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  • Festival 42, em Teresina – PI | Evento

    Festival 42, em Teresina – PI | Evento

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    O Fes­ti­val 42 acon­te­ceu no últi­mo dia 25 de maio, data recon­heci­da como o dia do Nerd, ou o dia inter­na­cional da toal­ha, o que dá na mes­ma… Na ver­dade, o nome do even­to e a comem­o­ração em torno dessa peça de ban­ho é uma hom­e­nagem ao livro “O Guia do Mochileiro das Galáx­i­as”, de Dou­glas Adams. Na obra (e na vida real), a toal­ha é um obje­to indis­pen­sáv­el para que você pos­sa se aven­tu­rar pelo espaço sider­al. E o “42”, bem, seria mel­hor você ler o livro para saber do que se tra­ta (sou con­tra spoillers).

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    Essa primeira edição do even­to teve como sede e base sec­re­ta a Casa da Cul­tura de Teresina, e con­tou com um dia inteiro de diver­sões “nérdi­cas” e “geeks”: ofic­i­nas de RPG e quadrin­hos, palestra sobre Tolkien, cin­e­ma, quadrin­hos e sobre o mun­do tec­nológi­co livre (open source), além de bate-papos com mata­dores de dragões, caçadores do sobre­nat­ur­al e espe­cial­is­tas em teo­rias da conspiração.

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    A ideia dos orga­ni­zadores, o grupo Polí­gono (for­ma­do pela livraria Quin­ta Capa Quadrin­hos e lojas Arcá­dia e Idee), é que o even­to acon­teça, pelo menos, anual­mente, procu­ran­do atrair esse públi­co grande, que, nor­mal­mente fica den­tro de casa, debruça­do sobre suas leituras e com­puta­dores, e cri­ar um espaço de inter­ação entre eles. Para isso foi pen­san­do um dos momen­tos mais diver­tidos e esper­a­dos do even­to: a gin­cana. Todos os pre­sentes no even­to foram con­vi­da­dos a par­tic­i­parem de um sorteio de equipe digna do Chapéu Sele­tor de Har­ry Porter (o Chapéu, inclu­sive, esteve lá e decidia onde cada pes­soa estaria). As equipes eram as seguintes (leia em voz alta e tente sacar a refer­ên­cia): água, ter­ra, fogo, ven­to… CORAÇÃO!

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    Durante o even­to ain­da acon­te­ce­r­am vários campe­onatos: desen­ho, mel­hor toal­ha, pior cospo­bre, Mor­tal Kom­bat 9, Tekken, Yu Gi Oh e Sum­mon­er Wars. Cada campeão dava pon­tos para sua equipe e para se definir a equipe vence­do­ra, ain­da acon­te­ceu um Quiz com per­gun­tas que ape­nas o públi­co que com­pare­ceu ao even­to pode­ria respon­der. Todos os campeões gan­haram cupons de descon­tos e pacotes de brindes. “Coração” foi a primeira equipe vence­do­ra. Qual será a próxima?

  • Café Literário: As múltiplas faces da narrativa

    Café Literário: As múltiplas faces da narrativa

    Deixe-me ver quais de mim vou usar hoje… (Elvi­ra Vigna)

    A nar­ra­ti­va é sim­ples­mente um dos meios de um escritor colo­car no papel todo o vas­to mun­do em que os seus eus vivem. E segun­do eles próprios, o ato de escr­ev­er é lidar com obsessões, deslo­ca­men­to e a neces­si­dade extrema de expressão. Essas afir­mações, feitas pelos escritores Elvi­ra Vigna, Max Mall­man e Menal­ton Braff, na mesa As múlti­plas faces da nar­ra­ti­va, na Bien­al do Livro Rio 2011, per­me­ar­am as opiniões de três fic­cionistas bem difer­entes entre si.

    Um dos aspec­tos mais inter­es­santes é que com a respos­ta de cada escritor, alguns assun­tos se desen­volver­am com várias fac­etas. Para, o tam­bém roteirista, Max Mall­mann, escr­ev­er é deslo­car-se para muitos lugares e se colo­car naque­las situ­ações. Já Menal­ton encara a escri­ta como uma expressão con­tínua do que sente e vê, sua própria ver­bor­ra­gia. E Elvi­ra Vigna luta com suas obsessões quan­do escreve, inclu­sive, aque­las não tão pos­síveis no real como a neces­si­dade de sem­pre matar alguém em suas ficções.

    Obser­van­do as três respostas dadas, se percebe que lidar com os per­son­agens diari­a­mente é quase uma pre­mis­sa para um escritor. Mes­mo que na hora da escri­ta todos eles mudem de nome e posição, per­manecem refletindo um lugar do real, talvez um dos pon­tos que per­mitem a cri­ação de laços entre leitor e a palavra den­tro da ficção. Elvi­ra Vigna admite que não inven­ta abso­lu­ta­mente nada nos seus livros pois não tem imag­i­nação para cri­ar, afir­man­do que todas aque­las pes­soas e vivên­cias estão aqui fora. Afi­nal, nada mais fic­cional que a vida real.

    A per­gun­ta, até aparente­mente clichê, de onde ficam os lim­ites entre escritor e ficção é respon­di­da de ime­di­a­to: O autor é aque­le que escol­he qual ou quais dele próprio irão parar em deter­mi­na­da obra, como se fos­sem peças de ves­tuário para cada situ­ação. Cabe ao escritor a liber­dade de cri­ar, recri­ar, imag­i­nar e enfim, enx­er­gar a vas­ta real­i­dade fornece­do­ra de ficção.

    Elvi­ra Vigna diz que há muito glam­our em torno da roti­na do escritor. Deixa claro que odeia roti­na e por isso mes­mo não escreve todos os dias, mes­mo que con­vi­va diari­a­mente com os per­son­agens das suas ficções. Já Max, que é roteirista de tele­visão, e Menal­ton dizem que sen­tem a neces­si­dade de escr­ev­er todos os dias, mas tam­bém acred­i­tam que cada escritor tem seu próprio tem­po. Alguns escritores garan­tem que pos­suem sua própria roti­na como o amer­i­cano Philip Roth e Luiz Ruffa­to, que já declar­ou isso em entre­vista para o inter­ro­gAção.

    Mes­mo que as roti­nas sejam dis­tin­tas, em um pon­to os três escritores con­cor­dam: escr­ev­er é trans­gredir. E para se ir além não há muitas regras, inclu­sive, Elvi­ra faz menção a um tex­to do escritor norte-amer­i­cano Kurt Von­negut que ele fala sobre a importân­cia de se escr­ev­er e de como ofic­i­nas de pro­dução literária não são milagrosas.

    Há um cer­to glam­our míti­co em saber as for­mas que um autor dá vida aos seus livros e per­son­agens, mas o mais bacana mes­mo é saber que cada um tem os seus méto­dos tão par­tic­u­lares entre si. A nar­ra­ti­va é uma for­ma tão par­tic­u­lar que sem dúvi­da nen­hu­ma tem várias faces, e claro, refleti­das, de uma for­ma ou out­ra, pela face de seus autores.

    Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

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  • Café Literário: HQ — Cruzamento de Linguagens

    Café Literário: HQ — Cruzamento de Linguagens

    Um Café Literário que esta­va ansiosa­mente esperan­do par­tic­i­par na Bien­al do Livro Rio 2011 era HQ: Cruza­men­to de Lin­gua­gens, com os artis­tas André Dah­mer, Lourenço Mutarel­li, Rafael Coutin­ho e Rafael Sica, medi­a­dos por Lobo Bar­ba Negra.

    O bate papo se ini­ciou com a per­gun­ta de como era o proces­so cria­ti­vo de cada artista. Coutin­ho disse que cos­tu­ma ini­ciar a par­tir de um con­ceito, Mutarel­li tam­bém, mas ulti­ma­mente esper­a­va o desen­ho — prin­ci­pal­mente de seus sketch­books — dar o tex­to. Já Sica uti­liza bas­tante a obser­vação, enquan­to Dah­mer afir­ma que nun­ca con­seguiu for­mar um méto­do pois nor­mal­mente não dava certo.

    Um tópi­co que cada vez mais é difí­cil de não entrar nes­sas con­ver­sas é jus­ta­mente como a inter­net influ­en­cia em seus tra­bal­hos e a sua importân­cia no papel do quadrin­ista atu­al. Muitos começam pub­li­can­do ape­nas na inter­net hoje tem seus desen­hos impres­sos por edi­toras, como é o caso do Sica e do Dah­mer. Mas em bus­ca de se tornar con­heci­do na web, muitas vezes alguns autores cri­am uma obsessão em torno da divul­gação do seu tra­bal­ho e sua pro­dução aca­ba sendo afe­ta­da. Dah­mer comen­ta que este é um prob­le­ma que está acon­te­cen­do cada vez mais e que o artista dev­e­ria estar mais pre­ocu­pa­do na cri­ação e não na divul­gação, pois isto que é o mais impor­tante, não o contrário.

    Nos últi­mos tem­pos, Sica ten­tou faz­er algu­mas exper­i­men­tações com for­matos difer­entes na inter­net, mas chegou a con­clusão que as pes­soas não tin­ham mui­ta paciên­cia para desen­hos mais lon­gos ou seri­ados neste meio. Coutin­ho acres­cen­tou que ape­sar dis­so, a web dá mais pos­si­bil­i­dades em relação ao papel, não pos­suin­do muitas das suas lim­i­tações, poden­do se ir bem mais além. Uma refer­ên­cia inter­es­sante para essas várias pos­si­bil­i­dades é um quadrin­ho do filme TRON: O Lega­do que explo­ra as novi­dades do HTML 5 e pode ser lido gra­tuita­mente aqui, mas infe­liz­mente o mes­mo está só em inglês. Out­ra tam­bém é o site do artista Scott McCloud, que foi um dos primeiros a faz­er exper­i­men­tos difer­entes do que sim­ples­mente “escanear” e pub­licar os tra­bal­hos. Ele tam­bém pub­li­cou um livro sobre o assun­to pub­li­ca­do aqui no Brasil como Rein­ven­tan­do os Quadrin­hos, pela edi­to­ra M. Books.

    Quan­do o assun­to da con­ver­sa entrou na parte de quais as refer­ên­cias de cada artista, muitas vezes um momen­to del­i­ca­do que eles ten­tam evi­tar, respon­den­do muitas vezes de for­mas nada especí­fi­cas, enquan­to os espec­ta­dores esper­am ansiosa­mente, Mutarel­li deu uma óti­ma respos­ta dizen­do que o mel­hor lugar para você pegar influên­cias é em você mes­mo. Out­ro comen­tário inter­es­sante sobre o assun­to foi o de Coutin­ho, que falou que vive­mos em uma época bem inter­es­sante, onde se podia piratear o que se quisesse.

    Ao con­tar sobre os seus tra­bal­hos, Mutarel­li disse que ten­tou recen­te­mente faz­er um pro­je­to mais exper­i­men­tal, ain­da não pub­li­ca­do, mas teve várias difi­cul­dades pois as pes­soas diziam que não enten­di­am nada e que não fazia sen­ti­do. Mas isso acon­te­ceu porque elas não viam que era só uma história e que bas­ta­va só par­tic­i­par, isto que era o mais impor­tante na sua visão. É pre­ciso enten­der o que aqui­lo diz para o leitor e não o que o autor que­ria dizer.

    Durante todo o Café Literário, foi inter­es­sante notar a difer­ença de cada um dos artis­tas, ape­sar de o assun­to — assim como as várias per­gun­tas — não fugirem muito dos bate papos que nor­mal­mente se faz. Infe­liz­mente a con­ver­sa ficou meio lim­i­ta­da tam­bém pois Dah­mer acabou não abrindo muito espaço para os out­ros quan­do começa­va a falar, pois sim­ples­mente se alon­ga­va demais em suas opiniões. Mas no ger­al, foi óti­mo ouvir várias das exper­iên­cias e opiniões de cada autor.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o seu com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Tam­bém já fize­mos uma lon­ga entre­vista com o Rafael Sica e uma matéria sobre o lança­men­to da HQ Ordinário e um debate com o autor, se você tiv­er inter­esse em saber mais sobre ele.

    Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

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  • O Futuro do Livro: Giselle Beiguelman

    O Futuro do Livro: Giselle Beiguelman

    Andan­do pelos corre­dores de uma Bien­al do Livro, como a do Rio de Janeiro no ini­cio desse mês, ven­do eles lota­dos de pes­soas com muitos impres­sos sacole­jan­do em bol­sas plás­ti­cas, parece impos­sív­el afir­mar o fim do livro físi­co. Mes­mo que os espe­cial­is­tas ditem a situ­ação e nos prometam con­formis­mo e mais facil­i­dade, nada muda esse olhar mági­co de quem vê as pes­soas encan­tadas fol­he­an­do livros de todas as cores, impressões e, por que não, cheiros.

    Mas ao con­trário das pre­visões, bem otimis­tas, do mer­ca­do edi­to­r­i­al há quem não ache que o e‑book e os tablets sejam essa mar­avil­ha toda, A artista Giselle Beiguel­man foi enfáti­ca ao diz­er — na mesa do Café Literário pre­ten­siosa­mente inti­t­u­la­da de Apre­sen­tan­do o Livro Dig­i­tal — que o livro impres­so era a for­ma mais estáv­el para práti­ca da leitu­ra, o que ain­da não acon­tece com o livro dig­i­tal, des­de pelo menos mil anos. Sem exageros e muito bem pau­ta­da, Giselle é uma das mais pro­lí­fi­cas pesquisado­ras do que ela chama de Desvir­tu­al, o fim do vir­tu­al no sen­ti­do de acabar as bar­reiras entre ele e o real. Atual­mente ela é edi­to­ra-chefe da revista Select que se propõe deixar claro sua ban­deira com con­ceitos sobre pirataria, remix, cul­tura livre, escri­ta não-cria­ti­va e a imen­sid­ão de assun­tos que englobam a cul­tura digital.

    Assista abaixo ao depoi­men­to de Giselle Beiguel­man, espe­cial­mente pro inter­ro­gAção, na Bien­al do Livro Rio 2011, sobre o Futuro do Livro.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=nsUfFYtKGTo

  • Café Literário: O Livro além do Livro

    Café Literário: O Livro além do Livro

    Se per­gun­tassem há um sécu­lo atrás qual era o pro­je­to de deter­mi­na­do escritor, a respos­ta viria fácil: Escr­ev­er bons livros e pub­licá-los pos­te­ri­or­mente, toda uma roti­na sem­pre foi lev­a­da em con­ta na vida de um escritor. Os temas pode­ri­am ser vari­a­dos, mas o pro­je­to em si se resumiria há um lon­go tem­po de ded­i­cação para a escri­ta, estu­do e bus­cas por edi­tores. Mas e no mun­do chama­do de pós-mod­er­no, como um escritor se com­por­ta diante de tan­ta infor­mação e hib­ridis­mo? Ele con­segue se man­ter ingên­uo no seu pos­to de somente escr­ev­er de for­ma passiva?

    Partin­do de um títu­lo que daria assun­to para bem mais de uma hora no Café Literário da Bien­al do Livro Rio 2011, a mesa O Livro além do Livro teve a ambi­ciosa tare­fa de jun­tar três escritores con­tem­porâ­neos da lit­er­atu­ra brasileira, medi­a­dos pela jor­nal­ista Cris­tiane Cos­ta. O trio for­ma­do para mesa foram os gaú­chos Paulo Scott, Antônio Xerx­e­nesky e a car­i­o­ca Simone Cam­pos. Os três, mes­mo sendo de ger­ações um pouco difer­entes, Paulo é o mais vel­ho, pos­suem suas ativi­dades literárias lig­adas de algu­ma for­ma com a cul­tura digital.

    Entre eles, Simone Cam­pos é a que tem o pro­je­to atu­al mais híbri­do, envol­ven­do a lit­er­atu­ra e games. Des­de a sua estreia como escrito­ra, aos 17 anos, ela apre­sen­ta uso de vocab­ulário da web mescla­dos com diál­o­gos cur­tos e nar­ra­ti­vas que beiram ao exper­i­men­tal. No últi­mo ano, Simone vem tra­bal­han­do no livro-jogo Owned (que já foi anun­ci­a­do o lança­men­to no dia 20 de out­ubro) que tem uma pro­pos­ta próx­i­ma do clás­si­co O Jogo de Amare­lin­ha, de Julio Cortázar, onde o obje­ti­vo é deixar o enre­do ser desen­volvi­do pelas decisões do próprio leitor. O livro vai ser disponív­el online e uma ver­são com extras no impres­so. Simone diz que sen­tia neces­si­dade de cri­ar algo que superasse o número de pos­si­bil­i­dades de se ler uma obra e para tal apren­deu bases de lin­guagem com­puta­cional e lóg­i­ca. Na cer­ta, Owned ain­da vai ren­der muito assun­to, prin­ci­pal­mente por unir duas lin­gua­gens que aparente­mente são pouco associáveis.

    Para Xerx­e­nesky os jogos não estão tão dis­tantes das nar­ra­ti­vas fic­cionais literárias como se pen­sa. Em seu primeiro livro, o romance Areia nos Dentes (Roc­co, 2010), ele deixa clara sua influên­cia ao jogo clás­si­co Alone In the Dark. Expli­ca que um jogo pre­cisa de cabeças tão pen­santes como se acred­i­ta a lit­er­atu­ra ter e que o fato de alguém gostar muito de deter­mi­na­do tipo de nar­ra­ti­va, como em muitas vezes os com­plex­os roteiros de games, não sig­nifique que ela ten­ha algum grau difer­ente de int­elec­tu­al­i­dade. Os escritor gaú­cho ain­da relem­bra que jogos são usa­dos há muito tem­po na lit­er­atu­ra, sem deixar de citar os exper­i­men­tal­is­mos literários, do já cita­do, Julio Cortázar.

    Um dos pon­tos mais bacanas de uma dis­cussão sobre as influên­cias da cul­tura dig­i­tal no desen­volver do tra­bal­ho de um escritor é que os tópi­cos ultra­pas­sam a mera dis­cussão mer­cadológ­i­ca e apoc­alíp­ti­ca sobre os ebooks e tablets. Ess­es autores do pre­sente estão mais pre­ocu­pa­dos em for­mas inter­es­santes de colo­carem em práti­ca suas reações às infor­mações que chegam o tem­po todo. Em tom diver­tido, Paulo Scott fala que na ver­dade ele é um frustra­do em mui­ta coisa que gostaria de ter feito e por isso aca­ba envol­ven­do tudo isso no seu pro­je­to literário.

    Paulo Scott está numa empen­ha­da função de virar DJ Literário remixan­do poe­sias de out­ros poet­as com as suas, ou ain­da, colo­can­do out­ros escritores para lerem, decla­marem e etc trans­for­man­do tudo em um tra­bal­ho mul­ti­midiáti­co. Mes­mo afir­man­do de que o mun­do da ficção literária vai muito além do game e do vir­tu­al, ele tam­bém diz que os jovens escritores, se referindo aos seus com­pan­heiros de mesa, tem uma bagagem de con­hec­i­men­to con­struí­do na leitu­ra e no bom aproveita­men­to das infor­mações. Antônio Xerx­e­nesky foi práti­co em diz­er que um escritor hoje não tem mui­ta opção a não ser faz­er parte das redes soci­ais e ser uma figu­ra ati­va na inter­net. Ele já havia escrito sobre isso num tex­to muito enfáti­co e inter­es­sante sobre os escritores con­tem­porâ­neos brasileiros, no site do IMS — Insti­tu­to Mor­eira Salles.

    Xerx­e­nesky tem uma veia forte na metaficção e met­al­it­er­atu­ra, em seu últi­mo livro — reunião de con­tos — inti­t­u­la­do de A Pági­na Assom­bra­da por Fan­tas­mas (Roc­co, 2011), são níti­dos os vul­tos das refer­ên­cias literárias e eru­di­tas que con­stroem o escritor. Quan­do ques­tion­a­do se sua lit­er­atu­ra é uma espé­cie de fan­fic­tion, ele expli­ca que o seu tex­to é mais uma for­ma de lidar com as refer­ên­cias e não dis­torce-las ou ree­screve-las. No mais, há out­ra for­ma de um autor se livrar de seus próprios demônios a não ser lidan­do com eles?

    O escritor gaú­cho ain­da cita sua influên­cia por escritores como Thomas Pyn­chon, Rober­to Bolaño e Enrique Vilas-Matas, que são con­heci­dos por terem seus próprios pro­je­tos volta­dos ao caos da vida con­tem­porânea. Ou seja, facil­mente o leitor encon­trar fig­uras pop e mitológ­i­cas passe­an­do pelos tex­tos dess­es autores em situ­ações mirabolantes e inusi­tadas. De fato, não há como fugir das próprias refer­ên­cias, onde os próprios escritores são per­son­agens de seus mun­dos paralelos.

    Quan­do se fala em cul­tura dig­i­tal parece que é prati­ca­mente impos­sív­el de se empre­gar jun­to as palavras livro, lit­er­atu­ra, autores, edi­toras e mais o leque de sinôn­i­mos que acom­pan­ham essas out­ras. É muito mais fácil usar ter­mos mais apoc­alíp­ti­cos e de infor­mações de que você não tem chance nen­hu­ma a não ser se ren­der aos ter­abytes de tec­nolo­gia que deix­am sua vida mais inter­es­sante. E é fug­in­do das dis­cussões de mer­ca­do que podemos obser­var mais de per­to como os escritores, estes pre­ocu­pa­dos com a cri­ação e como boa parte deles lidam de for­ma har­môni­ca com a web e o dig­i­tal. As pos­si­bil­i­dades são infini­tas e provavel­mente logo ter­e­mos novas visões e ramos para a lit­er­atu­ra, sem ela, de for­ma nen­hu­ma, deixar de ter suas funções pri­mor­diais, seja para quem escreve ou para quem lê.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o seu com­puta­dor e ouvir onde preferir.

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  • Café Literário: Apresentando o Livro Digital

    Café Literário: Apresentando o Livro Digital

    Em um tem­po onde cada vez mais as coisas estão sendo dig­i­tal­izadas, uma dis­cussão sobre esse novo for­ma­to e as suas pos­si­bil­i­dades para a lit­er­atu­ra, não pode­ria fal­tar na Bien­al do Livro Rio 2011. Com o títu­lo Apre­sen­tan­do o Livro Dig­i­tal, o assun­to do Café Literário foi dis­cu­ti­do pelos par­tic­i­pantes Car­lo Car­ren­ho, Daniel Pin­sky e Giselle Beiguel­man medi­a­dos por Cris­tiane Cos­ta.

    Para des­faz­er já qual­quer fal­sa expec­ta­ti­va, o títu­lo do bate-papo acabou sendo bas­tante infe­liz pois para uma apre­sen­tação do livro dig­i­tal, não hou­ve nada de intro­dutório. O que acabou sendo óti­mo na ver­dade, pois teria sido um des­perdí­cio se pren­der a essa parte de apre­sen­tação con­sideran­do a exper­iên­cia dos par­tic­i­pantes. Mas por con­ta dele, acabou atrain­do tam­bém out­ro tipo de públi­co que deve ter esper­a­do algo total­mente difer­ente. Um exem­p­lo dis­so foi uma das per­gun­tas envi­adas para a medi­ado­ra por um (ou mais) par­tic­i­pantes sobre quan­tos livros era pos­sív­el armazenar em um leitor de ebooks. Para quem já tem con­ta­to com esse mun­do isso pode pare­cer tão dis­pen­sáv­el quan­to per­gun­tar quan­tas músi­cas cabe em um MP3 play­er, pois é muito rel­a­ti­vo depen­den­do da capaci­dade de armazena­men­to, mas para os ain­da não ini­ci­a­dos isso aca­ba ain­da sendo algo muito distante.

