Category: HQ da Semana

  • Uma História de Sarajevo (2005), de Joe Sacco | HQ da Semana

    Uma História de Sarajevo (2005), de Joe Sacco | HQ da Semana

    uma-historia-de-sarajevo-2005-de-joe-sacco-hq-da-semana-capaDiante das ten­sões políti­cas que estão explodin­do na Ucrâ­nia, Síria e uma pos­sív­el re-polar­iza­ção inter­na­cional, ten­to mon­tar o que­bra-cabeças indi­vid­ual des­ta con­jun­tu­ra tur­bu­len­ta. Esse “redesen­har” de fron­teiras do Leste europeu e adjacên­cias me obrigam a com­preen­der (como pro­fes­sor de História) min­i­ma­mente isso tudo. Assim, des­de que tive aces­so às reflexões de Edward Said com “Ori­en­tal­is­mo” (2007), da dire­to­ra de cin­e­ma Kathryn Bigelow e das con­ver­sas em sala de aula, fui atrás de novas refer­ên­cias sobre algo que descon­hece­mos: O out­ro lado do mapa.

    No meu trân­si­to de leitor/HQ amador, encon­trei por aca­so dois nomes bem posi­ciona­dos no debate políti­co que segue: Joe Sac­co e Enki Bilal. Hoje quero falar de Sac­co, ape­sar de Bilal pos­suir algu­mas con­vergên­cias poéti­cas muito inter­es­santes com ele. Talvez o explore nas min­has próx­i­mas pon­tas soltas.

    Após sor­rir e chorar com “Der­ro­tista” (2006) retiro da estante “Uma História de Sara­je­vo” (2005). Esse livro pren­deu min­ha leitu­ra numa sen­ta­da, pois ele rev­ela o quan­to descon­hece­mos as cica­trizes de um dos con­fli­tos mais san­gren­tos da História: o con­fli­to na Bós­nia entre 1992–95.

    Joe Sacco (por Don Usner)
    Joe Sac­co (por Don Usner)

    Com seu tal­en­to volta­do para o jor­nal­is­mo em quadrin­hos, o escritor maltês desven­da o cenário de guer­ra a par­tir de um con­jun­to de lem­branças da sua fonte mais per­ti­nente: o ex-sol­da­do, Neven.

    A par­tir de pequenos paga­men­tos (bebidas, almoços) a Neven, Sac­co é fis­ga­do para visu­alizar uma memória san­grenta, mar­ca­do por gru­pos para­mil­itares que coman­davam o con­fli­to na Bós­nia, for­ma­do por ex-pre­sidiários, mer­cenários, artis­tas e qual­quer um que deci­da lutar por Sara­je­vo “livre”.

    Neven é seu guia, um com­pan­heiro fun­da­men­tal: “Enten­da, estou vul­neráv­el. É uma guer­ra pelo amor de Deus, e ago­ra que eu me envolvi nela pre­ciso de um ombro ami­go (…), alguém que me car­regue suave­mente pelas ruínas”.

    Através da rigidez típi­ca do seu traço em p&b, somos lev­a­dos a um uni­ver­so com­ple­ta­mente descon­heci­do aos oci­den­tais (leitores da impren­sa ofi­cial), no qual o sig­nifi­ca­do da vida perde o val­or em nome da “limpeza étni­ca”, chamus­ca­da por uma com­plexa teia envol­ven­do religião, geopolíti­ca, intri­gas e morte.

    Seu quadrin­ho-doc­u­men­tário nar­ra o proces­so de desin­te­gração da Iugoslávia (1991), enquan­to “na Bós­nia, a repúbli­ca de maior mis­tu­ra étni­ca, tudo parece estar em paz na cap­i­tal Sara­je­vo, enquan­to políti­cos nacional­is­tas sérvios debatem acalo­rada­mente o futuro da ter­ra que divi­dem”. Com o pós-guer­ra fria e o des­man­te­lo da URSS, novos inter­ess­es geopolíti­cos con­fig­u­ram-se, prin­ci­pal­mente a eman­ci­pação de país­es antes vin­cu­la­dos ao gigante soviéti­co. Na Bós­nia, a situ­ação não foi diferente.

    Trecho de "Uma História de Sarajevo"
    Tre­cho de “Uma História de Sarajevo”

    Nesse sen­ti­do, Neven faz um retra­to da frag­men­tação a par­tir da for­mação de gru­pos arma­dos que bus­cam impedir o cer­co a Sara­je­vo pelos sérvios e croatas. No con­jun­to de sol­da­dos ded­i­ca­dos ao con­fli­to, os eixos nar­ra­tivos prin­ci­pais cir­cu­lam nas exper­iên­cias mil­itares como Ismet Bajramovic, Jusuf Praz­i­na, Musan Tapalovic e Ramiz Delal­ic, e seus pequenos impérios de sangue. Vale a pena fris­ar que não há didatismo na obra, aqui você não vai “apren­der” sobre o con­fli­to na Bós­nia, mas sim mer­gul­har nos seus destroços.

    Ao tran­si­tar por estes líderes, Neven rela­ta uma história até então pouco con­heci­da sobre o con­fli­to, da ascen­são dos gru­pos para­mil­itares, as atro­ci­dades cometi­das aos civis, o impacto políti­co que tais “exérci­tos” provo­caram na esfera políti­ca nacional até seu enfraque­c­i­men­to total, após a Bós­nia neu­tralizar suas zonas de atu­ação “ile­gais”.

    Página da HQ
    Pági­na da HQ

    Neven declara que “começam a se acu­mu­lar provas com­pro­m­ete­do­ras con­tra out­ros sen­hores da guer­ra (…) incluin­do o assas­si­na­to de cidadãos, em espe­cial sérvios (…) os anti­gos heróis de Sara­je­vo não serão per­doa­d­os. Eles ameaçaram a autori­dade do gov­er­no em casa e o enver­gonharam fora dela”.

