Category: Cinema

  • Crítica: O Homem do Futuro

    Crítica: O Homem do Futuro

    Uma óti­ma sur­pre­sa no cin­e­ma nacional, tan­to em pro­dução, efeitos espe­ci­ais e roteiro é O Homem do Futuro (Brasil, 2011), dirigi­do por Clau­dio Tor­res. Ape­sar do enre­do estar longe de ser orig­i­nal, o fato dele fugir das globochan­cadas — ver­dadeiros pastelões de ven­to — que estão sendo lança­dos ulti­ma­mente, aca­ba fazen­do uma grande difer­ença ao traz­er um pouco de raciocínio e piadas mais inteligentes, sem ter que ficar apelando para baixaria. O filme soube faz­er uma boa mescla de ficção cien­tí­fi­ca e comé­dia român­ti­ca, bal­ance­an­do bem os dois, con­seguin­do agradar ambos públi­cos. Além dis­so, ape­sar de em várias coisas ser pre­visív­el — prin­ci­pal­mente para quem já viu filmes no esti­lo — ele ain­da con­segue nos faz­er pen­sar sobre a lóg­i­ca e as várias con­se­quên­cias de uma viagem no tempo.

    Falan­do em filmes do mes­mo esti­lo, aos poucos o cin­e­ma brasileiro está fazen­do suas próprias ver­sões, como o Se eu fos­se você (2005), ou remix­es de filmes estrangeiros, algo que Hol­ly­wood faz até não poder mais. Tudo bem, seria bem mais legal se coisas mais “orig­i­nais” des­ti­nadas ao grande públi­co fos­sem feitas por aqui, mas acred­i­to que esta é uma boa maneira de ir se apri­moran­do para no futuro poder cri­ar algo novo com mais qual­i­dade. O Homem do Futuro é um grande remix de filmes estrangeiros, con­seguin­do muito bem abrasileirar a fór­mu­la do De Vol­ta para o Futuro (Back to the Future, EUA, 1958), e faz­er out­ras boas refer­ên­cias, como O Exter­mi­nador do Futuro (The Ter­mi­na­tor, EUA, 1984) e Efeito Bor­bo­le­ta (The But­ter­fly Effect, EUA, 2004), de for­ma inteligente.

    Uma coisa é cer­ta, Wag­n­er Moura está cada vez se afir­man­do mais como um óti­mo ator. É incrív­el ver por exem­p­lo a sua trans­for­mação para faz­er o papel de Zero, um per­son­agem total­mente frágil e inse­guro, em O Homem do Futuro, quan­do a sua imagem que ficou mais con­heci­da foi como o duro Capitão Nasci­men­to, do Tropa de Elite (2007).

    Ape­nas duas coisas deix­am a dese­jar em O Homem do Futuro. A mais críti­ca são os gri­tantes erros de con­tin­u­ação — se fos­sem peque­nas cois­in­has até que pas­sa­va, mas não… — e a out­ra, de opinião mais pes­soal, é o Wag­n­er Moura can­tan­do. A músi­ca “Tem­po Per­di­do” até que não ficou ruim, mas quan­do ele can­ta um tre­cho da músi­ca “Creep” do Radio­head, em sua própria ver­são, ficou difí­cil não dar umas con­tor­ci­das na poltrona do cinema.

    Alguém por aca­so con­seguiu sair do filme sem ficar com a músi­ca “Tem­po Per­di­do” na cabeça durante dias?

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=IEEE7qbmYUU

  • Porta na Cara: O Último Boy Scout — Jogo de Vingança (1991), de Tony Scott

    Porta na Cara: O Último Boy Scout — Jogo de Vingança (1991), de Tony Scott

    Classe A no que­si­to filme com tiro, tapa e escu­la­cho, é uma pena que O Últi­mo Boy Scout — Jogo de Vin­gança (1991) não ten­ha fin­ca­do raízes no coração das pes­soas como Duro de Matar, por exem­p­lo. Mes­mo assim, não se tra­ta de um filme menor.

    Jun­taram a mel­hor dupla para faz­er o clichê clás­si­co do gênero poli­cial “eu-não-fui-com-sua-cara-de-iní­cio-mas-você-é-legal-e-vamos-ser-ami­gos-e-com­bat­er-o-crime-jun­tos”: Bruce Willis e Damon Wayans (o pro­tag­o­nista do seri­ado Eu a Patroa e As Cri­anças). Só por isso, o O Últi­mo Boy Scout — Jogo de Vin­gança já mere­cia ter rece­bido o prêmio Nobel por serviços presta­dos a humanidade.

    Dirigi­do por Tony Scott (que tam­bém dirigiu Amor á Queima Roupa e Top Gun, risos) e com o roteiro assi­na­do pelo MESTRE Shane Black (o cara que escreveu Máquina Mortífera merece todo meu aval baju­lador nív­el Galvão Bueno), O Últi­mo Boy Scout — Jogo de Vin­gança con­ta a história do dete­tive Joe Hal­len­beck (Willis) que não está em seus mel­hores dias. Cíni­co, anda beben­do e jogan­do além da con­ta, com prob­le­mas de rela­ciona­men­to com a fil­ha boca suja e ain­da é coroa­do com um chifre da esposa.

    A vida não é fácil. Nem para os per­son­agens da ficção.

    Quem meteu o gal­ho na cabeça de Hal­len­beck foi seu mel­hor ami­go e sócio, que após despachar um tramp­in­ho para o pobre Joe, explode em um aten­ta­do a bom­ba em seu car­ro. Hal­len­beck se sente um pouco vin­ga­do com isso, não podemos jul­ga-lo. A tare­fa ingra­ta nada mais é do que ficar de olho em uma dança­ri­na (Halle Bar­ry) que anda receben­do ameaças de uma rapazi­a­da con­tra­venção e que aca­ba sendo assassinada.

    O namora­do da more­na que Joe ban­ca o guar­da-costas é Jim­my Dix (Wayans), ex-jogador de fute­bol amer­i­cano que foi afas­ta­do do esporte dev­i­do à mutre­tas com apos­ta­dores. Como disse mais aci­ma, os dois vão se estran­har um pouquin­ho ao se con­hecerem, mas acabaram se unin­do para com­bat­er o sub­mun­do do fute­bol americano.

    Shane Black afir­mou que o filme é a sua hom­e­nagem às histórias de Ray­mond Chan­dler com um toque anos 1990. A tra­ma toda se pas­sa em Los Ange­les, local da maio­r­ia das histórias de Chandler.

    O que mais con­tou a favor de O Últi­mo Boy Scout — Jogo de Vin­gança para mim, é o fator humor nele con­ti­do. As piadas são boas e pare­cem que, ape­sar de todas as con­fusões (cresci com os cacoetes da Sessão da Tarde, me deixa) que os per­son­agens se metem, eles con­seguem faz­er algu­ma grac­in­ha em deter­mi­na­da situ­ação. Ou seja, o filme é auto-sufi­ciente em fras­es de efeito e é pos­sív­el que você queira usar pelo menos umas duas por dia em ocasiões que achar necessário.

    Dito isso no pará­grafo aci­ma, lem­brei do Daniel Galera, que escreveu o seguinte lá no blog do IMS:

    Não se fazem mais filmes de ação como antiga­mente, hein. Acho que a últi­ma coisa vál­i­da mes­mo foi a trilo­gia do Sen­hor dos Anéis, e Matrix, claro, cujas enx­ur­radas de clones for­mam, jun­to com os filmes de super-heróis de quadrin­hos, os três braços do grande rio dos filmes de ação medíocres e sem alma da últi­ma déca­da (Eu quase gos­to de alguns filmes do Tony Scott, todavia. Quase.) Caçadores de Emoção é um dos últi­mos exem­plares de uma tradição quase extin­ta da qual fazem parte Predador, Duro de Matar, Aliens – O Res­gate, Mad Max 2. Só filmão. Hoje em dia, ou pesam demais no verniz cere­bral, como no Incep­tion, que é um meta-filme de ação onde esque­ce­r­am de deixar a graça, ou fazem uns mashups de clichês preguiçosos e ineficazes.

    Con­cor­do com quase tudo dito aci­ma. Não sou fã de Sen­hor dos Anéis e nem de Matrix e gos­to dos filmes de Tony Scott (exce­to Top Gun, claro), mas o que o Galera diz é ver­dade: estão matan­do a graça dos filmes de ação, que infe­liz­mente, estão quase extintos.

    Mas, assista O Últi­mo Boy Scout — Jogo de Vin­gança e mate a saudade do gênero. Cin­co estre­las de cin­co possíveis.

    Abraço

  • Crítica: Natimorto

    Crítica: Natimorto

    Lourenço Mutarel­li é um dos escritores mais inter­es­santes e híbri­dos da lit­er­atu­ra atu­al e Nati­mor­to (Brasil, 2011), dirigi­do por Paulo Mach­line, é a adap­tação do segun­do livro deste escritor con­heci­do pela den­si­dade e iro­nia de suas obras.

    Um homem e uma mul­her numa pro­pos­ta de tentarem viv­er suas vidas, lit­eral­mente, num quar­to de hotel. Os per­son­agens se resumem no homem (Lourenço Mutarel­li), uma espé­cie de pro­du­tor musi­cal e a mul­her (Simone Spo­ladore), uma can­to­ra de ópera. Enquan­to o cotid­i­ano da relação vai se con­stru­in­do, eles pas­sam a dis­cu­tir, entre cig­a­r­ros e cafés, seus futur­os através da asso­ci­ação de embal­a­gens de cig­a­r­ro e car­tas do Tarô.

    O enre­do de Nati­mor­to se foca neste con­vívio claus­trofóbi­co, exem­pli­f­i­can­do de for­ma muito inter­es­sante o sufo­ca­men­to das relações. Os dois per­son­agens podem sair o momen­to que quis­erem da situ­ação pro­pos­ta, mas não há a ini­cia­ti­va. Ele por não acred­i­tar na vida fora do quar­to e sen­tir que sua vida se resume em lamen­to, café e cig­a­r­ros e ela por ter a neces­si­dade de alguém que ali­mente a sua per­spec­ti­va de existên­cia, ou seja, uma relação extrema­mente simbiótica.

    Antes de ser con­heci­do pela sur­preen­dente obra e bem suce­di­da adap­tação de O cheiro do Ralo, Lourenço Mutarel­li era famoso pelos seus quadrin­hos obscuros e reple­tos de um humor negro incon­fundív­el. Além dis­so, o paulista tam­bém é con­heci­do na lit­er­atu­ra con­tem­porânea pelas idioss­in­cra­cias e por con­stru­ir diál­o­gos inteligentes pau­ta­dos por movi­men­tos de câmeras-nar­ra­ti­vas que vem e vão durante as cenas literárias.