    Mas vamos real­mente ao que inter­es­sa, o con­teú­do da con­ver­sa! Ain­da é difí­cil sair do apoc­alíp­ti­co ques­tion­a­men­to se o livro impres­so vai mor­rer ou não quan­do se fala sobre o livro dig­i­tal e aqui não foi muito difer­ente, mas o inter­es­sante foi que a opinião dos par­tic­i­pantes era bem diver­sa a respeito do assunto.

    Daniel Pin­sky, sócio dire­tor da Edi­to­ra Con­tex­to, era dos três o mais mar­keteiro — intu­si­as­ta seria muito pouco — a respeito dos livros dig­i­tais, logo mostran­do seu apar­el­ho Kin­dle e citan­do várias de suas van­ta­gens. Uma delas era o fato de que caso o mes­mo que­brasse e ele tivesse que com­prar um out­ro, teria somente o gas­to do equipa­men­to, pois os livros ain­da estari­am disponíveis nos servi­dores da Ama­zon, que é a empre­sa cri­ado­ra e vende­do­ra exclu­si­va dos títu­los para o apar­el­ho, e o aces­so aos livros não seri­am per­di­dos. Tudo muito legal e boni­to, mas infe­liz­mente ele não lev­ou em con­sid­er­ação que a com­pra do apar­el­ho aqui no Brasil não é nada acessív­el, pois só pode ser fei­ta pelo site ofi­cial da empre­sa que está em inglês e as com­pras são feitas em dólares, pre­cisan­do então de um cartão de crédi­to inter­na­cional. Ou seja, a com­pra do apar­el­ho já está lim­i­ta­da ape­nas para um grupo muito pequeno de pessoas.

    Essa questão da difi­cul­dade de aces­so aos apar­el­hos acabou surgin­do mais tarde, mas os três par­tic­i­pantes con­cor­davam na ideia de que daqui a alguns anos os tablets seri­am tão pop­u­lares quan­tos os celu­lares hoje em dia, que no iní­cio tam­bém não se acha­va que iria ser acessív­el ao grande públi­co. Daniel tam­bém lem­brou que com a aprovação recente de isenção fis­cal para os tablets, o preço dos leitores de e‑books dev­erá diminuir. Ele acred­i­ta que os edi­tores aqui no Brasil ain­da estão muito ape­ga­dos ao mod­e­lo tradi­cional de negó­cio, muitos deles nem con­seguiam enx­er­gar out­ros tipos de mod­e­los, e que eles dev­e­ri­am repen­sar isso, pois a maior parte do futuro será digital.

    Em relação a essa mudança no mer­ca­do edi­to­r­i­al, Car­lo Car­ren­ho, sócio-fun­dador da Pub­lish­News, comen­tou que muitas vezes o que acon­tece hoje em dia no Brasil, jus­ta­mente por esse prob­le­ma de visão, é que quem aca­ba pagan­do o pre­juí­zo do livro físi­co é o livro dig­i­tal, por isso do seu preço ain­da ser tão ele­va­do, sendo as vezes até igual ao impres­so, o que não faz nen­hum sentido.

    Entran­do mais no assun­to do livro dig­i­tal e da Cul­tura Dig­i­tal em si, Giselle Beiguel­man, pro­fes­so­ra uni­ver­sitária e edi­to­ra-chefe da revista Select, comen­tou que já hou­ve inúmeras mortes e ressureições do livro eletrôni­co dev­i­do a sua pre­cariedade e que ago­ra com a chega­da de apar­el­hos como Kin­dle e IPad isto está começan­do a mudar, ape­sar de ain­da não serem ideais. Ain­da afir­ma que a ideia do “fim do livro impres­so” é uma visão meio apoc­alíp­ti­ca, pois, como exem­p­lo, o cin­e­ma não acabou com o teatro, a tele­visão não acabou com o cin­e­ma, … e por aí vai.

    Car­lo tam­bém con­cor­dou que o livro físi­co não vai acabar e comen­tou que todos os prob­le­mas que o livro dig­i­tal resolvia para a edi­to­ra, a impressão sob deman­da (somente um livro de cada vez, não 5, 10 ou mais) resolvia grande parte deles. Esta maneira de impressão está cada vez fican­do mais bara­ta e nos Esta­dos Unidos recen­te­mente se tornou eco­nomi­ca­mente viáv­el para o mercado.

    Um tema que sem­pre vem jun­to com a dis­cussão do livro dig­i­tal é a questão da pirataria. Daniel se mostrou bas­tante pre­ocu­pa­do com o assun­to e defend­eu que um dos papeis da edi­to­ra seria pro­te­ger os livros dig­i­tais con­tra a cópia ile­gal, usan­do DRMs e out­ros meios de segu­rança, para poder obter o seu lucro. Já Car­lo e Giselle não achavam esta questão tão impor­tante, sendo que ele inclu­sive acred­i­ta­va que daqui a alguns anos não vai ter mais DRMs e afins.

    A maior sur­pre­sa da con­ver­sa com certeza foi a Giselle, que tin­ha óti­mas opiniões sobre o livro dig­i­tal e tam­bém dele como um todo. Segun­do ela, o livro impres­so seria o obje­to mais estáv­el cri­a­do no cam­po da indús­tria cul­tur­al des­de os seus primór­dios. Ele pos­sui o design mais per­feito da história, pois é o úni­co que tem mais de mil anos e nun­ca pre­cisou mudar.Também lem­brou que pen­sar no livro dig­i­tal seria pen­sar em todo o âmbito do dig­i­tal e que tem coisas que fazem mais sen­ti­do estar numa ver­são do IPad, out­ras em um site e out­ras no meio impres­so, mas que nen­hum é mel­hor do que a out­ro. Além dis­so ain­da comen­tou que o impasse ago­ra seria pen­sar o livro além da página.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o seu com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

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  • Exposição “A Evolução em Imagens” de Jens Harder

    Exposição “A Evolução em Imagens” de Jens Harder

    Acon­te­ceu no dia 15 de Jul­ho a aber­tu­ra da exposição “A Evolução em Ima­gens” do ilustrador alemão Jens Hard­er, no Goethe Insti­tute de Curiti­ba, que veio para o Brasil par­tic­i­par da Gibi­con #0. O inter­ro­gAção tam­bém esta­va lá e além de ter acom­pan­hado o even­to, con­ver­sou pes­soal­mente com o autor. Para quem não ficou saben­do, a Gibi­con é a Con­venção Inter­na­cional de Quadrin­hos de Curiti­ba, que ocor­reu durante os dias 15 a 17 de julho.

    As obras expostas no Goethe Insti­tute são uma seleção de pági­nas ampli­adas do livro Alpha… direc­tions, ain­da inédi­to no Brasil (mas sei que havia alguns exem­plares para ven­da na Itiban Com­ic Shop), que con­ta a história da evolução des­de o Big Bang ao surg­i­men­to dos primeiros seres humanos. Antes que alguém diga que isso é impos­sív­el, o próprio Jens afir­mou que não há como descr­ev­er ess­es quase 14 bil­hões de anos em ape­nas 352 pági­nas, o que daria em média 25 pági­nas por bil­hão de anos, e que seria uma pia­da ter essa pre­ten­são, mas ele pelo menos apos­tou na tentativa.

    Na cri­ação de Alpha… direc­tions, hou­ve uma grande pesquisa cien­tí­fi­ca para poder retratar todas essas fas­es da evolução. Por con­ta dis­so, a críti­ca que a obra está receben­do do mun­do cien­tí­fi­co a respeito dess­es aspec­tos está sendo bem pos­i­ti­va, mas Jens não que­ria faz­er algo pura­mente téc­ni­co, então adi­cio­nou várias refer­ên­cias engraçadas den­tro de seus desen­hos, que vão des­de Godzi­la á Tintin. E, falan­do em refer­ên­cias, o autor tam­bém comen­tou que gos­ta muito de mis­tu­rar ele­men­tos de vários tipos de mídias em seus desen­hos, prin­ci­pal­mente pegar ilus­trações bem anti­gas e tra­bal­há-las em cima de mídias atu­ais, como os quadrinhos.

    Des­de cri­ança, Jens era um grande admi­rador de arque­olo­gia, biolo­gia e astrono­mia e faz­er a obra Alpha… direc­tions, era um son­ho que ele já tin­ha faz tem­po, mas que sabia que iria exi­gir muito tra­bal­ho e de fato exigiu, foram 4 anos para finalizar a obra. Mas, este é ape­nas o primeiro vol­ume de uma trilo­gia, onde o próx­i­mo será Beta…civilizations, que irá tratar da evolução do homem e da civ­i­liza­ção, e por últi­mo Gamma…visions, onde ele pre­tende visu­alizar difer­entes cenários para o futuro da humanidade.

    Em uma con­ver­sa com o inter­ro­gAção, Jens Hard­er acres­cen­tou que acha muito boa ini­cia­ti­vas como a Gibi­con aqui no Brasil e que esta­va gostan­do muito da maneira como as pes­soas par­tic­i­pam aqui de even­tos do gênero. Na Ale­man­ha, encon­tros assim não são muito comuns, há mais even­tos muito pequenos e um grande a cada dois anos. O mer­ca­do de quadrin­hos tam­bém havia muda­do muito nos últi­mos 10 anos em seu país de origem, antes era algo bem menor, con­sti­tuí­do prin­ci­pal­mente de desen­his­tas e alguns edi­tores que pro­duzi­am e imprim­i­am as obras de for­ma total­mente inde­pen­tente e com poucos vol­umes. Hoje já há um mer­ca­do bem maior e, como aqui no Brasil, os quadrin­hos estão gan­han­do espaços nas livrarias e em algu­mas, até já ocu­pam várias prateleiras.

    Jens ain­da não con­hecia muitos autores brasileiros, ape­nas os mais comen­ta­dos, e que ain­da é difí­cil chegar quadrin­hos da Améri­ca Lati­na na Ale­man­ha, as vezes aparece um ou out­ro argenti­no, mas é bem escas­so ainda.

    Quan­do per­gun­ta­mos sobre como ele vê a inter­net em relação ao seu tra­bal­ho, respon­deu que ela é mais como um meio de divul­gação, para colo­car uma peque­na amostra das suas obras. Jens disse não con­seguir imag­i­nar pes­soas lendo quadrin­hos em uma tela peque­na, como a de um Iphone por exem­p­lo. Ele gos­ta de poder apre­ciar a leitu­ra no papel, poden­do ver os pequenos detal­h­es dos desen­hos, algo que con­sid­era difí­cil faz­er em uma tela, e que muitas vezes uti­liza a inter­net para vis­i­tar o site de um autor descon­heci­do, para con­hecer um pouco mais sobre ele e depois poder com­prar a obra em papel e, se pos­sív­el, ter a sat­is­fação de con­seguir um autó­grafo pes­soal­mente do autor.

    Acon­te­ceu no dia 15 de Jul­ho a aber­tu­ra da exposição “A Evolução em Ima­gens” do ilustrador alemão Jens Hard­er, no Goethe Insti­tute de Curiti­ba, que veio para o Brasil par­tic­i­par da Gibi­con #0. O inter­ro­gAção tam­bém esta­va lá e além de ter acom­pan­hado o even­to, con­ver­sou pes­soal­mente com o autor. Para quem não ficou saben­do, a Gibi­con é a Con­venção Inter­na­cional de Quadrin­hos de Curiti­ba, que ocor­reu durante os dias 15 a 17 de julho.

    http://gibicon.com.br/

    As obras expostas no Goethe Insti­tute são uma seleção de pági­nas ampli­adas do livro Alpha… direc­tions, ain­da inédi­to no Brasil (mas sei que havia alguns exem­plares para ven­da na Itiban Com­ic Shop), que con­ta a história da evolução des­de o Big Bang ao surg­i­men­to dos primeiros seres humanos. Antes que alguém diga que isso é impos­sív­el, o próprio Jens afir­mou que não há como descr­ev­er ess­es quase 14 bil­hões de anos em ape­nas 352 pági­nas, o que daria em média 25 pági­nas por bil­hão de anos, e que seria uma pia­da ter essa pre­ten­são, mas ele pelo menos apos­tou na ten­ta­ti­va.

    http://itiban.blogspot.com/

    Na cri­ação de Alpha… direc­tions, hou­ve uma grande pesquisa cien­tí­fi­ca para poder retratar todas essas fas­es da evolução. Por con­ta dis­so, a críti­ca que a obra está receben­do do mun­do cien­tí­fi­co a respeito dess­es aspec­tos está sendo bem pos­i­ti­va, mas Jens não que­ria faz­er algo pura­mente téc­ni­co, então adi­cio­nou várias refer­ên­cias engraçadas den­tro de seus desen­hos, que vão des­de Godzi­la á Tintin. E, falan­do em refer­ên­cias, o autor tam­bém comen­tou que gos­ta muito de mis­tu­rar ele­men­tos de vários tipos de mídias em seus desen­hos, prin­ci­pal­mente pegar ilus­trações bem anti­gas e tra­bal­há-las em cima de mídias atu­ais, como os quadrinhos.

