Category: Bienal do Livro Rio 2011

  • Café Literário: As múltiplas faces da narrativa

    Café Literário: As múltiplas faces da narrativa

    Deixe-me ver quais de mim vou usar hoje… (Elvi­ra Vigna)

    A nar­ra­ti­va é sim­ples­mente um dos meios de um escritor colo­car no papel todo o vas­to mun­do em que os seus eus vivem. E segun­do eles próprios, o ato de escr­ev­er é lidar com obsessões, deslo­ca­men­to e a neces­si­dade extrema de expressão. Essas afir­mações, feitas pelos escritores Elvi­ra Vigna, Max Mall­man e Menal­ton Braff, na mesa As múlti­plas faces da nar­ra­ti­va, na Bien­al do Livro Rio 2011, per­me­ar­am as opiniões de três fic­cionistas bem difer­entes entre si.

    Um dos aspec­tos mais inter­es­santes é que com a respos­ta de cada escritor, alguns assun­tos se desen­volver­am com várias fac­etas. Para, o tam­bém roteirista, Max Mall­mann, escr­ev­er é deslo­car-se para muitos lugares e se colo­car naque­las situ­ações. Já Menal­ton encara a escri­ta como uma expressão con­tínua do que sente e vê, sua própria ver­bor­ra­gia. E Elvi­ra Vigna luta com suas obsessões quan­do escreve, inclu­sive, aque­las não tão pos­síveis no real como a neces­si­dade de sem­pre matar alguém em suas ficções.

    Obser­van­do as três respostas dadas, se percebe que lidar com os per­son­agens diari­a­mente é quase uma pre­mis­sa para um escritor. Mes­mo que na hora da escri­ta todos eles mudem de nome e posição, per­manecem refletindo um lugar do real, talvez um dos pon­tos que per­mitem a cri­ação de laços entre leitor e a palavra den­tro da ficção. Elvi­ra Vigna admite que não inven­ta abso­lu­ta­mente nada nos seus livros pois não tem imag­i­nação para cri­ar, afir­man­do que todas aque­las pes­soas e vivên­cias estão aqui fora. Afi­nal, nada mais fic­cional que a vida real.

    A per­gun­ta, até aparente­mente clichê, de onde ficam os lim­ites entre escritor e ficção é respon­di­da de ime­di­a­to: O autor é aque­le que escol­he qual ou quais dele próprio irão parar em deter­mi­na­da obra, como se fos­sem peças de ves­tuário para cada situ­ação. Cabe ao escritor a liber­dade de cri­ar, recri­ar, imag­i­nar e enfim, enx­er­gar a vas­ta real­i­dade fornece­do­ra de ficção.

    Elvi­ra Vigna diz que há muito glam­our em torno da roti­na do escritor. Deixa claro que odeia roti­na e por isso mes­mo não escreve todos os dias, mes­mo que con­vi­va diari­a­mente com os per­son­agens das suas ficções. Já Max, que é roteirista de tele­visão, e Menal­ton dizem que sen­tem a neces­si­dade de escr­ev­er todos os dias, mas tam­bém acred­i­tam que cada escritor tem seu próprio tem­po. Alguns escritores garan­tem que pos­suem sua própria roti­na como o amer­i­cano Philip Roth e Luiz Ruffa­to, que já declar­ou isso em entre­vista para o inter­ro­gAção.

    Mes­mo que as roti­nas sejam dis­tin­tas, em um pon­to os três escritores con­cor­dam: escr­ev­er é trans­gredir. E para se ir além não há muitas regras, inclu­sive, Elvi­ra faz menção a um tex­to do escritor norte-amer­i­cano Kurt Von­negut que ele fala sobre a importân­cia de se escr­ev­er e de como ofic­i­nas de pro­dução literária não são milagrosas.