    O fato de Mutarel­li usar recur­sos de roteiro para escr­ev­er seus romances não sig­nifi­ca que as adap­tações de seus tra­bal­hos, para o cin­e­ma, devam sem­pre ser trans­postas de for­ma lit­er­al. Há detal­h­es na nar­ra­ti­va literária que surtem efeito aos olhos do leitor mas, quan­do pas­sadas para uma nar­ra­ti­va de imagem, elas aparentam serem mais lon­gas ou fazem pouco sen­ti­do num deter­mi­na­do plano. Na adap­tação de Nati­mor­to, ocor­reu isso algu­mas vezes, como, por exem­p­lo, nos lon­gos diál­o­gos reple­tos de reflexões, numa espé­cie de bate e vol­ta con­si­go mes­mo, do per­son­agem sociofóbi­co inter­pre­ta­do pelo próprio Mutarel­li. Os lon­gos diál­o­gos no lon­ga se tor­nam, em algum momen­tos, um pouco cansativos por ocu­parem difer­entes tem­pos do que ocorre na nar­ra­ti­va literária. No livro, os dis­cur­sos se desen­volvem em muitas pági­nas, enquan­to no filme eles são suprim­i­dos a uma cena do roteiro.

    Por out­ro lado, out­ras situ­ações se encaixaram per­feita­mente, como em muitos momen­tos onde os planos seguem à risca as descrições do livro em que o nar­rador apon­ta a câmera para a boca de deter­mi­na­do per­son­agem, como se o leitor — ago­ra espec­ta­dor — final­mente pudesse enten­der deter­mi­na­da situ­ação descri­ta no livro.

    Em Nati­mor­to há pou­cas cenas exter­nas, o que aca­ba fazen­do a atenção se voltar para as inter­pre­tações, como a do próprio escritor que se mostra inse­guro no íni­cio do filme mas que, com o pas­sar do tem­po, se tor­na uma pre­mis­sa psi­cológ­i­ca do per­son­agem. A aparên­cia miú­da e ner­vosa de Mutarel­li con­funde, de for­ma muito inter­es­sante, o cri­ador e a criatu­ra. Já Spo­ladore faz um papel que acred­i­to com­bi­nar com ela, pos­suin­do uma voz forte e um olhar irôni­co cabív­el à personagem.

    Nati­mor­to é uma exper­iên­cia inter­es­sante para o cin­e­ma nacional que vem apo­s­tan­do em tra­bal­ho menos hiper­re­al­is­tas e con­fig­u­ran­do asso­ci­ações com a lit­er­atu­ra fei­ta no pre­sente. Mes­mo para os desacos­tu­ma­dos a um cin­e­ma com mais diál­o­gos e exper­i­men­tal, o filme vale o ingresso.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=PfoHx-kHUhQ

  • Crítica: Assalto ao Banco Central

    Crítica: Assalto ao Banco Central

    Basea­do no polêmi­co caso poli­cial de assalto ao Ban­co Cen­tral de For­t­aleza, em 2005, Assalto ao Ban­co Cen­tral (Brasil, 2011), dirigi­do por Mar­cos Paulo, parece mais uma ver­são abrasileira­da — com menos graça e esti­lo — da fran­quia 11 Home­ns e um Seg­re­do, entre out­ros lon­gas e séries do gênero.

    Barão (Mil­hem Cor­taz) é o clás­si­co malan­dro e tra­paceiro à moda Brasileira, tem seus próprios negó­cios, se veste bem e tem uma mul­her de for­mas exu­ber­antes (leia-se piriguete) ao seu lado. Não sat­is­feito com isso, decide plane­jar um grande assalto a ban­co con­vo­can­do nomes do crime e out­ros profis­sion­ais que querem lucrar bem com a empre­ita­da. O plane­ja­men­to do roubo — definição mais cor­re­ta já que a palavra assalto deno­ta out­ra coisa — é feito mili­met­ri­ca­mente para que não haja vio­lên­cia e nem alarde em nen­hum momen­to. Mas claro, nem tudo são flo­res e a ganân­cia — bem ao esti­lo brasileiro para estrangeiros — vai dar out­ros con­tornos para a trama.

    Um dos prob­le­mas mais sérios de Assalto ao Ban­co Cen­tral é apos­tar na nar­ra­ti­va nov­e­l­esca, prat­i­ca­da des­de sem­pre pela Globo. Os ele­men­tos tele­vi­sivos não se resumem ape­nas na trans­posição dos atores — cos­tumeira­mente pro­tag­o­nistas de dra­mas na TV — inter­pre­tan­do papéis levianos, mas tam­bém nos ele­men­tos que con­stroem as cenas, fazen­do tudo pare­cer super­fi­cial demais.

    Mes­mo que a mon­tagem do filme, tra­bal­han­do com aleato­riedade usan­do pas­sa­do, pre­sente e futuro, ten­ha sido um acer­to, o roteiro não con­vence, deixan­do a dese­jar jus­ta­mente no que­si­to de con­fli­to do enre­do. Como se Assalto ao Ban­co Cen­tral tivesse que fun­cionar como lon­ga, e ao mes­mo tem­po como uma série do esti­lo CSI e afins, a tra­ma aca­ba fican­do mor­na, sem per­mi­tir nen­hum tipo de tensão.

    Assalto ao Ban­co Cen­tral aca­ba não crian­do vín­cu­lo nar­ra­ti­vo com nen­hum per­son­agem e todos são efêmeros e pouco cati­vantes. Atores que fun­cionam muito bem na tele­visão, como o vet­er­a­no Lima Duarte, Erib­er­to Leão e o diver­tido Gero Cami­lo, se apre­sen­tam como per­son­agens levianos, com piadas forçadas e muito fáceis de cair no esquecimento.

    Nen­hu­ma novi­dade quan­do às difi­cul­dades que o cin­e­ma nacional tem de desli­gar do uni­ver­so nar­ra­ti­vo da tele­visão. Assalto ao Ban­co Cen­tral é mais um lon­ga que vem reforçar a medi­an­idade das pro­duções que envolvem pro­du­toras fir­madas no mer­ca­do tele­vi­si­vo e com­er­cial apo­s­tan­do no cin­e­ma como exten­são. Nen­hum pre­con­ceito quan­to a par­tic­i­pação dessas empre­sas e artis­tas — já que podem con­tribuir com belo poder aquis­i­ti­vo — mas sim quan­to ao foco dado à cele­bri­dades, roteiros extrema­mente levianos e pro­duções que beiram ao esti­lo estrangeiro sem nen­hum tipo de glam­our que se apre­sen­ta lá fora.

    Muitos des­cui­dos nar­ra­tivos são aceitos na tele­visão, por con­ta da bre­viedade e pou­ca neces­si­dade de assim­i­lação, mas quan­do trans­pos­tos para o cin­e­ma, exigin­do mais atenção, tomam out­ras dimen­sões, deixan­do claro que tele­visão e cin­e­ma exigem duas forças total­mente difer­entes. Assalto ao Ban­co Cen­tral é mais um filme efêmero que pode ren­der bom públi­co, mas cair no esquec­i­men­to logo no próx­i­mo mês.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=6pHbFZRRLwk

  • Crítica: O Poder e a Lei

    Crítica: O Poder e a Lei

    Crítica: O Poder a LeiFilmes sobre o mun­do jurídi­co já fiz­er­am muito suces­so nas bil­hete­rias e alguns até se tornaram clás­si­cos, como O Advo­ga­do do Dia­bo (1997) e Filadél­fia (1993). Hoje em dia são mais comuns seri­ados, onde o foco é o dia a dia dos advo­ga­dos, do que filmes desse gênero. O Poder a Lei (The Lin­coln Lawyer, E.U.A., 2011), dirigi­do por Brad Fur­man, trouxe nova­mente para as telas do cin­e­ma todo o glam­our que a profis­são de um advo­ga­do pode ter.

    A tra­ma ja é aque­la bem con­heci­da, um caso que aparente­mente é bem sim­ples e vai ren­der muito din­heiro, mas que aca­ba viran­do uma dor de cabeça infer­nal. Mas ape­sar dis­so, a maneira como ela é con­duzi­da com todos os encadea­men­tos e novos ele­men­tos que vão surgin­do, a tor­na muito cativante.

    Além do óti­mo desen­volvi­men­to da tra­ma, out­ro grande méri­to de O Poder e a Lei são as atu­ações dos per­son­agens, que são muito bem exe­cu­tadas, facil­i­tan­do assim uma imer­são ain­da maior no filme. O per­son­agem prin­ci­pal, inter­pre­ta­do por Matthew McConaugh­ey, é um autên­ti­co anti-herói, onde ao mes­mo tem­po que ele parece admiráv­el profis­sion­al­mente, tam­bém é pelo mes­mo sen­ti­do que se tor­na repu­di­ante. O mes­mo tam­bém aca­ba acon­te­cen­do com suas ati­tudes como pes­soa, fora do tra­bal­ho. E falan­do no âmbito pes­soal dos per­son­agens, nor­mal­mente quan­do se ten­ta retratar a vida pri­va­da deles, se tende a usar facil­mente cer­tos ciclhês — ou cenas total­mente forçadas — com aque­le cli­ma fal­so de intim­i­dade, para mostrar que eles tam­bém pos­suem fraque­zas, amores, … mas neste lon­ga isto, feliz­mente, não aconteceu.

    A mon­tagem uti­liza­da em O Poder e a Lei é bem inter­es­sante pois uti­liza, na maio­r­ia das cenas, um efeito de con­tinuidade para lig­ar elas, onde obje­tos em uma cena viram out­ra coisa total­mente difer­ente na seguinte — por exem­p­lo, a parte supe­ri­or de uma mesa local­iza­da na parte infe­ri­or da tela, virou o teto de um car­ro na out­ra cena, após essa tran­sição — crian­do uma flu­idez grande entre essas mudanças. Já a tril­ha sono­ra tam­bém foi muito bem escol­hi­da e usa­da, não sendo apel­a­ti­va em nen­hum momen­to e con­seguin­do tam­bém ser diver­ti­da, prin­ci­pal­mente para sus­ten­tar o aspec­to cool do per­son­agem principal.

    Para quem gos­ta de uma tra­ma inteligente com boas sur­pre­sas e volta­da para um públi­co mais adul­to, O Poder e a Lei é uma óti­ma opção. Já quem gos­ta de filmes do gênero, ambi­en­ta­dos no mun­do jurídi­co, não pode deixar de vê-lo tam­bém, para pos­sivel­mente colo­car ele na sua lista de favoritos.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=PLDvYjQVCx0

  • Crítica: Meia Noite em Paris

    Crítica: Meia Noite em Paris

    A real­i­dade ali­men­ta a ficção e vice-ver­sa e para um escritor a relação das duas pode, inclu­sive, ser ter­apêu­ti­ca. Em Meia Noite em Paris (Mid­night In Paris, Espanha/E.U.A., 2011), Woody Allen colo­ca um escritor — sem­pre uma per­son­ifi­cação de si mes­mo — cara a cara com seus ído­los, dan­do a ele uma chance para ali­men­tar ain­da mais sua paixão pelo passado.

