikopol, à contragosto.

    Para­le­lo a este núcleo nar­ra­ti­vo, Bilal nos apre­sen­ta mais dois per­son­agens: o fil­ho de Nikopol (idên­ti­co, com a mes­ma idade do pai) e Jill, uma mul­her bran­ca, de lábios, lágri­mas e cabe­los azuis. Hórus artic­u­la um encon­tro entre Jill e Nikopol, ini­cian­do um triân­gu­lo amoroso-sex­u­al muito útil para os obje­tivos da ave. Os três via­jam ao Egi­to, em bus­ca de um escon­der­i­jo ade­qua­do para escapar da pirâmide voado­ra, que está caçan­do nova­mente Hórus.

    A Mul­her Armadil­ha” bus­ca con­stru­ir um espaço de con­vivên­cia entre os per­son­agens, crian­do os laços necessários para desen­volver as afe­tivi­dades entre Jill e Nikopol, habil­mente con­tro­la­da por Hórus, que visu­al­iza em Jill uma arma potente para con­cretizar seus planos megalomaníacos.

    E assim, Hórus foge do Cairo (Anúbis desco­bre seu escon­der­i­jo) com sua artil­haria pro­te­gi­da: o seu império ini­cia aqui, pois a ponte para a eternidade esta­va dev­i­da­mente acer­ta­da. Jill acred­i­ta que:

    Nos­sa par­ti­da pre­cip­i­ta­da, provo­ca­da pela chega­da da Pirâmide voado­ra ao Cairo, tin­ha um cer­to ar de jogo que não me desagra­da­va. Isso me per­mi­tia, em todo caso, não me faz­er per­gun­tas demais sobre o nasci­men­to de min­has estra­nhas relações com a dupla Nikopol/Hórus, sobre a qual ignoro até hoje, quase tudo”.

    A nave segue rumo ao “Frio Equador”, onde os dois se sep­a­ram e o amor vira son­ho de cin­e­ma. Bilal gos­ta de pro­duzir novos hor­i­zontes para suas histórias, tran­si­tan­do dos quadrin­hos para o cin­e­ma sem­pre que pos­sív­el. É o que podemos con­ferir em adap­tações audio­vi­suais como Bunker Palace Hotel (1989), Tykho Moon — Seg­re­dos da Eternidade (1996) e Immor­tel (ad vitam) (2004), basea­do na trilo­gia Nikopol.

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    Nas suas leituras cin­e­matográ­fi­cas, a adap­tação resul­ta numa “descon­strução” do núcleo nar­ra­ti­vo das HQs, para ger­ar um novo sen­ti­do aos per­son­agens em con­fli­to, como se fos­se uma “exten­são” do que lemos, um pós-história, o que arrisco a chamar de pós-história exper­i­men­tal, para efe­t­u­ar novos rabis­cos no cor­po dos atores, uma per­for­mance em proces­so de ree­scri­ta do tex­to orig­i­nal. Bilal acred­i­ta que suas tra­mas podem ir além dos desen­hos e faz uma exigên­cia: com­por novas pos­si­bil­i­dades aos seus mun­dos, ele quer músi­ca, movi­men­to, mise en scene. Out­ros des­fe­chos para cri­ar out­ras sensibilidades.

    A trilo­gia é recon­fig­u­ra­da num mix de histórias que cruzam out­ros inter­ess­es de Bilal no uni­ver­so Nikopol. Mais nomes, out­ras cores, ten­sões políti­cas ree­scritas surgem para o autor explo­rar livre­mente, tor­nan­do o cin­e­ma fun­da­men­tal para suas vivên­cias estéti­cas em andamento.

    O peso dos tons envel­he­ci­dos de um futuro em crise é sub­sti­tuí­do pela lev­eza azu­la­da de Jill e da ani­mação com­puta­doriza­da, que dis­tan­cia-se dos odores mal-cheirosos, da neve suja de lama, do con­cre­to mal con­ser­va­do e da imagem vis­cer­al expostas na HQ.

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    A pais­agem audio­vi­su­al de “Immor­tel (ad vitam)” é com­pos­ta por uma nova estru­tu­ra nar­ra­ti­va, que serve como suporte para con­stru­ir vari­a­dos exer­cí­cios de cri­ação na jor­na­da dos per­son­agens cen­trais. Aqui podemos sen­tir uma Jill menos rad­i­cal. Aqui ela é car­ente de suas ori­gens, amáv­el e frágil.

    Nos­so Nikopol é menos rús­ti­co, sedu­tor e firme em seus posi­ciona­men­tos per­ante Hórus. Este man­tém sua rigidez — como lemos na trilo­gia — crian­do sua platafor­ma de per­pet­u­ação e con­t­role do plan­e­ta a lon­go pra­zo, toman­do o cor­po de Nikopol como ponte para a vin­gança con­tra os deuses mag­istra­dos do Egi­to (no filme, tal ação é mais “explica­ti­va” do que no texto-base).

    Uma opor­tu­nidade para ampli­ar os hor­i­zontes cria­tivos de Paris pós-tudo. Um cam­in­ho sofisti­ca­do para per­pet­u­ar o lega­do de Hórus, mais difun­di­da ao públi­co não-leitor ou já fã do tra­bal­ho de Bilal (talvez os mais “lig­a­dos ao tex­to-HQ” não aceit­em este per­cur­so, mas, quem se impor­ta? Se o filme é uma par­ti­tu­ra regi­da pelo próprio cri­ador?). Goran Vejvo­da pro­duz uma sonori­dade-sen­so­r­i­al pen­e­trante em todos os momen­tos, cor­ta­da brus­ca­mente por um hap­py-end que deixa a dese­jar, mas nada prej­udique o con­jun­to da obra. Lança­do em 2004, “Immor­tel (ad vitam)” merece atenção e uma cuida­dosa análise com­par­a­ti­va com os quadrinhos.

    trilogia-nikopol-2012-de-enki-bilal-hq-4E assim, tomo essa obra como ele­men­to de reflexão sobre o mal-estar do autor per­ante o futuro, que se aprox­i­ma-chega de for­ma assus­ta­do­ra. Um futuro cin­za, demar­ca­do pela deses­per­ança do homem pelo homem, este ati­ra­do numa dis­pu­ta ani­malesca pelo con­t­role do Out­ro e de si.

    Vejo nes­ta trilo­gia a expec­ta­ti­va de um vir-a-ser despedaça­do, cor­pos endure­ci­dos pelo fas­cis­mo tri­un­fante, gov­er­na­do por tira­nos cada vez mais enlouque­ci­dos pelo poder. Uma sociedade regi­da pela sep­a­ração e vio­lên­cia aos “pan­fletários”.

    O homem e a mul­her: sui­ci­das em poten­cial. É pre­ciso tomar os com­prim­i­dos de Jill? Os gatos telepatas serão nos­sos mel­hores ami­gos em tem­pos de enges­sa­men­to do amor e do esgo­ta­men­to da con­fi­ança? Como escapar ao olho mor­tal do KKDZO? Seria a sel­va de Equador City o Eldo­ra­do pós-pós-tudo? As prisões criogêni­cas são penal­i­dades ou o pas­s­aporte para a fuga des­ta ger­ação? Hórus e Chou­blanc encar­nam tem­po­ral­i­dades que rev­e­lam rup­tura o con­tin­uís­mo com o pre­sen­tepas­sad­o­fu­turo? Nikopol é a zona inter­mediária do tem­po tríbio gilber­tiano? Nos­so des­ti­no está sela­do ao impul­so autode­stru­ti­vo? Somos Além de Ape­nas Mod­er­nos ou Aquém de Nos­sas Expectativas?

    Nikopol é uma “real­i­dade [insur­gente] na qual se cruzam sobre­vivên­cias, [pro­jeções] e ante­ci­pações”. Seu cor­po é a “fusão tem­po­ral [que] com­ple­ta [Hórus] e o per­eniza. Eterniza‑o em épocas para além e para aquém do pensamento”.

    Bilal provo­ca uma série de questões que somente as próx­i­mas ger­ações irão respon­der, num futuro bem próx­i­mo, pos­sív­el e cru­el. Nikopol nos deixa uma lição que fica clara aos leitores do pas­sado­p­re­sente: somos mon­stros de nós mesmos.

  • Wolverine está de volta: UCI abre venda de ingressos para sessão especial do novo X‑Men

    Wolverine está de volta: UCI abre venda de ingressos para sessão especial do novo X‑Men

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    A viagem no tem­po do herói Wolver­ine é o enre­do do novo filme “X‑Men: Dias de Um Futuro Esque­ci­do”, que prom­ete tirar o fôlego dos fãs da saga dos mutantes. Para quem espera ansiosa­mente a estreia do filme, a UCI cin­e­mas terá sessão espe­cial, à 00h01 de quar­ta (21) para quin­ta-feira (22), em 17 cin­e­mas da rede no brasil. Será a opor­tu­nidade de con­ferir o lon­ga antes de mui­ta gente, incluin­do os americanos.

    Na nova pro­dução da fran­quia, os mutantes são caça­dos pelos Sen­tinelas, gigan­tescos robôs cri­a­dos pelo cien­tista Bolí­var Trask, e pre­cisam viv­er escon­di­dos. Para sal­var sua classe, os heróis envi­am Wolver­ine em uma viagem no tem­po, para que ele pro­cure os ain­da jovens Xavier e Mag­ne­to de modo que eles jun­tos impeçam que o futuro trági­co dos mutantes se torne real. No elen­co do filme estão: Hugh Jack­man, Patrick Stewart,Ian McK­ellen, Halle Berry e Ellen Page.

    Os ingres­sos ante­ci­pa­dos para estas e out­ras sessões de “X‑Men: Dias de Um Futuro Esque­ci­do” no UCI Estação e no UCI Pal­la­di­um, em Curiti­ba (PR), estão disponíveis nos bal­cões de atendi­men­to, caixas de autoa­tendi­men­to e através do site da rede UCI.

    Serviço:
    UCI Estação
    Rua Sete de Setem­bro, 2775/ loja C‑01
    Rebouças – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80230–010
    Tele­fones: (41) 3595–5555/ (41) 3595–5550

    UCI Pal­la­di­um
    Av. Pres­i­dente Kennedy, 4121/ Loja 4001
    Portão – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80610–905
    Tele­fone: (41) 3208–3344

  • UCI exibe final inédita entre Real Madrid e Atlético de Madrid pela UEFA Champions League

    UCI exibe final inédita entre Real Madrid e Atlético de Madrid pela UEFA Champions League

    Final UEFA - UCI CinemasA rede UCI exibe ao vivo, no próx­i­mo dia 24, às 15h15, a esper­a­da decisão da UEFA Cham­pi­ons League, maior torneio de clubes da Europa. Atléti­co de Madrid e Real Madrid fazem pela primeira vez uma final com dois times da mes­ma cidade. Mar­ca­do para ocor­rer no Está­dio da Luz, em Lis­boa, o con­fron­to dos times do por­tuguês Cris­tiano Ronal­do e do brasileiro Diego Cos­ta estará na telona de 16 cin­e­mas da UCI em todo Brasil. Em Curiti­ba (PR), a trans­mis­são acon­tece nas salas do UCI Estação e UCI Palladium.

    O Real Madrid chegou à final depois de vencer o Bay­ern de Munique por 5 a 0. Com craques como o por­tuguês Cris­tiano Ronal­do, Gareth Bale e Karim Ben­ze­ma, o Real bus­ca seu 10º títu­lo da com­petição. Do out­ro lado, o Atléti­co de Madrid, que lid­era o Campe­ona­to Espan­hol a três rodadas do fim do torneio, está atrás do títu­lo inédi­to de campeão da Europa. O time do treinador Diego Sime­one chegou à final depois de der­ro­tar o Chelsea por 3 a 1.

    Os ingres­sos cus­tam R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia-entra­da) e estão à ven­da nos bal­cões de atendi­men­to, caixas de autoa­tendi­men­to e através do site da rede UCI.