    Há um cer­to glam­our míti­co em saber as for­mas que um autor dá vida aos seus livros e per­son­agens, mas o mais bacana mes­mo é saber que cada um tem os seus méto­dos tão par­tic­u­lares entre si. A nar­ra­ti­va é uma for­ma tão par­tic­u­lar que sem dúvi­da nen­hu­ma tem várias faces, e claro, refleti­das, de uma for­ma ou out­ra, pela face de seus autores.

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  • Café Literário: HQ — Cruzamento de Linguagens

    Café Literário: HQ — Cruzamento de Linguagens

    Um Café Literário que esta­va ansiosa­mente esperan­do par­tic­i­par na Bien­al do Livro Rio 2011 era HQ: Cruza­men­to de Lin­gua­gens, com os artis­tas André Dah­mer, Lourenço Mutarel­li, Rafael Coutin­ho e Rafael Sica, medi­a­dos por Lobo Bar­ba Negra.

    O bate papo se ini­ciou com a per­gun­ta de como era o proces­so cria­ti­vo de cada artista. Coutin­ho disse que cos­tu­ma ini­ciar a par­tir de um con­ceito, Mutarel­li tam­bém, mas ulti­ma­mente esper­a­va o desen­ho — prin­ci­pal­mente de seus sketch­books — dar o tex­to. Já Sica uti­liza bas­tante a obser­vação, enquan­to Dah­mer afir­ma que nun­ca con­seguiu for­mar um méto­do pois nor­mal­mente não dava certo.

    Um tópi­co que cada vez mais é difí­cil de não entrar nes­sas con­ver­sas é jus­ta­mente como a inter­net influ­en­cia em seus tra­bal­hos e a sua importân­cia no papel do quadrin­ista atu­al. Muitos começam pub­li­can­do ape­nas na inter­net hoje tem seus desen­hos impres­sos por edi­toras, como é o caso do Sica e do Dah­mer. Mas em bus­ca de se tornar con­heci­do na web, muitas vezes alguns autores cri­am uma obsessão em torno da divul­gação do seu tra­bal­ho e sua pro­dução aca­ba sendo afe­ta­da. Dah­mer comen­ta que este é um prob­le­ma que está acon­te­cen­do cada vez mais e que o artista dev­e­ria estar mais pre­ocu­pa­do na cri­ação e não na divul­gação, pois isto que é o mais impor­tante, não o contrário.

    Nos últi­mos tem­pos, Sica ten­tou faz­er algu­mas exper­i­men­tações com for­matos difer­entes na inter­net, mas chegou a con­clusão que as pes­soas não tin­ham mui­ta paciên­cia para desen­hos mais lon­gos ou seri­ados neste meio. Coutin­ho acres­cen­tou que ape­sar dis­so, a web dá mais pos­si­bil­i­dades em relação ao papel, não pos­suin­do muitas das suas lim­i­tações, poden­do se ir bem mais além. Uma refer­ên­cia inter­es­sante para essas várias pos­si­bil­i­dades é um quadrin­ho do filme TRON: O Lega­do que explo­ra as novi­dades do HTML 5 e pode ser lido gra­tuita­mente aqui, mas infe­liz­mente o mes­mo está só em inglês. Out­ra tam­bém é o site do artista Scott McCloud, que foi um dos primeiros a faz­er exper­i­men­tos difer­entes do que sim­ples­mente “escanear” e pub­licar os tra­bal­hos. Ele tam­bém pub­li­cou um livro sobre o assun­to pub­li­ca­do aqui no Brasil como Rein­ven­tan­do os Quadrin­hos, pela edi­to­ra M. Books.

    Quan­do o assun­to da con­ver­sa entrou na parte de quais as refer­ên­cias de cada artista, muitas vezes um momen­to del­i­ca­do que eles ten­tam evi­tar, respon­den­do muitas vezes de for­mas nada especí­fi­cas, enquan­to os espec­ta­dores esper­am ansiosa­mente, Mutarel­li deu uma óti­ma respos­ta dizen­do que o mel­hor lugar para você pegar influên­cias é em você mes­mo. Out­ro comen­tário inter­es­sante sobre o assun­to foi o de Coutin­ho, que falou que vive­mos em uma época bem inter­es­sante, onde se podia piratear o que se quisesse.