    Gil Pen­der (Owen Wil­son) é um escritor frustra­do que tra­bal­ha com roteiros hol­ly­wood­i­anos e está noi­vo de Inez (Rachel McAdams). Ele e a noi­va deci­dem acom­pan­har os pais dela numa viagem de negó­cios até Paris, a cidade, que segun­do Gil, man­tém os espíri­to dos anos áure­os da Lit­er­atu­ra e que o inspi­ra pro­fun­da­mente. Além de nos­tál­gi­co, o escritor está con­fu­so em ter que lidar com sua vida super­fi­cial de roteirista e noi­vo de uma mul­her que em pouco con­diz com suas ideias. E é passe­an­do pela mág­i­ca Paris que Gil Pen­der vai ali­men­tar sua real­i­dade com boas dos­es de uma diver­ti­da mág­i­ca literária onde seus ído­los o aju­dam a dar rumos para sua vida.

    Woody Allen é sem­pre o mes­mo e de for­ma nen­hu­ma essa afir­mação é ruim. O dire­tor apos­ta no seu esti­lo para sem­pre tratar assun­tos diver­tidos e com boas dos­es de inteligên­cia e sar­cas­mo. Em Meia Noite em Paris é a magia de suas próprias paixões que mesclam o son­ho e o real em situ­ações que não são absur­das e sim total­mente dese­jáveis. O lon­ga tem um cli­ma que lem­bra bas­tante A Rosa Púr­pu­ra do Cairo (1985) em que a per­son­agem de Mia Far­row dese­ja muito a ficção mas não sabe lidar com ela quan­do esta se tor­na a sua realidade. 

    Talvez na atu­al­i­dade, a român­ti­ca Paris não ofer­eça mui­ta inspi­ração literária, mas no ini­cio do sécu­lo a cap­i­tal france­sa era o des­ti­no de boa parte dos grandes escritores — que vivi­am seu auge — em bus­ca de inspi­ração na van­guardista cap­i­tal cul­tur­al e fug­in­do da fal­ta de recon­hec­i­men­to à lit­er­atu­ra na Améri­ca. A cap­i­tal france­sa da época, habita­da pela arte e cul­tura, é a que se apre­sen­ta em Meia Noite em Paris. Ao invés de ape­nas um enre­do como des­cul­pa para exibir os pon­tos turís­ti­cos da cidade, o lon­ga traz um uni­ver­so oníri­co e deli­cioso para o espec­ta­dor, seja ele um nova­to ou um vel­ho con­heci­do dos filmes do americano.

    Um dos pon­tos mais inter­es­santes no elen­co de Meia Noite em Paris é jus­ta­mente a escol­ha de atores que cos­tumeira­mente atu­am em filmes mais com­er­ci­ais estarem em exce­lentes atu­ações. Owen Wil­son real­mente impres­siona no papel de Gil Pen­der, um Woody Allen mais alto e loiro, mas que em nen­hum momen­to deixa de ter o sar­cas­mo, a gagueira e a neu­rose típi­cas dos per­son­agens alter-ego do cineas­ta. Já Mar­i­on Cot­ti­lard empres­ta seu charme francês para uma per­son­agem de época incrív­el, sem citar tam­bém os out­ros atores que inter­pre­tam as fig­uras cânones da Lit­er­atu­ra e Artes Pás­ti­cas memoravelmente.

    Mas Meia Noite em Paris não se des­ti­na a ser ape­nas um filme sobre paixões literárias com ares de hom­e­nagem. O lon­ga traz à tona muito das cos­tumeiras críti­cas — e ao mes­mo tem­po paixões — do dire­tor sobre o pas­sa­do e a val­oriza­ção dele,superando a pre­mis­sa do que o anti­go é supe­ri­or ao atu­al. Ele pro­va que de for­ma nen­hu­ma desiste do seu próprio estilo.

    Ain­da, Allen colo­ca à pro­va e faz pia­da — e boas piadas — do int­elec­tu­al­is­mo acadêmi­co. O dire­tor pro­va que a ver­dadeira arte é aque­la em que a vida exper­i­men­ta a arte e vice-ver­sa, deixan­do mais claro o esti­lo que mar­cou a fil­mo­grafia do diretor. 

    Sim, Woody Allen é sem­pre o mes­mo e isso nun­ca será prob­le­ma. Com Meia Noite em Paris — vale ressaltar que é o filme com maior número de cópias de filmes do dire­tor no Brasil até hoje — deixa claro que seus filmes não são para uma mino­ria e muito menos de cun­ho int­elec­tu­al. O lon­ga vale para qual­quer tipo de expec­ta­dor que vá em bus­ca de risos ou em bus­ca de genial­i­dade. Com certeza o filme vale o ingres­so e inúmeras vezes se possível.

    Um úni­co porém é o car­taz de divul­gação no Brasil ser tão pouco con­dizente com o filme em si. Vale a pena con­ferir o belís­si­mo tra­bal­ho do car­taz inter­na­cional, um mix entre a figu­ra do escritor Gil Pen­der e o quadro A Noite Estre­la­da de Van Gogh.

    Out­ras críti­cas interessantes:

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=kdgdX2Sra5Y

  • Felicidade (1998), de Todd Solondz

    Felicidade (1998), de Todd Solondz

    Felicidade (1998), de Todd SolondzO que você pre­cisa para ser feliz? Quan­do con­seguir aqui­lo que dese­ja, isso lhe fará real­mente feliz? Talvez a per­gun­ta mais desafi­ado­ra seja a mais bási­ca: o que é feli­ci­dade? Todas essas per­gun­tas são, de algu­ma for­ma, feitas em Feli­ci­dade (Hap­pi­ness, USA, 1998), do dire­tor Todd Solondz. Mas, este não é nen­hum filme moti­va­cional de auto-aju­da, muito pelo con­trário, é uma críti­ca áci­da, cheia de humor negro, sobre pes­soas que de feliz, nada tem.

    Feli­ci­dade não faz car­in­ha do gat­in­ho do Shrek para ninguém. Há per­son­agens que vão des­de aque­le em trata­men­to psi­cológi­co por suas obsessões sex­u­ais, pas­san­do pelo próprio psicól­o­go em si, uma cri­ança desco­brindo a sex­u­al­i­dade, á família per­fei­ta amer­i­cana, todos são abor­da­dos com um humor áci­do, cheio de iro­nias, para descar­car até a últi­ma cama­da das aparên­cias super­fi­ci­ais de cada um.

    Temas como vio­lên­cia, assas­si­na­to, sexo, ped­ofil­ia, estupro, mas­tur­bação, iso­la­men­to, ter­apia e remé­dios são ape­nas pon­tos de par­ti­da para explo­rar o vas­to ques­tion­a­men­to deste esta­do de espíri­to pecu­liar alme­ja­do por muitos. O inter­es­sante em Feli­ci­dade é que, ao mes­mo tem­po que estes per­son­agens bus­cam ser felizes a qual­quer cus­to, tam­bém vivem repelin­do ela, sutil­mente e das mais vari­adas maneiras.

    Feli­ci­dade é um ver­dadeiro soco no estô­ma­go não só na hipocrisia da vida feliz que muitos dizem ter, mas tam­bém um mer­gul­ho na bus­ca do que é real­mente ser feliz. Como a músi­ca Hap­pi­ness, escri­ta por Eytan Mirsky e toca­da por Michael Stipe e Rain Phoenix, da própria tril­ha sono­ra do filme diz: Feli­ci­dade, onde está você? Eu pro­curei tan­to por você. ( Hap­pi­ness, where are you? I’ve searched so long for you. )

    Trail­er (infe­liz­mente não encon­trei legendado):

    httpv://www.youtube.com/watch?v=FkQ_JxoWUP8

  • Crítica: Padre

    Crítica: Padre

    crítica padreBasea­do na famosa HQ core­ana de mes­mo nome, Padre (Priest, USA, 2011), dirigi­do por Scott Charles Stew­art, é mais uma das várias adap­tações de Histórias em Quadrin­hos feitas pelo cin­e­ma amer­i­cano. Pos­suin­do belos efeitos espe­ci­ais para rep­re­sen­tar a já vel­ha luta entre home­ns e vam­piros, temos um filme visual­mente atraente, mas nar­ra­ti­va­mente e cine­tografi­ca­mente pobres.

    Em um mun­do pós-apoc­alíp­ti­co, onde des­de o começo dos tem­pos há guer­ras entre home­ns e vam­piros — que nes­ta ver­são são seres cin­zas e sem olhos- os humanos tin­ham pou­cas chances de vencer esta luta até sur­girem os Padres, exímios exter­mi­nadores de vam­piros. Tem­pos depois, quan­do se acred­i­ta­va que não havia mais peri­go, uma família é suposta­mente ata­ca­da por vam­piros e a sua fil­ha, Lucy (Lily Collins), rap­ta­da. Seu tio, um Padre (Paul Bet­tany), ten­ta aler­tar seus supe­ri­ores des­ta ameaça e vai atrás de vin­gança jun­to com Hicks (Cam Gigan­det), par român­ti­co de Lucy.

    É inegáv­el que o cin­e­ma e as HQs estão estre­i­tan­do seus laços cada vez mais, onde um aca­ba ali­men­tan­do o uni­ver­so do out­ro que, em segui­da, aca­ba servin­do de ali­men­to para o primeiro, um ver­dadeiro ciclo de retro-ali­men­tação. Isto não é nen­hu­ma novi­dade, Osamu Tezu­ka — cri­ador do Astro Boy, Speed Rac­er, … — inovou os mangás na sua época, quan­do inseriu nar­ra­ti­vas mais cin­e­matográ­fi­cas em seu tra­bal­ho, que mais tarde acabaram influ­en­cian­do muitas obras do cin­e­ma. Quan­do uma obra é adap­ta­da para um out­ro meio, é dese­jáv­el que se explore as novas pos­si­bil­i­dades deste e não que sim­ples­mente se faça uma trans­posição de um para o out­ro. Infe­liz­mente, é jus­ta­mente neste pon­to que Padre não soube explorar.

    Antes que você comece a se per­gun­tar, já vou respon­der: não, não sou daque­les chatos que fica procu­ran­do tudo que tem em uma HQ no filme e, neste caso em par­tic­u­lar, até nem teria como faz­er isto pois ain­da não tive ain­da a opor­tu­nidade de ler a obra. Muitas cenas do Padre, havi­am ele­men­tos que pare­ci­am ser niti­da­mente trans­pos­tos de um desen­ho, mas que não fun­cionavam efe­ti­va­mente nas telas, só se a imagem fos­se estáti­ca. A trans­fo­mação na mudança de expressão e gestos dos atores, tril­ha sono­ra, movi­men­tação da câmera de um pon­to ao out­ro, … todos ess­es ele­men­tos impor­tantes para a lin­guagem cin­e­matográ­fi­ca pare­cem não ter tido tan­ta importân­cia quan­to o de ter cenas “fiéis” aos quadrin­hos. Me per­gun­to, de que adi­anta você ver uma cena muito bem pro­duzi­da visual­mente se o ator tem expressão de peixe e movi­men­tos mecânicos?