    Serviço:
    UCI Estação
    Rua Sete de Setem­bro, 2775/ loja C‑01
    Rebouças – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80230–010
    Tele­fones: (41) 3595–5555/ (41) 3595–5550

    UCI Pal­la­di­um
    Av. Pres­i­dente Kennedy, 4121/ Loja 4001
    Portão – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80610–905
    Tele­fone: (41) 3208–3344

  • Décimo Segundo (2007), de Leonardo Lacca | Curta

    Décimo Segundo (2007), de Leonardo Lacca | Curta

    curta-decimo-segundo-2007-leonardo-lacca-cartazO silên­cio que pesa, arras­ta e guar­da, trans­for­man­do a ausên­cia de palavras em uma cur­va mís­ti­ca, enevoa­da. Essa descrição é uma das pos­si­bil­i­dades de “Déci­mo Segun­do” (2007), tra­bal­ho do dire­tor per­nam­bu­cano Leonar­do Lac­ca. Pre­mi­a­do em ter­ritório nacional e inter­na­cional, o cur­ta-metragem traz um recur­so ain­da pouco uti­liza­do na lin­guagem cin­e­matográ­fi­ca brasileira: o silêncio.

    As cenas avançam em direção a dois pro­tag­o­nistas, um homem e uma mul­her, que pare­cem estar em um pal­co cer­ca­do por corti­nas que abrem e fecham simul­tane­a­mente. Acom­pan­hamos a chega­da do homem e de suas malas a um deter­mi­na­do aparta­men­to, e logo somos sur­preen­di­dos por uma refer­ên­cia clara ao filme “Estra­da Per­di­da” (Lost High­way), do cineas­ta David Lynch. A clás­si­ca voz sotur­na que sol­ta no inter­fone “Dick Lau­rent is dead” (Dick Lau­rent está mor­to), pre­sente no filme de Lynch, tam­bém está no cur­ta, acom­pan­han­do até mes­mo o número exa­to de toques na cam­painha. Essa alusão é perce­bi­da como um jogo pes­soal entre o casal, já que a mul­her tam­bém faz uma brin­cadeira com seu vis­i­tante, ao escon­der as malas que ele deixa no elevador.

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    O reen­con­tro do casal, com o abraço do homem em sua anfitriã feito de for­ma inten­sa e ao mes­mo tem­po con­strangi­da, é um dos frag­men­tos do não-dito, da ponte que vai nos pos­si­bil­i­tan­do entrar na mente dos per­son­agens. Os close-ups, o plano-sequên­cia, a câmera na mão — tremen­do cal­a­da como a própria história – e o efeito intimista de todo o enre­do per­mitem cri­ar canais de prox­im­i­dade entre per­son­agem e espec­ta­dor. Por meio das fras­es engas­gadas, surgem inda­gações curiosas sobre o casal que se encara de olhos baixos. Como teste­munhas onipresentes, pas­samos a nos per­gun­tar: “quem são essas pes­soas?”, “elas foram amantes?”, “como e quan­do tudo ter­mi­nou?”, além de notar que a importân­cia do que acon­tece ali reside, na ver­dade, no ambi­ente fora-de-cena.

    Alphonse Osbert, o pintor do silêncio (La Riviére, 1890)
    Alphonse Osbert, o pin­tor do silên­cio (La Riv­iére, 1890)

    Déci­mo Segun­do cria con­strang­i­men­tos, dis­tân­cias e expressões abafadas. Vivi­da pela atriz e dire­to­ra teatral Rita Carel­li, a anfitriã do cur­ta parece con­seguir super­ar mel­hor a invasão do pas­sa­do, per­son­ifi­ca­da pela pre­sença do homem que está ali na sua frente, com o olhar per­di­do. Na pele do vis­i­tante tími­do, o ator per­nam­bu­cano Irand­hir San­tos gan­ha força e bril­ho ao con­seguir repro­duzir todo o embaraço do reen­con­tro. Pre­mi­a­do por sua atu­ação no lon­ga “Tat­u­agem” (2013), Irand­hir reforçou o elen­co de várias pro­duções nacionais, como as con­heci­das “Tropa de Elite 2” (2010) e “O som ao redor” (2012). O ator inte­grou o elen­co da Rede Globo nas minis­séries “A Pedra do Reino” (2007) e “Amores Rou­ba­dos” (2014), e atual­mente dá vida ao per­son­agem Zelão, o cap­ataz anal­fa­beto que se apaixon­a­da pela bela e meiga pro­fes­so­ra na nov­ela “Meu Pedac­in­ho de Chão”.

    Assim como as enig­máti­cas pin­turas do francês Alphonse Osbert (1857–1939), dis­solvi­das no iso­la­men­to de luzes e névoas mis­te­riosas, Déci­mo Segun­do vai descorti­nan­do a anato­mia do silên­cio, suas pos­si­bil­i­dades e dimen­sões, e deixa a car­go do expec­ta­dor a trav­es­sia – ou não – para o inte­ri­or dos per­son­agens, suas rev­oluções, emoções e sensações.

    Assista o curta:

  • Cineclube Sesi em Curitiba visita o cinema Maneirista em maio

    Cineclube Sesi em Curitiba visita o cinema Maneirista em maio

    Dublê de Corpo, de Brian de Palma
    Dublê de Cor­po, de Bri­an de Palma

    A fase em que os cineas­tas param de denun­ciar a ilusão da cena é destaque do Cineclube Sesi no mês de maio. Em sessões gra­tu­itas todas as quin­tas-feiras, a par­tir do dia 8 de maio, sem­pre às 19h30, os par­tic­i­pantes podem con­ferir as exibições de lon­gas do ciclo.

    Na pro­gra­mação, com curado­ria do pro­du­tor do Cineclube, Miguel Haoni, estão as pro­duções “A Cidade dos Piratas”, de Raoul Ruiz; “Dublê de Cor­po”, de Bri­an De Pal­ma; “A Div­ina Comé­dia”, de Manoel de Oliveira; e “Estra­da Per­di­da”, de David Lynch. “Todos eles são impor­tantes para a história do cin­e­ma por mostrarem uma com­plex­i­dade da arte que foi per­di­da com a instau­ração da fala”, desta­ca Miguel.

    Os lon­gas falam sobre as ten­tações e os mis­térios da vida humana. Em “A Cidade dos Piratas”, as histórias de uma cri­ança, uma mãe e um pri­sioneiro se entre­laçam mostran­do suas mudanças de vida, enquan­to em “Dublê de Cor­po”, Bri­an de Pal­ma faz uma hom­e­nagem a Hitch­cock ao mostrar um homem que pas­sa a vigiar a própria vizinha.

    A Divina Comédia, de Manoel de Oliveira
    A Div­ina Comé­dia, de Manoel de Oliveira

    A ideia de “A Div­ina Comé­dia” é mostrar a clás­si­ca obra de Dante em um man­icômio e “Estra­da Per­di­da” rev­ela as ten­sões de um casal que pas­sa a rece­ber vídeos na por­ta de casa, provan­do que alguém está obser­va­do a casa por fora e por dentro.

    As exibições dos filmes do Cin­e­ma Maneirista acon­te­cem na Sala Mul­ti­artes do Cen­tro Cul­tur­al Sis­tema Fiep (Av. Cân­di­do de Abreu, 200 Cen­tro – Curiti­ba – PR) e são seguidas de debates. A entra­da é fran­ca com vagas lim­i­tadas por ordem de chega­da. Mais infor­mações pelo site do SESI PR.

    Serviço:
    Cineclube Sesi – Cin­e­ma Maneirista
    Local: Cen­tro Cul­tur­al Sis­tema Fiep – Sala Mul­ti­artes — Av. Cân­di­do de Abreu, 200 — Cen­tro Cívi­co — Curitiba/PR
    Datas e horários: quin­tas-feiras, às 19h30
    Ingres­so: gratuito

    08/05 – A Cidade dos Piratas, de Raoul Ruiz. 111 min­u­tos, clas­si­fi­cação: 16 anos
    15/05 – Dublê de Cor­po, de Bri­an de Pal­ma. 114 min­u­tos, 18 anos
    22/05 — A Div­ina Comé­dia, de Manoel de Oliveira. 140 min­u­tos, 14 anos
    29/05 — Estra­da Per­di­da, de David Lynch. 135 min­u­tos, 16 anos.

  • “La Cenerentola” encerra temporada do MET na rede UCI

    La Cenerentola” encerra temporada do MET na rede UCI

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    O espetácu­lo que encer­ra a atu­al tem­po­ra­da do Met­ro­pol­i­tan Opera House de Nova York será exibido neste final de sem­ana pela Rede UCI. No dia 10 (sába­do), às 13h55, a ópera “La Cener­en­to­la”, de Rossi­ni, tem trans­mis­são ao vivo e pro­jeção de imagem em alta definição. Em Curiti­ba (PR), as sessões acon­te­cem nos cin­e­mas UCI Estação e UCI Palladium.

    A ópera do MET será regi­da pelo mae­stro ital­iano Fabio Luisi, da Orques­tra Sin­fôni­ca de Viena, e terá em seu elen­co Joyce DiDo­na­to, Juan Diego Flórez, Pietro Spag­no­li, Alessan­dro Cor­bel­li e Luca Pis­a­roni. Com­pos­ta por Giochi­no Rossi­ni e com libre­to de Jacopo Fer­reti, a ópera nar­ra a história da jovem Angeli­na, semel­hante à de Cin­derela. No espetácu­lo, um príncipe, à procu­ra de uma esposa, se dis­farça de cri­a­do e se apaixona por Angeli­na, a entea­da mal­trata­da de Don Mag­ní­fi­co, que que­ria arran­jar um bom casa­men­to para suas fil­has Clorin­da e Tisbe.

    Os ingres­sos para a ópera cus­tam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entra­da). Os espec­ta­dores podem garan­tir suas entradas no site da UCI, nos caixas de autoa­tendi­men­to e nos bal­cões de atendimento.

    SERVIÇO
    UCI Estação
    Rua Sete de Setem­bro, 2775/ loja C‑01
    Rebouças – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80230–010
    Tele­fones: (41) 3595–5555/ (41) 3595–5550

    UCI Pal­la­di­um
    Av. Pres­i­dente Kennedy, 4121/ Loja 4001
    Portão – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80610–905
    Tele­fone: (41) 3208–3344

  • Entrevista com o jornalista Daniel Piza ao programa Provocações (2000)

    Entrevista com o jornalista Daniel Piza ao programa Provocações (2000)

    Em novem­bro de 2000, o jor­nal­ista e escritor Daniel Piza (1970 — 2011) con­cedeu uma entre­vista dire­ta e polêmi­ca ao apre­sen­ta­dor do pro­gra­ma Provo­cações (TV Cul­tura), Antônio Abu­jam­ra.

    Nela, Daniel Piza fala sobre a práti­ca do jor­nal­is­mo cul­tur­al no Brasil e sua descar­ac­ter­i­za­ção: “O jor­nal­is­mo cul­tur­al, em ger­al, é o jor­nal­is­mo que eles chamam de var­iedades. Então, é a peque­na resein­ha [resen­ha] do últi­mo dis­co pop que saiu na Inglater­ra, ou uma entre­vista pingue-pongue com algum ator de Hol­ly­wood. Isso é o que chamam de jor­nal­is­mo cul­tur­al no Brasil”, dispara.

    Piza desta­ca que o públi­co brasileiro tem “medo de opinião, medo de dis­cussão, um públi­co que pref­ere o pop­ulis­mo, o ‘da boca pra fora’, do que real­mente você dis­cu­tir coisas que ten­ham a ver, que façam sen­ti­do, que digam respeito à qualidade”.

    As declar­ações do jor­nal­ista pos­suem um tom con­tro­ver­so, mas eru­di­ta­mente fun­da­men­ta­do, esti­lo que acom­pan­hou Daniel Piza durante toda sua car­reira. Essa é uma das car­ac­terís­ti­cas mar­cantes nas reflexões e dis­cur­sos que per­me­iam o tra­bal­ho de Piza, recon­heci­do como um dos maiores nomes do jor­nal­is­mo cul­tur­al brasileiro. Recon­hec­i­men­to e val­oriza­ção que con­tin­u­am após sua morte pre­coce, ocor­ri­da no final de 2011.