    Ao con­tar sobre os seus tra­bal­hos, Mutarel­li disse que ten­tou recen­te­mente faz­er um pro­je­to mais exper­i­men­tal, ain­da não pub­li­ca­do, mas teve várias difi­cul­dades pois as pes­soas diziam que não enten­di­am nada e que não fazia sen­ti­do. Mas isso acon­te­ceu porque elas não viam que era só uma história e que bas­ta­va só par­tic­i­par, isto que era o mais impor­tante na sua visão. É pre­ciso enten­der o que aqui­lo diz para o leitor e não o que o autor que­ria dizer.

    Durante todo o Café Literário, foi inter­es­sante notar a difer­ença de cada um dos artis­tas, ape­sar de o assun­to — assim como as várias per­gun­tas — não fugirem muito dos bate papos que nor­mal­mente se faz. Infe­liz­mente a con­ver­sa ficou meio lim­i­ta­da tam­bém pois Dah­mer acabou não abrindo muito espaço para os out­ros quan­do começa­va a falar, pois sim­ples­mente se alon­ga­va demais em suas opiniões. Mas no ger­al, foi óti­mo ouvir várias das exper­iên­cias e opiniões de cada autor.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o seu com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Tam­bém já fize­mos uma lon­ga entre­vista com o Rafael Sica e uma matéria sobre o lança­men­to da HQ Ordinário e um debate com o autor, se você tiv­er inter­esse em saber mais sobre ele.

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  • O Futuro do Livro: Giselle Beiguelman

    O Futuro do Livro: Giselle Beiguelman

    Andan­do pelos corre­dores de uma Bien­al do Livro, como a do Rio de Janeiro no ini­cio desse mês, ven­do eles lota­dos de pes­soas com muitos impres­sos sacole­jan­do em bol­sas plás­ti­cas, parece impos­sív­el afir­mar o fim do livro físi­co. Mes­mo que os espe­cial­is­tas ditem a situ­ação e nos prometam con­formis­mo e mais facil­i­dade, nada muda esse olhar mági­co de quem vê as pes­soas encan­tadas fol­he­an­do livros de todas as cores, impressões e, por que não, cheiros.

    Mas ao con­trário das pre­visões, bem otimis­tas, do mer­ca­do edi­to­r­i­al há quem não ache que o e‑book e os tablets sejam essa mar­avil­ha toda, A artista Giselle Beiguel­man foi enfáti­ca ao diz­er — na mesa do Café Literário pre­ten­siosa­mente inti­t­u­la­da de Apre­sen­tan­do o Livro Dig­i­tal — que o livro impres­so era a for­ma mais estáv­el para práti­ca da leitu­ra, o que ain­da não acon­tece com o livro dig­i­tal, des­de pelo menos mil anos. Sem exageros e muito bem pau­ta­da, Giselle é uma das mais pro­lí­fi­cas pesquisado­ras do que ela chama de Desvir­tu­al, o fim do vir­tu­al no sen­ti­do de acabar as bar­reiras entre ele e o real. Atual­mente ela é edi­to­ra-chefe da revista Select que se propõe deixar claro sua ban­deira com con­ceitos sobre pirataria, remix, cul­tura livre, escri­ta não-cria­ti­va e a imen­sid­ão de assun­tos que englobam a cul­tura digital.

