O LOTR Project, de Emil Johansson

Uma paixão por um mun­do fan­tás­ti­co pode aju­dar a trans­for­mar a nos­sa maneira de estu­dar even­tos históricos

Capas dos livros da Edi­to­ra Mar­tins Fontes

Emil Johans­son era uma cri­ança que gosta­va muito de ler e foi bas­tante incen­ti­va­do pela sua mãe para isso. Um dia, ela fez questão de falar para o fil­ho que talvez O Sen­hor dos Anéis (Edi­to­ra Mar­tins Fontes) fos­se muito difí­cil para ele ler. E adi­v­in­ha o que acon­te­ceu? Ele leu os livros e adorou! E não parou por aí, foi ler O Sil­mar­il­lion (Edi­to­ra Mar­tins Fontes) tam­bém para saber mais sobre a Ter­ra Média. Sem se dar con­ta, começou a mon­tar peque­nas árvores genealóg­i­cas dos per­son­agens para con­seguir enten­der mel­hor as histórias desse mun­do fan­tás­ti­co, prin­ci­pal­mente porque Tolkien cri­a­va muitos per­son­agens e eles tin­ham nomes extrema­mente incomuns.

De pequenos ras­cun­hos foi para papéis gigantes e essa tare­fa virou uma obsessão. Decid­iu que para não ficar muito con­fu­so e poder orga­ni­zar mel­hor tudo, iria mon­tar uma planil­ha no Excel com esse desen­ho. Depois de pronta, que­ria com­par­til­há-la e a envi­ou para um site pub­licar, mas ela foi rejeita­da pois havia muitos furos e erros, mas provavel­mente tam­bém porque era feia demais. Total­mente dev­as­ta­do por essa respos­ta, Emil desis­tiu de con­tin­uar com o pro­je­to. Só reto­mou nova­mente com a ideia durante a uni­ver­si­dade, após con­tar esse seu seg­re­do obscuro para um ami­go que o incen­tivou a ele mes­mo divul­gar na inter­net esse pro­je­to. E assim, não só voltou a ali­men­tar nova­mente essa paixão como tam­bém achou um óti­mo meio para poder fugir dos estu­dos, algo que alme­ja­va muito.

LOTR Project - planilha

Planil­ha em Excel cri­a­da por Emil

Emil ini­cial­mente procurou um soft­ware que o aju­dasse a cri­ar a árvore genealóg­i­ca para pub­licar na web, mas não encon­trou nada que pudesse faz­er aqui­lo que que­ria, então sim­ples­mente decid­iu que ele iria cri­ar um pro­gra­ma para isso. Mas ele não tin­ha qual­quer con­hec­i­men­to em pro­gra­mação e esta­va cur­san­do Engen­haria Quími­ca na Chalmers Uni­ver­si­ty of Tech­nol­o­gy na Suíça, área que provavel­mente não iria o aju­dar muito com isso. Mas ele era um usuário assí­duo do Google e isso foi o sufi­ciente para que apren­desse todos os códi­gos necessários para con­stru­ir sua ideia. Para que ficas­se mais fácil de atu­alizar as infor­mações, ele criou um ban­co de dados com todos os nomes dos per­son­agens e as suas relações. O pro­je­to final­mente entrou no ar em janeiro de 2012 sob o nome LOTR Project (LOTR é a sigla para Lord of the Rings), que traduzi­do lit­eral­mente ficaria Pro­je­to SDA.

Árvore Genealógica no site com informações sobre cada personagem

Árvore Genealóg­i­ca no site com infor­mações sobre cada personagem

O site logo fez bas­tante suces­so não só entre os fãs da Ter­ra Média, mas tam­bém da mídia, onde foram pub­li­cadas matérias em vários jor­nais grandes como Wired, Time Mag­a­zine, The Guardian e Huff­in­g­ton Post, onde o últi­mo deles inclu­sive o chamou de “King Geek” (algo como o rei dos nerds). Além dis­so, ele tam­bém rece­beu e‑mails de pro­fes­sores que que­ri­am usar a árvore genealóg­i­ca nas aulas e tam­bém um curioso pedi­do de um hotel que que­ria colocá-la em sua parede. Tudo isso foram mais do que bons incen­tivos para ele con­tin­uar investin­do no projeto.