    Des­de cri­ança, Jens era um grande admi­rador de arque­olo­gia, biolo­gia e astrono­mia e faz­er a obra Alpha… direc­tions, era um son­ho que ele já tin­ha faz tem­po, mas que sabia que iria exi­gir muito tra­bal­ho e de fato exigiu, foram 4 anos para finalizar a obra. Mas, este é ape­nas o primeiro vol­ume de uma trilo­gia, onde o próx­i­mo será Beta…civilizations, que irá tratar da evolução do homem e da civ­i­liza­ção, e por últi­mo Gamma…visions, onde ele pre­tende visu­alizar difer­entes cenários para o futuro da humanidade. 

    Em uma con­ver­sa com o inter­ro­gAção, Jens Hard­er acres­cen­tou que acha muito boa ini­cia­ti­vas como a Gibi­con aqui no Brasil e que esta­va gostan­do muito da maneira como as pes­soas par­tic­i­pam aqui de even­tos do gênero. Na Ale­man­ha, encon­tros assim não são muito comuns, há mais even­tos muito pequenos e um grande a cada dois anos. O mer­ca­do de quadrin­hos tam­bém havia muda­do muito nos últi­mos 10 anos em seu país de origem, antes era algo bem menor, con­sti­tuí­do prin­ci­pal­mente de desen­his­tas e alguns edi­tores que pro­duzi­am e imprim­i­am as obras de for­ma total­mente inde­pen­tente e com poucos vol­umes. Hoje já há um mer­ca­do bem maior e, como aqui no Brasil, os quadrin­hos estão gan­han­do espaços nas livrarias e em algu­mas, até já ocu­pam várias prateleiras.

    Jens ain­da não con­hecia muitos autores brasileiros, ape­nas os mais comen­ta­dos, e que ain­da é difí­cil chegar quadrin­hos da Améri­ca Lati­na na Ale­man­ha, as vezes aparece um ou out­ro argenti­no, mas é bem escas­so ainda.

    Quan­do per­gun­ta­mos sobre como ele vê a inter­net em relação ao seu tra­bal­ho, respon­deu que ela é mais como um meio de divul­gação, para colo­car uma peque­na amostra das suas obras. Jens disse não con­seguir imag­i­nar pes­soas lendo quadrin­hos em uma tela peque­na, como a de um Iphone por exem­p­lo. Ele gos­ta de poder apre­ciar a leitu­ra no papel, poden­do ver os pequenos detal­h­es dos desen­hos, algo que con­sid­era difí­cil faz­er em uma tela, e que muitas vezes uti­liza a inter­net para vis­i­tar o site de um autor descon­heci­do, para con­hecer um pouco mais sobre ele e depois poder com­prar a obra em papel e, se pos­sív­el, ter a sat­is­fação de con­seguir um autó­grafo pes­soal­mente do autor.

  • Teatro: Os Catecismos segundo Carlos Zéfiro, em Curitiba

    Teatro: Os Catecismos segundo Carlos Zéfiro, em Curitiba

    Paulo Bis­ca­ia é con­heci­do por tra­bal­hos num esti­lo de teatro mais extremo, em boa parte das vezes volta­do ao ter­ror, ao trash, ao lado B das nar­ra­ti­vas. Em out­ros tem­pos pode­ria se diz­er que ele tem uma tendên­cia ao mar­gin­al — ter­mo que virou cult nos tem­pos de hoje — mas o curitibano vem mostra­do um pouco além dis­so com os tra­bal­hos na Com­pan­hia Vig­or Mor­tis e recen­te­mente com a peça, de cur­ta tem­po­ra­da em Curiti­ba, Os Cate­cis­mos de Car­los Zéfiro, escrito pelo próprio Bis­ca­ia em parce­ria com a atriz Clara Sere­jo.

    Os Cate­cis­mos de Car­los Zéfiro é con­ta­do a par­tir da pesquisa que Juca Kfouri — na época edi­tor da revista Play­boy — escreveu sobre o under­ground quadrin­ista de esti­lo pornográ­fi­co — e em ple­na ditadu­ra mil­i­tar — que se pop­u­lar­i­zou graças à clan­des­tinidade das ban­cas de jor­nal do Rio de Janeiro e a boemia car­i­o­ca que sabia apre­ciar o tra­bal­ho do artista. A peça se propõe jus­ta­mente a retratar o recorte da vida de Zéfiro, um supos­to homem de família e sua dual vida como quadrin­ista clandestino.

    Anal­isan­do do pon­to de vista nar­ra­ti­vo-literário — pois só con­heço de leituras os tra­bal­hos do dire­tor — Os Cate­cis­mos de Car­los Zéfiro man­tém a nar­ra­ti­va lin­ear que oscila entre o dra­ma e a comé­dia, con­tan­do com a colagem de dois per­son­agens nar­radores dos diál­o­gos dos quadrin­hos que fun­cionam como pausas da história, dan­do um ar cômi­co-eróti­co dos enre­dos ofi­ci­ais picantes dos cate­cis­mos, inter­pre­ta­dos por voz pela atriz Mar­ti­na Gal­larza e o ator Jandir Fer­rari.

    A inter­pre­tação dos atores fez jus ao esti­lo da época, prin­ci­pal­mente a per­son­agem de Clara Sere­jo que tin­ha uma car­i­catu­ra bem típi­ca das chamadas pin-ups com um pouco de exagero nos tre­jeitos. Não só Clara, mas o elen­co todo esta­va car­i­ca­to sufi­ciente para dar luz aos per­son­agens que davam vida à com­posição do cotid­i­ano de Car­los Zéfiro. A úni­ca recla­mação do públi­co que assis­tiu a peça no dia 15 de maio, no Guair­in­ha, foi o fato do per­son­agem Nel­son Rodrigues, inter­pre­ta­do por Jandir Fer­reira, ter fuma­do no pal­co com o teatro fecha­do. Talvez pudesse ser um ele­men­to repen­sa­do na cena, já que em espaços públi­cos não se pode pri­orizar somente a arte ou somente os espectadores.

    O uso de ele­men­tos de cenário como o mate­r­i­al mul­ti­mí­dia, que alter­na­va entre várias ima­gens dos quadrin­hos de Zéfiro e out­ras que cri­avam situ­ações de cena, deixaram à mostra a mar­ca do dire­tor con­heci­do pela hib­ridiza­ção entre teatro, cin­e­ma, quadrin­hos e pitadas de ero­tismo. Aliás, o uso desse mate­r­i­al que­brou um pouco o rit­mo — e sen­sação — de lin­eari­dade do teatro mais clás­si­co que Os Cate­cis­mos de Car­los Zéfiro se prop­un­ha num primeiro momen­to, crian­do uma per­for­mance difer­ente no pal­co e sen­sações inter­es­santes de espaço no espectador.

    O foco do enre­do de Os Cate­cis­mos de Car­los Zéfiro é a biografia do ilustrador, a apre­sen­tação do esti­lo picante da nar­ra­ti­va dele com a imagem de alguns quadrin­hos, se aten­do mais ao fato dele viv­er no anon­i­ma­to e da relação dual dele como Alcides Cam­in­ha, o fun­cionário públi­co e o quadrin­ista-mar­gin­al. A peça cumpre o que se propõe: apre­sen­tar, ou ain­da, traz­er à tona a figu­ra desse per­son­agem under­ground, que por motivos óbvios de repressão sex­u­al — que hoje é aparente­mente um assun­to mais aber­to e na moda — e pelo perío­do de inco­mu­ni­ca­bil­i­dade da Ditadu­ra Mil­i­tar, não ficou muito conhecido.

    Um dos aspec­tos inter­es­santes da pro­pos­ta de traz­er à tona Os Cate­cis­mos de Car­los Zéfiro é explic­i­tar que os quadrin­hos eróti­cos sem­pre foram under­ground, que é tam­bém con­sid­er­a­do um grande méri­to segun­do os maiores fãs que con­tam que já foi prati­ca­mente cult as revis­tas de fotonov­ela pornô. Afi­nal, o que moti­va­va alguém como o fun­cionário públi­co Alcides Cam­in­ha a escr­ev­er suas aven­turas sex­u­ais naque­la época e o que moti­va alguém a escr­ev­er, colo­can­do ele em voga de novo?

    Claro que, uma análise nar­ra­ti­va não pode com­pe­tir com uma análise mais pro­fun­da de atu­ação e dra­matur­gia em si, o espaço e tem­po são difer­entes e sabe-se da pro­fun­di­dade do tra­bal­ho de preparo como pesquisa e atu­ação que devem ser lev­a­dos em con­ta. Por­tan­to, Os Cate­cis­mos de Car­los Zéfiro é uma peça que entretem, geran­do momen­tos de cli­max que man­tém o espec­ta­dor sat­is­feito através das con­venções nar­ra­ti­vas. Não deixa nada muito explíc­i­to, e ao meu ver esse ele­men­to pode­ria ter tor­na­do o tra­bal­ho bem genial, mas é uma obra que se propõe a tirar do anon­i­ma­to o Car­los Zéfiro que viveu durante anos no imag­inário dos seus fãs.

  • Lançamento ¨Jornal MEMAI¨ e livro ¨Poesia sem pele¨, em Curitiba

    Lançamento ¨Jornal MEMAI¨ e livro ¨Poesia sem pele¨, em Curitiba

    Nem sem­pre um lança­men­to de obra literária pre­cisa beirar ao glam­our ou ain­da, ser em um even­to foca­do em somente Lit­er­atu­ra. Nos moldes mais under­ground, acon­te­ceu no dia 10 de maio o lança­men­to dup­lo do livro Poe­sia sem pele, de Lau Siqueira e do jor­nal MEMAI, de cul­tura, artes e Letras Japone­sas, no Brook­lyn Café, em Curitiba.

    Mes­mo con­tan­do com um número pequeno de pes­soas o even­to foi sufi­ciente para reforçar con­tatos e con­hecer um pouco da pro­dução de escritores que usam a inter­net e algu­mas redes soci­ais como prin­ci­pal meio de divul­gar seus tra­bal­hos e cri­ar amizades. Por exem­p­lo, o poeta gaú­cho Lau Siqueira — que hoje vive na Paraí­ba — con­heceu alguns dos orga­ni­zadores do Jor­nal MEMAI e escritores curitibanos através do site Face­book e assim pôde lançar seu livro por aqui. Situ­ações que são aparente­mente inusi­tadas mas que fun­cionam muito bem para escritores que não cir­cu­lam pelo main­stream editorial.

    O jor­nal MEMAI é uma ini­cia­ti­va muito bacana em divul­gar assun­tos cul­tur­ais nipôni­cos, des­de con­tos e livros a cin­e­ma e fotos. Ele é dis­tribui­do gra­tuita­mente e tam­bém pode ser lido e baix­a­do na ínte­gra no seu site. Esta edição con­ta com várias coisas inter­es­santes como uma apan­hado sobre o ilustrador Osamu Tesu­ka, tem História sobre a tran­sição do perío­do Mei­ji até dicas óti­mas de cin­e­ma japonês.