    Os momen­tos de cli­max das cenas de ação em Padre ficaram sim­ples­mente fra­cos, dev­i­do a fal­ta da uti­liza­ção mais elab­o­ra­da destes ele­men­tos, ficou difí­cil haver aque­le envolvi­men­to com ten­são e emoções que o cin­e­ma per­mite. O roteiro fra­co cer­ta­mente aju­dou neste que­si­to tam­bém, não que seja necessário muitas expli­cações em uma tra­ma de padres matan­do vam­piros, mas um pouco mais de desen­volvi­men­to teria feito grande diferença.

    Padre provavel­mente é daque­las obras que por enquan­to — uma sequên­cia é deix­a­do em aber­to no final — deve fun­cionar mais como HQ do que como filme. Aliás, fiquei bem curioso de ler ela, aqui no Brasil foi pub­li­ca­da pela Lumus Edi­to­ra.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er Legendado:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=_nOxYl80FDA

  • Crítica: Não se pode viver sem Amor

    Crítica: Não se pode viver sem Amor

    Histórias e vidas que se entre­cruzam não são novi­dade no cin­e­ma e em Não se pode viv­er sem Amor (Brasil, 2011), o dire­tor Jorge Durán já joga as car­tas dizen­do que não pre­tende rein­ven­tar o esti­lo nar­ra­ti­vo e sim ver de out­ros ângu­los o entre­laça­men­to das relações humanas. O lon­ga, que parte de um esti­lo mais exper­i­men­tal, surge trazen­do tendên­cias bem difer­entes do cos­tumeiro cin­e­ma hiper­re­al­ista do país.

    Gabriel é um garo­to de 10 anos que vive com Roseli no inte­ri­or do Rio de Janeiro. Os dois, deci­di­dos a encon­trar o pai do meni­no, partem na véspera do Natal para a cap­i­tal numa saga de encon­tros e des­en­con­tros em bus­ca dele. A tra­jetória da dupla vai ser par­til­ha­da com out­ros per­son­agens em um Rio de Janeiro urbano e caóti­co onde todos estão em bus­ca de algo.

    Jorge Durán é con­heci­do pelos roteiros com con­teú­dos bem enga­ja­dos social­mente e con­sid­er­a­dos clás­si­cos do cin­e­ma nacional dos anos 80 como Pixote — a lei do mais fra­co e Lúcio Flávio, Pas­sageiro da Ago­nia. Mais tarde tra­bal­hou como dire­tor em lon­gas como o pre­mi­a­do Proibido Proibir onde já se con­tor­na­va um esti­lo de entre­laça­men­to de per­son­agens soci­ais. Em Não se pode viv­er sem Amor o dire­tor chile-brasileiro con­tin­ua no esti­lo do últi­mo lon­ga, mas dan­do um con­torno que beira mais para um real­is­mo-fan­tás­ti­co onde situ­ações cor­riqueiras e fan­ta­siosas fun­cionam como ele­men­tos fun­da­men­tais para que a real­i­dade se torne mais suportáv­el de se encarar.

    A fotografia, assim como as atu­ações e pro­dução em ger­al de Não se pode viv­er sem Amor, são muito inter­es­santes. O filme tem uma pega­da bem ao esti­lo lati­noamer­i­cano, não focan­do situ­ações soci­ais que nor­mal­mente caem no sen­sa­cional­is­mo como, por exem­p­lo, um assalto na per­ife­ria do Rio de Janeiro se tornar uma ação exis­ten­cial­ista e não mera­mente uma con­se­quên­cia crua e social.

    Aparente­mente, há uma fal­ta de lóg­i­ca na nar­ra­ti­va que não se pre­ocu­pa em nen­hum momen­to em cumprir lin­has de raciocínio. Segun­do o próprio dire­tor Jorge Durán, Não se pode viv­er sem Amor é um filme que tra­ta da sobra nos rela­ciona­men­tos e, prin­ci­pal­mente, da fal­ta do sen­ti­men­to que segue o títu­lo, o amor. Por­tan­to, partin­do desse pon­to de vista de que a pre­ocu­pação está nas fal­tas, o filme cumpre o papel fug­in­do da nar­ra­ti­va clás­si­ca e beiran­do para um cin­e­ma mais de sen­sação e experimentos.

    O elen­co de Não se pode viv­er sem Amor chama atenção por con­tar com nomes que vêm apare­cen­do con­stan­te­mente nas pro­duções como Simone Spo­ladore e Fabi­u­la Nasci­men­to. Mas, ao mes­mo tem­po, parece que nen­hum dos atores se desta­ca muito, não sendo isso um prob­le­ma mas ape­nas uma lacu­na na pro­pos­ta do lon­ga. O que inco­mo­da nas atu­ações é o meni­no inter­pre­ta­do por Vic­tor Nave­ga Mot­ta, em muitos momen­tos se apre­sen­ta num papel um pouco força­do e até típi­co de atu­ações de primeira viagem mas aca­ba não com­pro­m­e­tendo o longa.

    Não se pode viv­er sem Amor pode causar sen­sações adver­sas na plateia, mas vale o ingres­so para aque­les que pref­er­em exper­i­men­tar rumos difer­entes de dra­matur­gia fílmi­ca, se pro­pon­do a novos ques­tion­a­men­tos no entorno da ficção.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=-Xr8TuzuK1A

  • Crítica: A Minha Versão do Amor

    Crítica: A Minha Versão do Amor

    Final­mente uma adap­tação bem suce­di­da de best-sell­er para o cin­e­ma. A Min­ha Ver­são do Amor (Bar­ney’s Ver­sion, 2010, Canadá/Itália), dirigi­do por Richard J. Lewis, basea­da no livro, A ver­são de Bar­ney, de Morde­cai Rich­ler, faz jus a diver­ti­da nar­ra­ti­va do escritor canadense, que segun­do espec­u­lações, tornou ficção suas próprias peripé­cias no livro de sucesso.

    Bar­ney Panof­sky (Paul Gia­mat­ti) é uma dessas fig­uras esquisi­tas que sem­pre que ten­ta acer­tar aca­ba enfian­do os pés pelas mãos. Ao tomar con­hec­i­men­to que um poli­cial aposen­ta­do escreveu um livro sobre o desa­parec­i­men­to de Boo­gie, mel­hor ami­go de Bar­ney, ele próprio começa a refle­tir sobre a sua ver­são dessa história e da sua vida movi­men­ta­da — foram três casa­men­tos e muitas situ­ações cômi­cas — até aque­le momento.

    A Min­ha Ver­são do Amor é a pro­pos­ta de Bar­ney, ao envel­he­cer, de relem­brar como transcor­reu boa parte dos even­tos de sua vida. Ele se propõe a bus­car na sua memória cada acon­tec­i­men­to ao lon­go dos anos partin­do do seu pon­to de vista e sen­ti­men­tos. E o mais inter­es­sante é que os ele­men­tos ¨memória¨ e ¨tem­po¨ fun­cionam como um per­son­agem-ele­men­to do filme indo, retor­nan­do e sumin­do em alguns momen­tos. O espec­ta­dor é con­vi­da­do a obser­var a vida desse homem, que de bonz­in­ho, cer­to e sério não tem quase nada — o que car­ac­ter­i­za um per­son­agem genial — além de cri­ar a sua própria ver­são sobre a vida dele.

    Nen­hu­ma novi­dade na sen­sa­cional atu­ação de Paul Gia­mat­ti que sem­pre parece estar agin­do tão nor­mal­mente que mal sabe­mos se ele inter­pre­ta ou as per­son­agens que gan­ham um pouco dele em suas iden­ti­dades. Ain­da, as cenas que Gia­mat­ti con­tra­ce­na com Dustin Hoff­mann são sen­sa­cionais, os dois for­mam um belo par de pai e fil­ho com boas dos­es de humor negro judeu.

    O tra­bal­ho de maquiagem em A Min­ha Ver­são do Amor é óti­mo, como o tem­po faz um vai-e-vem o pes­on­agem de Gia­mat­ti gan­ha tons bem nat­u­rais de envel­hec­i­men­to que fun­cionam de for­ma muito boa. Por se tratar de um filme que oscila entre a comé­dia e o dra­ma, a direção de fotografia tra­bal­hou em boa parte do lon­ga com tons claros que suavizam e dão charme no transcor­rer do argu­men­to, sem forçar nen­hu­ma situação.

    O espec­ta­dor não sai imune da sessão de A Min­ha Ver­são do Amor pois o lado da história que Bar­ney apre­sen­ta é extrema­mente gra­ciosa, um homem que come­teu muitos erros como qual­quer out­ro ao lon­go da vida. Sem muitas pre­ten­sões o per­son­agem — que sendo ou não um alterego de Rich­ler — empres­ta um saudo­sis­mo de per­son­agens clás­si­cos da Lit­er­atu­ra Mar­gin­al. Bar­ney é um per­son­agem que vive dos extremos, faz tudo por amor, mas tam­bém vive fazen­do coisas que vão con­tra seus rela­ciona­men­tos, ou seja, um anti-herói bem ao esti­lo que agra­da ao espec­ta­dor que sabe muito bem que a vida é como Panof­sky vive, desregra­da, cheia de altos e baixos e no fim, mes­mo você não saben­do mais quem é de fato, sabe que era assim que tin­ha que ter sido.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=5v6pWOvUpc8

  • Crítica: Água para Elefantes

    Crítica: Água para Elefantes

    Mais um lon­ga basea­do em best-sell­er de suces­so, Água para Ele­fantes (Water for Ele­phants, E.U.A., 2011), escrito orig­i­nal­mente por Sara Gru­en e dirigi­do por Fran­cis Lawrence, apos­ta em elen­co de nome mas, dev­i­do ao roteiro fra­co ele se colo­ca na lista de ape­nas mais um dos dra­mas medi­anos nos lança­men­tos do ano.

    A vida de Jacob Jankows­ki (Robert Pat­tin­son) tin­ha tudo para ser bem suce­di­da após o tér­mi­no da fac­ul­dade de med­i­c­i­na vet­er­inária. Mas após um grave inci­dente, o jovem aca­ba se jun­tan­do ao Cir­co Ben­zi­ni Bros para poder se sus­ten­tar, em pleno perío­do da Grande Depressão amer­i­cana. Na com­pan­hia do cir­co, Jankows­ki desco­bre muitas coisas, inclu­sive o amor pela artista Mar­lena (Reese With­er­spoon) e não vai poupar esforços para que isso dê certo.