    Como con­fi­ar em Neven? Que lim­ites Sac­co esta­b­ele­ceu para con­stru­ir uma ponte entre a amizade e a con­fi­ança entre os dois? Afi­nal, o que este con­fli­to rep­re­sen­ta para nós? Para Bruno Gar­cia, “con­trar­ian­do o bom sen­so, o con­fli­to com­ple­ta [22] anos sendo melan­col­i­ca­mente igno­ra­do pela impren­sa inter­na­cional, que parece já ter extraí­do do even­to tudo que era pos­sív­el para vender jornais”.

    A con­tribuição de Sac­co para ilu­mi­nar nos­sos olhares para o Out­ro reforça o abis­mo cri­a­do pelos oci­den­tais, diante de con­fli­tos expos­tos nos tele­jor­nais na hora do jan­tar. Até quan­do não vamos enx­er­gar as crises inter­na­cionais como algo que nos afe­ta dire­ta­mente? Inspi­ra­do em Edward Said, seria o Ori­ente um mito Oci­den­tal? Até quan­do as bom­bas vão explodir em nos­sa indifer­ença? Joe Sac­co, com “Uma História de Sara­je­vo”, provo­ca e atiça com o obje­ti­vo de reti­rar o leitor do lugar comum.

  • Revolta! | HQ da Semana

    Revolta! | HQ da Semana

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    Notí­cias sobre cor­rupção no gov­er­no não são nen­hu­ma grande novi­dade e estão cada vez mais pre­sentes no nos­so cotid­i­ano. É difí­cil não mostrar cer­ta indig­nação a respeito do assun­to em con­ver­sas com nos­sos con­heci­dos e ami­gos, fican­do a dis­cussão ain­da mais acalo­ra­da em bares, onde o efeito do álcool se une ao forte sen­ti­men­to de indig­nação. Quem aqui nun­ca pen­sou que talvez seria mais fácil se alguém colo­casse uma bala na cabeça dess­es políti­cos cor­rup­tos para resolver de vez a situação?

    É jus­ta­mente a notí­cia de uma pes­soa que resolveu tomar esta ati­tude, que cin­co ami­gos escu­tam na tele­visão enquan­to estão beben­do no bar, con­ver­san­do sobre suas revoltas com a situ­ação políti­ca do país. Na saí­da, eles acabam esbar­ran­do com esse mas­cara­do assas­si­no e a vida de todos atrav­es­sa uma pro­fun­da trans­for­mação. Assim começa “Revol­ta!”, uma HQ rote­i­riza­da e desen­ha­da pelo curitibano André Cal­i­man, pub­li­ca­da men­salmente, des­de out­ubro de 2012, em seu blog ofi­cial.

    revolta-hq-da-semana-2O pro­je­to ini­ciou antes das primeiras passeatas do país, quan­do ain­da paira­va no ar um cli­ma descon­fortáv­el de cal­maria. Na época, André (que é tam­bém escritor, ilustrador, car­i­ca­tur­ista e pro­fes­sor), que­ria faz­er algo mais autoral, que fos­se rel­e­vante e falasse sobre o momen­to atu­al brasileiro. Quan­do começou a pub­licar a história na inter­net, viu que ela pode­ria tomar pro­porções bem maiores e que tam­bém havia uma cer­ta urgên­cia para pub­licá-la, pois a real­i­dade esta­va se mostran­do coer­ente com suas ideias. Assim, decid­iu finan­ciar cole­ti­va­mente o seu tra­bal­ho, através do Catarse, para trans­for­má-lo em um livro, con­seguin­do inclu­sive atin­gir um val­or maior do que sua meta ini­cial em out­ubro de 2013.

    Além da arte muito bem tra­bal­ha­da, fei­ta inteira­mente a mão com nan­quim, a história é o grande destaque des­ta HQ. Com per­son­agens bem com­plex­os, não há aque­la divisão sim­plista de bom/mau e, por con­ta de várias revi­ra­voltas e sur­pre­sas, o enre­do prende o leitor de uma for­ma alu­ci­nante entre seus capí­tu­los. É aque­le tipo de leitu­ra que uma vez que você ini­cia, não con­segue mais parar.

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    Por enquan­to, a história ain­da não foi pub­li­ca­da por inteiro no blog da HQ, mas já está final­iza­da e em breve os apoiadores do pro­je­to no Catarse dev­erão rece­bê-la em suas casas. Pos­so afir­mar que não é fácil quan­do você se depara com o avi­so “Em breve” ao chegar no últi­mo capí­tu­lo disponív­el, mas a espera por cada novo capí­tu­lo está val­en­do a pena!

    Se você ficou inter­es­sa­do em saber um pouco mais sobre o autor e a obra, con­fi­ra a entre­vista com o André Cal­i­man que o inter­ro­gAção fez.

  • Folheteen: direto ao ponto | HQ da Semana

    Folheteen: direto ao ponto | HQ da Semana

    folheteen-capaArran­jar um novo emprego, aju­dar a pagar o aluguel e as con­tas da casa, estu­dar pras provas no colé­gio, aceitar o novo namora­do da mãe den­tro da família. Ess­es são os prob­le­mas de Malu.

    Malu não tem super-poderes, não pre­cisa sal­var o mun­do, não teve uma exper­iên­cia traumáti­ca, não vive uma grande história de amor. Ela é a meni­na que te atende no caixa do super­me­r­ca­do, é a meni­na que dis­tribui fol­hetos nos sinais de trânsito.