    Acred­i­to que even­tos assim fun­cionem mais certeira­mente do que even­tos grandes volta­dos à Lit­er­atu­ra. Claro que a pro­lif­er­ação de even­tos tem colab­o­ra­do — e muito — para que leitores e escritores estre­it­em laços, mas os even­tos maiores ain­da colo­cam ambos cada um em seu lugar, sem muito aces­so e facil­i­dade na tro­ca de ideias. E a inter­net — que tem sido trata­da como grande vilã de livros e Lit­er­atu­ra — per­mite que ess­es escritores do pre­sente cir­culem Brasil afo­ra divul­gan­do e venden­do seu tra­bal­ho, crian­do ações inédi­tas, inclu­sive, para os nomes de grande circulação.

    *Foto por Andréa Mot­ta, veja mais algu­mas aqui.

  • Zoona: Encontro Literário de Curitiba

    Zoona: Encontro Literário de Curitiba

    Nas últi­mas sem­anas vem se espal­ha­do uma inqui­etação em torno da Lit­er­atu­ra con­tem­porânea no Brasil. Os críti­cos e pro­fes­sores Alcir Péco­ra e Beat­riz Rezende tiver­am uma dis­cussão per­ti­nente em torno do assun­to, na pro­pos­ta de pro­gra­ma Desente­d­i­men­to do blog do Insti­tu­to Mor­eira Salles. Alguns dos pon­tos mais ques­tion­adores foi a que Lit­er­atu­ra pro­duzi­da atual­mente é estran­hamente con­t­a­m­i­na­da por out­ras artes se tor­nan­do sem iden­ti­dade, sem muitas novi­dades, como afir­ma com algu­mas palavras o pro­fes­sor da Unicamp.

    Tor­nan­do a dis­cussão uma falá­cia, para­le­la­mente ao caos via web que a dis­cussão causa­va, acon­te­ceu na mes­ma sem­ana, em Curiti­ba, o even­to Zoona Literária, jus­ta­mente trazen­do muitas das vozes con­tem­porâneas con­t­a­m­i­nadas, segun­do a acad­e­mia. O even­to acon­te­ceu nos dias 15,16 e 17 de abril, com a curado­ria do poeta e pro­fes­sor Clau­dio Daniel e da artista e escrito­ra Joana Coro­na. O even­to — como me disse por alto o mul­ti-artista Ricar­do Coro­na — tin­ha a intenção de faz­er uma real zona, no sen­ti­do colo­quial de bagunça e diver­são, tiran­do do eixo a atu­al cena literária de Curitiba. 

    Hom­e­nage­an­do os escritores Valên­cio Xavier e Wil­son Bueno, o Zoona Literária con­tou com escritores e artis­tas que têm suas obras tam­bém pon­tu­adas por um deli­cioso exper­i­men­tal­is­mo e uma relação inti­ma — e necessária — de Lit­er­atu­ra, Artes Plás­ti­cas, Teatro, Cin­e­ma e uma boa lista de out­ras pos­si­bil­i­dades. Um dos aspec­tos mais inter­es­santes das mesas-redondas foi jus­ta­mente os assun­to que cir­cu­lou em cada uma delas, mes­mo que o tema vari­asse: a for­ma leviana como a acad­e­mia con­ser­vado­ra do país e, inclu­sive, a mídia tratam as novas exper­i­men­tações e toda pro­dução literária que ven­ha acom­pan­ha­da da palavra contemporâneo.

    Além do lança­men­to do suple­men­to literário do even­to, o jor­nal Vagau, o Zoona con­tou com muitos escritores — de vários can­tos do país — lançan­do seus tra­bal­hos, por edi­toras inde­pen­dentes — ou menos descon­heci­das — do cir­cuito cos­tumeiro. Aí out­ro pon­to inter­es­sante do Zoona Literária, um momen­to para nomes do cir­cuito mais under­ground — mes­mo sendo fora de moda usar esse ter­mo em pleno ano 2011 com o auge das mídias soci­ais — terem voz, mostrarem, lerem e dis­cu­tirem suas pro­duções. Ain­da, teve leituras de nov­ela, poe­sia e tex­tos em ger­al com per­for­mances, videoartes, doc­u­men­tários e todo tipo de mate­r­i­al que traz à tona o hib­ridis­mo e poli­fo­nia geni­ais em que a pro­dução atu­al opera.

    Mas os pon­tos mais altos do Zoona Literária foram as mesas redondas pau­tadas sobre algu­ma polêmi­ca que movi­men­ta­va a plateia e os debate­dores. Assun­tos como a con­t­a­m­i­nação da Lit­er­atu­ra com Artes Visuais e os exper­i­men­tal­is­mos que a poe­sia vive des­de o Con­cretismo (e até antes) que con­fig­u­ram muito o sta­tus atu­al, per­me­ar­am as primeiras dis­cussões. Depois os debates ficaram mais inten­sos e além de todo o time de escritores óti­mos que ain­da vivem ain­da no anon­i­ma­to, o Zoona con­tou com a par­tic­i­pação dos con­heci­dos Luiz Ruffa­to e Joca Rein­ers Ter­ron.

    Nesse momen­to a dis­cussão ficou mais no entorno dos meios e for­mas que a Lit­er­atu­ra atu­al vem se con­fig­u­ran­do através da inter­net e o adven­to de novas tec­nolo­gias para leitu­ra. Ain­da, se dis­cu­tiu a questão de gêneros den­tro da prosa chama­da de mín­i­ma e o assun­to se tornou ain­da mais inter­es­sante quan­do surgiu o ques­tion­a­men­to sobre as escol­has de um autor na hora de escr­ev­er. E para finalizar o dia, a últi­ma mesa redon­da do sába­do man­teve um olhar sobre os tra­bal­hos de Valên­cio Xavier e Wil­son Bueno, dan­do um âni­mo a mais para os entu­si­as­tas dessa Lit­er­atu­ra tão rica e híbri­da. Quase impos­sív­el ressaltar todas as falas impor­tantes que acon­te­ce­r­am ness­es dias de inten­sa movi­men­tação Literária.

    Um even­to como o Zoona Literária é uma ati­tude lou­váv­el e ousa­da, per­mi­tiu que uma parcela dos leitores e autores da lit­er­atu­ra do pre­sente pudessem dialog­ar e encon­trar for­mas de tornar essas relações mais conc­re­tas. Se con­fir­ma a ideia de que a par­tir do momen­to que a lit­er­atu­ra dialo­ga com out­ras artes, ela deixa de ser pura­mente lit­er­atu­ra, pas­sa a ser uma cri­ação e aí que reside a difi­cul­dade da acad­e­mia aceitar tra­bal­hos mais ousa­dos. Mas, con­ven­hamos, a lin­guagem não tem lim­ites e como diz o filó­so­fo ital­iano Gior­gio Agambem: Con­tem­porâ­neo é aque­le que recebe em pleno ros­to o facho de trevas que provém de seu tem­po. E bem, com trevas os escritores e pesquisadores da Lit­er­atu­ra Con­tem­porânea lidam todos os dias.

  • Crítica: Fora-da-lei

    Crítica: Fora-da-lei

    crítica Fora-da-leiFora-da-lei (Hors-la-Loi, França/Argélia/Bélgica, 2010), com roteiro e direção de Rachid Bouchareb, é bem mais do que ape­nas um filme de ação, ide­ológi­co, ou até históri­co. Além de jun­tar ess­es três ele­men­tos de maneira pri­morosa, é cri­a­do uma atmos­fera de época belís­si­ma que em con­jun­to com um enre­do bem desen­volvi­do torna‑o um lon­ga muito interessante.

    Abdelka­d­er, Mes­saoud e Said são três irmãos argeli­nos que, após serem expul­sos de sua ter­ra natal seguem cam­in­hos sep­a­ra­dos. Depois de alguns anos eles voltam a se reen­con­trar na França para, cada um de sua maneira, lutar pela liber­dade pes­soal e de sua nação.

    Difer­ente de muitas out­ras rep­re­sen­tações de movi­men­tos com luta arma­da, Fora-da-lei não se uti­liza daque­le tom aven­tureiro e, de cer­ta for­ma, van­glo­ri­ador — para não diz­er fan­tás­ti­co ou utópi­co — das ações e vidas dessas pes­soas. Sua visão está mais para um filme de guer­ra, onde o máx­i­mo de glam­our que você pode ter são roupas — ou uni­formes — mais boni­tos e armas mais poderosas, mas não escon­den­do em nen­hum momen­to a situ­ação real dessas pes­soas. Aliás, o esti­lo estéti­co remete bas­tante aos filmes de mafiosos, que ficou uma mis­tu­ra bem inter­es­sante jun­to com o con­tex­to político.

    Aliás, a políti­ca é o tema prin­ci­pal do lon­ga e em cada um dos três per­son­agens prin­ci­pais de Fora-da-lei, temos um pen­sa­men­to bem difer­ente de como faz­er uma rev­olução. Um é o teóri­co ao extremo que não con­segue aplicá-la na práti­ca, out­ro um ex-sol­da­do que ape­nas sabe seguir ordens e usar sua força e por fim, o últi­mo imag­i­na uma meio indi­re­to e com­ple­ta­mente difer­ente dos out­ros dois, e da maio­r­ia destes rev­olu­cionários, de real­mente cos­neguir mudar algo. Este con­fli­to de ideais e cam­in­hos diver­gentes é algo muito per­ti­nente quan­do se dis­cute esta questão tam­bém fora das telas. Mas o filme tam­bém não se propõe a dar uma respos­ta exa­ta para ela, cada um terá uma con­clusão depen­den­do de sua própria visão. Pois não há, nem nun­ca hou­ve, só uma respos­ta “cer­ta”.

    Fora-da-lei é um filme lon­go (2h18min) — em relação à maio­r­ia dos lança­men­tos — mas isso per­mi­tiu tam­bém um desen­volvi­men­to maior da for­mação de seus per­son­agens e da própria história. Mas a tran­sição entre os perío­dos do enre­do, sem­pre exibindo a data ou a estação do ano, infe­liz­mente, acabou sendo meio con­fusa e muitas vezes até desnecessária. Cul­pa talvez de um dese­jo da cri­ação de algo, de cer­ta for­ma, mais doc­u­men­tal. Mas graças a boa estru­tu­ra da história e cenas de ação bem con­struí­das, não ficou cansativo.

    É prin­ci­pal­mente o ques­tion­a­men­to ide­ológi­co que se desta­ca, mes­mo haven­do cenas com mui­ta vio­lên­cia e ação, lev­an­tan­do várias questões não só sobre os atos, mas tam­bém o impacto real que eles causam. Como saber o que real­mente fez a difer­ença? Para con­cluir, Fora-da-lei é um filme que se você tiv­er opor­tu­nidade de ver no cin­e­ma, com certeza vale o ingres­so! Caso o con­trário, sem­pre há a opção de alugá-lo.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=qAljVInNDik

  • Crítica: Elvis e Madona

    Crítica: Elvis e Madona

    crítica elvis e madonaSão poucos os filmes de comé­dia român­ti­ca que con­seguem sair um pouco do padrão do gênero. Elvis e Madona (Brasil, 2010), dirigi­do por Marce­lo Laf­fitte, faz da inver­são de opções sex­u­ais dos per­son­agens prin­ci­pais, o grande chama­riz para o seu lon­ga sair do lugar comum.

    Elvis (Simone Spo­ladore) é uma moto­ci­clista que son­ha em ser fotó­grafo e em uma de suas entre­gas como “moto­girl” de uma piz­zaria, con­hece Madona (Igor Cotrim), uma cabel­ereira que son­ha em pro­duzir um show de teatro. Deste encon­tro inusi­ta­do, entre uma lés­bi­ca e um trav­es­ti, nasce uma história de amor nada convencional.

    Em Elvis e Madona temos todos os clichês das comé­dias român­ti­cas, mas por traz­er essa roupagem difer­en­ci­a­da, con­segue des­per­tar o lado cômi­co deles. Ape­sar dis­so, não traz nada mais inusi­ta­do, ou inteligente, sobre o assun­to. Graças a uma tril­ha sono­ra bem pre­sente e agi­ta­da, muitas situ­ações do lon­ga se tor­nam menos cansativas do que real­mente seri­am se não hou­vesse esse recur­so. Inclu­sive, uma de suas músi­cas é “Reflexo” da ban­da Beep-Polares, que é lid­er­a­da pelo próprio Igor Cotrim.