    Como não con­heço a obra orig­i­nal fica difí­cil diz­er se Água para Ele­fantes é somente mal adap­ta­do ou se o argu­men­to em ger­al é que é fra­co. Segun­do o dire­tor, a intenção foi reforçar o romance entre Mar­lena e o jovem Jacob, mas a dupla de atores não têm a mín­i­ma quími­ca. O jovem Pat­tin­son ain­da tem um lon­go cam­in­ho den­tro do cin­e­ma para se desven­cil­har do car­i­ca­to vam­piro da saga Crepús­cu­lo. Já Reese é visivel­mente a pior escol­ha para uma artista circense, sendo muito magra e peque­na para as grandes artis­tas do cir­co da déca­da de 30. Claro que o elen­co pos­sui um trun­fo, o inter­es­sante Christo­pher Waltz, que sem­pre se sai muito bem, como August o vilão-dono-de-cir­co e mari­do traí­do. A relação mais inter­es­sante e tra­bal­ha­da de for­ma bacana é entre Jacob e a aliá Rosie, que sem som­bra de dúvi­da arran­ca risos e ale­grias do espec­ta­dor se com­para­da ao resto do elenco.

    Todo uni­ver­so do cir­co pode­ria ter sido bem aproveita­do em Água para Ele­fantes se não fos­se o tom romanesco força­do entre Mar­lena e Jacob. Até no polêmi­co Freaks, de 1932, o uni­ver­so do cir­co é mostra­do de for­ma mais autên­ti­ca e inter­es­sante. Mas o lon­ga tem suas qual­i­dades, a fotografia é bem con­trastante e ali­a­da ao fig­uri­no dos atores faz jus ao perío­do em que se pas­sa o filme.

    Um dia dess­es brin­quei com a expressão ¨fordis­mo no cin­e­ma¨, por causa da nova moda de atores que estão em alta no mer­ca­do faz­erem papéis em vários filmes, um atrás do out­ro. Numa mes­ma sem­ana estre­ou dois filmes com a With­er­spoon, o espec­ta­dor mal tem tem­po de digerir um per­son­agem e na out­ra sem­ana o ator aparece em um novo papel.Já o Pat­tin­son vem ten­do opor­tu­nidades — mes­mo que ain­da não as aproveite — de se desvin­cu­lar do per­son­agem ado­les­cente. Água para Ele­fantes reforça o sen­ti­men­to mais recor­rente quan­do saio da sala de cin­e­ma atual­mente, que aparenta ser tudo feito muito às pres­sas. Não que os filmes deix­em a dese­jar na pro­dução, fotografia e afins. 

    Na ânsia de adap­tar uma boa história e que ela seja ren­táv­el, muito do proces­so artís­ti­co se perde. Água para Ele­fantes é mais um dra­ma foca­do em romance que agra­da com a sen­si­bi­liza­ção de algu­mas situ­ações con­tadas a par­tir do nar­rador, já idoso, Jacob, mas que no restante não preenche o vazio que o cin­e­ma amer­i­cano vem deixan­do com as últi­mas produções.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=QVFfESV4Vww

  • Crítica: A Garota da Capa Vermelha

    Crítica: A Garota da Capa Vermelha

    Depois de adap­tações voltadas à seres mitológi­cos do imag­inário cul­tur­al como vam­piros e lobi­somens, as novas pro­duções em série do cin­e­ma amer­i­cano apos­tam em releituras de clás­si­cas fábu­las infan­tis. Seguir um viés mais real­ista para essas fábu­las é uma pro­pos­ta inter­es­sante e em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha (Red Hid­ing Hood, USA, 2011) de Cather­ine Hard­wicke, basea­do no clás­si­co A Chapeuz­in­ho Ver­mel­ho, a pre­mis­sa da adap­tação acabou fican­do des­fo­ca­da diante de tan­tos ele­men­tos de entreten­i­men­to, volta­dos prin­ci­pal­mente ao públi­co jovem.

    O vilare­jo de Dag­ger­horn con­vive há várias ger­ações com a pre­sença mitológ­i­ca de um lobo. Tan­to que cri­aram uma espé­cie de pacto de paz que aca­ba de ser que­bra­do pela morte de uma jovem e com isso desco­brem que o lobo é na ver­dade um lobi­somem e que este pode ser qual­quer um da vila. Ao tentarem solu­cionar o prob­le­ma chamam o car­ras­co padre Salomon (Gary Old­man), que traz a questão sobre o mito ver­sus religião. Valérie (Aman­da Seyfried) é a irmã mais vel­ha da víti­ma e está fada­da a ter um des­ti­no infe­liz ao se casar com um rapaz que não ama e ao desco­brir que é a úni­ca com quem o lobo con­ver­sa, muito do des­ti­no da jovem irá mudar.

    A con­fig­u­ração históri­ca e a pre­sença do cenário na idade média, con­tan­do com todos os ele­men­tos reli­giosos da época ten­ta recri­ar, de for­ma bem inter­es­sante, o para­doxo de Deus e Dia­bo diante da len­da do Lobi­somen que ron­da o imag­inário do pequeno vilare­jo. A situ­ação de lidar com a religião e os mitos é bem pre­sente na intenção de A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha e pode­ria ter sido bem uti­liza­da se não fos­se o foco no obscu­ran­tismo — força­do! — da len­da e no romance fraquin­ho entre os pos­síveis per­son­agens principais.

    A per­son­agem de Valérie, inter­pre­ta­da por Aman­da Seyfried é bem pouco caris­máti­ca, sendo apre­sen­ta­da como uma pos­sív­el mul­her forte e difer­ente mas aca­ba não se sus­ten­tan­do de for­ma con­vin­cente durante o lon­ga. Aliás, A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha pos­sui todos os clichês do tra­bal­ho ante­ri­or da dire­to­ra, o primeiro filme da fran­quia Crepús­cu­lo, deixan­do claro que ela não se sus­ten­ta como boa real­izado­ra, repetindo as mes­mas jogadas. Ain­da, os per­son­agens que dev­e­ri­am sus­ten­tar o enre­do ficam per­di­dos em super­fi­cial­i­dade na atu­ação, se pren­den­do a jogadas de olhar para as câmeras e juras de amor eter­no, esque­cen­do da tra­ma em si.

    Os efeitos de CGI estão bem pre­sentes em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha, o lobi­somem é um mis­to de todos os seres cani­nos exis­tentes e trans­for­ma­do num enorme cão com olhos e dentes raivosos, mas niti­da­mente manip­u­la­do. Esse efeito e alguns exter­nos, prin­ci­pal­mente em cenas de visão aérea da vila, soam força­dos quan­do colo­ca­dos em con­traste com os ele­men­tos medievais apre­sen­ta­dos no lon­ga. Mas a fotografia, em cenas ambi­en­tadas den­tro da vila, é geral­mente muito boa e o fig­uri­no tam­bém é um pon­to pos­i­ti­vo e bem agradável.

    O prin­ci­pal prob­le­ma em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha é ten­tar pare­cer con­vin­cente — de for­ma con­sciente ou não — forçan­do a visão român­ti­ca entre humano e criatu­ra, algo já pro­pos­to des­de os tem­pos de Drácu­la, Franken­stein e atual­mente na lit­er­atu­ra pop infan­to-juve­nil. A dire­to­ra força as ati­tudes no decor­rer do lon­ga que acabam o levan­do para o rol de filmes-rótu­los e fór­mu­las que fun­cionam para o atu­al cin­e­ma-instân­ta­neo, facil­mente esque­ci­do em menos de 2 sem­anas em car­taz. Talvez o lon­ga val­ha o ingres­so pela curiosi­dade de se ver uma fábu­la revista para o cin­e­ma, ou ain­da para um grande públi­co que se inter­es­sa pelo esti­lo. Parece tam­bém que muitas out­ras ver­sões de fábu­las vem por ai, res­ta esperar…

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=rr6wiWSrJ48

  • Crítica: Eu Sou o Número Quatro

    Crítica: Eu Sou o Número Quatro

    crítica eu sou o numero quatroDepois do suces­so das histórias român­ti­cas de vam­piros para ado­les­centes, ago­ra talvez se ini­cia um novo nicho a ser explo­rado: aliení­ge­nas. Eu Sou o Número Qua­tro (I Am Num­ber Four, USA, 2011), dirigi­do por D.J. Caru­so, desen­volve sua tra­ma focan­do prin­ci­pal­mente nas difi­cul­dades de aceitação den­tro de uma esco­la e, é claro, em um romance fenom­e­nal — e impos­sív­el — entre dois personagens.

    John Smith (Alex Pet­tyfer) é o dis­farçe do número Qua­tro entre os humanos, que está quase sem­pre acom­pan­hado de seu pro­te­tor Hen­ri (Tim­o­thy Olyphant). Os três primeiros mem­bros de sua raça foram assas­si­na­dos e ele é o próx­i­mo da lista. Enquan­to se esconde na tran­quila cidade Par­adise e vai desco­brindo seus poderes, con­hece a estu­dante Sarah Hart (Dian­na Agron) pela qual logo se apaixona. Mas, logo é local­iza­do pelos inimi­gos e ao lado da número Seis (Tere­sa Palmer), que tam­bém o encon­tra, ten­tam lutar jun­tas para sal­var sua espécie.

    Ape­sar de haver muitas pos­si­bil­i­dades de desen­volvi­men­to em torno do tema de aliení­ge­nas, Eu Sou o Número Qua­tro mal chega a tocar a super­fí­cie delas. Isso tan­to explici­ta­mente quan­to implici­ta­mente, pois muitas vezes o enre­do do filme em si foi mal tra­bal­ha­do, mas a riqueza visu­al ficou incrív­el, como acon­te­ceu por exem­p­lo em O Últi­mo Mestre do Ar. Uma ou out­ra vez se ten­tou faz­er uma refer­ên­cia inteligente ou engraça­da a série Arqui­vo X — que ficou ridícu­la — e a jogos de videogames, mas deixaram e muito a desejar.

    Isso sem falar na cur­va de apren­diza­do do per­son­agem prin­ci­pal que é sim­ples­mente absur­da. Parece que ele sim­ples­mente fez um down­load do pro­gra­ma “super poderes ver­são: número 4”, esti­lo Matrix, e pron­to, já sabia faz­er tudo. E eu acred­i­ta­va que em Per­cy Jack­son e o Ladrão de Raios isso já tin­ha sido bem rápi­do, mas Eu Sou o Número Qua­tro defin­i­ti­va­mente super­ou em questão de veloci­dade. Acred­i­to que este tem­po, a menos que ten­ha algu­ma razão espe­cial para ser difer­ente, é essen­cial para o desen­volvi­men­to da tra­ma do filme e todos os seus indivíduos.