    Con­fi­ra a entre­vista na íntegra:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=H8HAIuMBq28

  • Quem quer criar desordem?

    Quem quer criar desordem?

    Leonilson (por Leonilson)
    (Desen­ho por Leonilson)

    Uma vez uma ami­ga veio em casa e comen­tou: “As pes­soas dizem: não ligue para a bagunça. Mas todo mun­do tem a casa bagunça­da.” Era uma obser­vação sobre a des­or­dem per­ma­nente de min­ha casa. Livros por todos os lados, blo­cos de ano­tação, cader­nos, cópias de xerox, uma casa em que o papel pre­dom­i­na e causa des­or­dem. Gostei do comen­tário da ami­ga. Depois dis­so, pas­sei a não me impor­tar que as vis­i­tas vis­sem a casa em caos.

    Fico com medo de entrar em casas limpas e orga­ni­zadas demais. Medo de pis­ar no chão limpo e bril­hante. Medo de sen­tar no sofá limpo e bril­hante. Uma ami­ga tem uma casa tão limpa e orga­ni­za­da que ten­ho medo de sen­tar no sofá e mor­rer. Lem­bro o sofá de Julio Cortázar, com uma estre­lin­ha pon­ti­agu­da, no qual as cri­anças con­vi­davam as vel­hin­has chatas a sentarem para morrer.

    Na casa da min­ha avó havia uma geladeira que só fecha­va com bar­bante. Ela aproveita­va o jor­nal que meus tios liam para for­rar o chão onde caía gor­du­ra do fogão. Quan­do cri­ança, eu não acha­va sua casa uma bagunça. Não sabia que orga­ni­zar o espaço é fun­da­men­tal para a vida ter um pru­mo, como ensi­nam os admin­istradores de tem­po. Na casa da avó tín­hamos liber­dade máx­i­ma para não nos pre­ocu­par­mos em não sujar e não bagunçar nada. Era o lugar em que bom­bons e piz­zas sur­giam de for­ma mágica.

    Na casa de Hélio Leites há obje­tos inúteis por todos os lados. Latas de sardinha, botas, sap­atos, livros, pedaços de papel, embal­a­gens de leite. Tudo que ele usa em suas cola­gens. Entre várias asso­ci­ações estapafúr­dias que criou, Hélio fez parte do clube de Arte Postal, e “guar­da” os cartões entre para­fu­sos, por­cas, potes de iogurte, chaves. Desco­bri, entre seus papéis, o bole­tim Hitlelíri­co, com paró­dias inspi­radas no Grande Dita­dor. E tam­bém arti­gos, goza­ções homéri­c­as, pub­li­ca­dos no jor­nal “O Esta­do do Paraná”.

    Hélio Leites em sua casa (Foto: André Saito & Cesar Nery)
    Hélio Leites em sua casa (Foto: André Saito & Cesar Nery)

    Na chá­cara de Hil­da Hilst, em Camp­inas, os cachor­ros dormi­am em cima de sua cama. O jardim era seco e ela bebia nos fins de tarde. Tive emoções difusas nos dois dias em que estive lá. Ouvi histórias sobre abor­tos, a mágoa por ter sido “esque­ci­da” pelos críti­cos, menos Léo Gilson Ribeiro. A visi­ta se deu antes que Fer­nan­da Mon­tene­gro ence­nasse “A obsce­na sen­hor D.” e Hil­da tivesse a sua obra repub­li­ca­da pela Edi­to­ra Globo. Ela fica­va na sala, beben­do com os ami­gos. Mas quan­do estive em sua casa, ficou impres­sion­a­da com o meu silên­cio e veio descas­car batatas comi­go, na coz­in­ha. E con­fi­den­ciou: “ten­ho pena dos poet­as, são tão sozinhos.”

    Hilda Hilst
    Hil­da Hilst

    Na sala de min­ha ter­apeu­ta há livros espal­ha­dos numa mesa que ela nun­ca arru­ma. Muitas vezes pen­sei porque uma pes­soa respon­sáv­el por aju­dar a orga­ni­zar o caos inte­ri­or de out­ros man­tém uma mesa de tra­bal­ho em des­or­dem. Na últi­ma vez em que estive com ela, desco­bri. É pre­ciso aceitar a des­or­dem inte­ri­or. Não sabe­mos de tudo, não vemos tudo. O que está em aparente des­or­dem, pode estar afi­na­do na ordem de um sis­tema — famil­iar, comu­nitário, social, galáctico.

    Durante anos me pre­ocu­pei por não ser orga­ni­za­da, nem pro­du­ti­va, efi­ciente e útil. Ler, escr­ev­er, con­ver­sar, dis­cu­tir são uma enorme per­da de tem­po. Hoje sei que isso é ape­nas um pon­to de vista. É pre­ciso perder tem­po, deixar-se des­or­ga­ni­zar-se. Quan­do se entende o que é ter equi­líbrio, a orga­ni­za­ção vai acon­te­cen­do sem perceber.

  • Dogville (2003): Imaginário e símbolos de apreensão do real | Análise

    Dogville (2003): Imaginário e símbolos de apreensão do real | Análise

    dogville-analise-posterE a rachadu­ra na xícara de chá abre uma tril­ha para a ter­ra dos mor­tos”, escreveu o poeta W.H Auden. Partin­do dessa imagem, percebe­mos uma alame­da silen­ciosa e intrin­ca­da de caos, dúvi­das e inse­gu­ranças invadin­do o rotineiro e con­fortáv­el espaço social, per­son­ifi­ca­do pela figu­ra de uma xícara de chá. Um tipo de invasão sem vol­ta, pois pen­e­tra no esta­do de espíri­to de um grupo, nação ou comu­nidade, desnudan­do sim­u­lações e fazen­do cair más­caras. Esse é o cenário esboça­do pelo filme Dogville (2003), dirigi­do pelo dire­tor dina­mar­quês Lars von Tri­er, e cuja temáti­ca será obje­to de mapea­men­to, reflexão e análise no que con­cerne ao imag­inário mate­r­i­al da cidade e dos per­son­agens fictícios.

    A história do lon­ga-metragem se pas­sa em uma vila chama­da Dogville, habita­da por pes­soas sim­ples, com anseios modestos e sem per­spec­ti­vas de mudança. Situ­a­do entre mon­tan­has, o vilare­jo tem pouquís­si­mo con­ta­to com o mun­do exte­ri­or, isolan­do os moradores aos lim­ites do lugar. A roti­na mecan­iza­da de Dogville reflete em uma comu­nidade aco­moda­da, sem capaci­dade cria­ti­va e com­ple­ta­mente entor­peci­da. Um de seus moradores, o aspi­rante a escritor Tom Edi­son (inter­pre­ta­do pelo ator Paul Bet­tany), avo­ca para si a autori­dade de “líder-comu­nitário” e ten­ta inserir novas ideias e dis­cussões no seio da comunidade.

    Em um dado momen­to, a empoeira­da vila é toma­da de assalto pela pre­sença de Grace (vivi­da pela atriz Nicole Kid­man), forasteira que chega furtiva­mente à Dogville. Tom é o primeiro a ter con­ta­to com Grace, interce­den­do por ela per­ante os out­ros mem­bros do grupo. Depois de uma assem­bleia, fica deci­di­do que Grace terá duas sem­anas para con­quis­tar a con­fi­ança do povoa­do e, sug­es­tion­a­da por Tom, a forasteira decide ofer­e­cer sua aju­da aos habitantes.

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    A “rachadu­ra na xícara”, ini­ci­a­da com o aparec­i­men­to de Grace, se estende durante toda a sequên­cia do filme, divi­di­do em nove capí­tu­los. No decor­rer da tra­ma, mudanças sub­stan­ci­ais acon­te­cem no pequeno vilare­jo e o ar de feli­ci­dade idíli­ca dá lugar à nuvem de fumaça den­sa, fúne­bre e tene­brosa. A pop­u­lação de Dogville começa mostran­do medo e descon­fi­ança em relação à per­manên­cia de Grace na cidade, mod­i­f­i­can­do o pen­sa­men­to pouco depois, já que todos os quinze habi­tantes estavam sendo ben­e­fi­ci­a­dos pelo tra­bal­ho da forasteira. O enre­do segue até rev­e­lar a ver­dadeira face de Dogville: de ami­gos acol­he­do­res, os habi­tantes pas­sam a predadores vorazes, tratan­do Grace como obje­to, esma­gan­do sua iden­ti­dade, desumanizando‑a.

    Para enten­der como se dá a con­strução do imag­inário mate­r­i­al da cidade e de seus habi­tantes, cabe destacar a apos­ta do dire­tor Lars von Tri­er em um esti­lo cin­e­matográ­fi­co híbri­do, em que fig­u­ram ele­men­tos teatrais e literários. Com essa mis­tu­ra, as noções de real e irre­al se entre­laçam e sub­vertem os mod­e­los padrões, alteran­do tam­bém a per­cepção de ver­dadeiro e fal­so. O lon­ga-metragem apre­sen­ta car­ac­terís­ti­cas do teatro grego (insti­ga o dese­jo do espec­ta­dor pela vio­lên­cia crua), teatro do absur­do (inter­ação dos atores com obje­tos imag­inários), bem como a ausên­cia de fun­do musi­cal. Out­ro fator deci­si­vo na con­strução do filme é a uti­liza­ção de cenários desta­ca­dos no chão, mar­can­do a pre­sença de cada habi­tante no ambi­ente um do out­ro, e o uso de pare­des pre­tas (teatro caixa-pre­ta), val­orizan­do assim um for­ma­to mais intimista, volta­do à dra­mati­ci­dade e tensão.

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    A fal­ta de “dis­trações cêni­cas” per­mite que o espec­ta­dor con­cen­tre a atenção nas relações que se embaraçam e desem­baraçam na cadeia dos acon­tec­i­men­tos. Dessa for­ma, obser­va-se a con­strução de Dogville como uma cidade para­da no tem­po, víti­ma de sua própria amar­gu­ra e solidão. A cul­tura da repetição, medioc­ridade e imutabil­i­dade toma con­ta do pequeno espaço, afo­gan­do os moradores em uma espé­cie de tor­por cego. Pre­sos em ideias fixas, eles não con­seguem enx­er­gar além dos seus próprios muros, e mes­mo inte­gran­do o todo — rep­re­sen­ta­do pelo espaço comu­nitário — os mem­bros de Dogville não se recon­hecem como indivíduos.

    Os moradores per­dem a maior parte das horas do dia em suas ativi­dades cotid­i­anas, cuja úni­ca ori­en­tação vem do bada­lo monocór­dio do sino da igre­ja, admin­istra­do por uma habi­tante da vila, já que nen­hum padre jamais apare­ceu no local. Den­tre os habi­tantes, estão casais infe­lizes e apáti­cos (Chuck e Vera), pais que não sabem amar e edu­car os fil­hos; fab­ri­cantes de obje­tos e pro­du­tos sem qual­i­dade, mas que logram em cima da comu­nidade através de preços exor­bi­tantes (família Hen­son e sen­ho­ra Gin­ger); home­ns hipocon­dría­cos ou que se recusam a aceitar a enfer­mi­dade (dois extremos, rep­re­sen­ta­dos pelo ex-médi­co Thomas Edi­son, pai do autoin­ti­t­u­la­do escritor Tom, e o irascív­el cego McK­ay); além do trans­porta­dor de car­ga (Ben) que fre­quen­ta prostíbu­los e ten­ta escon­der o fato por ver­gonha, e a fax­ineira solitária e sua fil­ha deficiente.