    O foco do filme é mes­mo a con­strução e o desen­volvi­men­to do amor entre esse dois per­son­agens, sem faz­er qual­quer ques­tion­a­men­to ou apro­fun­da­men­to em relação a opção sex­u­al de cada um deles. Ape­sar de em pou­cas cenas de Elvis e Madona haver um pre­con­ceito de out­ros per­son­agens, des­de incom­preen­são á repul­sa ficar mais aparente, essas situ­ações são rap­i­da­mente igno­radas ou concluídas.

    Elvis e Madona é um filme mais para diver­são, bem cin­e­ma pipoca, que ques­tiona com o con­ceito de casal mais usu­al, além é claro de tam­bém mex­er na feri­da do pre­con­ceito de muitos. Se você esta­va esperan­do algo mais ques­tion­ador e pro­fun­do sobre a questão de gêneros, este não é o lon­ga que você esta­va procurando.

    Após a exibição do filme no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, hou­ve uma con­ver­sa com o ator Igor Cotrim, que falou um pouco sobre como foi sua preparação para o papel e tam­bém como hou­ve a pre­ocu­pação de não faz­er algo que ficas­se car­i­ca­to ou este­ri­oti­pa­do, além de out­ros detal­h­es sobre a pro­dução do longa.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=SUqDKzzxzgM

  • Festival Verão RS 2011: Danúbio

    Festival Verão RS 2011: Danúbio

    danubioDanúbio (Brasil, 2010), dirigi­do por Hen­rique Lima, é o primeiro doc­u­men­tário da série Grandes Mestres, sobre a vida e obra do artista plás­ti­co gaú­cho Danúbio Gonçalves. Na úni­ca sessão que foi exibi­da no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, esta­va pre­sente não só o dire­tor do doc­u­men­tário, mas tam­bém o próprio Danúbio, que após a exibição con­ver­saram um pouco com a plateia.

    Danúbio Vil­lamil Gonçalves, nasci­do em Bagé, RS, em 1925 é gravador, desen­hista, pin­tor e pro­fes­sor. Para ler mais sobre o artista, vis­ite a Wikipedia, Enci­clopé­dia Itaú Cul­tur­al ou no MARGS (este pos­sui um mate­r­i­al muito interessante).

    No doc­u­men­tário não há um nar­rador prin­ci­pal, ape­nas depoi­men­tos, que em grande parte são do próprio artista, geran­do um cli­ma de con­ver­sa bem pes­soal e amigáv­el. Há tam­bém várias tomadas exibindo as obras de Danúbio, o que é um pra­to cheio não só para aque­les que apre­ci­am a sua obra, mas tam­bém para aque­les que a descon­hecem. Durante quase toda a duração do lon­ga, uma tril­ha sono­ra quase sem­pre instru­men­tal, aju­da a man­ter o rit­mo de Danúbio, ape­sar de não ter sido necessária em várias situações.

    Em Danúbio, são mostra­dos tam­bém alguns tre­chos de filmes mex­i­canos muito inter­es­santes, como do dire­tor Gabriel Figueroa que já pos­suía uma téc­ni­ca, enquadra­men­tos e mon­ta­gens que só hoje em dia estão mais ado­ta­dos e muitas vezes quem os uti­liza serem mod­er­nos. Aliás, esta é uma das brigas do Danúbio, a incor­po­ração da tradição da arte oci­den­tal, pois se vive num momen­to de negação do pas­sa­do. O artista é um dos que defende bas­tante esta val­oriza­ção e deixa isto bem claro não só no doc­u­men­tário, mas na sua fala após a sua exibição em con­jun­to com o dire­tor que tam­bém defende esta posição.

    Para quem gos­ta de arte e quer con­hecer um pouco mais sobre a vida, obra e ideiais do artista, Danúbio é uma óti­ma opor­tu­nidade. Não é sem­pre que se vê um doc­u­men­tário tão bem feito sobre este gênero em ter­ritório nacional. Com certeza vale a pena assisti-lo!

    Con­fi­ra abaixo alguns tre­chos do doc­u­men­tário Danúbio:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=Is0-0aGxXNo

  • Festival Verão RS 2011: Espião Negro

    Festival Verão RS 2011: Espião Negro

    espião negro

    Espião Negro (The Spy in Black, Inglater­ra, 1939), de Michael Pow­ell, foi um dos qua­tro filmes da Mostra Michael Pow­ell e Emer­ic Press­burg­er que foram exibidos no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Alegre.

    Este foi meu primeiro, e infe­liz­mente ain­da úni­co, con­ta­to com a obra deste dire­tor. Fiquei sur­preeen­di­do com o roteiro do filme, que é bem inter­es­sante e inteligente, pos­suin­do algu­mas revi­ra­voltas muito bem estru­tu­radas. Além dis­so, o rit­mo mais cal­mo pre­sente no filme — algo prati­ca­mente inex­is­tente atual­mente no cin­e­ma mais com­er­cial, per­mite um desen­volvi­men­to maior das situ­ações, que a tor­na mais real, no sen­ti­do da tem­po­ral­i­dade com o mun­do fora das telas. Além dis­so, há situ­ações e diál­o­gos que por si só, valem a pena con­ferir o longa.

    Infe­liz­mente não con­segui ver os out­ros filmes da mostra do dire­tor, prin­ci­pal­mente Os Sap­at­in­hos Ver­mel­hos que me foi muito bem recomen­da­do, inclu­sive sendo com­para­do ao recente Cisne Negro, de Dar­ren Aronof­sky.

    Não encon­trei o trail­er do filme, mas ele pode ser assis­ti­do na ínte­gra no YouTube, mas acred­i­to que infe­liz­mente sem legendas.

  • Festival Verão RS 2011: Port Of Memory

    Festival Verão RS 2011: Port Of Memory

    Port of MemoryPort Of Mem­o­ry (França, 2009) é um doc­u­men­tário, dirigi­do por Kamal Alja­fari, que não dire­ciona o espec­ta­dor com palavras e nar­ra­ti­vas, ape­nas ima­gens. Acom­pan­hamos o dia a dia de uma família, que mora na em Jaf­fa na Palesti­na, e todas as peque­nas pecu­liari­dades de cada um de seus inte­grantes. Eles rece­ber­am uma ordem de despe­jo da sua casa, e sem saber muito o que faz­er, con­tin­u­am ten­tan­do seguir suas vidas em uma cidade já prati­ca­mente deserta.

    É bem difí­cil diz­er se as situ­ações que acom­pan­hamos são real­mente doc­u­men­tadas ou ficção, o que de cer­ta maneira, ficou bem inter­es­sante. A inter­pre­tação em ger­al, aca­ba fican­do mais para o espec­ta­dor de Port Of Mem­o­ry, que lida a todo momen­to com a dico­to­mia presença/ausência de som, pes­soas e até da própria realidade.

    Port of Mem­o­ry rece­beu o Prêmio Louis Mar­corelles de Cul­tures­france do Fes­ti­val do Ciné­ma du Réel 2010 e foi exibido no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Alegre.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=GcqjtRuPvus

  • Crítica: Ricky

    Crítica: Ricky

    crítica ricky

    Com uma sinopse nada con­vida­ti­va e um trail­er tão pouco explica­ti­vo quan­to ela, con­fes­so que Ricky (França/Itlália, 2009), com direção e roteiro de François Ozon, esta­va bem no fim da min­ha lista de filmes pos­sivel­mente inter­es­santes do 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Ale­gre. Mas, por motivos de horários, acabei indo assistí-lo e fui surpreendido.

    Katie e Paco são duas pes­soas comuns que acabam se con­hecen­do, se apaixo­nan­do e deste amor nasce um fil­ho. Só ele está longe de ser um bebê nor­mal, pode­ria muito bem se diz­er que ele é algo real­mente extraordinário.

    Muito explica­ti­vo este resumo, não? É jus­ta­mente com este mis­tério, que feliz­mente tam­bém é man­ti­do no trail­er, que Ricky con­segue ser uma bela sur­pre­sa para quem vai assistí-lo. O inter­es­sante foi que ape­sar do filme, sutil­mente, dar indí­cios do porque o bebê ser difer­ente, ele em nen­hum momen­to dá qual­quer expli­cação mais dire­ta, ou mirabolante. Alías, Ricky pos­sui bas­tante essa car­ac­terís­ti­ca de não ter a neces­si­dade de explicar as coisas, elas sim­ples­mente acon­te­cem e é isso. Esse ar mais de fan­ta­sia tam­bém lem­bra um pouco o cin­e­ma fan­tás­ti­co do Michael Gondry, com sua magia e ele­men­tos lúdicos.

    Todo o desen­volvi­men­to da história se foca nes­sa exceção acon­te­cen­do com pes­soas total­mente nor­mais, sem nen­hum grande luxo e edu­cação. Isto tor­na Ricky um filme de fácil iden­ti­fi­cação com o cotid­i­ano e as situ­ações apre­sen­tadas. Ao mes­mo tem­po ele tam­bém pos­sui um pouco da per­spec­ti­va dos fatos vis­tos pelos olhos de uma cri­ança, a irmã mais vel­ha dele, que tem um diál­o­go e uma visão total­mente difer­ente dos adultos.

    Algo tão sur­preen­dente assim aca­ba geran­do todos os tipos de reações e curiosi­dades. Alguns pen­sam só no estu­do cien­tí­fi­co do bebê, out­ros como uma maneira de gan­har din­heiro e fama, alguns não sabem que reação ter e por fim há tam­bém aque­les que o con­sid­er­am uma anom­alia que deve ser cura­do. Estas coisas, prin­ci­pal­mente a curiosi­dade da mãe em ten­tar enten­der e acom­pan­har mel­hor seu desen­volvi­men­to, acabam geran­do situ­ações muito engraçadas e tam­bém muitas vezes ques­tion­ado­ras, em relação a real intenção destas pessoas.

    Ricky é um filme diver­tido e tam­bém total­mente ines­per­a­do, que vale a pena ser assis­ti­do com uma men­tal­i­dade mais aber­ta para sur­pre­sas e situ­ações que sim­ples­mente acon­te­cem, sem mui­ta racional­iza­ção e/ou grandes teo­rias. O lon­ga foi Indi­ca­do no Fes­ti­val inter­na­cional de Berlin 2009 — Gold­en Berlin Bear (François Ozon).

    Para quem já viu o filme, alguém con­seguiu perce­ber a relação da cena ini­cial, na del­e­ga­cia, com o do filme? Se você acha que tem uma ideia, comente abaixo!

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=RHdP4R2spnw

  • Crítica: Profissão:Músico

    Crítica: Profissão:Músico

    profissão: músico

    A pop­u­lar­iza­ção do MP3 e do down­load de músi­cas pela inter­net mexeu com a estru­tu­ra do comér­cio da indús­tria fono­grá­fi­ca, e de várias out­ras tam­bém. Este é um fato inques­tionáv­el e con­heci­do por muitos, prin­ci­pal­mente pelos próprios artis­tas. Profis­são: Músi­co é um doc­u­men­tário, dirigi­do por Daniel Igná­cio Var­gas, que abor­da jus­ta­mente esta mudança a par­tir da per­spec­ti­va dess­es artistas.

    O doc­u­men­tário Profis­são: Músi­co con­ta um pouco da exper­iên­cia do Pro­je­to CCOMA, um duo de jazz instru­men­tal con­tem­porâ­neo, com a história deles como pano de fun­do e tam­bém pos­sui relatos de out­ros artis­tas ao redor do mun­do. A mon­tagem do média metragem foi muito bem fei­ta e pos­sui um rit­mo bem dinâmi­co, muitas vezes exibindo mais de um vídeo na tela ao mes­mo tem­po, com cortes bem rápi­dos, refletindo bas­tante as car­ac­terís­ti­cas do con­ceito mashup (mis­tu­ra), que aliás car­ac­ter­i­za grande parte da pro­dução dess­es próprios músicos.

