Escrever é ficar sozinha” — A escritora Marina Colasanti em Curitiba

nada na mangaNo dia 17 de março, a escrito­ra Mari­na Colas­an­ti encon­trou com mais de cem cri­anças, de 5 a 10 anos, na Bib­liote­ca Públi­ca do Paraná em Curiti­ba. Foi boni­to ver a platéia de cri­anças, falan­do, rindo, brin­can­do e aten­ta. Mari­na, aos 73 anos, con­segue falar a lín­gua delas. Não à toa, é auto­ra de mais de 50 livros, muitas histórias de fadas. Out­ras, crôni­cas, reporta­gens, poe­sia para cri­anças. Todos pare­cem ter em comum a ideia de ser histórias para cri­anças de todas as idades.

Durante o bate-papo, Mari­na Colas­an­ti ves­tia um tern­in­ho com saia e ficou em pé, mãos cruzadas à frente, para falar com as cri­anças. Uma pos­tu­ra boni­ta, despo­ja­da, de desarme e encan­to. Falou um pouco sobre ela, incluin­do a frase do títu­lo. E que escritor é profis­são de gente soz­in­ha, mas que nun­ca está só.

Lem­bro o primeiro livro que li de Mari­na Colas­an­ti, Nada na Man­ga. Desco­bri na Bib­liote­ca Públi­ca, orgul­hosa. Descon­heci­da pra mim, ela já escrevia crôni­cas para o Jor­nal do Brasil e tra­bal­ha­va na Revista Nova. Ain­da não sabia que era casa­da com o poeta Affon­so Romano de Sant´anna. Pelas crôni­cas, con­heci as fil­has, Alessan­dra e Fabiana.

Fique feliz em ler as crôni­cas de Mari­na. Que falavam sobre a solidão. Eu, aos 15 anos, me iden­ti­fi­ca­va com aque­la mul­her soz­in­ha, casa­da e com 2 fil­has. E me ini­ci­a­va na arte de ser sozinha.

Até hoje lem­bro as primeiras leituras. E tam­bém fiquei sat­is­fei­ta em encon­trar Mari­na Colas­an­ti, ao vivo, sem falar uma palavra com ela. Por que ela gos­ta de escr­ev­er e ensi­na que ser soz­in­ha pode ser diver­tido. Ler é uma aven­tu­ra, um encon­tro com a alma.

Durante anos busquei quem lesse os mes­mos livros que eu. Algu­mas vezes ain­da me ilu­do quan­do encon­tro um leitor. Me emo­ciono, quero pro­lon­gar a relação. Mas sei que não con­seguirei deixar de ser soz­in­ha. Cada um segue seu cam­in­ho. Se tiv­er tal­en­to e per­sistên­cia, pub­li­cará um livro para com­par­til­har suas leituras em público.

O Dalai Lama diz que exis­tem seis mil­hões de religiões no plan­e­ta para seis mil­hões de almas. Pou­cas seguirão soz­in­has, escritoras ou leitoras. Mari­na Colas­an­ti sabe o que é a lit­er­atu­ra. A feli­ci­dade que provo­ca, e não é pre­ciso sair de seu silên­cio. Tam­bém sabe que é bom com­par­til­har a alma. Por isto, talvez, a pos­tu­ra de meni­na leviana e com­por­ta­da, diante dum auditório reple­to de bor­bo­le­tas coloridas.

Tex­to pub­li­ca­do tam­bém no blog microp­o­lis, da própria auto­ra Mar­il­ia Kub­o­ta.


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