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    Em um primeiro momen­to, a inér­cia bucóli­ca do lugar encan­ta Grace que, cansa­da de fugir de supos­ta máfia, faz tudo para per­manecer no local. Quan­do os habi­tantes de Dogville percebem o poder que exercem sobre Grace, apelando para o medo que a descon­heci­da tem de ser entregue à polí­cia ou aos mafiosos, há uma rup­tura grada­ti­va no modo de trata­men­to. De “recém-inte­grante” do espaço comu­nitário, a forasteira se trans­for­ma em escra­va físi­ca e sex­u­al, sendo explo­ra­da de todas as maneiras possíveis.

    A par­tir desse pon­to, Dogville começa a se con­struí­da como “cidade do cão”, onde pes­soas agem por instin­to ani­male­sco de poder e con­t­role, forçan­do Grace a ser um de seus obje­tos. Toda a mesquin­haria da cidade é camu­fla­da pela afir­mação medonha dos habi­tantes de que “só quer­e­mos o seu bem” ou “não gostaríamos de faz­er isso com você”, rep­re­sen­tan­do a imagem do algoz que açoi­ta e fla­gela, ale­gan­do que o faz pela graça de Deus e bem de toda a humanidade (vide a bar­bárie per­pe­tra­da pela San­ta Inquisição con­tra supos­tos hereges e o con­tín­uo mas­sacre étni­co e reli­gioso cometi­do nas ter­ras do Ori­ente Médio, por exemplo).

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    O ide­al con­ser­vador, tradi­cional­ista e paca­to da cidade camu­fla o medo da mudança que asso­la o ínti­mo dos moradores, deixan­do-os capazes de qual­quer sel­vage­ria para con­ser­var a atmos­fera inerte e o comod­is­mo. No imag­inário dos moradores de Dogville, a cidade fun­ciona per­feita­mente bem, integra­da por ideais democráti­cos e solidários de manutenção de val­ores tradi­cionais e famil­iares. Mas com a chega­da de Grace, o espec­ta­dor começa a acom­pan­har o declínio moral e social da vila; ruí­nas que estavam escon­di­das na cegueira da cidade, em sua natureza amor­fa e imutável.

    Ao pen­e­trar no nevoeiro que é a “cidade do cão”, Grace trans­for­ma-se no dedo em riste, uma espé­cie de ques­tion­a­men­to vivo às ima­gens con­struí­das sobre a vila e seus habi­tantes. As certezas de Tom Edi­son começam a ser removi­das, rev­e­lando ao próprio “escritor” que a últi­ma coisa que ele gostaria que acon­te­cesse era pas­sar por mudanças ou con­frontar sua vida. Por out­ro lado, Grace pro­va através de suas ações e reações diante de todas as bru­tal­i­dades das quais é víti­ma que “não estar mor­to não é estar vivo”, como disse o poeta e ensaís­ta E.E Cum­mings. A cria­tivi­dade e humanidade da jovem forasteira lem­bram à Dogville como a vila é peque­na em espíri­to, lim­i­ta­da geografi­ca­mente, tran­cafi­a­da em um mosaico de roti­nas, per­feita­mente adap­ta­da e esta­bi­liza­da em situ­ações que sequer con­hece ou entende.

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    Com­preen­den­do o imag­inário como a cul­tura de um grupo, percebe-se a descon­strução das ima­gens de Dogville, desnudan­do o caráter tirâni­co de pes­soas catatôni­cas, inca­pazes de lidar com rup­turas. A vila imag­inária de Lars von Tri­er é um emble­ma das grandes cidades e sua “filosofia do absur­do”, onde a indi­vid­u­al­i­dade se perde no meio de relações super­fi­ci­ais e a sede do “poder de vida e de morte” afu­gen­ta sen­ti­men­tos, crian­do hierarquias.

    Para super­ar taman­ho des­gaste, Grace faz refer­ên­cia ao esto­icis­mo e sua éti­ca do “imper­tur­báv­el, extir­pação das paixões e aceitação res­ig­na­da do des­ti­no” como for­ma de atin­gir à sabedo­ria. Dores, sofri­men­tos e infortúnios são esque­ci­dos e per­son­ifi­ca­dos na imagem de uma mul­her doce, meiga, com voz açu­cara­da e capaz de supor­tar as adver­si­dades. A con­strução dessa imagem faz refer­ên­cia a aceitação da sociedade atu­al, silen­ciosa e cati­va, sub­ju­ga­da por “poderes microscópi­cos”, expressão cun­ha­da pelo pen­sador francês Michel Fou­cault, que dom­i­nam, mar­t­i­rizam e dev­as­tam sua existência.

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    Dogville remon­ta ima­gens do nos­so quadro social, assas­si­no de indi­vid­u­al­i­dades e toma­do por mesquin­harias. Como os habi­tantes desse pequeno povoa­do esque­ci­do, ali­men­ta­mos a ideia de que somos for­ma­dos por “justiça, igual­dade e frater­nidade”, escon­den­do o ros­to ao desumanizar e estigma­ti­zar o out­ro. A car­i­catu­ra do covarde per­son­agem Tom Edi­son mostra o lado intragáv­el do medo de encar­ar inse­gu­ranças e mudanças, da sub­mis­são a uma ordem social impos­ta, do ide­al de fetiche gregário e da ação instin­ti­va, com a bus­ca da sat­is­fação de neces­si­dades físi­cas e dos próprios interesses.

    Saturno devorando seu filho
    Sat­urno devo­ran­do seu filho

    O des­fe­cho do filme, trági­co e inten­so – a exem­p­lo da dra­matur­gia gre­ga -, apre­sen­ta ima­gens dicotômi­cas e míti­cas, pre­sentes no imag­inário social. Ini­cial­mente con­ce­bi­da como Prom­e­teu, titã mitológi­co que, guia­do pelo amor aos humanos, decide ensiná-los a civ­i­liza­ção e as artes e é amaldiçoa­do por Júpiter (Zeus), sendo sev­era­mente cas­ti­ga­do, Grace vai assu­min­do a for­ma do quadro de Goya (Sat­urno devo­ran­do seu fil­ho), e engole a cidade inteira, queimando‑a e trucidando‑a.

    Dogville é for­ma­da por sím­bo­los de apreen­são do real, emble­ma de ima­gens que são trans­for­madas em pes­soas, sen­ti­men­tos, situ­ações e coisas. Os per­son­agens da “cidade do cão” são metá­foras que unem obje­tivi­dade e sub­je­tivi­dade. Refle­tir sobre o imag­inário é com­preen­der sua importân­cia na con­strução da real­i­dade e na for­mação da iden­ti­dade humana, em toda sua inqui­etação e complexidade.

  • Local (2008–09), de Brian Wood e Ryan Kelly | HQ

    Local (2008–09), de Brian Wood e Ryan Kelly | HQ

    Capa do Vol. 1
    Capa do Vol. 1

    À primeira vista, quan­do peguei, por aca­so, o mate­r­i­al de Bri­an Wood (roteiro) e Ryan Kel­ly (arte) na livraria Quin­ta Capa (a mais legal de Teresina), tive basi­ca­mente a intenção de atu­alizar algu­mas leituras ain­da descon­heci­das por mim na cena dos quadrin­hos. A sen­sação que tive (não sei explicar o moti­vo) ao tatear “Local” foi de encon­trar algo na lin­ha nar­ra­ti­va de Craig Thomp­son em “Retal­hos”, por imag­i­nar que o eixo temáti­co seria pare­ci­do. Feliz­mente esta­va engana­do, e o uni­ver­so que se abriu foi out­ro bem difer­ente, lin­do por sinal.

    Local” expõe a importân­cia dos lugares e das cam­in­hadas que faze­mos pelos espaços. No iní­cio da leitu­ra, tive pre­con­ceito em achar que a história não teria uma potên­cia poéti­ca uni­ver­sal na lin­ha de tra­bal­hos autorais como de Emilio Fra­ia e DW Rib­ats­ki (“Cam­po em Bran­co”) ou do próprio Craig, mas não. Mes­mo com uma nar­ra­ti­va que fre­qüen­ta ambientes/paisagens estadunidens­es, o impacto da obra uni­ver­sal­iza o que somos e o que podemos ser… É surpreendente!

    Estru­tu­ra­do em 12 capí­tu­los “auto­con­ti­dos” (encader­na­do em dois vol­umes: “Pon­to de Par­ti­da” e “Fim da Jor­na­da”, pelo Devir Livraria), as histórias estão demar­cadas na vida de Megan McK­eenan, uma jovem em bus­ca de novas exper­iên­cias, que segue via­jan­do pelos EUA atrás de si mesma.

    Cada capí­tu­lo situa Megan numa cidade-aven­tu­ra, no qual ela vive uma série de situ­ações cotid­i­anas com pes­soas nor­mais, que vivem seus prob­le­mas, suas con­quis­tas, afe­tivi­dades e deses­per­os, que nem sem­pre é fácil de enten­der: um mer­gul­ho nas particularidades.

    local-2008-09-de-brian-wood-e-ryan-kelly-hq-3Entre empre­gos, namora­dos, sus­tos, exper­iên­cias cul­tur­ais, decepções e ima­turi­dades, Megan nos encan­ta com sua von­tade de descen­trar o Eu que a habi­ta, pul­ver­izan­do as raízes que a pren­dem no chão, car­regan­do nas costas sua mochi­la rec­hea­da de dese­jos e son­hos. Que­brar as lin­has rígi­das do mapa e com­preen­der-se enquan­to car­tografia: se jog­ar sem medo ou cul­pa, pelo Não do previsível.

    Megan cam­in­ha pela cidade encarando‑a como um lab­o­ratório de sen­si­bil­i­dades. Talvez ela não com­preen­da ini­cial­mente a força dos ele­men­tos afe­tivos que está crian­do, mas do decor­rer da nar­ra­ti­va é pos­sív­el acom­pan­har que cada espaço prat­i­ca­do rep­re­sen­ta uma micro-rev­olução fun­da­men­tal na con­strução da sua personalidade.

    Megan muda seu olhar para o mun­do a cada apren­diza­do vivi­do. Poten­cial­iza os estil­haços recol­hi­dos dos con­fron­tos urbanos inte­ri­ores e das pes­soas que habitam estas ten­sões. Ser a soma dos cruza­men­tos das avenidas, dos gri­tos e estouros alheios, dos par­ceiros de quar­to mal-resolvi­dos, do irmão prob­lemáti­co e dos corações-fan­tas­mas. Histórias muitas vezes incon­clusas, encer­radas às pres­sas com um bil­hete de despedida.

    A paixão de Megan pela fuga/deambulação/desprendimento dos cen­tros de fix­idez vem des­de a infân­cia, quan­do avisa­va para a mãe que esta­va fug­in­do para algum lugar e tin­ha como respos­ta: “Mas daqui a pouco é hora de jan­tar. O que você vai com­er? Quem vai coz­in­har pra você?”.

    Capa do Vol. 2
    Capa do Vol. 2

    Sua primeira ten­ta­ti­va de explo­rar o mun­do foi frustra­da, pois não pas­sou do “car­val­ho no nos­so quin­tal da frente”. A supos­ta “indifer­ença” da mãe em torno das fugas era, na ver­dade, um incen­ti­vo para que Megan seguisse seu des­ti­no sem medo de sonhar.

    Enquan­to nos­sas mães nos sufo­cam com pro­teção e mimo, “ela esta­va removen­do qual­quer obstácu­lo que sur­gisse no meu cam­in­ho. Ela que­ria que eu me sen­tisse livre”. A mãe era víti­ma de uma pro­fun­da prisão inte­ri­or, e não dese­ja­va o mes­mo à filha.

    A mãe atua como espaço livre de trav­es­sia para o mun­do em con­strução. A figu­ra pater­na aparece como ele­men­to repres­sor na jor­na­da, mas nada que atra­pal­he seus obje­tivos: “Meu pai nun­ca a desafiou [mãe], nun­ca levan­tou um dedo para tirá-la da sua roti­na diária. Acho que na cabeça dela, me lim­i­tar seria uma for­ma de mau trato”.

    Apren­den­do com a mãe que o desprendi­men­to rep­re­sen­ta os son­hos e a esper­ança da liber­dade, Megan só encer­ra sua cam­in­ha­da quan­do a pontes entre o coração mater­no e o mun­do rompem-se com a vio­lên­cia ines­per­a­da da morte.