    Essa é a pro­tag­o­nista do álbum Fol­heteen: dire­to ao pon­to, escrito pelo curitibano José Aguiar. E a cidade de Curiti­ba se faz pre­sente em toda a história, nos detal­h­es dos lam­bre­quins, pré­dios, pon­tos de ônibus. Ain­da assim, não é uma história bair­rista. A moça Malu pode­ria morar em qual­quer cidade. O forte do álbum é essa nar­ra­ti­va despre­ten­siosa e adoráv­el sobre essa meni­na abso­lu­ta­mente comum.

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    A tra­ma de Fol­heteen começa quan­do a pro­tag­o­nista perde seu emprego no super­me­r­ca­do. A par­tir dis­so, acom­pan­hamos as dúvi­das e pre­ocu­pações de Malu, ten­tan­do aju­dar a man­ter sua casa, equi­li­bran­do estu­dos com sua vida pes­soal. Ela pre­cisa resolver prob­le­mas den­tro de sua família e, prin­ci­pal­mente, prob­le­mas den­tro de si mesma.

    folheteen-2Os per­son­agens no traço de José Aguiar gan­ham uma forte expressão grá­fi­ca em lin­has geométri­c­as e for­mas sim­ples. O esti­lo de desen­ho aju­da na nar­ra­ti­va que flui de maneira nat­ur­al e aumen­ta ain­da mais a sen­sação de “cotid­i­ano”.

    Tra­ta-se de um tra­bal­ho hon­esto, muito bem real­iza­do e cheio de humanidade. O acaba­men­to grá­fi­co do álbum é belís­si­mo e ain­da apre­sen­ta um tex­to sobre a car­reira profis­sion­al do autor e a gênese de sua obra.

    Fol­heteen: dire­to ao pon­to foi lança­do ago­ra, em de jun­ho de 2013, e pode ser encon­tra­do nas livrarias e com­ic shops com preços var­ian­do entre R$40,00 e R$49,00. Você tam­bém pode adquirir um exem­plar dire­to com o autor, auto­grafa­do, pelo e‑mail projeto.quadrinho [arro­ba] gmail [pon­to] com.

    Fol­heteen: dire­to ao ponto
    Autor: José Aguiar
    Edi­to­ra: Quadrinhofilia
    Preço: Entre R$ 40,00 e R$49,00

  • Vertigo Especial: Atire | HQ da Semana

    Vertigo Especial: Atire | HQ da Semana

    Vertigo_Especial_atireLança­da esse mês, essa edição de 232 pági­nas reúne um grande apan­hado de diver­sas histórias pub­li­cadas pelo selo Ver­ti­go, da edi­to­ra norte-amer­i­cana DC Comics. A maio­r­ia são histórias cur­tas, de 8 pági­nas em média, falan­do sobre fan­ta­sia e ficção cien­tí­fi­ca. Mas há aque­las que fogem desse tema.

    Atire é uma delas e recebe grande destaque, sendo capa da edição. A história, pro­tag­on­i­za­da pelo mago John Con­stan­tine, cau­sou mui­ta polêmi­ca. Ela foi com­ple­ta­mente cen­sura­da na época de sua real­iza­ção, em 1999, e só veio a ser pub­li­ca­da em 2010.

    A tra­ma de Atire mostra uma inves­ti­gado­ra do con­gres­so norte-amer­i­cano ten­tan­do com­preen­der o porquê de uma série de matanças que acon­te­ci­am nas esco­las do país. Cri­anças e ado­les­centes que matavam out­ros e se sui­ci­davam. Seria cul­pa de videogames, dro­gas, vio­lên­cia na tv? Durante a inves­ti­gação, a mul­her percebe a pre­sença de Con­stan­tine em muitas fil­ma­gens feitas em cenários de diver­sos crimes. A princí­pio isso levaria o leitor, que acom­pan­ha as histórias do per­son­agem, a imag­i­nar que os assas­si­natos seri­am cau­sa­dos por forças sobre­nat­u­rais. Mas o real moti­vo das mortes que John Con­stan­tine sug­ere é muito mais per­tur­bador e cor­riqueiro. A con­clusão da história é impactante.

    Recorte de uma das páginas de “Atire”
    Recorte de uma das pági­nas de “Atire”

    Atire foi escri­ta e esta­va prestes a ser pub­li­ca­da quan­do acon­te­ceu o mas­sacre em Columbine. A edi­to­ra DC Comics sug­eriu alter­ações na história, que o autor War­ren Ellis não aceitou. Então, a edi­to­ra decid­iu sim­ples­mente não pub­licar e arquiv­ou o mate­r­i­al. Incon­for­ma­do, Ellis demitiu-se.

    Emb­o­ra Atire seja a prin­ci­pal atração, a mel­hor HQ da revista é Mate seu namora­do, um dos roteiros mais inspi­ra­dos e insti­gantes do escocês Grant Mor­ri­son. A mais lon­ga história apre­sen­ta­da nes­sa edição, com 56 pági­nas, Mate seu namora­do não tem nada a ver com fan­ta­sia ou ficção cien­tí­fi­ca. Tra­ta-se de uma tra­ma sobre amor, vio­lên­cia, rebel­dia e ado­lescên­cia, que lem­bra um boca­do filmes como Assas­si­nos por Natureza (1994).

    Recorte de uma das páginas de “Mate seu namorado”
    Recorte de uma das pági­nas de “Mate seu namorado”

    Ver­ti­go Espe­cial: Atire apre­sen­ta diver­sos autores e desen­his­tas reno­ma­dos em suas pági­nas, como Mor­ri­son, Ellis, Bri­an Azzarel­lo, Garth Ennis, Peter Mil­li­gan, Jim Lee, Frank Quite­ly, Bri­an Bol­land, Jeff Lamire, Eduar­do Ris­so e muitos outros.