    Assista abaixo ao depoi­men­to de Giselle Beiguel­man, espe­cial­mente pro inter­ro­gAção, na Bien­al do Livro Rio 2011, sobre o Futuro do Livro.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=nsUfFYtKGTo

  • Café Literário: O Livro além do Livro

    Café Literário: O Livro além do Livro

    Se per­gun­tassem há um sécu­lo atrás qual era o pro­je­to de deter­mi­na­do escritor, a respos­ta viria fácil: Escr­ev­er bons livros e pub­licá-los pos­te­ri­or­mente, toda uma roti­na sem­pre foi lev­a­da em con­ta na vida de um escritor. Os temas pode­ri­am ser vari­a­dos, mas o pro­je­to em si se resumiria há um lon­go tem­po de ded­i­cação para a escri­ta, estu­do e bus­cas por edi­tores. Mas e no mun­do chama­do de pós-mod­er­no, como um escritor se com­por­ta diante de tan­ta infor­mação e hib­ridis­mo? Ele con­segue se man­ter ingên­uo no seu pos­to de somente escr­ev­er de for­ma passiva?

    Partin­do de um títu­lo que daria assun­to para bem mais de uma hora no Café Literário da Bien­al do Livro Rio 2011, a mesa O Livro além do Livro teve a ambi­ciosa tare­fa de jun­tar três escritores con­tem­porâ­neos da lit­er­atu­ra brasileira, medi­a­dos pela jor­nal­ista Cris­tiane Cos­ta. O trio for­ma­do para mesa foram os gaú­chos Paulo Scott, Antônio Xerx­e­nesky e a car­i­o­ca Simone Cam­pos. Os três, mes­mo sendo de ger­ações um pouco difer­entes, Paulo é o mais vel­ho, pos­suem suas ativi­dades literárias lig­adas de algu­ma for­ma com a cul­tura digital.

    Entre eles, Simone Cam­pos é a que tem o pro­je­to atu­al mais híbri­do, envol­ven­do a lit­er­atu­ra e games. Des­de a sua estreia como escrito­ra, aos 17 anos, ela apre­sen­ta uso de vocab­ulário da web mescla­dos com diál­o­gos cur­tos e nar­ra­ti­vas que beiram ao exper­i­men­tal. No últi­mo ano, Simone vem tra­bal­han­do no livro-jogo Owned (que já foi anun­ci­a­do o lança­men­to no dia 20 de out­ubro) que tem uma pro­pos­ta próx­i­ma do clás­si­co O Jogo de Amare­lin­ha, de Julio Cortázar, onde o obje­ti­vo é deixar o enre­do ser desen­volvi­do pelas decisões do próprio leitor. O livro vai ser disponív­el online e uma ver­são com extras no impres­so. Simone diz que sen­tia neces­si­dade de cri­ar algo que superasse o número de pos­si­bil­i­dades de se ler uma obra e para tal apren­deu bases de lin­guagem com­puta­cional e lóg­i­ca. Na cer­ta, Owned ain­da vai ren­der muito assun­to, prin­ci­pal­mente por unir duas lin­gua­gens que aparente­mente são pouco associáveis.

    Para Xerx­e­nesky os jogos não estão tão dis­tantes das nar­ra­ti­vas fic­cionais literárias como se pen­sa. Em seu primeiro livro, o romance Areia nos Dentes (Roc­co, 2010), ele deixa clara sua influên­cia ao jogo clás­si­co Alone In the Dark. Expli­ca que um jogo pre­cisa de cabeças tão pen­santes como se acred­i­ta a lit­er­atu­ra ter e que o fato de alguém gostar muito de deter­mi­na­do tipo de nar­ra­ti­va, como em muitas vezes os com­plex­os roteiros de games, não sig­nifique que ela ten­ha algum grau difer­ente de int­elec­tu­al­i­dade. Os escritor gaú­cho ain­da relem­bra que jogos são usa­dos há muito tem­po na lit­er­atu­ra, sem deixar de citar os exper­i­men­tal­is­mos literários, do já cita­do, Julio Cortázar.