    Após o falec­i­men­to da mãe, é hora de voltar. A dis­per­são e a iden­ti­dade flâneur con­vertem-se em fechadu­ra-por­ta-casa. Ago­ra é pre­ciso sen­tar no sofá, tomar um leite quente e ser impor­tu­na­da por todos os espíri­tos que o pas­sa­do guardou na mochi­la. Quan­tos ter­ritórios te perseguem? Quan­do amores não enter­ra­dos te per­tur­bam? Quan­tas feri­das não cica­trizaram na memória? Qual o preço de per­cor­rer tan­tos uni­ver­sos em bus­ca da liber­dade? Os fan­tas­mas “querem saber por que você os abandonou?”.

    local-2008-09-de-brian-wood-e-ryan-kelly-hq-4O trân­si­to pelo mun­do é encer­ra­do (por enquan­to) na casa da fale­ci­da mãe, em Ver­mont, soz­in­ha. O lar mater­no é chave para o auto-con­hec­i­men­to. Recol­her-se para o des­can­so, até que novas aven­turas e con­vites para futur­os saltos apareçam por aí.

    Meu primeiro instin­to é fugir, ir emb­o­ra, sim­ples­mente se esqui­var da questão e evi­tar a situ­ação. Mas não há pra onde fugir. Por que fui emb­o­ra todas aque­las vezes? Eu não sei por quê!”

    Num encon­tro com o espíri­to da mãe, ela con­fes­sa que suas fugas pelo mun­do resul­taram em pro­fun­das crises exis­ten­ci­ais. A solidão da cam­in­ha­da a obrigou a enten­der seus con­fli­tos pes­soais soz­in­ha, já que, até então, nun­ca com­preen­deu por que as pes­soas foram tão hor­ríveis com ela, porque esta­va deslo­ca­da de tudo.

    Pre­cisamos sen­tir saudade, talvez esse foi o erro de Megan: neg­li­gen­ciar tal sentimento.

    local-2008-09-de-brian-wood-e-ryan-kelly-hq-5Sen­ta­da na varan­da da vel­ha casa, ela pen­sa: “No fim, o que real­mente impor­ta­va era o que eu pen­sa­va, como eu respon­dia às min­has próprias per­gun­tas. Demor­ei muito tem­po pra perce­ber isso. E com o tem­po, eu fiquei ver­dadeira­mente feliz comi­go mesma.”

    O retorno ao anti­go lar move a per­gun­ta final: “A sua cidade natal se impor­ta com você?”

    Somos como Megan. Sujeitos em construção/contradição. Um pedaço de muitos lugares, cacos de muitas esquinas, retal­hos de amores feri­dos, rup­turas em bus­ca de aconchego, mutações diárias, ilhas descon­heci­das. Somos conexões de olhares e sabores de cidades pas­sadas. De nen­hum lugar, de todos os lugares.

    No final, o cheiro da infân­cia nos tor­na pes­soas fortes.

  • Rede UCI exibe “La Bohème” no sábado, dia 5 de abril

    Rede UCI exibe “La Bohème” no sábado, dia 5 de abril

    rede-uci-exibe-la-boheme-no-sabado-dia-5-de-abril

    A Rede UCI exibe no sába­do, dia 5 de abril, às 13h55, ao vivo e em alta definição, a ópera “La Bohème”, do com­pos­i­tor ital­iano Gia­co­mo Puc­ci­ni. Ópera mais ence­na­da da história do Met­ro­pol­i­tan Opera House, de Nova York, o espetácu­lo faz parte da atu­al tem­po­ra­da do teatro amer­i­cano, que vai até maio. A apre­sen­tação terá sessão úni­ca em 15 cin­e­mas de todo o Brasil e, em Curiti­ba (PR), será exibi­da nas salas do UCI Estação e do UCI Palladium.

    La Bohème” é uma ópera em qua­tro atos, com libre­to de Lui­gi Illi­ca e Giuseppe Gia­cosa, basea­do no livro de Hen­ri Murg­er, Scènes de la vie de bohème. A obra estre­ou no Teatro Regio de Turim, Itália, em 1º de fevereiro de 1896, sob a regên­cia de Arturo Toscani­ni. Na ver­são atu­al, o tenor ital­iano Vit­to­rio Grigo­lo retra­ta o escritor apaixon­a­do Rodol­fo, e a sopra­no rom­e­na Ani­ta Har­tig faz sua estreia no Met como sua amante con­sum­ista, Mimi. Susan­na Phillips inter­pre­ta a paque­r­ado­ra Muset­ta e Mas­si­mo Cav­al­let­ti é o pin­tor Mar­cel­lo, no espetácu­lo lid­er­a­do pelo grande mae­stro Ste­fano Ranzani.

    Eugene One­gin” abriu as exibições da tem­po­ra­da, em 05 de out­ubro de 2013, e a próx­i­ma obra será “Cosí fan Tutte”, de Mozart, no dia 26 de abril. Os ingres­sos para todas as óperas do MET cus­tam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entra­da) e estão disponíveis para com­pra no site da UCI, caixas de autoa­tendi­men­to e nos bal­cões de atendimento.

    SERVIÇO
    UCI Estação
    Rua Sete de Setem­bro, 2775/ loja C‑01
    Rebouças – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80230–010
    Tele­fones: (41) 3595–5555/ (41) 3595–5550

    UCI Pal­la­di­um
    Av. Pres­i­dente Kennedy, 4121/ Loja 4001
    Portão – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80610–905
    Tele­fone: (41) 3208–3344

  • Rede UCI exibe documentário “Generation Iron” nesta quarta (26) e quinta-feira (27)

    Rede UCI exibe documentário “Generation Iron” nesta quarta (26) e quinta-feira (27)

    uci-transparente

    Nes­ta quar­ta (26) e quin­ta-feira (27), às 20h45, a rede UCI exibe o doc­u­men­tário “Gen­er­a­tion Iron”, para os fãs de mus­cu­lação e fisi­cul­tur­is­mo. As sessões, que em Curiti­ba (PR) acon­te­cem no cin­e­ma UCI Estação, apre­sen­tarão um pouco mais sobre a vida das estre­las dessa modalidade.

    Do pro­du­tor do clás­si­co orig­i­nal “Pump­ing Iron”, “Gen­er­a­tion Iron” é um mer­gul­ho pro­fun­do no mun­do do fisi­cul­tur­is­mo profis­sion­al. O doc­u­men­tário, nar­ra­do por Mick­ey Rourke retra­ta o dia-a-dia de vários atle­tas, entre eles o recém-chega­do e ambi­cioso Ben Pakul­s­ki e o astro europeu Roel­ly Win­klaar, em sua jor­na­da para ser coroa­do o Mr. Olympia.

    As entradas já estão à ven­da e cus­tam R$ 40 (inteira). Para mais infor­mações sobre os filmes, os cin­e­mas UCI e a pro­gra­mação com­ple­ta, acesse o site www.ucicinemas.com.br e/ou as redes soci­ais www.ucicinemas.com.br/redes+sociais. Os ingres­sos poderão ser adquiri­dos nas bil­hete­rias, nos ter­mi­nais de autoa­tendi­men­to ou tam­bém pelo site da rede.

    Serviço:
    UCI Estação
    Rua Sete de Setem­bro, 2775/ loja C‑01
    Rebouças – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80230–010
    Tele­fones: (41) 3595–5555/ (41) 3595–5550

  • Últimas apresentações de “A Máquina Infernal” no Guairinha

    Últimas apresentações de “A Máquina Infernal” no Guairinha

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    O mito de Édipo, sob a releitu­ra do dra­matur­go, poeta e cineas­ta Jean Cocteau (1889–1963) no tex­to “A Máquina Infer­nal” (1934) serviu de inspi­ração para o espetácu­lo homôn­i­mo, da Gran Com­pan­hia D’Arte Dramáti­ca, que está com suas últi­mas apre­sen­tações no Guairinha.

    Com adap­tação, cenário e direção de Rober­to, pro­dução de Thadeu Per­onne, incen­ti­vo do Ban­co do Brasil através da Lei Munic­i­pal de Incen­ti­vo à Cul­tura de Curiti­ba e apoio do Teatro Guaíra, a mon­tagem con­ta a história de Édipo, per­son­agem bem con­heci­do da mitolo­gia gre­ga, que mata o pai e casa-se com a própria mãe, mas trazen­do a per­spec­ti­va de um jovem, com seu olhar egoís­ta, diante de uma máquina infer­nal que é o mundo.

    O elen­co con­ta com a par­tic­i­pação espe­cial de Rosana Stavis, além dos atores Ger­son Del­liano, João Graf, Joseane Beren­da, Lud­mi­la Nascarel­la e Mar­vhem HD. O fig­uri­no, de Paulin­ho Maia, e a sono­plas­tia, de Cesar Sar­ti, trazem ele­men­tos da Gré­cia anti­ga, mas com foco na con­tem­po­ranei­dade. A com­pan­hia con­ta ain­da com uma asses­so­ria de refer­ên­cias gre­gas, dada por Aim­il­ia Koulogeorgiou.

    A Máquina Infer­nal” tem apre­sen­tações até o próx­i­mo sába­do, dia 22, de quar­ta a sex­ta-feira, às 20h; Sába­dos, às 16h30 e 20h no Guairinha.

    SERVIÇO:
    “A Máquina Infer­nal”, da Gran Com­pan­hia D’Arte Dramática
    Data: de 06 a 22 de março
    Dias e horários: De quar­ta a sex­ta-feira, às 20h; Sába­dos, às 16h30 e 20h
    Local: Guair­in­ha – Rua XV de Novem­bro, 971 — Curiti­ba — PR
    Ingres­sos: R$ 15,00 e R$ 7,50 + R$ 6,00 (taxa administrativa)
    Clas­si­fi­cação: 12 anos
    Local de ven­da: Disk Ingres­sos 3315 0808 e quiosque nos shop­pings Mueller, Estação, Total e Palladium

    Ficha téc­ni­ca:
    Tex­to: Rober­to Inno­cente, inspi­ra­do na obra de Jean Cocteau
    Direção: Rober­to Innocente
    Elenco:
    Ger­son Del­liano, João Graf, Joseane Beren­da, Lud­mi­la Nascarel­la, Mar­vhem HD e Rosana Stávis.
    Direção de Pro­dução: Thadeu Peronne
    Fig­uri­nos: Paulin­ho Maia
    Sono­plas­tia: Cesar Sarti
    Ilu­mi­nação: Rodri­go Ziolkowski
    Cenário: Rober­to Innocente
    Con­fecção de Cenário: Equipe Ver­sátil Andaimes e equipe Teatro Guaíra
    Admin­is­tração: Mazé Portugal
    Pro­je­to Grá­fi­co: Ana Camar­go Design
    Ilus­tração: Már­cia Széliga
    Asses­so­ria de Impren­sa: Flam­ma Comunicação
    Fotos: Chico Nogueira
    Asses­so­ria de refer­ên­cias gre­gas: Aim­il­ia Koulogeorgiu
    Vídeos: Amar­il­do Mar­tins, Mar­vhem HDGP7
    Cap­tação de Recur­sos: Thadeu Peronne
    Incen­ti­vo: Ban­co do Brasil, Lei Munic­i­pal, Prefeitu­ra e Fun­dação Cul­tur­al de Curitiba.
    Apoio: Teatro Guaíra, SESI, Ver­sátil Andaimes, Piz­zaria Boca de Forno, Restau­rante Bou­quet Gar­ni Curiti­ba, Padaria Améri­ca e Acad­e­mia Liv!