    Como toda coletânea, há histórias fra­cas, porém a média do mate­r­i­al apre­sen­ta­do é óti­ma. Vale con­ferir com atenção as HQs Par­ceiros, Ultra: o mul­ti­alien, Brin­que­dos Novos, O Kapas… Enfim, tra­ta-se do lança­men­to com a mel­hor relação qualidade/custo do mês.

    Ver­ti­go Espe­cial: Atire
    Autores: diversos
    Edi­to­ra: Panini
    Preço: R$19,90

  • Frequência Global | HQ da Semana

    Frequência Global | HQ da Semana

    encadernado_frequencia-capa1A Fre­quên­cia Glob­al é uma força-tare­fa não gov­er­na­men­tal, inde­pen­dente, com­pos­ta por 1001 agentes. Miran­da Zero, a líder do grupo, e Aleph, a moça que coor­de­na a comu­ni­cação da equipe, são as úni­cas per­son­agens con­stantes nas histórias. O elen­co da equipe prin­ci­pal, assim como os próprios desen­his­tas da série, não se repete nunca.

    A par­tir dessa pre­mis­sa, War­ren Ellis cria 12 episó­dios que podem ser lidos em qual­quer ordem. São histórias fechadas que ver­sam sobre diver­sos temas, anco­ra­dos em ideias con­tem­porâneas sobre sis­temas de infor­mação e tec­nolo­gia. Fre­quên­cia Glob­al lem­bra um pouco o espíri­to do seri­ado Arqui­vo X, com a equipe reunin­do-se para resolver situ­ações extraordinárias.

    Cada caso requer uma habil­i­dade especí­fi­ca e sem­pre há urgên­cia na ação. Assim, uma bom­ba escon­di­da em Lon­dres pede uma espe­cial­ista em le park­our para encon­trá-la a tem­po, uma invasão aliení­ge­na via um vírus cog­ni­ti­vo deve ser com­bat­i­da por uma espe­cial­ista em lin­guís­ti­ca, e por aí vai.

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    Como cada mis­são requer um tipo de agente e não há nec­es­sari­a­mente um pro­tag­o­nista fixo, nun­ca se sabe se o per­son­agem que acom­pan­hamos con­seguirá cumprir sua mis­são ou chegar vivo ao final da história.

    O roteirista Warren Ellis
    O roteirista War­ren Ellis

    Além do rit­mo acel­er­a­do e da ação con­stante, War­ren Ellis enriquece suas tra­mas apre­sen­tan­do con­ceitos tec­nológi­cos insti­gantes e explo­ran­do-os den­tro de uma ficção fantástica.

    A série foi escri­ta entre 2002 e 2004 e muitas das ideias tec­nológ­i­cas abor­dadas por Ellis já não impres­sion­am mais. Ain­da assim, vale acom­pan­har pelos out­ros méri­tos da série, como o roteiro insti­gante e as cria­ti­vas situações.

    encadernado_frequencia-capa2O grande méri­to de Fre­quên­cia Glob­al é a val­oriza­ção do tra­bal­ho cole­ti­vo. É a cole­tivi­dade, a coop­er­ação e a diver­si­dade de seus agentes que per­mite atin­gir soluções para os prob­le­mas mais ter­ríveis e emergenciais.

    Fre­quên­cia Glob­al — Vol­umes 1 e 2
    Autores: War­ren Ellis (roteirista) e diver­sos desenhistas
    Edi­to­ra: Panini.
    Preço: R$ 39,90 (vol­ume 1) e R$42,00 (vol­ume 2)

  • O Inescrito | HQ da Semana

    O Inescrito | HQ da Semana

    O-inescritoEssa história em quadrin­hos mostra um mun­do muito, muito pare­ci­do com o nos­so. A prin­ci­pal difer­ença é que nele o maior best-sell­er de fan­ta­sia não é Har­ry Pot­ter, mas um garo­to bruxo chama­do Tom­my Tay­lor. Ao invés de enfrentar Vold­mort, o inimi­go é Conde Ambró­sio. No lugar de uma coru­ja, temos um gato com asas.

    O autor Wil­son Tay­lor escreveu 13 livros com as aven­turas de Tom­my e então desa­pare­ceu mis­te­riosa­mente. Seu fil­ho, Tom Tay­lor, jamais desco­briu o que acon­te­ceu ao pai. Hoje, Tom gan­ha a vida par­tic­i­pan­do de con­venções, auto­grafan­do pôsteres e livros e tiran­do retratos com a legião de fãs do per­son­agem que inspirou.

    Tudo vai muito bem até que aparece uma moça que ten­ta con­vencer Tom de que ele não é bem quem pen­sa que é.

    Essa é a pre­mis­sa de O Ine­scrito, série de quadrin­hos que começou a ser lança­da no Brasil esse ano e que se encon­tra em seu segun­do vol­ume. Os autores baseiam-se clara­mente na obra de J.K. Rowl­ing, mas com out­ra abor­dagem. Ao invés de falar de mág­i­ca, eles querem falar de lit­er­atu­ra e ficção.

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    O-inescrito-3À medi­da que se acom­pan­ha as aven­turas de Tom Tay­lor, percebe­mos que a história é fan­tás­ti­ca, mas baseia-se na força das ficções, dos per­son­agens inven­ta­dos. Partin­do da pre­mis­sa que algo não pre­cisa ser real para ser ver­dadeiro (e vice-ver­sa), os autores apre­sen­tam uma tra­ma insti­gante onde os mis­térios do des­ti­no de Wil­son Tay­lor, de uma sin­is­tra orga­ni­za­ção sec­re­ta e de um mapa com os locais de livros e ficções se mis­tu­ram e pren­dem a atenção do leitor.

