Últimas em Literatura
Estrevista com Lau Siqueira, Vássia Silveira e Marilia Kubota
Cada homem é uma raça, de Mia Couto | Livro
Ferreira Gullar e Paulo Leminski, dois rivais em exílio | Ensaio
O valor da humanidade em Antonio Skármeta
Histórias Medonhas d’O Recife Assombrado, organização de Roberto Beltrão | Livro
Quem quer criar desordem?
O mistério das bolas de gude, de Gilberto Dimenstein | Livro
Olhar por trás de estantes
Boneco de Neve, de Jo Nesbø | Livro
Um homem que escreve jamais está só
Notícias
Corpo Ancestral de Maikon K, em Curitiba Ópera “Os Mestres Cantores de Nuremberg” e o Ballet Bolshoi “A Lenda do Amor” ao vivo Maratona de filmes da trilogia “O Hobbit” em dezembro na UCI UCI Cinemas exibe show “Queen Rock Montreal” em alta definição Exibição, ao vivo, de “O Barbeiro de Sevilha” na UCI Cinemas Combo Especial “Jogos Vorazes: A Esperança — Parte 1” Vendas antecipadas para o documentário “David Bowie Is”Mais Notícias »
Bloomsday
O dia 16 de junho é sempre uma data peculiar e comemorativa para a Literatura Mundial. Foi nesse dia, em 1904, que o personagem Leopold Bloom, do livro Ulysses, fez sua saga por todos os cantos de Dublin, na Irlanda. Meio século depois, em 1954, aconteceu a primeira Bloomsday, o dia em que é comemorado a data da ficção escrita por James Joyce, o homem que viria mudar os rumos da literatura contemporânea do século XX.
A Bloomsday — que recebeu esse título justamente para homenagear o protagonista da obra Ulysses — é um dia dedicado à leituras e toda infinidade de possíveis ideias para celebrar a obra de James Joyce. Há várias atitudes interessantes acontecendo pelo mundo afora nessa dia como por exemplo, uma leitura completa do livro em até 36 horas, dramatizações de trechos da odisséia do personagem e claro, como bons irlandeses, os fãs de Joyce se reunem para beber e comemorar a data sendo, inclusive, considerado feriado nacional. Ainda, há também o Museu James Joyce, em Dublin, conhecido por abrigar um variado número de atividades festivas na comemoração, sendo possível acompanhar algumas pelo site.
Ulysses é um dos romances mais comentado, pesquisado e é praticamente um ícone pop, mas de fato, pouco lido. Claro que vários empecilhos e mitos circundam a obra como por exemplo a dificuldade de realizar uma tradução definitiva. O uso da linguagem e escolhas narrativas de Joyce construíram um sem-número de lendas literárias que, querendo ou não, reforçaram a aura de intocável em torno da obra.
James Joyce foi o responsável por dar ínicio ao uso dos recursos modernos de ficção como a fragmentação, o discurso interior, a oscilação na voz do narrador e o uso de referências para a construção da narrativa. Ulysses é uma grande sátira sobre o clássico épico grego, uma transposição da odisséia para um homem comum e vivida num único dia em Dublin e claro, firmemente construída em camadas de linguagem para não facilitar a empreitada do leitor.
O tradutor e professor da Universidade Federal do Paraná Caetano Waldrigues Galindo é o responsável pela terceira tradução de Ulysses no Brasil e comenta que a obra é é de fato difícil num primeiro momento mas, de forma nenhuma, é uma leitura intransponível e desprazerosa .
Acompanhe o depoimento dele:
Por que Ulysses é, ao mesmo tempo, uma obra que encanta e é até mitológica, mas não tão lida? Como tradutor e estudioso, qual a experiência maior com essa obra de James Joyce e quais as marcas dela que a diferenciam da produção literária anterior?
Primeiro, há o fator mito. O fator culto. O livro criou uma reputação, primeiro como obra pornográfica e depois como obra incompreensível, duas marcas que tendem a tirar uma obra do grande domínio do cânone e colocá-la em um cercadinho de pervertidos/obcecados. No mundo de língua inglesa, isso começou a mudar com a publicação da edição Penguin, em 1969, que foi em grande medida responsável por tirar o livro desse limbo e colocá-lo à disposição de uma massa maior de leitores. No Brasil, apesar do trabalho dos irmãos Campos com o Finnegans Wake e de Antonio Houaiss com o Ulysses, apenas recentemente é que Joyce vem conseguindo chegar a mais gente.
Por que isso?
Primeiro, porque o livro é difícil mesmo. É preciso primeiro quebrar umas belas duas três camadas de asperezas pra encontrar, no entanto, um monte de prazer e de diversão. Mas as camadas estão lá. Segundo, porque aquelas coisas, do mito, do culto, são meio auto-reforçáveis, né? e tendem inclusive a agradar a certos leitores. Pra mim, no fundo, o que vale é o prazer. A beleza. O aprendizado mesmo. Que, como todo mundo sabe, pra tudo, vale mais quando custa mais pra ganhar.
Diferenças? O Ulysses é só (“só”?… é que o Finnegans Wake é, em certos sentidos, “mais”) um romance com anabolizantes. Ali está TUDO que está em todo romance de alto nível. Só que potencializado, intensificado, destilado, multiplicado. É quase como ler 18 romances fodões ao mesmo tempo. Em todos os sentidos. De técnica, de humor, de pathos, de tudo…
*acompanhe Caetano Galindo no twitter.
Compartilhar isto:
Todas as informações e opiniões publicadas no interrogAção não representam necessariamente a opinião do portal, e são de total responsabilidade dos seus respectivos autores.
Faça parte do interrogAção.