  • Uma História de Sarajevo (2005), de Joe Sacco | HQ da Semana

    Uma História de Sarajevo (2005), de Joe Sacco | HQ da Semana

    uma-historia-de-sarajevo-2005-de-joe-sacco-hq-da-semana-capaDiante das ten­sões políti­cas que estão explodin­do na Ucrâ­nia, Síria e uma pos­sív­el re-polar­iza­ção inter­na­cional, ten­to mon­tar o que­bra-cabeças indi­vid­ual des­ta con­jun­tu­ra tur­bu­len­ta. Esse “redesen­har” de fron­teiras do Leste europeu e adjacên­cias me obrigam a com­preen­der (como pro­fes­sor de História) min­i­ma­mente isso tudo. Assim, des­de que tive aces­so às reflexões de Edward Said com “Ori­en­tal­is­mo” (2007), da dire­to­ra de cin­e­ma Kathryn Bigelow e das con­ver­sas em sala de aula, fui atrás de novas refer­ên­cias sobre algo que descon­hece­mos: O out­ro lado do mapa.

    No meu trân­si­to de leitor/HQ amador, encon­trei por aca­so dois nomes bem posi­ciona­dos no debate políti­co que segue: Joe Sac­co e Enki Bilal. Hoje quero falar de Sac­co, ape­sar de Bilal pos­suir algu­mas con­vergên­cias poéti­cas muito inter­es­santes com ele. Talvez o explore nas min­has próx­i­mas pon­tas soltas.

    Após sor­rir e chorar com “Der­ro­tista” (2006) retiro da estante “Uma História de Sara­je­vo” (2005). Esse livro pren­deu min­ha leitu­ra numa sen­ta­da, pois ele rev­ela o quan­to descon­hece­mos as cica­trizes de um dos con­fli­tos mais san­gren­tos da História: o con­fli­to na Bós­nia entre 1992–95.

    Joe Sacco (por Don Usner)
    Joe Sac­co (por Don Usner)

    Com seu tal­en­to volta­do para o jor­nal­is­mo em quadrin­hos, o escritor maltês desven­da o cenário de guer­ra a par­tir de um con­jun­to de lem­branças da sua fonte mais per­ti­nente: o ex-sol­da­do, Neven.

    A par­tir de pequenos paga­men­tos (bebidas, almoços) a Neven, Sac­co é fis­ga­do para visu­alizar uma memória san­grenta, mar­ca­do por gru­pos para­mil­itares que coman­davam o con­fli­to na Bós­nia, for­ma­do por ex-pre­sidiários, mer­cenários, artis­tas e qual­quer um que deci­da lutar por Sara­je­vo “livre”.

    Neven é seu guia, um com­pan­heiro fun­da­men­tal: “Enten­da, estou vul­neráv­el. É uma guer­ra pelo amor de Deus, e ago­ra que eu me envolvi nela pre­ciso de um ombro ami­go (…), alguém que me car­regue suave­mente pelas ruínas”.

    Através da rigidez típi­ca do seu traço em p&b, somos lev­a­dos a um uni­ver­so com­ple­ta­mente descon­heci­do aos oci­den­tais (leitores da impren­sa ofi­cial), no qual o sig­nifi­ca­do da vida perde o val­or em nome da “limpeza étni­ca”, chamus­ca­da por uma com­plexa teia envol­ven­do religião, geopolíti­ca, intri­gas e morte.

    Seu quadrin­ho-doc­u­men­tário nar­ra o proces­so de desin­te­gração da Iugoslávia (1991), enquan­to “na Bós­nia, a repúbli­ca de maior mis­tu­ra étni­ca, tudo parece estar em paz na cap­i­tal Sara­je­vo, enquan­to políti­cos nacional­is­tas sérvios debatem acalo­rada­mente o futuro da ter­ra que divi­dem”. Com o pós-guer­ra fria e o des­man­te­lo da URSS, novos inter­ess­es geopolíti­cos con­fig­u­ram-se, prin­ci­pal­mente a eman­ci­pação de país­es antes vin­cu­la­dos ao gigante soviéti­co. Na Bós­nia, a situ­ação não foi diferente.

    Trecho de "Uma História de Sarajevo"
    Tre­cho de “Uma História de Sarajevo”

    Nesse sen­ti­do, Neven faz um retra­to da frag­men­tação a par­tir da for­mação de gru­pos arma­dos que bus­cam impedir o cer­co a Sara­je­vo pelos sérvios e croatas. No con­jun­to de sol­da­dos ded­i­ca­dos ao con­fli­to, os eixos nar­ra­tivos prin­ci­pais cir­cu­lam nas exper­iên­cias mil­itares como Ismet Bajramovic, Jusuf Praz­i­na, Musan Tapalovic e Ramiz Delal­ic, e seus pequenos impérios de sangue. Vale a pena fris­ar que não há didatismo na obra, aqui você não vai “apren­der” sobre o con­fli­to na Bós­nia, mas sim mer­gul­har nos seus destroços.

    Ao tran­si­tar por estes líderes, Neven rela­ta uma história até então pouco con­heci­da sobre o con­fli­to, da ascen­são dos gru­pos para­mil­itares, as atro­ci­dades cometi­das aos civis, o impacto políti­co que tais “exérci­tos” provo­caram na esfera políti­ca nacional até seu enfraque­c­i­men­to total, após a Bós­nia neu­tralizar suas zonas de atu­ação “ile­gais”.

    Página da HQ
    Pági­na da HQ

    Neven declara que “começam a se acu­mu­lar provas com­pro­m­ete­do­ras con­tra out­ros sen­hores da guer­ra (…) incluin­do o assas­si­na­to de cidadãos, em espe­cial sérvios (…) os anti­gos heróis de Sara­je­vo não serão per­doa­d­os. Eles ameaçaram a autori­dade do gov­er­no em casa e o enver­gonharam fora dela”.

    Como con­fi­ar em Neven? Que lim­ites Sac­co esta­b­ele­ceu para con­stru­ir uma ponte entre a amizade e a con­fi­ança entre os dois? Afi­nal, o que este con­fli­to rep­re­sen­ta para nós? Para Bruno Gar­cia, “con­trar­ian­do o bom sen­so, o con­fli­to com­ple­ta [22] anos sendo melan­col­i­ca­mente igno­ra­do pela impren­sa inter­na­cional, que parece já ter extraí­do do even­to tudo que era pos­sív­el para vender jornais”.

    A con­tribuição de Sac­co para ilu­mi­nar nos­sos olhares para o Out­ro reforça o abis­mo cri­a­do pelos oci­den­tais, diante de con­fli­tos expos­tos nos tele­jor­nais na hora do jan­tar. Até quan­do não vamos enx­er­gar as crises inter­na­cionais como algo que nos afe­ta dire­ta­mente? Inspi­ra­do em Edward Said, seria o Ori­ente um mito Oci­den­tal? Até quan­do as bom­bas vão explodir em nos­sa indifer­ença? Joe Sac­co, com “Uma História de Sara­je­vo”, provo­ca e atiça com o obje­ti­vo de reti­rar o leitor do lugar comum.

  • Quatro anos de conteúdo cultural diferenciado | Editorial

    Quatro anos de conteúdo cultural diferenciado | Editorial

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    Nada mel­hor para comem­o­rar os qua­tro anos do que ter novi­dades no por­tal! Este mês ire­mos inau­gu­rar o “inter­ro­gAções”, área ded­i­ca­da para matérias exper­i­men­tais que vão além da divisão atu­al do con­teú­do em Cin­e­ma, Lit­er­atu­ra, HQs, Con­tra­cul­tura, Even­tos e Notí­cias. Tam­bém irão faz­er parte dela as seções “Diário de Bor­do”, onde serão relatadas vis­i­tas a lugares cul­tur­ais den­tro e fora do país, e o “Excla­mação”, espaço onde a equipe do inter­ro­gAção vai dar dicas ou indi­cações men­sais de lança­men­tos, even­tos e notí­cias interessantes.

    Uma seção do por­tal que sem­pre atrai vis­i­tantes, vai ser atu­al­iza­da e expandi­da, o “Cin­e­ma mais Bara­to”  irá tam­bém abranger Teresina e Lon­d­ri­na, além de Curiti­ba. Se você tem inter­esse em aju­dar a adi­cionar os dias e preços pro­mo­cionais de cin­e­ma da sua cidade, entre em con­ta­to conosco.

    Tam­bém fize­mos algu­mas mudanças para mel­ho­rar a nave­g­ação no site: Adi­cionamos no menu o item “Sobre”, onde é pos­sív­el aces­sar facil­mente várias pági­nas com infor­mações do site, e tam­bém inse­r­i­mos em cada uma das áreas o sub-menu “+ Ver todos”, para você visu­alizar tudo o que foi pub­li­ca­do nela.

    E é claro que como toda boa fes­ta, não pode fal­tar uma lem­branc­in­ha legal para mar­car este acon­tec­i­men­to tão impor­tante. Pen­san­do nis­so, mon­ta­mos um kit espe­cial que vai ser pre­sen­tea­do no Con­cur­so Cul­tur­al Qua­tro anos de inter­ro­gAção (aguarde divul­gação), com livros, HQs, DVDs, pôsters e um cader­no feito man­ual­mente. Vai perder essa?

  • Elton John nos cinemas UCI em Curitiba

    Elton John nos cinemas UCI em Curitiba

    elton-john-nos-cinemas-uci-em-curitiba

    A músi­ca gan­ha destaque nas salas da UCI a par­tir des­ta quin­ta-feira (20). É que a rede exibe nesse dia e tam­bém na sex­ta (21) e no sába­do (22), às 20h30, “Elton John – O Piano de Um Mil­hão de Dólares”, reg­istro de um show no qual o can­tor inter­pre­ta seus maiores suces­sos. Em Curiti­ba (PR), os fãs do astro podem acom­pan­har a exibição na sala 4 do cin­e­ma UCI Estação.

    Elton John – O Piano de Um Mil­hão de Dólares” é a gravação do show de mes­mo nome real­iza­do em Las Vegas (EUA). Em um piano futur­ista com mais de 68 telas de LED, o can­tor inter­pre­ta alguns de seus maiores suces­sos, como “Rock­et Man”, “Tiny Dancer”, “Sat­ur­day Night’s Alright for Fight­ing”, “I’m Still Stand­ing”, “Good­bye Yel­low Brick Road”, “Croc­o­dile Rock” e “Your Song”.

    As entradas já estão à ven­da e cus­tam R$ 40 (inteira). Para mais infor­mações sobre os filmes, os cin­e­mas UCI e a pro­gra­mação com­ple­ta, acesse o site da UCI e/ou as redes soci­ais da UCI. Os ingres­sos poderão ser adquiri­dos nas bil­hete­rias, nos ter­mi­nais de autoa­tendi­men­to ou tam­bém pelo site da rede.

    Serviço:
    UCI Estação
    Rua Sete de Setem­bro, 2775/ loja C‑01
    Rebouças – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80230–010
    Tele­fones: (41) 3595–5555/ (41) 3595–5550

  • O Duplo (2012), de Juliana Rojas | Curta

    O Duplo (2012), de Juliana Rojas | Curta

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    A cineas­ta paulista Juliana Rojas tem con­quis­ta­do destaque no cenário cin­e­matográ­fi­co brasileiro com o cur­ta-metragem “O Dup­lo” (2012), tra­bal­ho pre­mi­a­do em Cannes e em diver­sos fes­ti­vais nacionais e estrangeiros. Na tra­ma, a pro­fes­so­ra Sil­via (Sab­ri­na Greve) é con­fronta­da com a imagem de seu dup­lo, uma espé­cie de clone soturno e neg­a­ti­vo, e entra em colap­so. A história toma por base o mito europeu con­heci­do como Dop­pel­gänger, que é con­sid­er­a­do um sinal nada aus­pi­cioso. Segun­do a len­da, quem vê seu dup­lo enfrenta o risco de maus pressá­gios e morte iminente.

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    A história do cur­ta foi basea­da em um depoi­men­to real sobre a aparição do Dop­pel­gänger, fato reg­istra­do no começo do filme e que dá o pon­tapé ini­cial para abrir as com­por­tas do uni­ver­so fan­tás­ti­co e das fábu­las de hor­ror, assi­natu­ra de Juliana. Assim como em “Lençol Bran­co” (2004) e “Um Ramo” (2007), tra­bal­hos pro­duzi­dos em parce­ria com o dire­tor Mar­co Dutra, a cineas­ta con­cil­ia com pre­cisão a triv­i­al­i­dade da vida de mul­heres que, abrup­ta­mente deses­ta­bi­lizadas, pre­cisam lidar de for­ma pavorosa com ele­men­tos sur­reais lig­a­dos ao macabro e à trans­for­mação físi­ca ou mental.