    Além do bom rit­mo e do sus­pense, as refer­ên­cias à lit­er­atu­ra, cul­tura pop e mídias são exce­lentes e dão uma dimen­são dinâmi­ca e extrema­mente con­tem­porânea à história. Vale muito a pena con­hecer e acom­pan­har a tra­jetória do sen­hor Tom Taylor.

    O Ine­scrito
    Autores: Mike Carey (roteiro) e Peter Gross (desen­hos)
    Edi­to­ra Panini
    Preço: R$ 18,90

  • Homem-Aranha 2099 | HQ da Semana

    Homem-Aranha 2099 | HQ da Semana

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    Edição lança­da pela Panini

    No começo da déca­da de 1990 a edi­to­ra Mar­vel ten­tou lançar uma nova ver­são de alguns de seus per­son­agens mais pop­u­lares. Imag­i­nan­do um mun­do futur­ista, cheio de ele­men­tos tec­nológi­cos de ficção cien­tí­fi­ca e uma sociedade com um forte lega­do cul­tur­al dos super-heróis, o selo “2099” chegou às ban­cas com qua­tro títu­los apre­sen­tan­do ver­sões do Jus­ti­ceiro, Dr. Des­ti­no e Homem-Aran­ha. O quar­to títu­lo era um per­son­agem inédi­to chama­do Rav­age. Mais tarde, diver­sos out­ros per­son­agens entraram para o uni­ver­so 2099: X‑Men, Hulk, Moto­queiro Fantasma.

    Essas ver­sões futur­is­tas foram pub­li­cadas nos Esta­dos Unidos entre 1993 e 1996. No Brasil, a série fez bas­tante suces­so. Den­tre todos os títu­los, o mais pop­u­lar era o Homem-Aran­ha. Mas ele não tin­ha muito a ver com o Peter Park­er que con­hece­mos hoje. Em 2099, o Homem-Aran­ha era um cien­tista, empre­ga­do de uma grande cor­po­ração, chama­do Miguel O’Hara. Geneticista, ele se inspi­ra no herói dos nos­sos dias para cri­ar um novo tipo de ser humano, capaz de escalar pare­des e dar saltos de 15 metros.

    homemaranha2099-1 Como toda boa história de super-herói, O’Hara é víti­ma de um aci­dente no lab­o­ratório que, ao invés de matá-lo, lhe con­fere super­poderes. Esse Homem-Aran­ha do futuro pos­sui gar­ras nas pon­tas dos dedos e com elas é capaz de escalar pare­des, além de ras­gar inimi­gos. Tam­bém é capaz de pro­duzir organi­ca­mente a própria teia, pro­duz veneno, é sen­sív­el à luz. Enfim, é muito mais “aran­ha” do que o Homem-Aran­ha atual.

    O grande atra­ti­vo desse gibi é o roteiro de Peter David. Ele cria uma sequên­cia de histórias alu­ci­nante, onde o pobre Miguel O’Hara vai sain­do de uma encren­ca para entrar em out­ra pior ain­da num rit­mo frenéti­co. Mas o mel­hor são os diál­o­gos. Peter David dá a Miguel O’Hara um sen­so de humor sen­sa­cional, mor­daz, cíni­co. É difí­cil não rir ao ler as histórias. Além dis­so, o roteirista tam­bém não leva a sério a história como um todo: sem­pre há espaço para uma pia­da, para uma brin­cadeira ou uma situ­ação engraçada.

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    Homem-Aran­ha 2099 é lança­do como encader­na­da, que reúne as 10 primeiras histórias do per­son­agem pub­li­cadas em 1993 e 1994. É boa, despre­ten­siosa e pura diversão.

    Homem-Aran­ha 2099
    Autores: Peter David (roteiro) e Rick Leonar­di (arte)
    Edi­to­ra: Panini.
    Preço esti­ma­do: R$ 22,90

  • Valente para todas | HQ da Semana

    Valente para todas | HQ da Semana

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    Quem nun­ca deu suas cabeçadas por causa de amor? Quem não meteu os pés pelas mãos, fez con­fusão, quem nun­ca teve dor-de-cotovelo? Quem acred­i­ta em amor?

    Se essas per­gun­tas mex­em com você, Valente para todas é um livro de quadrin­hos que vai te agradar em cheio. Valente, Dama, Bu, Prince­sa e out­ros per­son­agens pare­cem ape­nas mais um pun­hado de bich­in­hos fofin­hos, mas quan­do começar a ler as aven­turas dessa tur­ma vai perce­ber que ali tem muito mais do que fofura.

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    O autor, Vitor Cafag­gi, recria com ess­es sim­páti­cos per­son­agens situ­ações com as quais que todo mun­do que já foi ado­les­cente apaixon­a­do (ou apaixon­a­da) vai se iden­ti­ficar. Seu tex­to é óti­mo, os diál­o­gos são cati­vantes e a tra­ma, basea­da em um inusi­ta­do triân­gu­lo amoroso, não deixa largar o livro antes do fim.

    As histórias tem o for­ma­to de tiras em quadrin­hos, que fun­cionam muito bem quan­do reunidas em um só livro, man­ten­do coerên­cia e continuidade.

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    Valente para todas é o segun­do vol­ume de uma série, dan­do con­tinuidade às histórias de Valente para sem­pre. Graças a uma boa apre­sen­tação resu­min­do os even­tos ante­ri­ores, é per­feita­mente pos­sív­el ler e se envolver com as desven­turas do cãozinho.

    Cafag­gi pre­tende faz­er uma série com cin­co livros con­tan­do a saga de Valente. O final do segun­do vol­ume deixa o leitor ansioso pela continuação.