    Um dos pon­tos mais bacanas de uma dis­cussão sobre as influên­cias da cul­tura dig­i­tal no desen­volver do tra­bal­ho de um escritor é que os tópi­cos ultra­pas­sam a mera dis­cussão mer­cadológ­i­ca e apoc­alíp­ti­ca sobre os ebooks e tablets. Ess­es autores do pre­sente estão mais pre­ocu­pa­dos em for­mas inter­es­santes de colo­carem em práti­ca suas reações às infor­mações que chegam o tem­po todo. Em tom diver­tido, Paulo Scott fala que na ver­dade ele é um frustra­do em mui­ta coisa que gostaria de ter feito e por isso aca­ba envol­ven­do tudo isso no seu pro­je­to literário.

    Paulo Scott está numa empen­ha­da função de virar DJ Literário remixan­do poe­sias de out­ros poet­as com as suas, ou ain­da, colo­can­do out­ros escritores para lerem, decla­marem e etc trans­for­man­do tudo em um tra­bal­ho mul­ti­midiáti­co. Mes­mo afir­man­do de que o mun­do da ficção literária vai muito além do game e do vir­tu­al, ele tam­bém diz que os jovens escritores, se referindo aos seus com­pan­heiros de mesa, tem uma bagagem de con­hec­i­men­to con­struí­do na leitu­ra e no bom aproveita­men­to das infor­mações. Antônio Xerx­e­nesky foi práti­co em diz­er que um escritor hoje não tem mui­ta opção a não ser faz­er parte das redes soci­ais e ser uma figu­ra ati­va na inter­net. Ele já havia escrito sobre isso num tex­to muito enfáti­co e inter­es­sante sobre os escritores con­tem­porâ­neos brasileiros, no site do IMS — Insti­tu­to Mor­eira Salles.

    Xerx­e­nesky tem uma veia forte na metaficção e met­al­it­er­atu­ra, em seu últi­mo livro — reunião de con­tos — inti­t­u­la­do de A Pági­na Assom­bra­da por Fan­tas­mas (Roc­co, 2011), são níti­dos os vul­tos das refer­ên­cias literárias e eru­di­tas que con­stroem o escritor. Quan­do ques­tion­a­do se sua lit­er­atu­ra é uma espé­cie de fan­fic­tion, ele expli­ca que o seu tex­to é mais uma for­ma de lidar com as refer­ên­cias e não dis­torce-las ou ree­screve-las. No mais, há out­ra for­ma de um autor se livrar de seus próprios demônios a não ser lidan­do com eles?

    O escritor gaú­cho ain­da cita sua influên­cia por escritores como Thomas Pyn­chon, Rober­to Bolaño e Enrique Vilas-Matas, que são con­heci­dos por terem seus próprios pro­je­tos volta­dos ao caos da vida con­tem­porânea. Ou seja, facil­mente o leitor encon­trar fig­uras pop e mitológ­i­cas passe­an­do pelos tex­tos dess­es autores em situ­ações mirabolantes e inusi­tadas. De fato, não há como fugir das próprias refer­ên­cias, onde os próprios escritores são per­son­agens de seus mun­dos paralelos.

    Quan­do se fala em cul­tura dig­i­tal parece que é prati­ca­mente impos­sív­el de se empre­gar jun­to as palavras livro, lit­er­atu­ra, autores, edi­toras e mais o leque de sinôn­i­mos que acom­pan­ham essas out­ras. É muito mais fácil usar ter­mos mais apoc­alíp­ti­cos e de infor­mações de que você não tem chance nen­hu­ma a não ser se ren­der aos ter­abytes de tec­nolo­gia que deix­am sua vida mais inter­es­sante. E é fug­in­do das dis­cussões de mer­ca­do que podemos obser­var mais de per­to como os escritores, estes pre­ocu­pa­dos com a cri­ação e como boa parte deles lidam de for­ma har­môni­ca com a web e o dig­i­tal. As pos­si­bil­i­dades são infini­tas e provavel­mente logo ter­e­mos novas visões e ramos para a lit­er­atu­ra, sem ela, de for­ma nen­hu­ma, deixar de ter suas funções pri­mor­diais, seja para quem escreve ou para quem lê.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o seu com­puta­dor e ouvir onde preferir.

