Porta Na Cara: Deixe o ego fora da sua história

George Orwell, em um ensaio, disse que escrevia “Por puro egoís­mo. O dese­jo de ser engen­hoso, de ser comen­ta­do, de ser lem­bra­do após a morte (…)”. O lema dessa ger­ação da qual faço parte é escr­ev­er — ape­nas e somente — por puro egoís­mo. Cli­ma de tragédia.

Ago­ra, as pes­soas que têm a sar­na de escr­ev­er livros, por Deus, livros sobre suas vidas vazias ain­da “verdes”, mes­mo quan­do são capazes de for­mar uma frase, nun­ca são inter­es­santes – na vida real ou em papel. Ao menos eu nun­ca vi. E aí você vê os livros delas entrarem em liq­uidação por R$ 9,90 e atra­van­car­em todos os sebos da cidade e pen­sa: pelo menos o públi­co não se deixa enga­nar tão fácil. Há doi­dos que escrevem coisas boas sobre suas vidas depois de algum tem­po, ou num inter­va­lo entre dois “aces­sos”, nun­ca durante a lou­cu­ra, e chegaram a best-sell­er. Cite­mos: Colette. José Mau­ro de Vas­con­cel­los. Não, não gos­to de Bukowski.”

Tre­cho do tex­to da escrito­ra car­i­o­ca Simone Cam­pos para o Le Monde Diplo­ma­tique que dá uma ideia da situ­ação. Leiam.

Deixe o ego fora da sua história. O ego não é a ver­dade” era o con­sel­ho do escritor Hubert Sel­by Jr. para os ini­ciantes. Acho que ain­da é váli­do nos dias de hoje. O mun­do não é feito a imagem e semel­hança dos seus escritores heróis. Vamos todos ago­ra pedir des­cul­pa ao tio Hen­ry Miller e ao tio Charles Bukows­ki. Que coisa feia vocês andam fazen­do em nome deles, meu deus.

Se vai se aven­tu­rar a escr­ev­er ficção, é bom faz­er a lição de casa: con­hecer e respeitar os clás­si­cos, dis­cu­tir ideias, não tomar como ofen­sa pes­soal o fato de uma pes­soa não gostar dos autores que você apre­cia, saber ouvir críti­cas sobre o seu tex­to e o mais impor­tante: ter ideia que não existe O Seg­re­do para escrever. 

È um tra­bal­ho difí­cil tan­to para um ini­ciante quan­to para um escritor com cer­ta noto­riedade. E tam­bém não espere recon­hec­i­men­to de ime­di­a­to. Se fiz­er um bom tra­bal­ho, as edi­toras irão entrar em con­ta­to com você, mas isso não impede que você pos­sa faz­er seu próprio mar­ket­ing.

Gos­to bas­tante de ler ficção, mas não ten­ho pre­ten­sões literárias ou tal­en­to sufi­ciente para escr­ev­er um con­to sobre uma cri­ança triste ou um mon­u­men­tal romance de quin­hen­tas pági­nas sobre o dra­ma de um homem que é impe­di­do de se fan­tasiar de banana. E muito menos sobre min­ha própria vida. É bom ter limites.

Con­fes­so que sin­to inve­ja de quem tem a habil­i­dade de cri­ar tra­mas, per­son­agens, sub­tex­to e o que mais se pre­cisa para escr­ev­er uma boa história, mas saber que você não leva jeito para coisa tam­bém é uma arte. Aceite.

Pen­so estar evi­tan­do com a min­ha ati­tude a der­ruba­da de inocentes árvores e pre­venin­do futuras ger­ações de ter o desagradáv­el con­ta­to com uma obra literária de min­ha auto­ria. E tam­bém evi­tan­do a ver­gonha que seria de ter o maior encal­he de livros jamais vis­to na Améri­ca Latina.

Bruno man­tém o tum­blr de entre­vis­tas Por­ta na Cara

Comments

One response to “Porta Na Cara: Deixe o ego fora da sua história”

  1. Juliana Bernardo Avatar
    Juliana Bernardo

    Bruno, eu acho que você leva jeito pra coisa.

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