    As atu­ações em Eu Sou o Número Qua­tro são muito fra­cas, a impressão que fica é que não hou­ve uma entre­ga total dos atores em relação a seus per­son­agens, que jun­tan­do ao fato de serem bem super­fi­ci­ais ape­nas piorou a situ­ação. O destaque de pés­si­ma atu­ação vai prin­ci­pal­mente para o ator Tim­o­thy Olyphant — alguém mais achou ele muito pare­ci­do com o Jim Car­rey? — que faz o papel de pro­te­tor de John, as cenas dele se indig­nan­do com algo ficaram engraçadas de tão ruins. Além dis­so, os efeitos espe­ci­ais tam­bém não são nada demais, chegan­do até a cansar um pouco pois você já sabe exata­mente o que esperar.

    Como uma sessão bas­tante pipoca para ado­les­cente ou adul­tos que gostam de tra­mas envol­ven­do prob­le­mas esco­lares e amores eter­nos e impos­síveis, Eu Sou o Número Qua­tro é uma óti­ma opção. Já se você esper­a­va ver algo difer­ente dis­so, nem que fos­se algu­ma cois­in­ha inter­es­sante sobre aliení­ge­nas ou belos efeitos espe­ci­ais, recomen­do forte­mente escol­her out­ro filme ou assi­s­tir a série Smal­l­ville.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=YwkVBUhlDkw

  • Crítica: Catfish

    Crítica: Catfish

    crítica catfish

    Cada vez mais, nos­sas vidas estão mais conec­tadas — ou reg­istradas — na inter­net. Você pos­ta um pen­sa­men­to rápi­do no Twit­ter, se comu­ni­ca com seus ami­gos no Face­book, envia suas fotos para o Flickr, … Cat­fish (USA, 2010) é um doc­u­men­tário, dirigi­do por Hen­ry Joost e Ariel Schul­man, que explo­ra jus­ta­mente as relações, cada vez mais, virtuais.

    Nev Shul­man é um fotó­grafo de 24 anos de idade que ao ter uma foto pub­li­ca­da em um jor­nal, con­hece Abby Pierce, uma meni­na de 8 anos que gos­ta de pin­tar. Através do Face­book, ele aca­ba con­hecen­do a irmã mais vel­ha de Abby, Megan Fac­cio, a qual logo cria uma afinidade e a par­tir daí um rela­ciona­men­to vir­tu­al se inicia.

    Não vou falar muito pois Cat­fish é aque­le tipo de filme que o quan­to menos você sabe a respeito do decor­rer da tra­ma, mel­hor. Assim você con­segue expe­ri­en­ciar ao máx­i­mo sem ficar aguardan­do algum acon­tec­i­men­to já pre­vis­to, com as grandes sur­pre­sas já con­heci­das. Tive a mes­ma sen­sação quan­do vi Ricky, out­ro lon­ga muito inter­es­sante, sobre um bebê bem difer­ente do nor­mal, onde qual­quer infor­mação a mais sobre ele estra­ga a surpresa.

    Em A Rede Social, foi pos­sív­el acom­pan­har o surg­i­men­to do Face­book e várias mudanças que esta fer­ra­men­ta pro­por­cio­nou. Já Cat­fish, sim­ples­mente leva você muito mais além do uso dela e da comu­ni­cação á dis­tân­cia em ger­al. Para quem usa redes soci­ais na inter­net é muito difí­cil não haver qual­quer tipo de iden­ti­fi­cação com o filme, pois ele lida com situ­ações que acon­te­cem todos os dias nelas. As várias questões entre o real e o vir­tu­al vivi­das por Nev, reper­cutem dire­ta­mente sobre todos os usuários mais ativos da inter­net. Uma das fras­es dita por ele que real­mente traz o que pen­sar a respeito deste assun­to é: “ela deve ser bem mas­sa, pelo menos no Face­book…”.

    Além dis­so nos faz refle­tir sobre a maneira que lidamos com relações no mun­do vir­tu­al, com as novas pos­si­bil­i­dades e lim­i­tações que exis­tem den­tro delas, sem ser de maneira algu­ma uma lição de moral ou algo educa­ti­vo, mas sim um rela­to muito pes­soal. Aliás, acred­i­to que Cat­fish tam­bém pode­ria ser um óti­mo estí­mu­lo para ini­ciar dis­cussões sobre este assun­to entre jovens, den­tro ou fora das salas de aula.

    Uma das grandes per­gun­tas que fica durante e após ver Cat­fish é se aqui­lo real­mente acon­te­ceu da for­ma que foi exibido. Assim como o ques­tion­a­men­to a respeito da inter­net lev­an­ta­do aci­ma, temos o mes­mo em relação ao próprio filme. Seria ele ficção, real­i­dade, ou até uma mis­tu­ra entre os dois? Dev­i­do ao seu esti­lo bem caseiro, descon­traí­do e pes­soal, é muito fácil esque­cer de que há alguém segu­ran­do uma câmera em algum lugar, pois a sen­sação é de que esta­mos real­mente lá com ele acom­pan­han­do aque­las situações.

    Para quem ficou curioso do porque do títu­lo Cat­fish, no final dele um per­son­agem fala uma curiosi­dade bem inter­es­sante sobre o bagre (cat­fish) que aca­ba expli­can­do o moti­vo da escol­ha. Out­ra coisa inter­es­sante foi a apre­sen­tação, no iní­cio do filme, do logo da Uni­ver­sal, que ficou muito bem fei­ta para poder com­bi­nar com o lon­ga. Ideia pare­ci­da tam­bém foi fei­ta para o lon­ga Scott Pil­grim Con­tra o Mun­do.

    Con­forme a tra­ma de Cat­fish vai se desen­vol­ven­do, uma cer­ta ten­são vai aumen­tan­do, a pon­to de em cer­tos momen­tos ficar tão grande que faz você se retorcer inteira­mente numa mis­tu­ra de curiosi­dade, medo e incon­formi­dade. Con­fes­so que poucos filmes me deixaram tão ten­sos quan­to este. Infe­liz­mente o mes­mo ain­da não foi lança­do ofi­cial­mente aqui no Brasil, mas se por algum meio — há algu­mas ver­sões leg­en­dadas pela inter­net — você tiv­er a opor­tu­nidade assistí-lo, não pense duas vezes.

    Para quem quis­er pesquis­ar mais depois de ter assis­ti­do, o site ofi­cial do doc­u­men­tário Cat­fish é excep­cional. Ele sim­u­la o aces­so ao com­puta­dor de Nev, onde você pode além de aces­sar alguns mate­ri­ais sobre o lon­ga, ver fotos, reg­istro de con­ver­sas via chat e emails dele. Além dis­so há tam­bém uma pas­ta pro­te­gi­da, alguém por aca­so con­seguiu desco­brir qual é a senha?

    Out­ras críti­cas interessantes:

    • Alexan­dre Maki, no seu blog

    Con­segui achar um trail­er leg­en­da­do, mas mes­mo haven­do vários erros de tradução na leg­en­da, para quem não entende inglês con­tin­ua sendo váli­do. Mais abaixo colo­quei o trail­er orig­i­nal sem legendas.

    Trail­er Legendado:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=TOQmDxOV4‑0

    Out­ro Trail­er — Sem Legendas:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=1xp4M0IjzcQ

  • Crítica: Hobo With a Shotgun (O Vingador)

    Crítica: Hobo With a Shotgun (O Vingador)

    Crítica Hobo with a ShotgunPrimeira­mente, é inegáv­el que Hobo With a Shot­gun (EUA/CAN, 2011), de Jason Eisen­er, entre­ga com sobras aqui­lo que prom­ete. Aliás, prom­ete antes mes­mo de ser um filme de fato, des­de que ain­da era ape­nas mais um dos trail­ers fal­sos de Grind­house (EUA, 2007). Em tem­pos em que prati­ca­mente não podemos mais con­sid­er­ar qual­quer lon­ga como “o mais vio­len­to que já vimos”, porque tal car­go é suplan­ta­do por uma série de novos filmes a cada ano, Hobo With a Shot­gun cer­ta­mente colo­ca seu nome entre eles.

    E longe de mim con­sid­er­ar essa “com­petição” pela vio­lên­cia como uma coisa ruim. Con­sidero a vio­lên­cia estiliza­da como uma das coisas mais diver­tidas que o cin­e­ma pode nos pro­por­cionar e me posi­ciono rad­i­cal­mente con­tra as man­i­fes­tações con­tra os chama­dos “filmes vio­len­tos”. Claro que há casos e casos, há a vio­lên­cia fan­tás­ti­ca de um Machete (EUA, 2010) ou de um Kill Bill (EUA, 2003), enquan­to há aqui­lo que é gra­tu­ito e injus­ti­fi­ca­do de filmes que nada tem a diz­er, como O Alber­gue (EUA, 2005).

    Hobo With a Shot­gun se enquadra na primeira cat­e­go­ria. A vio­lên­cia pode, sim, ser gra­tui­ta, mas ela está ali muito mais para diver­tir que para chocar. E sim, fun­ciona, inegavel­mente. Mas infe­liz­mente, e talvez aí a cul­pa seja min­ha por ter deposi­ta­do esper­anças demais no filme des­de que ele começou a ser divul­ga­do, as coisas acabam não sendo tão boas como poderiam…

    O títu­lo é a mel­hor sinopse pos­sív­el para o que acon­tece nos pouco mais de 80 min­u­tos de Hobo With a Shot­gun: um mendi­go com uma esp­in­gar­da que resolve colo­car uma cidade cor­romp­i­da de vol­ta ao eixo. Rut­ger Hauer inter­pre­ta o per­son­agem prin­ci­pal, um mendi­go recém-chega­do à cita­da cidade que, logo em seus primeiros instantes, pres­en­cia uma exe­cução a céu aber­to per­pe­tra­da pelo “dono” da cidade, o traf­i­cante Drake (Bri­an Downey), que cul­mi­na com uma dança sen­su­al ban­ha­da pelo sangue que lit­eral­mente esguicha do cor­po decap­i­ta­do. É basi­ca­mente assim que somos intro­duzi­dos ao filme.

    Ao sal­var a vida de Abby (Mol­ly Dun­w­stowth), o Mendi­go é cas­ti­go pelos fil­hos de Drake e pela polí­cia cor­rup­ta da cidade. Depois dis­so, durante um assalto numa loja na qual esta­va, decide faz­er justiça na cidade e começa a ir atrás de cafetões, pedó­fi­los e todo e qual­quer tipo de desajus­ta­do, até chegar ao próprio Drake.

    Tudo o que acon­tece em Hobo With a Shot­gun é muito grá­fi­co e exager­a­do, e vai des­de muti­lação da mão com um cor­ta­dor de gra­ma a tiro no saco. Porém, tudo é TÃO exager­a­do que não chega a ser chocante, ain­da mais para os padrões cin­e­matográ­fi­cos atuais.