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    Tam­bém é pos­sív­el con­ferir todas as aven­turas do per­son­agem no blog do autor, que disponi­bi­liza sem­anal­mente atu­al­iza­ções das aven­turas de Valente.

    Para adquirir Valente para todas, entre em con­ta­to dire­to com o autor por e‑mail (vitor­cafag­gi [arrom­ba] gmail [pon­to] com) ou acesse o site da Comix , onde estão disponíveis os dois álbuns da série.

    Valente para todas
    Autor: Vitor Cafaggi
    Pub­li­cação independente.
    Preço: R$ 12,00

  • Asterios Polyp | HQ da Semana

    Asterios Polyp | HQ da Semana

    AsteriosIgnazio era irmão gêmeo idên­ti­co de Aste­r­ios Polyp, mas mor­reu durante o par­to. Sua ausên­cia foi sen­ti­da pelo sobre­vivente durante toda sua vida e é jus­ta­mente esse gêmeo fan­tas­ma que nar­ra essa história fab­u­losa sobre arte, caos e ordem.

    O autor Dave Maz­zuc­chel­li tra­bal­hou nesse livro durante 10 anos. Durante os anos 80 desen­hou alguns clás­si­cos dos quadrin­hos de super-heróis, como Bat­man – Ano Um e Demoli­dor – A Que­da de Mur­dock. Ao lon­go dos anos 90 dedi­cou-se à pro­dução de diver­sas histórias em quadrin­hos alter­na­ti­vas. Aste­r­ios Polyp foi sendo desen­volvi­do lenta­mente, enquan­to Maz­zuc­chel­li leciona­va na School of Visu­al Arts de Nova York. E, de fato, é a obra-pri­ma do autor.

    Aste­r­ios Polyp é uma iro­nia viva. Um bril­hante arquite­to que foi con­sagra­do no meio acadêmi­co graças à ino­vação e ousa­dia de seus pro­je­tos, que, ape­sar de geni­ais, jamais foram construídos.

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    Maz­zuc­chel­li explo­ra ao máx­i­mo a lin­guagem dos quadrin­hos, brin­can­do com recur­sos grá­fi­cos como cor e esti­los de desen­ho para ampli­ar a gama de sig­nifi­ca­dos que per­me­iam a história. O design da edição é belís­si­mo e todo detal­he tem função narrativa.

    Asterios-2Polyp inter­age com diver­sos per­son­agens inter­es­santes, cada um inter­pre­tan­do uma per­spec­ti­va sobre a vida, a arte, o caos e a ordem. Para cada per­son­agem foi desen­volvi­da uma caligrafia espe­cial para car­ac­teri­zar suas falas.

    Ao mes­mo tem­po em que abor­da diver­sas ideias e abre por­tas para mui­ta dis­cussão e reflexão, o livro não é em nen­hum momen­to pedante ou modor­ren­to. A nar­ra­ti­va flui e os per­son­agens cati­vam o leitor. Além de Aste­r­ios, a adoráv­el Hana, a excên­tri­ca Ursu­la e o vai­doso Willy Ili­um se destacam.

    Tra­ta-se de uma obra espetac­u­lar, ple­na de sig­nifi­ca­dos e leituras, que con­quis­tou a críti­ca ao redor do mun­do e esta­b­ele­ceu um novo pata­mar de qual­i­dade para as chamadas graph­ic nov­els.

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    Quem quis­er se apro­fun­dar um pouco mais na obra, veja tam­bém este post no meu blog que escrevi sobre ele.

    Aste­r­ios Polyp
    Autor: David Mazzucchelli
    Edi­to­ra: Quadrin­hos na Cia.
    Preço esti­ma­do: R$ 63,00

  • Xampu | HQ da Semana

    Xampu | HQ da Semana

    xampu-capaRoger Cruz tra­bal­hou muito tem­po como desen­hista de gibis de super-heróis. X‑men, Hulk, Moto­queiro Fan­tas­ma. Mas em 2009, entre um tra­bal­ho e out­ro, Cruz arran­jou tem­po pra faz­er uma série de histórias com um esti­lo de desen­ho, enre­do e espíri­to com­ple­ta­mente difer­entes do mod­e­lo do super-herói.

    O álbum Xam­pu reúne essas histórias que falam sobre pes­soas comuns, jovens e ado­les­centes, em São Paulo no final da déca­da de 1980. Pra quem viveu essa época, o álbum tem um sabor de nos­tal­gia deli­cioso. São detal­h­es nos desen­hos: car­tazes, capas de LP, livros…

    Mas o méri­to maior do livro não está na nos­tal­gia e sim na maneira envol­vente como são nar­radas as desven­turas de seus pro­tag­o­nistas. Difí­cil não se iden­ti­ficar com as incertezas e paixões que movem essa tur­ma. Cruz con­segue cri­ar per­son­agens que cati­vam o leitor, que se tor­nam impor­tantes e que per­manecem na memória.

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    As histórias são rel­a­ti­va­mente inde­pen­dentes umas das out­ras, emb­o­ra pos­suam cronolo­gia e um elen­co prin­ci­pal estáv­el, todos jovens, de uma per­ife­ria. Tudo gira em torno do aparta­men­to do edifí­cio número 78, onde o Som­bra, Max, Nicole, Pedrão e mais uma galera se “mocosavam” pra cur­tir um som, dro­gas e amassos.

    xampu-2O esti­lo rock&roll, cabe­lo com­pri­do, calças jeans, jaque­ta de couro, tat­u­a­gens, bebidas, sexo… A vida dos per­son­agens vai se con­stru­in­do em torno dis­so e acom­pan­hamos tra­jetórias que nem sem­pre ter­mi­nam em finais felizes.