    No próprio site do média metragem Profis­são: Músi­co tem-se a seguinte infor­mação: “Ago­ra, não bas­ta só tocar. A profis­são de músi­co mudou muito nos últi­mos anos. A inter­net trouxe o artista para per­to do públi­co e vice-ver­sa, não impor­tan­do mais se este músi­co vive em Lon­dres ou no inte­ri­or das mon­tan­has do Sul do Brasil. O Faça Você Mes­mo (DYI) é a for­ma revis­i­ta­da para faz­er o próprio mar­ket­ing no mun­do dig­i­tal.” que é a pre­mis­sa base deste documentário.

    Infe­liz­mente, a argu­men­tação — assim como a pre­mis­sa base — uti­liza­da em Profis­são: Músi­co é vaga demais e de cer­ta maneira irre­al­ista. O son­ho de todo artista, inde­pen­dente da área, é poder viv­er somente da sua pro­dução, mas são ape­nas poucos — exceções — que con­seguem isto. O foco do doc­u­men­tário — e ele deixa claro logo no iní­cio — é jus­ta­mente os músi­cos que não são essas mino­rias e que tra­bal­ham muito para con­seguir sobre­viv­er, ou seja, a real­i­dade deles é com­ple­ta­mente out­ra. Seria necessário um out­ro tipo de pen­sa­men­to para poder se apro­fun­dar em pos­síveis alter­na­ti­vas para esta out­ra real­i­dade. Ou seja, não dá para ficar ten­do como mod­e­lo de com­para­ção as exceções de um mer­ca­do que já se sabe — e ele mes­mo afir­ma isso — estar em ruí­nas, o que infe­liz­mente não acon­tece no doc­u­men­tário, ele fica pre­so na visão saudo­sista de como as coisas eram mel­hores no passado.

    A impressão que fica é que o respon­sáv­el por isso foi de cer­ta for­ma a inter­net. Será que foi esque­ci­do que a maio­r­ia dos artis­tas não faz parte do pequeno grupo de exceções e que tem que batal­har e ir atrás de con­seguir gan­har o seu pão e de divul­gar o seu tra­bal­ho? Pelo meu con­hec­i­men­to — pos­so estar engana­do — faz muito tem­po, bem antes da idade média, que artis­tas muitas vezes pre­cisavam faz­er out­ra coisa para se sus­ten­tar, além da sua arte, ape­nas não havia na época o car­go de pro­du­tor, divul­gador, etc, então eles acabavam sendo mul­ti-profis­sion­ais sem mes­mo saberem. As exceções tam­bém eram aque­les que, como hoje, con­seguiam viv­er prin­ci­pal­mente — difí­cil diz­er se total­mente, talvez só aque­les que eram “apadrin­hados” por alguém rico, que de cer­ta for­ma os tor­navam súdi­tos de um só um sen­ho­rio — de sua arte, e estes muitas vezes ain­da pas­savam por situ­ações muito difí­ceis. Seria mes­mo essa difi­cul­dade um prob­le­ma atual?

    Out­ro pon­to impor­tante que tam­bém não foi ques­tion­a­do em Profis­são: Músi­co é a qual­i­dade da músi­ca pro­duzi­da. Pode ser que um músi­co nun­ca ven­ha a ter suces­so porque sim­ples­mente ele não pos­sui um públi­co que goste da músi­ca dele, ou ele é tão pequeno que não con­segue sus­ten­tar o artista. E é jus­ta­mente a inter­net que con­segue aju­dar os artis­tas a encon­trarem seu públi­co, que muitas vezes pode estar seg­men­ta­do em várias partes do mun­do. Vejo ela mais como uma solução do que parte do prob­le­ma. Só aqui no Brasil temos dois exem­p­los de músi­cos que con­seguiram chegar a fama graças a inter­net: Mal­lu Mag­a­l­hães e a ban­da Can­sei de ser Sexy. Além dis­so, há vários sites que aju­dam estes a divul­gar seu tra­bal­ho, e até gan­har din­heiro, como o MySpace e o brasileiro Tra­ma Virtual.

    Durante Profis­são: Músi­co são recol­hi­dos depoi­men­tos de vários artis­tas do mun­do inteiro e, em especí­fi­co, as opiniões dos músi­cos Naná Vas­con­ce­los e Philip (tam­bém dono de uma loja de dis­cos na França, pelo que eu pude achar), são geni­ais em suas obser­vações sobre como o mer­ca­do mudou e qual é a real­i­dade do artista ago­ra. Ape­sar dos vários prob­le­mas, o doc­u­men­tário vale a pena ser assis­ti­do jus­ta­mente pela opinião dess­es dois músicos.

    Para mais infor­mações sobre o doc­u­men­tário, vis­ite o site ofi­cial do projeto.

    Só para não ger­ar nen­hum mal enten­di­do: de maneira algu­ma invali­do o tra­bal­ho dos cri­adores do doc­u­men­tário ao expres­sar min­has obser­vações aci­ma. Acred­i­to que opiniões difer­entes são uma óti­ma opor­tu­nidade de diál­o­go e tam­bém de apren­diza­do para todos que par­tic­i­pam da conversa.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=wkXUDfvaLoE

  • FestivalVerãoRS 2011: Dicas de Filmes

    FestivalVerãoRS 2011: Dicas de Filmes

    O 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Ale­gre começou na quin­ta, dia 24 de março, com a pré-estreia do lon­ga-metragem Lope, de Andrucha Wadding­ton. Obvi­a­mente que mui­ta gente já fez a sua lista de filmes, mas quem não fez, ain­da dá tem­po. Pen­san­do nis­so, o inter­ro­gAção sele­cio­nou os prováveis filmes mais inter­es­santes — e esper­a­dos por nós — do Fes­ti­val. Se você assis­tiu algum deles, gos­tou ou não, deixe sua opinião nos comentários!


    Nati­mor­to (Brasil, 2010) - A adap­tação homôn­i­ma do livro do quadrin­ista e escritor Lourenço Mutarel­li pre­tende dar o que falar. O livro, antes adap­ta­do pelo teatro, traz a história de um homem com­pul­si­vo — o próprio Mutarel­li — e um caça-tal­en­tos que traz uma jovem can­to­ra para São Paulo para uma audição, enquan­to esper­am o dia mar­ca­do ele vai se apre­sen­ta­do mais e mais estran­ho, toman­do café, fuman­do com­pul­si­va­mente e lendo as car­tas de tarô para ela.

    Talvez o pon­to mais alto da espera pelo lon­ga é que o próprio Mutarel­li é uma figu­ra incóg­ni­ta, com uma lista de quadrin­hos e livros com um humor áci­do e um tan­to obscuro. Além, claro, que O Cheiro do Ralo, escrito por ele, foi uma das mel­hores adap­tações do cin­e­ma nacional até hoje.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=Opls68GIyT8

    Amor? (Brasil, 2010) É Mais um lon­ga nacional que prom­ete. João Jardim é um cineas­ta que tra­bal­ha com doc­u­men­tários de uma for­ma extrema­mente artís­ti­ca, bas­ta ver o incrív­el Janela da Alma para enten­der um pouco o esti­lo autor.

    Em Amor? o enre­do se foca em histórias reais de vio­lên­cia pas­sion­al inter­pre­tadas por atores, ou seja, o dire­tor criou uma ficção poéti­ca em cima da real­i­dade. O filme estre­ou ano pas­sa­do no Fes­ti­val de Brasília e con­ta com uma sessão comen­ta­da no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional (Con­fi­ra a pro­gra­mação)

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=hDckZziiWS0


    A min­ha ver­são do Amor (Canadá/Itália, 2010) Nor­mal­mente filmes que envolvam Paul Gia­mat­ti sem­pre são inter­es­santes, vis­to por exem­p­lo o exce­lente Almas à Ven­da e a cinebi­ografia do quadrin­ista Har­vey Pekar em Anti-herói Amer­i­cano.

    Em A min­ha ver­são do Amor, Giammati inter­pre­ta Bar­ney Panof­sky, o per­son­agem-nar­rador de A Ver­são de Bar­ney, livro de Morde­cai Rich­ler. Panof­sky é car­i­ca­to e está pos­ses­so — e bêba­do, como sem­pre —, porque seu vel­ho desafe­to e ex-ami­go, Ter­ry McIv­er, está para lançar um livro auto­bi­ográ­fi­co em que lhe faz pesadas acusações. Então que Panof­sky resolve rev­er sua vida através de sua própria visão e lembranças.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=VMWf3UpmuvM

    Poe­sia (Coréia do Sul, 2010) Cin­e­ma core­ano sem­pre é uma bela indi­cação, vis­to que na últi­ma déca­da dire­tores como Kim Ki-Duk e Chan-wook Park, alcançaram boas tem­po­radas no cin­e­ma ocidental.

    Poe­sia é um dess­es filmes ori­en­tais que você dese­ja ver somente pela beleza que o filme evo­ca logo no trail­er. Dirigi­do por Chang-dong Lee o lon­ga con­ta a história de Mija, uma sen­ho­ra curiosa e ques­tion­ado­ra que ao rece­ber uma notí­cia que muda a sua vida decide ver mais poe­sia e beleza no cotid­i­ano, se inscreve numa aula do gênero e pas­sa a ten­tar com­preen­der a vida através das palavras.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=VM27hunyDTA

    Zona de Risco (Córeia do Sul, 2001) Reforço que cin­e­ma core­ano é sem­pre sen­sa­cional. Este lon­ga do Chan-wook Park, faz parte de uma mostra espe­cial para o cin­e­ma core­ano (veja a pro­gra­mação no site), por­tan­to já recomen­damos logo de cara todos os filmes.

    Por vários ângu­los Zona de Risco é um filme políti­co, mas como todo filme do dire­tor pode-se esper­ar ação e sangue à von­tade. Alguns sol­da­dos core­anos são mor­tos após um dire­tor, uma equipe espe­cial da Suíça vem para inves­ti­gar o caso pois acred­i­ta-se que haja um deser­tor entre os soldados.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=B3zOZL5nl2w

    Em um Mun­do Mel­hor (Dinamarca/Suécia, 2010) Talvez o sim­ples fato do filme ter gan­ho o Oscar de mel­hor filme estrangeiro seja um belo moti­vo para ver esse lon­ga. Mas ain­da há o fato do lon­ga ser dina­mar­quês e o cin­e­ma do norte-europeu cos­tu­ma apre­sen­tar belas sur­pre­sas. A dire­to­ra Susane Bier já dirigiu lon­gas inter­es­santes como Coisas que perdemos pelo cam­in­ho.

    Em um Mun­do Mel­hor um médi­co dina­mar­quês tra­bal­ha em um cam­po de refu­gia­dos na África enquan­to sua família está na Dina­mar­ca, a história de ambos se entre­laça com a de um garo­to orfão de mãe que migra para o país.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=diJ3IRIyqfo

    Para quem você lig­aria? Os nos­sos her­manos têm um cin­e­ma sen­sa­cional, isso é indis­cutív­el! O cin­e­ma exis­ten­cial dos argenti­nos sem­pre resul­ta em belas pelícu­las, tan­to com enre­dos encan­ta­dores como em fotografia.

    Em Para quem você lig­aria? um homem se vê numa ver­dadeira crise que ao encar­ar sua difi­cul­dade de lidar com as pes­soas se per­gun­ta, que em um momen­to com esse, para quem lig­ar, afinal?

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=yNqfM0Ef2Cw

  • FestivalVerãoRS 2011: Entrevista Andrucha Waddington

    FestivalVerãoRS 2011: Entrevista Andrucha Waddington

    entrevista Andrucha Waddington

    Pro­duções cin­e­matográ­fi­cas asso­ci­adas entre país­es não são nen­hu­ma novi­dade, são inclu­sive estim­u­lantes para resul­ta­dos mais elab­o­ra­dos. Lope, de Andrucha Wadding­ton é um tra­bal­ho que surgiu com a parce­ria de Brasil e Espan­ha sobre um perío­do da juven­tude de Lope de Vega, um grande poeta espan­hol que é prati­ca­mente descon­heci­do aqui no país.

    O dire­tor Andrucha Wadding­ton é con­heci­do por seus tra­bal­hos como Casa de Areia (2005), o pre­mi­a­do Eu, tu, eles (2000) ou ain­da por diri­gir artis­tas como Arnal­do Antunes e Os Par­ala­mas do Suces­so. Com o lon­ga-metragem Lope, o dire­tor diz que hou­ve um cer­to receio, pois a direção de um lon­ga assim era real­mente desafi­ado­ra, além de envolver dois país­es com cul­turas um tan­to diferentes.