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    As ima­gens envel­he­ci­das e com tonal­i­dade mar­rom de “O Dup­lo” for­t­ale­cem a aura silen­ciosa e sin­is­tra que cer­ca a esco­la, espaço prin­ci­pal dos acon­tec­i­men­tos. Ao encar­ar o seu clone malig­no, os olhos da pro­fes­so­ra Sil­via gan­ham um bril­ho novo, algo que se move com a fero­ci­dade e carnific­i­na de um tubarão-bran­co. Há ele­men­tos de hor­ror e ten­são espal­ha­dos do começo ao fim dos vinte e cin­co min­u­tos do cur­ta, com destaque para a apoc­alíp­ti­ca cena em que a per­son­agem da atriz Gil­da Nomac­ce, pre­sença mar­cante nas pro­duções de Rojas, esti­ca e puxa o elás­ti­co de uma pas­ta de for­ma frenéti­ca e per­tur­bado­ra. Nestes poucos segun­dos que pare­cem durar uma eternidade, há a certeza abso­lu­ta do des­fe­cho trági­co. Sim­ples­mente fenomenal!

    O Dup­lo” faz emer­gir a qual­i­dade de um tra­bal­ho que explo­ra o ter­ror e o fan­tás­ti­co de for­ma con­sis­tente, dan­do força a um gênero ain­da pouco difun­di­do entre as pro­duções nacionais.

    Assista abaixo ao curta:

  • O mistério das bolas de gude, de Gilberto Dimenstein | Livro

    O mistério das bolas de gude, de Gilberto Dimenstein | Livro

    Se a dor da invis­i­bil­i­dade está por trás de uma doença social, parte da cura está em tornar-se visível.

    o-misterio-das-bolas-de-gude-de-gilberto-dimenstein-livro-capaO tre­cho aci­ma dá a tôni­ca do livro “O mis­tério das bolas de gude: Histórias de humanos quase invisíveis” (edi­to­ra Papirus, 2006, págs. 192), escrito pelo jor­nal­ista Gilber­to Dimen­stein, con­heci­do por atu­ar em impor­tantes veícu­los de comu­ni­cação brasileiros e ide­alizar pro­je­tos soci­ais e cul­tur­ais, den­tre eles o Cidade Esco­la Apren­diz e o site cul­tur­al Catra­ca Livre. Fin­ca­da em inves­ti­gações jor­nalís­ti­cas e reg­istros de via­gens, orde­na­dos como um diário pes­soal, a obra per­corre o uni­ver­so de seres humanos mar­gin­al­iza­dos, rejeita­dos e excluí­dos da teia social. O jor­nal­ista faz emer­gir a dolorosa sobre­vivên­cia de home­ns, mul­heres e cri­anças que, igno­ra­dos e evi­ta­dos por uma sociedade cega e can­cerí­ge­na, não se sen­tem parte do mun­do, mem­bros efe­tivos de um lugar.

    Entre os excluí­dos estão pros­ti­tu­tas, vici­a­dos, traf­i­cantes, mães ado­les­centes, meni­nos de rua, cri­anças explo­radas e escrav­izadas sex­ual­mente, por­ta­dores do vírus HIV e chefes de facções crim­i­nosas. Por meio da nar­ra­ti­va em primeira pes­soa, inter­cal­a­da pelas vozes das per­son­agens de cada história verídi­ca, acom­pan­hamos relatos que chocam, depoi­men­tos que machu­cam e dados estatís­ti­cos espan­tosa­mente reais.

    Gilber­to Dimen­stein fala sobre os para­dox­os encon­tra­dos nas mais difer­entes regiões brasileiras, onde bol­sões de mis­éria con­trastam com man­sões sun­tu­osas. Se de um lado, meni­nas são obri­gadas a leiloar sua vir­gin­dade para con­tin­uarem vivas, no out­ro extremo há fil­hos de lat­i­fundiários dis­pos­tos a pagar peso de ouro para “desvir­ginar” cri­anças de doze anos. Enquan­to pes­soas vivem em meio a restos de comi­da, excre­men­tos e dro­gas, com­ple­ta­mente entor­peci­das pelo uso do nar­cóti­co, a força poli­cial espan­ca, hos­tiliza e mata.

    Gilberto Dimenstein
    Gilber­to Dimenstein

    Os exem­p­los de desre­speito e invis­i­bil­i­dade são muitos: cri­anças escrav­izadas para o mer­ca­do do sexo, ado­les­centes jura­dos de morte por chefes do trá­fi­co, bebês espan­ca­dos até a morte por pais dese­qui­li­bra­dos, inter­nos tor­tu­ra­dos den­tro de insti­tu­ições repres­so­ras, por­ta­dores da AIDS trata­dos com pre­con­ceito e aver­são. Essas são algu­mas das real­i­dades descorti­nadas pelo jor­nal­ista, mostran­do que por trás das fachadas mega­lo­manía­cas da famosa Aveni­da Paulista, local­iza­da na maior metró­pole brasileira, escon­dem-se histórias de indi­ví­du­os que há muito tem­po esque­ce­r­am-se de sua condição de pes­soa humana, ten­do o dire­ito à cidada­nia cotid­i­ana­mente usurpado.

    No entan­to, ao lado da tragé­dia, Dimen­stein tam­bém abor­da as “pontes de resistên­cia” cri­adas por pes­soas cujo obje­ti­vo é trans­for­mar a injus­ta e depri­mente real­i­dade em algo mel­hor. Ten­do como armas a per­sistên­cia, teimosia e amor ao próx­i­mo, vol­un­tários se reúnem doan­do tem­po e recur­sos para mudar a vida de out­ras pes­soas. O livro elen­ca exem­p­los de pro­je­tos que nasce­r­am den­tro de fave­las, orga­ni­za­ções não gov­er­na­men­tais de apoio as mais vari­adas causas, cidadãos anôn­i­mos que não esper­aram finan­cia­men­to gov­er­na­men­tal para inve­stir em jovens e ado­les­centes em situ­ações de risco social, entre muitos outros.

    Gilberto Dimenstein
    O autor

    A arte, a músi­ca, a poe­sia, a edu­cação e o tra­bal­ho se trans­for­mam em refú­gio, pro­por­cio­nan­do reflexão e mudança. Se, como propõe a obra de Gilber­to Dimen­stein, a vio­lên­cia está dire­ta­mente lig­a­da à sen­sação de mar­gin­al­i­dade e invis­i­bil­i­dade, esse é o pon­to de par­ti­da para a mudança que faz nascer o sen­ti­men­to de pertença e recon­hec­i­men­to do out­ro como ser humano, que par­til­ha dos mes­mos dire­itos e deveres. A coop­er­ação faz parte do desen­volvi­men­to humano e social, equi­li­bran­do e pro­por­cio­nan­do condições justas.

    O mis­tério das bolas de gude” esboça novas rotas e pro­postas para a recon­quista da cidada­nia, bem tão caro para pes­soas em situ­ação de risco, além de traz­er à tona temas del­i­ca­dos e necessários. O livro peca pelo deslum­bra­men­to inocente que Gilber­to Dimen­stein apre­sen­ta ao escr­ev­er sobre os exem­p­los de suces­so norte-amer­i­canos – obser­va­dos no perío­do em que o jor­nal­ista foi cor­re­spon­dente do jor­nal Fol­ha de São Paulo em Nova York –, bem como a ausên­cia de críti­cas às práti­cas nada igual­itárias de insti­tu­ições e gru­pos brasileiros que detém o poder e manip­u­lam o apar­el­ho estatal; organ­is­mos estes que finan­ciam o trá­fi­co, explo­ram a mão de obra tra­bal­hado­ra e fecham os olhos para todos aque­les que não fazem parte da engrenagem impos­ta, trans­for­man­do o que está fora do jogo em meras peças invisíveis.

  • Por Dentro do Máscara de Ferro, de Bernardo Aurélio | HQ

    Por Dentro do Máscara de Ferro, de Bernardo Aurélio | HQ

    Será que temos de ser loucos para ser­mos heróis? Será que todos não usamos máscaras?

    Não, aqui você não encon­tra ninguém vesti­do com roupas super-col­ori­das, poderes daque­les que soltam fogo pela boca, raios pelos olhos, muito menos lutas core­ografadas. O tra­bal­ho do quadrin­ista e artic­u­lador cul­tur­al — isso, artic­u­lador: pro­du­tor de ambi­entes cul­tur­ais na área das HQs em Teresina, o que fal­ta a muitos cri­adores hoje em dia — Bernar­do Aurélio pas­sa longe das explosões gra­tu­itas dos nos­sos ama­dos heróis impe­ri­al­is­tas, mas com uma influên­cia fun­da­men­tal no seu proces­so criativo.

    por-dentro-do-mascara-de-ferro-de-bernardo-aurelio-hq-capaAntes de falar de “Por Den­tro do Más­cara de Fer­ro”, vale a pena situ­ar a importân­cia do autor na cena das HQs na cidade. Autor de “Foic­es e Facões – A Batal­ha do Jeni­pa­po” (jun­to com Caio Oliveira, seu irmão e artista dos bons, que par­tic­i­pa do livro como desen­hista con­vi­da­do), Bernar­do faz parte do Núcleo de Quadrin­hos do Piauí, onde orga­ni­za (ao lado de uma equipe muito coer­ente) feiras temáti­cas em Teresina des­de 2001 até então, movi­men­tan­do o cir­cuito dos quadrin­hos inde­pen­dentes por aqui com mui­ta responsabilidade.

    O culpo diari­a­mente por me tornar um apaixon­a­do pelos quadrin­hos há quase um ano. Depois da indi­cação de “Bat­man: Ano Um” não con­si­go parar de ler HQs. Enfim, vamos voltar ao que interessa!

    Por Den­tro do Más­cara de Fer­ro” é um livro que te atrai fisi­ca­mente. Grande, ver­mel­ho, com uma capa impos­sív­el de resi­s­tir à leitu­ra, gos­toso de segu­rar e car­regar por aí. Um difer­en­cial que gostei foi o cruza­men­to com out­ras lin­gua­gens, mar­ca­dos pela inserção do tex­to em prosa no iní­cio da história, seguin­do com seus traços em p&b, bem como a pre­ocu­pação com a pais­agem sono­ra nos momen­tos mais impor­tantes da saga. Músi­ca e HQ tran­si­tam no mes­mo espaço.

    Já no índice, Bernar­do lança para o leitor uma tril­ha indi­ca­da, pre­scrição sono­ra que des­obe­de­ci — quan­do come­cei a ler, veio out­ro barul­ho na min­ha cabeça, já que na min­ha con­strução sono­ra do per­son­agem cou­ber­am out­ros sons, como Ten Years After e alguns momen­tos de Neil Young — para exper­i­men­tar out­ras pos­si­bil­i­dades de leitu­ra e exer­cí­cios par­tic­u­lares de imaginação.

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    A cada situ­ação valiosa na tra­ma, Bernar­do faz as indi­cações sono­ras apare­cerem ao leitor, como podemos visu­alizar em Aceleran­do em mar­cha ré, com a tril­ha “Foi tudo cul­pa do amor”, de Odair José ou “As rosas não falam”, de Car­to­la, e out­ras sequên­cias musi­cais artic­u­ladas ao enre­do. Assim, Bernar­do abre espaço para ampli­ar as sen­sações do públi­co, tor­nan­do seu tra­bal­ho mais sonoro-visu­al-pop-exper­i­men­tal. Um jogo de mix­agem que deve ser feito tan­to com as músi­cas sug­eri­das e as que com­põem o uni­ver­so do leitor, sacud­in­do as exper­iên­cias do personagem.