    A capa do álbum mostra um dis­co de vinil e brin­ca com a ideia de que não apre­sen­ta histórias, mas sim “faixas”, “canções” que recebem nomes como “Xam­pu Gen­er­a­tion”, “O Som­bra”, “Raquel”, “Max & Nicole” e out­ras. Há tam­bém uma “faixa bônus: UnPlugged”: uma sessão cheia de esboços e testes de esti­los de desenho.

    É um tra­bal­ho exce­lente, com uma nar­ra­ti­va cati­vante, óti­mos desen­hos e histórias.

    Lança­do em 2010, o álbum ain­da pode ser encon­tra­do nas livrarias e com­ic shops. O autor fez um post em seu blog com várias fotos de orig­i­nais e tam­bém  criou um blog ofi­cial da HQ.

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    Desen­hos orig­i­nais e fer­ra­men­tas de tra­bal­ho do autor

    Xam­pu
    Autor: Roger Cruz
    Edi­to­ra: Devir
    Preço esti­ma­do: R$ 29,50

  • A Chegada | HQ da Semana

    A Chegada | HQ da Semana

    Chegada-capaUma história em quadrin­hos que usa ape­nas ima­gens e nen­hu­ma palavra. Ou mel­hor, nen­hu­ma palavra em idioma con­heci­do. Vemos tex­tos em car­ac­teres imag­inários, letras fan­tás­ti­cas incom­preen­síveis que acabam se tor­nan­do parte das imagens.

    Isso é um artifí­cio nar­ra­ti­vo do autor Shaun Tan, que pre­tende cri­ar no leitor a sen­sação do pro­tag­o­nista da história: ser imi­grante em um país com­ple­ta­mente estran­ho, de cul­tura prati­ca­mente alienígena.

    A arte do álbum é embas­ba­cante, mag­nifi­ca­mente desen­ha­da a lápis. As ima­gens procu­ram repro­duzir fotografias anti­gas que retratavam a chega­da de estrangeiros à Améri­ca no começo do sécu­lo XX.

    Há todo um cli­ma de nos­tal­gia, mas o tem­pero espe­cial do álbum é a fan­ta­sia. Nesse novo país, o nos­so pro­tag­o­nista toma con­ta­to com estra­nhas cria­tur­in­has que pare­cem Poké­mons, com hábitos e estru­turas de tra­bal­ho rad­i­cal­mente difer­entes das que con­hecia e, prin­ci­pal­mente, com out­ros estrangeiros como ele, que vier­am de lugares ain­da mais estran­hos com histórias comoventes e sur­preen­den­te­mente reais.

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    A Chega­da é uma belís­si­ma obra sobre diver­si­dade e sol­i­dariedade. Com suas silen­ciosas ima­gens em tom de sépia, está cheia de sons, histórias, cores e vida. Shaun Tan com­pôs uma história cheia de poe­sia e sen­si­bil­i­dade, mar­ca­da por ele­men­tos fan­tás­ti­cos que pare­cem simul­tane­a­mente estran­hos e famil­iares. Uma história sobre pes­soas tão difer­entes e ao mes­mo tem­po com tan­to em comum.

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    A Chega­da
    Autor: Shaun Tan
    Edi­to­ra: Edições SM
    Preço esti­ma­do: R$48,00

  • We3 – Instinto de Sobrevivência | HQ da Semana

    We3 – Instinto de Sobrevivência | HQ da Semana

    we3-capaImag­ine uma mis­tu­ra insana de Robo­cop com A Incrív­el Jor­na­da e pitadas de Matrix. O resul­ta­do dis­so é We3 – Instin­to de Sobre­vivên­cia.

    De A Incrív­el Jor­na­da vêm um trio de bich­in­hos: um cachor­ro, um gato e um coel­ho. Ani­maiz­in­hos de esti­mação que são rou­ba­dos de seus donos pelo exérci­to para par­tic­i­par de um pro­je­to mil­i­tar secretíssimo.

    Daí vem a parte do Robo­cop: os três são trans­for­ma­dos em ciborgues, máquinas de matar extrema­mente sofisti­cadas e se envolvem em sequên­cias de ação cheias de vio­lên­cia sanguinolenta.

    De Matrix vem os exper­i­men­tal­is­mos ousa­dos: uma dis­posição de quadrin­hos e pági­nas que fazem lem­brar toda a rev­olução do bul­let time, mas trans­pos­ta ago­ra para a lin­guagem dos quadrin­hos. São pági­nas em que o sen­ti­do de per­cepção de tem­po dos ani­mais é rep­re­sen­ta­do através da dis­posição de quadrin­hos que invo­cam mul­ti­pli­ci­dade de leituras e explo­ração da ter­ceira dimen­são na página.

    transposição do bullet time para a linguagem dos quadrinhos
    trans­posição do bul­let time para a lin­guagem dos quadrinhos

    We3 é uma história alu­ci­nante que com­bi­na de maneira magis­tral ação, vio­lên­cia e ter­nu­ra. Ter­nu­ra porque é impos­sív­el não cri­ar empa­tia pelo sofri­men­to e des­ti­no dos pro­tag­o­nistas. Mes­mo com as alu­ci­nantes sequên­cias de ação, há diver­sos momen­tos e detal­h­es que dão um aper­to no coração, como os car­tazes dos ani­maiz­in­hos perdidos.

    Apesar de tudo eles ainda são animais que necessitam de cuidado e carinho
    Ape­sar de tudo eles ain­da são ani­mais que neces­si­tam de cuida­do e carinho

    Essa edição ain­da tem uma porção de extras bem bacanas, com comen­tários do roteirista Grant Mor­ri­son e do desen­hista Frank Quite­ly sobre os basti­dores dessa HQ. Sim­ples­mente imperdível.