    Ele con­ta que hou­ve um proces­so de em média qua­tro anos para estu­dar a vida de Lope, uma espé­cie de Don Juan da poe­sia espan­ho­la, e con­seguir com­preende-lo a pon­to de apre­sen­tá-lo ao grande públi­co. Ressalta que o lon­ga cria uma espé­cie de fun­dação do per­son­agem, con­tan­do a sua vida pré-fama e de que for­ma a poe­sia pas­sou a ser o esti­lo de vida do escritor. Ain­da, diz que o maior desafio foi recu­per­ar os cenários da Idade Média, mes­mo que a Espan­ha ain­da pre­serve muito o patrimônio, a recon­sti­tu­ição de época foi um tra­bal­ho árduo mas que foi bem resolvi­do graças a preparação tan­to dos cenários, como dos atores.

    O inter­ro­gAção con­ver­sou com Wadding­ton no lança­men­to de Lope, na séti­ma edição do Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Ale­gre. Além de con­tar como foi fil­mar fora do país, o dire­tor rela­ta seus anseios sobre a fal­ta de inter­esse dos exibidores em torno de filmes menos com­er­ci­ais, mais volta­dos para cin­e­ma de arte. Inclu­sive, sug­ere algu­mas for­mas para que as dis­tribuido­ras e os artis­tas parem de perder incen­tivos e retorno finan­ceiro com suas obras, prin­ci­pal­mente com a pirataria via inter­net. Con­fi­ra abaixo!

    Como foi o lança­men­to do filme?
    Lope é um filme que para a Espan­ha é extrema­mente com­er­cial, porque é um per­son­agem que é um mito den­tro da cul­tura espan­ho­la. Lá ele saiu com 340 copias e aqui ele é um per­son­agem abso­lu­ta­mente descon­heci­do do públi­co. Lançamos ele com 25 cópias, primeiro no cir­cuito Rio, São Paulo, Belo Hor­i­zonte e Brasília e ago­ra Por­to Ale­gre, Curiti­ba e Flo­ri­anópo­lis, no dia primeiro de abril.

    Nor­mal­mente as cópias para os filmes brasileiros vem em número menor, é muito difí­cil elas chegarem em out­ras cidades que não seja esse primeiro cir­cuito que você comen­tou. Essa é mais uma decisão de quem?
    Isso é uma decisão do exibidor e do dis­tribuidor. O dis­tribuidor tem a função de levar o filme ao maior número de espec­ta­dores pos­síveis, ele tem inter­esse nis­so. Existe uma lei do nat­ur­al do mer­ca­do, que ele próprio se reg­u­la, onde um exibidor tem inter­esse em um filme que vai dar bil­hete­ria, então, muitos filmes que pos­suem uma deman­da mel­hor do públi­co, não é um filme órfão de um grande públi­co, ele não encon­tra muito espaço den­tro do cir­cuito com­er­cial mais aber­to, então ele aca­ba depen­den­do do cir­cuito de arte. Mas isso é uma coisa que acho que acon­tece no mun­do inteiro, isso não é uma tragé­dia que só acon­tece aqui. O cin­e­ma extrema­mente com­er­cial, vem como um arrasa quar­teirão, ele tira todo mun­do do cir­cuito. Tem lança­men­tos que saem com 700, 800 cópias, mas o Brasil tem 2200 salas. Então um lança­men­to gigante estran­gu­la o cir­cuito, porque ele já o ocu­pa com 1/3 do total.

    Como dire­tor, você vê isso…
    O mer­ca­do é assim, eu não ten­ho muito o que… assim, por exem­p­lo, se o Lope saiu com 25 cópias, eu ten­to tra­bal­har nele, como dire­tor, da maneira mais poderosa pos­sív­el para ele ter uma vida lon­ga sem ser eje­ta­do do cir­cuito. Se eu lançar o Lope com 100 cópias ele vai ficar uma sem­ana em car­taz e adios. Então o exibidor, se o filme entrou na sex­ta, vai olhar a bil­hete­ria de segun­da e vai falar “sin­to muito, tem um filme que vai me dar bem mais bil­hete­ria e eu vou colo­car no lugar”. Então você depende muito do cir­cuito de arte sim, para deter­mi­na­dos filmes. Como dire­tor, eu gostaria que o públi­co tivesse mais inter­esse em filmes um pouco mais elab­o­ra­dos e menos, a pri­ori, com­er­ci­ais. Mas o mun­do não é assim, o públi­co tem o dire­ito de con­sumir o que ele quis­er, então infe­liz­mente, ou feliz­mente, é assim que o mer­ca­do funciona.

    Muitas pes­soas con­seguem aces­so a filmes menos com­er­ci­ais só pela inter­net, fazen­do o down­load deles.
    Ó, eu acho que assim, isso é uma coisa que é um erro. O erro está no sis­tema de dis­tribuição, que não enx­er­gou a inter­net como uma fer­ra­men­ta de dis­tribuição des­de o iní­cio. A Net­flix nos Esta­dos Unidos, você paga sete dólares por mês e tem aces­so ilim­i­ta­do ao catál­o­go inteiro, então não tem por que você não pagar, e o autor gan­ha com isso. Demor­ou muito para o mer­ca­do aceitar isso e fez com que fos­se nor­mal para toda uma ger­ação, meus fil­hos inclu­sive, acharem nor­mal down­lo­dar filmes ou músi­ca sem pagar. Mas eu acho o grande vilão, o grande cul­pa­do dis­so ter acon­te­ci­do, é o próprio sis­tema de dis­tribuição. Acho que ago­ra nat­u­ral­mente vai começar a ser impos­sív­el não ter a inter­net como meio de dis­tribuição e isso vai mudar.

    Mas esse públi­co que con­some os filmes des­ta maneira, você acha que isso é algo válido?
    Eu acho que o dire­ito autoral é algo que deve ser preser­va­do, ao mes­mo tem­po que tem um dese­jo que o maior número de pes­soas veja o filme. Então se você tem esse dese­jo como um dire­tor que fez o filme, a questão para mim é o ter um mod­e­lo de dis­tribuição den­tro da inter­net que seja acessív­el, e você cor­ta uma quan­ti­dade de inter­mediário e gan­ha nesse meio pra levar dire­to do pro­du­tor através do canal dis­tribuidor da inter­net para o públi­co. Isso é o que eu gostaria que acon­te­cesse, que fos­se uma coisa de praxe, que ocor­resse nat­u­ral­mente. Com isso ninguém perde, todo mun­do vai poder con­sumir por um preço bara­to. Com uma assi­natu­ra, por exem­p­lo, por doze reais e você poder con­sumir quan­tos filmes quis­er, não tem porque você não pagar, vai ter um down­load rápi­do, de qual­i­dade. Não só no Brasil que os dis­tribuidores tem essa difi­cul­dade, nos Esta­dos Unidos tam­bém hou­ve isso e na Europa tam­bém, hou­ve no mun­do inteiro um pre­con­ceito diante esse méto­do de distribuição.

    Como é que foi para um dire­tor brasileiro fil­mar fora do país?
    Acho que o cin­e­ma é uma lin­guagem uni­ver­sal, quan­do você começa a faz­er um filme você até esquece que está fora do teu país, porque todo mun­do que está ali é profis­sion­al do cin­e­ma, somente o que muda é a lin­gua, fora isso nada muda, todo mun­do é meio bicho de cin­e­ma, então você rapid­in­ho se acos­tu­ma, rapid­in­ho você acha que já é espanhol.

    Você comen­tou que usou duas pre­mis­sas bem atem­po­rais no filme, porque escol­her essa época para mostrar isso?
    Na ver­dade, acon­te­ceu que difer­ente dos meus filmes ante­ri­ores, este foi um filme que o pro­je­to chegou a mim. Era um uni­ver­so dis­tante, tin­ha um roteiro pron­to que eu ador­ei. Era um pro­je­to que na ver­dade me escol­heu, no sen­ti­do de que eu não tive um insight “oh vou faz­er a história do Lope”. Eu achei muito legal usar um per­son­agem do sécu­lo 16, para falar dessas duas questões que é um jovem resol­ven­do tro­car o cer­to pelo son­ho, largan­do o exérci­to para virar um poeta, dra­matur­go, e acred­i­tar no tal­en­to dele, e a ini­ci­ação amorosa de um jovem adul­to. Essas duas pre­mis­sas me fiz­er­am ficar muito insti­ga­do em con­tar essa história e aí quan­do fui con­hecen­do o Lope, per­son­agem, fui fican­do cada vez mais fasci­na­do por ele.

    Acom­pan­he o twit­ter do Andrucha Wadding­ton.

    Leia tam­bém o comen­tário sobre o filme Lope, que fize­mos após a sessão do filme no festival.

  • FestivalVerãoRS 2011: Lope

    FestivalVerãoRS 2011: Lope

    Para ini­ciar o 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, foi escol­hi­do o lon­ga-metragem Lope (Lope, Espanha/Brasil, 2010) apre­sen­ta­do pelo próprio dire­tor Andrucha Wadding­ton.

    Lope de Vega é um jovem poeta que vive inten­sa­mente sua poe­sia, além de ser um grande amante. Para muitos, seu com­por­ta­men­to equiv­alia a de um louco, por não faz­er sen­ti­do em relação a seus val­ores cul­tur­ais. Além dis­so, fazia muitas coisas por impul­so e ado­ra­va uma boa briga. Essas car­ac­terís­ti­cas lem­bram um pouco a vida do pin­tor Car­avag­gio, que tam­bém com­par­til­ha­va dos mes­mos gos­tos e peri­gos, viven­do inten­sa­mente a vida artística.

    A con­strução de época em Lope real­mente ficou incrív­el, a atenção aos detal­h­es foi total, prin­ci­pal­mente para retratar a higiene da época. A escol­ha de cer­tos ângu­los mais inusi­ta­dos — prin­ci­pal­mente em relação ao enquadra­men­to tão comum das nov­e­las nacionais — pro­por­cio­nou muitas vezes a sen­sação de real­mente estar sendo um obser­vador pre­sente na história do pro­tag­o­nista. A tril­ha sono­ra, ape­sar de bem pre­sente, é muitas vezes ape­nas sutil­mente toca­da ao fun­do, inten­si­f­i­can­do mais ain­da o efeito cri­a­do pela imagem. As cenas de ação são um belo exem­p­lo onde não somos trans­bor­da­dos por um som frenéti­co para cri­ar o dinamis­mo dese­ja­do nes­sas situ­ações. Infe­liz­mente em algu­mas cenas mais dramáti­cas, o mes­mo pode­ria ter sido repeti­do cau­san­do o mes­mo efeito.

    Lope é uma história de amor e de rup­tura em relação as regras impostas pela sociedade. Ape­sar de se pas­sar no sécu­lo 16, seus ele­men­tos prin­ci­pais, o amor e a bus­ca pela liber­dade, estão longe de serem algo ultra­pas­sa­do. Na Espan­ha ele foi lança­do como um grande block­buster, pos­suin­do as já con­heci­das car­ac­terís­ti­cas — e defeitos — deste tipo de lon­ga. Mas, pela história ser de uma figu­ra não con­heci­da por aqui, além de ser todo fal­a­do em espan­hol, acabou sendo dis­tribuí­do mais pelo cir­cuito de arte, o que pode ser bem decep­cio­nante para quem vai a estes locais procu­ran­do assi­s­tir algo mais diferente.

    Infe­liz­mente, pela primeira vez no fes­ti­val, a sessão não foi fei­ta a céu aber­to no vão da Casa de Cul­tura Mário Quin­tana, o que não deixou que várias pes­soas fos­sem con­ferir o filme, que cau­sou uma bela reação dos espec­ta­dores  durante o longa.

    Leia tam­bém a entre­vista com Andrucha Wadding­ton, que fize­mos antes do iní­cio a sessão do filme no festival.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=k2jIj_zfwvQ