    Mas nem tudo são flo­res. O filme é diver­tido, é vio­len­to, o per­son­agem prin­ci­pal é caris­máti­co. OK. Mas fal­ta “algo”. Li comen­tários que cer­tos ele­men­tos ruins do cin­e­ma dos anos 70 são usa­dos proposi­tal­mente, mas não acho que ten­ha sido a mel­hor escol­ha. O expec­ta­dor não é real­mente apre­sen­ta­do a nen­hum dos per­son­agens e nem às relações entre eles. Não que o pano de fun­do seja extrema­mente necessário para o que o lon­ga se propõe (como eu disse ante­ri­or­mente, isso Hobo With a Shot­gun cumpre com sobras), mas no fim fica um cer­to vazio, o que, para mim, aca­ba sendo um pon­to neg­a­ti­vo que pesa bas­tante. Já os diál­o­gos ruins (aí sim, niti­da­mente proposi­tais) divertem por um tem­po, mas acabam cansan­do no desen­ro­lar da história.

    Rut­ger Hauer é con­vin­cente como o Mendi­go, mas o resto do elen­co, quase que total­mente for­ma­do por descon­heci­dos, não segu­ra a pete­ca em momen­tos impor­tantes da história. Talvez isso ten­ha a ver, tam­bém, com a direção do inex­pe­ri­ente Jason Eisen­er (este é prati­ca­mente seu primeiro lon­ga), que con­tribuiu para que falte o punch necessário ao filme. Se isso tam­bém foi proposi­tal, aí sim a escol­ha foi defin­i­ti­va­mente errada.

    No lado pos­i­ti­vo, a tril­ha sono­ra e o Tech­ni­col­or garan­tem a parte boa do climão exploita­tion, mas não fazem de Hobo With a Shot­gun uma exper­iên­cia tão boa quan­to pode­ria ser para os fãs deste tipo de cinema.

    Assisti Hobo With a Shot­gun queren­do adorá-lo, mas não con­segui. Me pren­deu, sim, da primeira à últi­ma cena e em momen­to algum me pare­ceu uma per­da de tem­po, mas eu que­ria muito que fos­se algo mais, como foi Machete (o out­ro – e bril­hante – spin-off de Grind­house). É o típi­co filme cujas opiniões a respeito diver­girão muito. Só por isso, acho que vale a pena assi­s­tir e tirar sua própria conclusão.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=6qLinsS4rjk

  • Crítica: Fora-da-lei

    Crítica: Fora-da-lei

    crítica Fora-da-leiFora-da-lei (Hors-la-Loi, França/Argélia/Bélgica, 2010), com roteiro e direção de Rachid Bouchareb, é bem mais do que ape­nas um filme de ação, ide­ológi­co, ou até históri­co. Além de jun­tar ess­es três ele­men­tos de maneira pri­morosa, é cri­a­do uma atmos­fera de época belís­si­ma que em con­jun­to com um enre­do bem desen­volvi­do torna‑o um lon­ga muito interessante.

    Abdelka­d­er, Mes­saoud e Said são três irmãos argeli­nos que, após serem expul­sos de sua ter­ra natal seguem cam­in­hos sep­a­ra­dos. Depois de alguns anos eles voltam a se reen­con­trar na França para, cada um de sua maneira, lutar pela liber­dade pes­soal e de sua nação.

    Difer­ente de muitas out­ras rep­re­sen­tações de movi­men­tos com luta arma­da, Fora-da-lei não se uti­liza daque­le tom aven­tureiro e, de cer­ta for­ma, van­glo­ri­ador — para não diz­er fan­tás­ti­co ou utópi­co — das ações e vidas dessas pes­soas. Sua visão está mais para um filme de guer­ra, onde o máx­i­mo de glam­our que você pode ter são roupas — ou uni­formes — mais boni­tos e armas mais poderosas, mas não escon­den­do em nen­hum momen­to a situ­ação real dessas pes­soas. Aliás, o esti­lo estéti­co remete bas­tante aos filmes de mafiosos, que ficou uma mis­tu­ra bem inter­es­sante jun­to com o con­tex­to político.

    Aliás, a políti­ca é o tema prin­ci­pal do lon­ga e em cada um dos três per­son­agens prin­ci­pais de Fora-da-lei, temos um pen­sa­men­to bem difer­ente de como faz­er uma rev­olução. Um é o teóri­co ao extremo que não con­segue aplicá-la na práti­ca, out­ro um ex-sol­da­do que ape­nas sabe seguir ordens e usar sua força e por fim, o últi­mo imag­i­na uma meio indi­re­to e com­ple­ta­mente difer­ente dos out­ros dois, e da maio­r­ia destes rev­olu­cionários, de real­mente cos­neguir mudar algo. Este con­fli­to de ideais e cam­in­hos diver­gentes é algo muito per­ti­nente quan­do se dis­cute esta questão tam­bém fora das telas. Mas o filme tam­bém não se propõe a dar uma respos­ta exa­ta para ela, cada um terá uma con­clusão depen­den­do de sua própria visão. Pois não há, nem nun­ca hou­ve, só uma respos­ta “cer­ta”.

    Fora-da-lei é um filme lon­go (2h18min) — em relação à maio­r­ia dos lança­men­tos — mas isso per­mi­tiu tam­bém um desen­volvi­men­to maior da for­mação de seus per­son­agens e da própria história. Mas a tran­sição entre os perío­dos do enre­do, sem­pre exibindo a data ou a estação do ano, infe­liz­mente, acabou sendo meio con­fusa e muitas vezes até desnecessária. Cul­pa talvez de um dese­jo da cri­ação de algo, de cer­ta for­ma, mais doc­u­men­tal. Mas graças a boa estru­tu­ra da história e cenas de ação bem con­struí­das, não ficou cansativo.

    É prin­ci­pal­mente o ques­tion­a­men­to ide­ológi­co que se desta­ca, mes­mo haven­do cenas com mui­ta vio­lên­cia e ação, lev­an­tan­do várias questões não só sobre os atos, mas tam­bém o impacto real que eles causam. Como saber o que real­mente fez a difer­ença? Para con­cluir, Fora-da-lei é um filme que se você tiv­er opor­tu­nidade de ver no cin­e­ma, com certeza vale o ingres­so! Caso o con­trário, sem­pre há a opção de alugá-lo.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=qAljVInNDik

  • Crítica: Rio

    Crítica: Rio

    crítica RIOAni­mações sem­pre são muito esper­adas pelo grande públi­co e Rio (Rio, E.U.A., 2011), do já cul­tua­do Car­los Sal­dan­ha, já esta­va no topo da lista dos lança­men­tos do ano. Preparan­do o públi­co para as Olimpíadas 2016, o lon­ga veio como um pra­to cheio para salien­tar a beleza e a cul­tura do Brasil, mais especi­fi­ca­mente da cidade do Rio de Janeiro.

    Blu é uma arara azul macho que des­de muito cedo foi tira­da do seu habi­tat nat­ur­al pelos con­tra­ban­dis­tas de aves. Indo parar numa cidadez­in­ha gela­da no esta­do de Min­neso­ta, nos E.U.A., o lin­do pás­saro azul é encon­tra­do por Lin­da, ain­da garot­in­ha, que cui­da e o ensi­na muitas coisas durante 15 lon­gos anos. A vida de Blu era per­fei­ta até apare­cer o biól­o­go brasileiro, Túlio. Saben­do que Blu é o úni­co macho da espé­cie, ele con­vence a sua dona Lin­da a irem até o Rio de Janeiro para que ele com a últi­ma fêmea, Jade, per­petuem a espé­cie. Só não con­tavam que o con­tra­ban­do de aves ain­da estivesse atrás de araras azuis, fazen­do da viagem uma ver­dadeira saga.

    Blu é muito além de um pás­saro ¨da família¨, como ele mes­mo diz, é uma arara azul inteligente, cheio de per­for­mances mas que ain­da não sabe voar. A relação dele com Jade, uma arara livre e amante de vôos, faz de Rio uma ani­mação que foca o enre­do em vários pon­tos inter­es­santes. Além de ser a jor­na­da sobre as situ­ações engraçadas de um pás­saro desacos­tu­ma­do ao seu habi­tat, ele traz um Brasil menos cos­tumeiro, mes­mo com car­naval, favela e etc. sem despen­car para nen­hum lado, soan­do sim­ples­mente agradável.

    O roteiro de Rio con­ta com um argu­men­to extrema­mente diver­tido e envol­vente. Mes­mo o trio de roteirista terem no cur­rícu­lo filmes extrema­mente fra­cos, a junção deles foi extrema­mente pro­du­ti­va. O lon­ga con­ta com tiradas muito diver­tidas e os per­son­agens tem suas per­son­al­i­dades bem mar­cadas, que se transpõem de somente bichos ani­ma­dos com belas tex­turas. Aliás, a parte téc­ni­ca é inques­tionáv­el. O dire­tor expli­ca que hou­ve meses de obser­vação quan­to ao com­por­ta­men­to das aves para que a ani­mação fos­se real­ista mas ao mes­mo tem­po encan­ta­do­ra aos olhos (leia-se fofin­ha). O 3D da ani­mação é bem sutil mas agradáv­el e as dubla­gens — ain­da bem — são óti­mas, realçan­do o teor das piadas, mas ain­da quero ouvir Jesse Eisen­berg com a voz de Blu.

    Não é nen­hu­ma novi­dade que o Brasil — cada vez mais — vem se tor­nan­do um país com mentes extrema­mente cria­ti­vas no genêro da ani­mação, seja para o cin­e­ma ou pub­li­ci­dade. A expor­tação dess­es artis­tas é inevitáv­el já que os estú­dios brazu­cas ain­da depen­dem de mui­ta ver­ba. Car­los Sal­dan­ha tem sido uma bela sur­pre­sa na área des­de que botou no cur­rícu­lo o pro­je­to de A Era do Gelo, seus tra­bal­hos sem­pre resul­tam em pro­duções de altís­si­ma qual­i­dade téc­ni­ca e roteiros sem­pre muito diver­tidos. Com Rio não é difer­ente, um lon­ga que con­segue exal­tar uma cidade tão pop­u­lar mun­do afo­ra sem se focar somente ou no car­naval ou nas maze­las soci­ais vivi­das ali. Vale o ingres­so, com pipoca e muito bom humor!

    Par­ticipe tam­bém da Pro­moção Rio e con­cor­ra a con­vites para ver o filme de graça.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    • Lean­dro Melo, no Pipoca Com­bo
    • Trail­er:

      httpv://www.youtube.com/watch?v=jDAJCc1IkPI

  • Crítica: Elvis e Madona

    Crítica: Elvis e Madona

    crítica elvis e madonaSão poucos os filmes de comé­dia român­ti­ca que con­seguem sair um pouco do padrão do gênero. Elvis e Madona (Brasil, 2010), dirigi­do por Marce­lo Laf­fitte, faz da inver­são de opções sex­u­ais dos per­son­agens prin­ci­pais, o grande chama­riz para o seu lon­ga sair do lugar comum.