    We3 – Instin­to de Sobrevivência
    Autores: Grant Mor­ri­son (roteiro) e Frank Quite­ly (arte)
    Edi­to­ra: Panini
    Preço esti­ma­do: R$45,00

  • Dica de Leitura: Prontuário 666 — Os anos de cárcere de Zé do Caixão

    Dica de Leitura: Prontuário 666 — Os anos de cárcere de Zé do Caixão

    Zé do Caixão é uma das fig­uras mitológ­i­cas do cin­e­ma de hor­ror, B, Trash — ou a des­ig­nação que você preferir — do mun­do. A figu­ra de José Moji­ca Marins ou do seu per­son­agem car­i­ca­to de Zé do Caixão sem­pre foram per­tur­badores pelo ator/diretor/roteirista encar­ar, por muito tem­po, o per­son­agem como esti­lo de vida. Em 1964, com o clás­si­co À meia-noite levarei sua alma era dado o íni­cio da trilo­gia que só ter­mi­nar­ia em 2008 com Encar­nação do Demônio. O per­son­agem Zé do Caixão, após o segun­do lon­ga Esta Noite Encar­narei no teu Cadáver, é pre­so durante 40 anos pelos exper­i­men­tos que fez com pes­soas e mul­heres em bus­ca do fil­ho perfeito.

    Em Pron­tuário 666 — Os anos de cárcere de Zé do Caixão (Con­rad, 2008), com ilus­trações e roteiro de Samuel Casal e argu­men­to e co-roteiro de Adri­ana Brun­stein é mostra­do o que hou­ve com Jose­fel Zanatas des­de que foi final­mente pego e joga­do em um presí­dio que o mes­mo inti­t­u­lou como zoológi­co humano. As ilus­trações de Casal são muito inter­es­santes, ele traz um novo esti­lo de quadrin­ho de hor­ror que mostra o macabro Jose­fel de uma for­ma muito mais obscu­ra, quase que como uma som­bra que anda pelas celas, sem muitos ras­tros. Já o roteiro de Adri­ana faz jus às histórias de José Moji­ca, sem poupar o humor negro, muitas vezes exager­ada­mente sórdido.

    O esti­lo expres­sion­ista de Samuel Casal com um toque noir não deve em nada com as pelícu­las de Zé do Caixão. As expressões dos home­ns sem nome, que se per­dem na escuridão das celas e nas mãos de Zanatas, são vazias e dis­tantes, impos­sív­el não ler os quadrin­hos e não ficar per­tur­ba­do pela figu­ra do homem com unhas enormes e capa pre­ta. Pron­tuário 666 — Os anos de cárcere de Zé do Caixão é bem ao esti­lo do japonês Panora­ma do Infer­no, ou seja, é um pra­to cheio para fãs de hor­ror e quadrin­hos que não poupam o leitor de uma noite mal dormida.

  • Dica de leitura: Macanudo

    Dica de leitura: Macanudo

    Macanudo, em espan­hol: extra­ordinário, exce­lente, estu­pen­do, magnífico.

    E é essa palavra que é usa­da para o títu­lo da coleção de tir­in­has do car­tunista argenti­no Lin­iers, ou mel­hor, Ricar­do Siri Lin­iers, nasci­do em Buenos Aires, que quan­do cur­sou pub­li­ci­dade perce­beu que o que mais gosta(va) de faz­er é desenhar.

    Dono de um traço encan­ta­dor, é difí­cil diz­er qual per­son­agem é o mais inter­es­sante, porque todos trazem um pouco da questão do exis­ten­cial­is­mo e quase sem­pre faz refer­ên­cia a out­ros artis­tas. Nada mel­hor que palavras de uma car­tunista para explicar mel­hor quem é Lin­iers:

    foto por Juliana via Flickr

    Qual­quer um pode desen­har um gato, qual­quer um pode desen­har uma garo­ta ou um homem com chapéu, mas não é qual­quer um que pode faz­er com que esse gato, essa garo­ta ou esse homem com chapéu sejam difer­entes de todos os que tivésse­mos vis­to ante­ri­or­mente e passem a faz­er parte do mun­do como se os conhecêssemos.
    Lin­iers desen­ha per­son­agens, e seus per­son­agens são extra­ordinários. E os desen­ha tão bem que são todos lin­dos, até os feios são tão per­feita­mente feios que são belos. Solitários, com uma inocên­cia pop à vezes meio per­ver­sa, movem-se com elegân­cia entre a tris­teza e o assom­bro, como atores anôn­i­mos de pequenos filmes B caseiros.
    Lápis, nan­quim e aquarela se unem habil­mente com a poe­sia e o absur­do em um mun­do cheio de sur­pre­sas. Qual­quer coisa pode acon­te­cer em Macanudo. Suas histórias caem no humor inocente com a pureza de quem des­fru­ta das coisas mais bobas da vida.
    Lin­iers desen­ha um mun­do duro com abso­lu­ta del­i­cadeza. Uma ale­gria melancóli­ca que con­trasta com a feli­ci­dade boba. Seu tra­bal­ho é belo e diver­tido. E ele é um rapaz macanudo.”
    (Mait­e­na in: Macanudo n. 1 / por Lin­iers. Camp­inas, SP: Zara­batana Books, 2008.)

    Quem quis­er con­hecer um pouco mais desse car­tunista, pode vis­i­tar seu site ou espi­ar a Ilustra­da do jor­nal Fol­ha de S. Paulo, de segun­da a sexta.

    Aqui no Brasil suas tir­in­has são pub­li­cadas pela Zara­batana, e infe­liz­mente só tem pub­li­ca­do até o vol­ume 3. Infe­liz­mente, porque na Argenti­na as tir­in­has estão no 8º volume.