As Sessões | Crítica

As Sessões” é um dra­ma emo­cio­nante e poéti­co sobre a descober­ta do cor­po por um defi­ciente físico.

as-sessoes-posterAs Sessões (The Ses­sions, 2012), de Ben Lewin é, infe­liz­mente, o tipo de filme que pas­sa des­perce­bido pelo cir­cuito com­er­cial de cin­e­ma. O lon­ga traz o jor­nal­ista e poeta Mark O’Brien, que quan­do cri­ança con­traiu a poliomelite, per­den­do quase todos os movi­men­tos do cor­po. Por con­ta des­ta situ­ação, neces­si­ta ficar pelo menos qua­tro horas den­tro de uma maquina de res­pi­ração. Mas não se engane achan­do que a vida de O’Brien era sofri­da ou até mes­mo triste.

O recorte que As Sessões faz é de um Mark O’Brien aos 38 anos, nar­ran­do a sua neces­si­dade de sexo – pois ain­da era virgem — de toque e a grande car­ga de sen­si­bil­i­dade e sen­ti­men­tos que isso traz ao cor­po. O fato dele pas­sar boa parte do dia den­tro de uma câmera chama­da “pul­mão de aço”, não inter­fere na sua sen­si­bil­i­dade tan­to de cri­ação poéti­ca como cor­po­ral, mes­mo sem com­preen­der total­mente o seu cor­po. Para essa nova descober­ta, a ter­apeu­ta sex­u­al Cheryl, inter­pre­ta­da por Helen Hunt, vai ser fun­da­men­tal. Ela tra­bal­ha para que ele des­cubra como sen­tir o próprio cor­po e o da out­ra pes­soa com quem vai se rela­cionar. A del­i­cadeza das cenas que retratam as sessões entre paciente e ter­apeu­ta é arrepi­ante e emo­ti­va. O que pode­ria ser em muitos momen­tos ape­nas sessões de ter­apia lev­adas de for­ma profis­sion­al, são car­regadas de emoção, prin­ci­pal­mente quan­do ela começa a se envolver com as emoções de Mark, que é como um ado­les­cente sentin­do cada cen­tímetro novo do seu corpo.

O títu­lo do lon­ga se ref­ere às seis sessões ini­cial­mente pro­postas para que o paciente comece a perce­ber e enten­der o seu cor­po e os dese­jos dele. Cheryl Cohen-Greene é a chama­da “sub­sti­tu­ta sex­u­al”, alguém que tra­ta um paciente defi­ciente para a con­sci­en­ti­za­ção sex­u­al do mes­mo, de for­ma mais sen­sív­el e menos agres­si­va como nor­mal­mente pode acon­te­cer, além de ser uma pesquisado­ra do assunto.

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É impos­sív­el ver As Sessões e não pen­sar sobre todo o proces­so de sen­si­bil­i­dade que o cor­po neces­si­ta e, como um defi­ciente físi­co é pri­va­do dis­so por padrões soci­ais que o car­ac­ter­i­zam como inca­paz ou sim­ples­mente como anor­mal. Ver Mark O’Brien pas­san­do por esse proces­so de descober­ta, é pen­sar o quão pouco somos inclu­sivos quan­do se tra­ta do difer­ente, por achar que sabe­mos o real sen­ti­do de normal.

O lon­ga é reple­to dessas pecu­liari­dades geran­do um estran­hamen­to no espec­ta­dor em relação ao mun­do dessas pes­soas que fazem o pos­sív­el para ter uma vida comum do seu próprio jeito. As cenas de Mark sendo lev­a­do a vários lugares em sua maca, são tratadas com uma sim­pli­ci­dade arrebata­do­ra. Ele con­ver­sa com suas assis­tentes enquan­to elas o lev­am de um lugar para out­ro, vai à Igre­ja e inclu­sive sai para com­prar roupas, tudo isso acopla­do à sua maca e a um cano de ar para que pos­sa con­tin­uar respirando.

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O’Brien tem muito a seu favor, cos­tu­ma agradar as mul­heres fazen­do poe­mas e dizen­do coisas que elas dese­jam ouvir, mes­mo na sua situ­ação é um ver­dadeiro galanteador. O lon­ga tam­bém mostra que ele já se rela­cio­nou emo­cional­mente com algu­mas mul­heres, mas que não con­seguiram se adap­tar ao seu esta­do. Há ain­da o fator da religião na vida dele, um dos seus mel­hores ami­gos é – um bem pouco orto­doxo – padre. Várias das cenas mais diver­tidas do filme se pas­sam com Mark se con­fes­san­do e con­tan­do sobre sua ter­apia para o ami­go católi­co, sendo tudo trata­do de uma for­ma incriv­el­mente nor­mal, boni­ta e divertida.

É jus­ta­mente essa roti­na de Mark, alheia aos padrões humanos, que fazem o espec­ta­dor apre­ciar as sessões dele com a Dra. Cheryl. Uma relação que vai se con­stru­in­do na base da descober­ta de ambos, um que percebe que tem um cor­po que sente além do seu cére­bro e o out­ro que pas­sa a perce­ber o seu obje­to de estu­do como um ser humano com sentimentos.

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Se tratan­do de elen­co, é impor­tante destacar John Hawkes, que inter­pre­ta O’Brien talvez num dos papéis mais fortes do gênero, jun­ta­mente com Helen Hunt, que está bem à von­tade no papel de “sub­sti­tu­ta”. Ape­sar do óti­mo tra­bal­hos dos atores coad­ju­vantes, todos trans­mitin­do uma lev­eza incrív­el, o destaque vai mes­mo para essa dupla que con­segue emo­cionar sem dramatizar.

O dire­tor Ben Lewin, que tam­bém foi acometi­do pela poliomelite quan­do cri­ança, diz que em 2009 esta­va nave­gan­do pela inter­net procu­ran­do sobre o sexo no cotid­i­ano do defi­ciente físi­co e encon­trou o arti­go de Mark O’Brien inti­t­u­la­do de Sain­do com uma Sub­sti­tu­ta Sex­u­al . O lon­ga é basea­do nesse rela­to e em entre­vis­tas com a própria Cheryl e Susan Fern­bach, a últi­ma com­pan­heira de Mark. Lewin con­seguiu tratar de dois assun­tos tabus – sexo e defi­ciên­cia físi­ca – de uma for­ma que somente alguém que con­hece de per­to a situ­ação con­segue dar cores e for­mas tão leves e sim­ples para um enre­do emocionante.

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Dossiê Daniel Piza
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