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  • Café Literário: Apresentando o Livro Digital

    Café Literário: Apresentando o Livro Digital

    Em um tem­po onde cada vez mais as coisas estão sendo dig­i­tal­izadas, uma dis­cussão sobre esse novo for­ma­to e as suas pos­si­bil­i­dades para a lit­er­atu­ra, não pode­ria fal­tar na Bien­al do Livro Rio 2011. Com o títu­lo Apre­sen­tan­do o Livro Dig­i­tal, o assun­to do Café Literário foi dis­cu­ti­do pelos par­tic­i­pantes Car­lo Car­ren­ho, Daniel Pin­sky e Giselle Beiguel­man medi­a­dos por Cris­tiane Cos­ta.

    Para des­faz­er já qual­quer fal­sa expec­ta­ti­va, o títu­lo do bate-papo acabou sendo bas­tante infe­liz pois para uma apre­sen­tação do livro dig­i­tal, não hou­ve nada de intro­dutório. O que acabou sendo óti­mo na ver­dade, pois teria sido um des­perdí­cio se pren­der a essa parte de apre­sen­tação con­sideran­do a exper­iên­cia dos par­tic­i­pantes. Mas por con­ta dele, acabou atrain­do tam­bém out­ro tipo de públi­co que deve ter esper­a­do algo total­mente difer­ente. Um exem­p­lo dis­so foi uma das per­gun­tas envi­adas para a medi­ado­ra por um (ou mais) par­tic­i­pantes sobre quan­tos livros era pos­sív­el armazenar em um leitor de ebooks. Para quem já tem con­ta­to com esse mun­do isso pode pare­cer tão dis­pen­sáv­el quan­to per­gun­tar quan­tas músi­cas cabe em um MP3 play­er, pois é muito rel­a­ti­vo depen­den­do da capaci­dade de armazena­men­to, mas para os ain­da não ini­ci­a­dos isso aca­ba ain­da sendo algo muito distante.

    Mas vamos real­mente ao que inter­es­sa, o con­teú­do da con­ver­sa! Ain­da é difí­cil sair do apoc­alíp­ti­co ques­tion­a­men­to se o livro impres­so vai mor­rer ou não quan­do se fala sobre o livro dig­i­tal e aqui não foi muito difer­ente, mas o inter­es­sante foi que a opinião dos par­tic­i­pantes era bem diver­sa a respeito do assunto.

    Daniel Pin­sky, sócio dire­tor da Edi­to­ra Con­tex­to, era dos três o mais mar­keteiro — intu­si­as­ta seria muito pouco — a respeito dos livros dig­i­tais, logo mostran­do seu apar­el­ho Kin­dle e citan­do várias de suas van­ta­gens. Uma delas era o fato de que caso o mes­mo que­brasse e ele tivesse que com­prar um out­ro, teria somente o gas­to do equipa­men­to, pois os livros ain­da estari­am disponíveis nos servi­dores da Ama­zon, que é a empre­sa cri­ado­ra e vende­do­ra exclu­si­va dos títu­los para o apar­el­ho, e o aces­so aos livros não seri­am per­di­dos. Tudo muito legal e boni­to, mas infe­liz­mente ele não lev­ou em con­sid­er­ação que a com­pra do apar­el­ho aqui no Brasil não é nada acessív­el, pois só pode ser fei­ta pelo site ofi­cial da empre­sa que está em inglês e as com­pras são feitas em dólares, pre­cisan­do então de um cartão de crédi­to inter­na­cional. Ou seja, a com­pra do apar­el­ho já está lim­i­ta­da ape­nas para um grupo muito pequeno de pessoas.