    Elvis (Simone Spo­ladore) é uma moto­ci­clista que son­ha em ser fotó­grafo e em uma de suas entre­gas como “moto­girl” de uma piz­zaria, con­hece Madona (Igor Cotrim), uma cabel­ereira que son­ha em pro­duzir um show de teatro. Deste encon­tro inusi­ta­do, entre uma lés­bi­ca e um trav­es­ti, nasce uma história de amor nada convencional.

    Em Elvis e Madona temos todos os clichês das comé­dias român­ti­cas, mas por traz­er essa roupagem difer­en­ci­a­da, con­segue des­per­tar o lado cômi­co deles. Ape­sar dis­so, não traz nada mais inusi­ta­do, ou inteligente, sobre o assun­to. Graças a uma tril­ha sono­ra bem pre­sente e agi­ta­da, muitas situ­ações do lon­ga se tor­nam menos cansativas do que real­mente seri­am se não hou­vesse esse recur­so. Inclu­sive, uma de suas músi­cas é “Reflexo” da ban­da Beep-Polares, que é lid­er­a­da pelo próprio Igor Cotrim.

    O foco do filme é mes­mo a con­strução e o desen­volvi­men­to do amor entre esse dois per­son­agens, sem faz­er qual­quer ques­tion­a­men­to ou apro­fun­da­men­to em relação a opção sex­u­al de cada um deles. Ape­sar de em pou­cas cenas de Elvis e Madona haver um pre­con­ceito de out­ros per­son­agens, des­de incom­preen­são á repul­sa ficar mais aparente, essas situ­ações são rap­i­da­mente igno­radas ou concluídas.

    Elvis e Madona é um filme mais para diver­são, bem cin­e­ma pipoca, que ques­tiona com o con­ceito de casal mais usu­al, além é claro de tam­bém mex­er na feri­da do pre­con­ceito de muitos. Se você esta­va esperan­do algo mais ques­tion­ador e pro­fun­do sobre a questão de gêneros, este não é o lon­ga que você esta­va procurando.

    Após a exibição do filme no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, hou­ve uma con­ver­sa com o ator Igor Cotrim, que falou um pouco sobre como foi sua preparação para o papel e tam­bém como hou­ve a pre­ocu­pação de não faz­er algo que ficas­se car­i­ca­to ou este­ri­oti­pa­do, além de out­ros detal­h­es sobre a pro­dução do longa.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=SUqDKzzxzgM

  • Crítica: Uma Manhã Gloriosa

    Crítica: Uma Manhã Gloriosa

    No cin­e­ma, repetições de fór­mu­las podem ser perigosas. Um roteiro leviano pode faz­er um enorme suces­so nas mãos de alguns dire­tores e pro­du­tores, mas infe­liz­mente o inver­so é bem mais comum, prin­ci­pal­mente quan­do o lon­ga é volta­do para o cin­e­ma de entreten­i­men­to. Uma man­hã Glo­riosa (Morn­ing Glo­ry, EUA, 2010), de Roger Michell, com­pro­va que nem mes­mo os bons cur­rícu­los de dire­tor e roteirista pode sal­var um lon­ga com argu­men­to fraco.

    Becky Fuller é mais uma garo­ta do inte­ri­or que son­ha em ser uma pro­du­to­ra de noti­ciários matuti­nos — bem comum nos E.U.A. — de uma das maiores emis­so­ras do país. Ela é ded­i­ca­da e com­ple­ta­mente worka­holic até que um dia, esperan­do uma pro­moção, ela é man­da­da emb­o­ra. Como bom roteiro de auto-aju­da amer­i­cano, Fuller não desiste e acei­ta a primeira opção que lhe aparece, pro­duzir um noti­ciário em decadên­cia, o Day­break. Além de lidar com a fal­ta de cria­tivi­dade dos profis­sion­ais, o maior desafio da jovem será lidar com um grande jor­nal­ista de out­ro­ra que não acei­ta desem­pen­har nen­hu­ma espé­cie de papel que pos­sa estra­gar sua reputação.

    O assun­to do Uma man­hã Glo­riosa por si só, não con­vence para o públi­co brasileiro. Não temos o esti­lo de jor­nal­is­mo tele­vi­si­vo prat­i­ca­do nos E.U.A. e lidamos mais com as estre­las que apre­sen­tam os pro­gra­mas, sendo que o tra­bal­ho por trás das câmeras é menos val­oriza­do e inter­es­sante ao grande públi­co nacional. A pro­tag­o­nista, Rachel McAdams, até parece se esforçar em ter uma per­son­agem caris­máti­ca mas aca­ba fican­do numa lenga-lenga sem fim com os per­son­agens — muito fra­cos por sinal — de Diane Keaton e o grande Har­ri­son Ford, esse últi­mo até que sal­va em muitos momen­tos o sono arrebata­dor den­tro da sala de cinema.

    O dire­tor e a roteirista de Uma man­hã Glo­riosa, em out­ros tem­pos, assi­naram roteiros de comé­dias bem suce­di­das como O Dia­bo Veste Pra­da e Um lugar chama­do Not­ting Hill, sendo que o atu­al tra­bal­ho é bas­tante car­ente do caris­ma que cobria os argu­men­tos dos out­ros. O lon­ga segue um rit­mo muito enro­la­do e quan­do con­segue algu­mas piadas, sim­ples­mente as banal­iza a pon­to de irri­tar o espec­ta­dor porque aca­ba sendo algo tão clichê, que nem rísiv­el se tor­na. Aliás, é bas­tante car­ente de bons ele­men­tos que fun­cionam para entreter o grande públi­co, como por exem­p­lo a fal­ta de um romance estratégi­co — que no lon­ga é um vai-não-vai — e a grande lição, que nor­mal­mente ficaria no fim da exibição, é ape­nas suben­ten­di­da numa cena per­to do final.

    O cin­e­ma amer­i­cano con­tin­ua com uma crise pro­fun­da em filmes de entreten­i­men­to, Uma man­hã Glo­riosa é mais um deles, e em 2011 ain­da não hou­ve um lança­men­to mais pon­der­a­do e aceitáv­el. No gênero de comé­dia, o jeito é esper­ar o humor de Woody Allen em seu próx­i­mo tra­bal­ho, ou ir até uma locado­ra e reforçar os clás­si­cos da sessão da tarde da déca­da de 90.

    Par­ticipe tam­bém da Pro­moção Uma Man­hã Glo­riosa e con­cor­ra a con­vites para ver o filme de graça.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    • Éri­co Bor­go, no Omelete
    • Trail­er:

      httpv://www.youtube.com/watch?v=4g2i7RIMpY0

  • Crítica: Fúria sobre Rodas

    Crítica: Fúria sobre Rodas

    Nem todo filme roda­do em tec­nolo­gia 3D dá cer­to. Bem da ver­dade, nem a metade fun­ciona como bons lon­gas-metra­gens. E Fúria sobre Rodas (Dri­ve Angry 3D, USA, 2011), de Patrick Lussier, veio para provar que mes­mo lon­gas fil­ma­dos com­ple­ta­mente na — tomara que pas­sageira — moda de três dimen­sões, con­tan­do com fraquís­si­mos roteiros, podem ser sím­bo­lo de fracasso. 

    Mil­ton é um homem com sede de vin­gança que veio dire­ta­mente do infer­no para sal­var a hon­ra de sua fil­ha assas­si­na­da por uma sei­ta satâni­ca. Munido de armas de out­ro mun­do, pos­santes turbina­dos da déca­da de 60 e 70 e uma loira — tipi­ca­mente amer­i­cana — des­bo­ca­da e que bate como um homem-macho-alfa, ele vai sair matan­do todos que apare­cerem na sua frente durante essa jornada.

    Fúria sobre Rodas é um filme sobre vin­gança, mas não con­vence. O para­doxo de céu e infer­no, seitas demonía­cas e alguns ele­men­toz­in­hos do gênero que domi­nou os anos 70, por exem­p­lo o óti­mo Thriller — Um filme cru­el, não ficam nem de longe numa har­mo­nia agradáv­el. E não somente no roteiro super clichê, que até ten­ta ousar mas não pas­sa da ten­ta­ti­va, mas tam­bém nas pés­si­mas atu­ações. Nico­las Cage — que há muito deve desi­s­tir do cin­e­ma — com uma peru­ca loira fazen­do cara de mal e ati­ran­do na cara de todo mun­do chega a causar sonolên­cia. Tudo pode pio­rar com a aparição de Piper, a sem sal Amber Heard, pro­liferan­do palavrões embu­ti­da em roupin­has sexy e mili­met­ri­ca­mente ras­gadas, sujas e etc.

    O dire­tor — mais tarde desco­bri que era o mes­mo do pés­si­mo Dia dos Namora­dos Macabro — acred­i­tou fiel­mente que usan­do no títu­lo do filme o selo 3D iria sal­var a pés­si­ma história. Deve-se admi­tir que a tec­nolo­gia fun­ciona bem com filmes de ani­mação onde as ima­gens não brigam com a real­i­dade fora das telas, ten­do que ser, obri­ga­to­ri­a­mente, uma exper­iên­cia úni­ca para o espec­ta­dor. Ao tra­bal­har em tornar essas exper­iên­cias reais os roteiros pas­sam ser deix­a­dos de lado sendo muito pouco con­vin­centes e esse é o caso de Fúria sobre Rodas. O lon­ga pode­ria até ter fun­ciona­do se os roteiris­tas tivessem lig­a­do de madru­ga­da para Robert Rodriguez e Quentin Taran­ti­no para sal­var o argu­men­to. Mas não, o filme ten­ta forçar o humor típi­co dess­es cineas­tas cita­dos mas não pas­sa de um lon­ga risiv­el, de tão ruim.

    Nem para o públi­co amer­i­cano Fúria sobre Rodas tem con­ven­ci­do, parece que o filme alcançou metade do que foi gas­to para pro­dução e não vale o 3D de for­ma nen­hu­ma. Creio que já chegou a hora do mer­ca­do cin­e­matográ­fi­co — prin­ci­pal­mente para os lados do Tio Sam — admi­tir que pre­cisam de novas forças em roteiro e pos­te­ri­or­mente se pre­ocu­par com os efeitos-pas­sageiros visuais. Enquan­to isso não acon­tece, o públi­co vai pagan­do para dormir nas salas de cinema.

    Out­ra críti­ca interessantes:

    • Rena­to Sil­veira, no Cin­e­matório
    • Trail­er:

      httpv://www.youtube.com/watch?v=z_x93o7IbPA