A par­tir daí o LOTR Project tam­bém pas­sou a ter, com a aju­da de colab­o­radores, vários out­ros tipos de infor­mações inter­es­santes, como um mapa inter­a­ti­vo, dois aplica­tivos para Android, uma coletânea de info­grá­fi­cos e várias out­ras coisas legais. Se você quis­er, há uma pági­na com a lista de todos os pro­je­tos den­tro do site, um ver­dadeiro tesouro para os fãs e tam­bém para design­ers e até pro­gra­madores web que queiram ver coisas mais difer­entes feitas para a inter­net. Aos poucos Emil está inserindo no ban­co de dados infor­mações como data de nasci­men­to e morte dos per­son­agens. No futuro gostaria de que os vis­i­tantes pudessem ter total con­t­role de como a árvore é exibi­da e tam­bém con­seguir desco­brir novas estatís­ti­cas inter­es­santes sobre a pop­u­lação deste mun­do. Recen­te­mente ele adi­cio­nou dados do O Hob­bit (Edi­to­ra Mar­tins Fontes), inclu­sive com algu­mas infor­mações e info­grá­fi­cos inter­es­santes sobre o filme O Hob­bit — Uma Jor­na­da Ines­per­a­da (2012), que foi dirigi­do por Peter Jack­son, que tam­bém adap­tou a trilo­gia original.

Evolução da avaliação e do número de votos do filme O Hobbit no IMDB

Evolução da avali­ação e do número de votos do filme O Hob­bit no IMDB

Um dia, ele teve a ideia de que seria legal cri­ar uma lin­ha do tem­po e colocá-la ao lado de um mapa, para que fos­se pos­sív­el ver de uma maneira inter­a­ti­va em qual local acon­te­ceu cada um dos even­tos que estavam na lin­ha do tem­po. Ini­cial­mente não achou que fos­se faz­er muito suces­so, mas para sua sur­pre­sa aparente­mente aqui­lo era algo novo, chama­do de geospa­tial time­line (algo como: lin­ha do tem­po geoe­s­pa­cial), e teve um retorno imen­so dos vis­i­tantes. Não só por con­ta de que essa fun­cional­i­dade era muito legal, mas tam­bém porque muitos web design­ers que­ri­am saber como ele havia feito aqui­lo! Out­ras pes­soas tam­bém começaram a sug­erir que ele dev­e­ria explo­rar mais essa ideia. Então Emil criou um ras­cun­ho uti­lizan­do o mes­mo sis­tema como base, só que com um mapa mún­di e alguns even­tos da Segun­da Guer­ra Mundi­al e mostrou essa ideia no final da sua apre­sen­tação no TEDxGöte­borg em out­ubro de 2012.

"geospatial timeline" do livro com o mapa na direito mostrando onde ocorreu o evento selecinado a esquerda

geospa­tial time­line” com o mapa na dire­i­ta mostran­do onde ocor­reu o even­to sele­ciona­do à esquerda

Em um even­to tão grande como foi a Segun­da Guer­ra Mundi­al, provavel­mente há muitos padrões e fatos que pode­ri­am ser apren­di­dos, mas são jus­ta­mente per­di­dos por causa dessa avalanche de dados que temos sobre ela. Uma apli­cação deste tipo pode­ria não só tornar as infor­mações sobre vários acon­tec­i­men­tos, globais ou locais, mais acessíveis para pes­soas comuns que gostari­am de apren­der mais, mas tam­bém aju­dar a desco­brir lig­ações talvez nun­ca imag­i­nadas antes. Pense só nas mil­hares de pos­si­bil­i­dades que um pro­je­to assim pode­ria cri­ar. Tudo isso porque alguém decid­iu seguir uma paixão por um mun­do fic­cional onde vivem hob­bits, elfos e out­ras criat­uras mágicas.

Rascunho da "geospatial timeline" com dados da Segunda Guerra Mundial

Ras­cun­ho da “geospa­tial time­line” com dados da Segun­da Guer­ra Mundial

Evil con­ta que este pro­je­to foi, usan­do um ter­mo da área dele, um catal­isador de cria­tivi­dade, que fez sur­gir várias coisas que ele nem mes­mo sabia que exis­tia e de cer­ta maneira o fez achar a feli­ci­dade, pois ele ado­ra cri­ar. Vive­mos em uma cul­tura onde é muito incen­ti­va­do que você faça coisas que ten­ham um impacto na sua car­reira, tudo deve estar volta­do a isso. O LOTR Project não tem impacto dire­to na car­reira dele e ele enco­ra­ja as pes­soas a jus­ta­mente faz­erem algo só porque é diver­tido, porque há paixão naquilo.

Emil Johansson

Emil Johans­son

Esse pen­sa­men­to é muito pare­ci­do com a ideia da trans­dis­ci­pli­nar­i­dade, que visa a unidade do con­hec­i­men­to em oposição a atu­al divisão carte­siana do mes­mo em várias áreas difer­entes. Por que um engen­heiro quími­co não pode­ria tam­bém ser pro­gra­mador, web design­er e fotó­grafo ao mes­mo tem­po? Bem, Emil Johans­son é isso tudo! Toda essa paixão dele, me lem­bra uma frase do Rober­to Freire que gos­to muito, que resume muito bem isso: “sem tesão não há solução”. Então, o que você está fazen­do como pro­je­to para­le­lo a sua profis­são ou estu­do acadêmico?


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