    Essa questão da difi­cul­dade de aces­so aos apar­el­hos acabou surgin­do mais tarde, mas os três par­tic­i­pantes con­cor­davam na ideia de que daqui a alguns anos os tablets seri­am tão pop­u­lares quan­tos os celu­lares hoje em dia, que no iní­cio tam­bém não se acha­va que iria ser acessív­el ao grande públi­co. Daniel tam­bém lem­brou que com a aprovação recente de isenção fis­cal para os tablets, o preço dos leitores de e‑books dev­erá diminuir. Ele acred­i­ta que os edi­tores aqui no Brasil ain­da estão muito ape­ga­dos ao mod­e­lo tradi­cional de negó­cio, muitos deles nem con­seguiam enx­er­gar out­ros tipos de mod­e­los, e que eles dev­e­ri­am repen­sar isso, pois a maior parte do futuro será digital.

    Em relação a essa mudança no mer­ca­do edi­to­r­i­al, Car­lo Car­ren­ho, sócio-fun­dador da Pub­lish­News, comen­tou que muitas vezes o que acon­tece hoje em dia no Brasil, jus­ta­mente por esse prob­le­ma de visão, é que quem aca­ba pagan­do o pre­juí­zo do livro físi­co é o livro dig­i­tal, por isso do seu preço ain­da ser tão ele­va­do, sendo as vezes até igual ao impres­so, o que não faz nen­hum sentido.

    Entran­do mais no assun­to do livro dig­i­tal e da Cul­tura Dig­i­tal em si, Giselle Beiguel­man, pro­fes­so­ra uni­ver­sitária e edi­to­ra-chefe da revista Select, comen­tou que já hou­ve inúmeras mortes e ressureições do livro eletrôni­co dev­i­do a sua pre­cariedade e que ago­ra com a chega­da de apar­el­hos como Kin­dle e IPad isto está começan­do a mudar, ape­sar de ain­da não serem ideais. Ain­da afir­ma que a ideia do “fim do livro impres­so” é uma visão meio apoc­alíp­ti­ca, pois, como exem­p­lo, o cin­e­ma não acabou com o teatro, a tele­visão não acabou com o cin­e­ma, … e por aí vai.

    Car­lo tam­bém con­cor­dou que o livro físi­co não vai acabar e comen­tou que todos os prob­le­mas que o livro dig­i­tal resolvia para a edi­to­ra, a impressão sob deman­da (somente um livro de cada vez, não 5, 10 ou mais) resolvia grande parte deles. Esta maneira de impressão está cada vez fican­do mais bara­ta e nos Esta­dos Unidos recen­te­mente se tornou eco­nomi­ca­mente viáv­el para o mercado.

    Um tema que sem­pre vem jun­to com a dis­cussão do livro dig­i­tal é a questão da pirataria. Daniel se mostrou bas­tante pre­ocu­pa­do com o assun­to e defend­eu que um dos papeis da edi­to­ra seria pro­te­ger os livros dig­i­tais con­tra a cópia ile­gal, usan­do DRMs e out­ros meios de segu­rança, para poder obter o seu lucro. Já Car­lo e Giselle não achavam esta questão tão impor­tante, sendo que ele inclu­sive acred­i­ta­va que daqui a alguns anos não vai ter mais DRMs e afins.

    A maior sur­pre­sa da con­ver­sa com certeza foi a Giselle, que tin­ha óti­mas opiniões sobre o livro dig­i­tal e tam­bém dele como um todo. Segun­do ela, o livro impres­so seria o obje­to mais estáv­el cri­a­do no cam­po da indús­tria cul­tur­al des­de os seus primór­dios. Ele pos­sui o design mais per­feito da história, pois é o úni­co que tem mais de mil anos e nun­ca pre­cisou mudar.Também lem­brou que pen­sar no livro dig­i­tal seria pen­sar em todo o âmbito do dig­i­tal e que tem coisas que fazem mais sen­ti­do estar numa ver­são do IPad, out­ras em um site e out­ras no meio impres­so, mas que nen­hum é mel­hor do que a out­ro. Além dis­so ain­da comen­tou que o impasse ago­ra seria pen­sar o livro além da página.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o seu com­puta­dor e ouvir onde preferir.

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