    Numa ofic­i­na de car­ros, o jovem mecâni­co ten­ta recu­per­ar o motor de um Mav­er­ick (entra o som de Alvin Lee e Ten Years After… viu? Não pude evi­tar). Neste cenário é que a história do Más­cara ini­cia em tex­to-prosa. Sua mente está divi­di­da entre o fim de um rela­ciona­men­to e o tra­bal­ho que o con­some, a roti­na, a repetição, a von­tade de mudar o per­cur­so: “ten­ho pen­sa­do em ten­tar coisa nova (…). O prob­le­ma é esse: não sei o que quero. Só sei que pre­ciso sair dessa ofic­i­na vez ou out­ra (…)”.

    Uma inqui­etação move aque­le mecâni­co, algo esta­va fora do lugar. A oper­ação de reviv­er o Mav­er­ick foi um fra­cas­so. Fecham-se as por­tas da ofic­i­na. A pais­agem fica cada vez mais notur­na e úmi­da. Um leve chu­vis­co, daque­les leves e demor­a­dos, com relâm­pa­gos e tro­vões ao fun­do. Nos­so olho está do lado de fora da garagem aparente­mente vazia e triste, esperan­do algo acon­te­cer, pois dá pra ver lá den­tro que a luz está acesa.

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    A garagem abre. Dois faróis acen­dem (…). A Kom­bi gan­ha a rua. Den­tro dele, pela primeira vez, a alma de um aven­tureiro encon­tra aque­le botão de adren­a­li­na escon­di­do, que inje­ta bati­das fortes no peito”. Eis que explode o Más­cara de Fer­ro.

    Car­ac­ter­i­za­do por uma más­cara típi­ca dos sol­dadores, car­regan­do no seu “cin­to de util­i­dades” um maçari­co, umas chaves de boca e roda, marte­lo, pre­gos, por­cas, um cano e o “anti­go 38 do meu vel­ho pai”, o Más­cara de Fer­ro sai em bus­ca de aven­turas nas noites de Teresina.

    Entre ações frustradas como “super-herói” da noite e explo­rações das suas habil­i­dades, o Más­cara abre para nós uma reflexão que move sua cam­in­ha­da: “Será que temos de ser loucos para ser­mos heróis? Será que todos não usamos más­caras?

    por-dentro-do-mascara-de-ferro-de-bernardo-aurelio-hq-3E assim, vamos acom­pan­han­do o proces­so de autode­scober­ta do Más­cara. Após a cômi­ca “car­ga dramáti­ca” que movi­men­ta a per­for­mance do nos­so herói, ele salta pelo ar e viven­cia um con­jun­to de exper­iên­cias fun­da­men­tais para reor­ga­ni­zar seus sen­ti­men­tos, mes­mo em con­fli­to com seu mel­hor ami­go: “Algu­ma vez, da altura dess­es teus vinte e poucos anos, tu já sen­tiu uma maldita certeza de que que­ria faz­er algu­ma coisa na vida e que só o que te impe­dia era tu mes­mo?

    Cam­in­han­do por Teresina (já escu­ra), ele vai em direção aos seus fan­tas­mas, pois a sua más­cara é o instru­men­to que poten­cial­iza todas as suas von­tades mais sec­re­tas, ago­ra com­par­til­hadas entre nós. É aí que fui imag­i­nan­do os traços auto­bi­ográ­fi­cos em con­vergên­cia entre Más­cara e seu autor, que o toma como ele­men­to para explo­rar pais­agens talvez inabitadas, se não hou­vesse a armadu­ra con­struí­da para tal.

    A bus­ca por justiça, ameaça­da por um dese­jo mal com­preen­di­do? A angús­tia e a von­tade de invadir os olhos da anti­ga ama­da? Uma curiosi­dade insis­tente pela feli­ci­dade dela? Por que tomar os olhos dos out­ros? “Você ain­da não con­seguiu colo­car uma pedra por cima dis­so”? Estaria o Más­cara, (como todos nós) bus­can­do uma armadu­ra para resolver seus con­fli­tos mais ínti­mos? Quan­tas Kás­sias pre­cisamos (diari­a­mente) para exor­cizar nos­sos demônios, a fim de rein­ven­tar a noção de dese­jo e todo aque­le pó que cobre nos­sas taras? Aqui entra Mari­na Lima (na min­ha tril­ha sono­ra), situan­do o amor dos dois: “Os dois cansa­dos, de tan­to amar, empapuça­dos, pra poder fugir, os dois cansa­dos, de via­jar, mar­avil­ha­dos, pra poder fugir, enquan­to você se afas­ta me desen­ter­ro…”.

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    Nada como a água para purificar os con­fli­tos inter­nos, mes­mo com Deus cus­pin­do ver­dades que a gente não quer ouvir. Às vezes a gente toma o apren­diza­do como algo doloroso e é dessa for­ma que vejo o Más­cara, um per­son­agem que car­rega a von­tade de des­bravar todos os seus lim­ites e de con­hecer esferas que fogem das con­venções esta­b­ele­ci­das. Como invadir sem pro­teção? Como não sen­tir dor se algu­mas explo­rações podem nos cus­tar um preço alto?

    Todos os des­bravadores da vida, seja por meio líc­i­to ou não, guardam nas mochi­las suas más­caras de fer­ro, pois o cor­po não supor­ta todas as pressões: “somos tão falíveis”!

    Sen­ta­do na calça­da, con­ver­san­do com uma garo­ta per­to da Ponte Metáli­ca, talvez o Más­cara ten­ha encon­tra­do algum estil­haço que pos­sa ser útil para aliviar seus con­fli­tos. “Sabe o que acon­tece quan­do se pede algo a Deus? Ele te dá a opor­tu­nidade de provar para si mes­mo se você merece o que quer… depende mais de você e das suas escol­has do que da von­tade dele”.

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    Os demônios que o cer­cam são expul­sos para que um Amor pos­sa entrar. O Más­cara enfrenta todos os seus inimi­gos inte­ri­ores, amplia todos os seus hor­i­zontes de exper­iên­cia, para final­mente com­ple­tar seu obje­ti­vo mais impor­tante: se reen­con­trar a par­tir do outro.

    Bernar­do é o Más­cara de Fer­ro? E você? Aonde você esconde a sua? Já explodiu em si mes­mo para arran­car as armaduras que o impe­dem de viv­er um grande amor? Não seria a nos­sa más­cara um artefa­to moral­ista-con­ser­vador diante da mar­avil­hosa pos­si­bil­i­dade de tran­si­tar pelo Infer­no e por vários cor­pos ofer­e­ci­dos por Dino Buz­za­ti? A difer­ença entre Más­cara e Orfi é que aque­le não usa vio­lão para lutar con­tra seus maus espíri­tos, mas con­vergem no mes­mo “inven­tário de ‘baix­ezas’ e de ‘nobrezas’, aque­las que se abrigam no coração de todos” (TOSCANI, Cláudio).

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    Orfi sofre o luto de não cap­turar Eura e o Más­cara vive feliz, jogan­do fora sua armadu­ra para poder (final­mente) olhar sem medo para a mul­her que ama, encer­ran­do uma saga inte­ri­or, pois “pou­cas coisas no mun­do devem ser como estar no fun­do da rede com quem você quer”. A vida segue.

  • Olhar por trás de estantes

    Olhar por trás de estantes

    Biblioteca de Leminski, fotografada sem produção prévia. Foto : Carlos Roberto Zanello de Aguiar (Macaxeira).
    Bib­liote­ca de Lemins­ki, fotografa­da sem pro­dução prévia.
    Foto : Car­los Rober­to Zanel­lo de Aguiar (Macax­eira).

    Des­de ado­les­cente fre­quen­to bib­liote­cas públi­cas. Quan­do cri­ança, não. Nas esco­las em que estudei, em Paranaguá, não havia bib­liote­cas. Uma vez, uma pro­fes­so­ra inven­tou uma bib­liote­ca ambu­lante. Cada aluno dev­e­ria levar um livro. Não fun­cio­nou. Ninguém lev­ou livros. Quan­do mudei para Curiti­ba, pas­sa­va um tem­pão passe­an­do pelos corre­dores da Bib­liote­ca Públi­ca do Paraná. Min­has estantes preferi­das eram as de lit­er­atu­ra brasileira e poe­sia. Tam­bém pas­sei quase cem anos de solidão e areia diante da lit­er­atu­ra em lín­gua espan­ho­la, quan­do desco­bri Gabriel Gar­cia Márquez e Jorge Luis Borges.

    Uma bib­liote­ca que sem­pre me fas­ci­nou foi a da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Paraná, quan­do ain­da não era alu­na. A diver­si­dade de títu­los, e em lín­guas difer­entes impres­sion­a­va. Lem­bro do encan­to por um livro de Luís da Câmara Cas­cu­do sobre lendas brasileiras. Quan­do me tornei alu­na, pude emprestar um livro de poe­mas de Manuel Ban­deira traduzi­dos para o francês. Mais tarde, na pós-grad­u­ação, li livros sobre lit­er­atu­ra japonesa.

    Out­ra bib­liote­ca que gostei de con­hecer foi a do Insti­tu­to Goethe. Fre­quentei pouco, mas quan­do a con­heci, era uma novi­dade emprestar, além de livros, CDs e filmes. Depois, em São Paulo, vis­itei bib­liote­cas que tam­bém tin­ham seções mul­ti­mí­dia. E nas quais pas­sa­va horas lendo revis­tas sobre todo o tipo de assunto.

    Nesse ano con­heci a bib­liote­ca do Insti­tu­to de Estad­ual de Edu­cação Eras­mo Pilot­to, esco­la na qual Hele­na Kolody foi pro­fes­so­ra. Uma ami­ga, a poeta Jane Sprenger Bod­nar, tra­bal­ha lá. O acer­vo, emb­o­ra seja uma bib­liote­ca esco­lar, é diver­si­fi­ca­do. Além de lit­er­atu­ra e edu­cação, há livros sobre cul­tura pop­u­lar. Pena que pre­cise de refor­mas e não rece­ba atenção do gov­er­no do estado.

    Biblioteca Pública do Paraná (Foto: Yasmin Taketani)
    Bib­liote­ca Públi­ca do Paraná (Foto: Yas­min Taketani)

    Ape­sar de ter sido reestru­tu­ra­da, espe­cial­mente na área de comu­ni­cação visu­al, hoje ten­ho medo de voltar à Bib­liote­ca Públi­ca do Paraná. Já li quase todos os livros da seção de Lit­er­atu­ra que me inter­es­savam. Há poucos títu­los novos. Con­fes­so que ler os autores da lit­er­atu­ra con­tem­porânea, cel­e­bra­dos em even­tos pro­movi­dos pela própria BPP me atemoriza.

    Não con­si­go mais exercer o rit­u­al juve­nil, de aven­tu­rar entre as estantes para desco­brir um livro estran­ho. Falan­do em estran­heza, tem­pos atrás havia leitores bizarros entre os fre­quen­ta­dores da BPP. Escritores, artis­tas, design­ers, jor­nal­is­tas? Não: sem-teto ou desem­pre­ga­dos, enfur­na­dos nas salas de leitu­ra. A neolib­er­al­iza­ção do lugar expul­sou os bizarros, que devem ter volta­do para o seu lugar: as ruas.

    Cer­ta vez, num pro­gra­ma de tevê, vi a bib­liote­ca da pro­fes­so­ra de lit­er­atu­ra Luzilá Gonçalves, que mora no Recife. Os livros estavam em des­or­dem e as estantes roí­das por cupins. Des­or­dem igual às das bib­liote­cas do poeta Paulo Lemins­ki e do ilustrador Clau­dio Seto. Nem tudo está con­forme a nova ordem e os cupins roem as prateleiras. Mais que cupins, o que impor­ta é ali­men­tar os ratos de bib­liote­ca. Em tem­po de bien­ais e grandes even­tos de lit­er­atu­ra, bib­liote­cas cheias de poeira são um refú­gio con­tra os que cobrem a história com verniz.