A Poesia talvez seja o gênero literário com mais facilidade de mutações, não se encaixando em definições até mesmo quando caracterizada como sonetos com regras de linguagem. Definir o que poderia se tornar poesia em palavras vai depender dos olhos atentos de quem traduz a visão em linguagem, ou seja, a poesia depende muito do que é visto e de como é criado o sentido da visão. E é pensando que a poesia é criadora de imagens transmutadas em sentido que a exposição LUZESCRITA, composta pelo trabalhos dos multiartistas Arnaldo Antunes, Fernando Laszlo e Walter Silveira, foi aberta hoje, dia 22 de março, e vai até o dia 19 de junho, no SESC Paço da Liberdade, em Curitiba.
Os artistas explicam que o projeto inicial pretendia ser um livro e talvez aí que residiu a dificuldade de escolher as 29 imagens para compor a exposição LUZESCRITA de uma forma mais resumida. O hibridismo entre eles foi o que criou uma poética que pode ser vista e sentida de várias formas e o trabalho dá muitos espaços para interpretações. Munidos de ideias e optantes em usar somente fotografia analógica aliada ao trabalho manual de produção, os artistas conceberam uma exposição que dá um primeiro passo do sentir que guiará uma lógica de compreensão. Segundo Arnaldo Antunes a poesia, e o trabalho com Arte em geral, não precisa ser entendido e sim sentido, deve ser causadora de sensação.
Ainda, contam que o processo de criação ocorreu de forma interessante e tranquila, já que todos bebem de muitas fontes no meio artístico. A fusão do verbo com a imagem é inevitável, afinal toda palavra possui um signo associado ao seu significado, o que dá sentido maior ao ver cada palavra escrita em luz e fotografada. As imagens são refletidas em olhares atentos que buscam respostas apresentadas de várias formas. O trio ainda teve o cuidado de criar uma bula da LUZESCRITA, uma espécie de descrição da atividade que compõe cada imagem incluindo a forma/processo, material utilizado e como se deu a revelação final. Os artistas explicam que a bula é também para orientar o leitor/espectador já que os trabalhos contemporâneos sempre tem um questionamento em torno da real significação que querem propor.
A exposição é divida em duas situações, uma é a Sala Clara, toda branca, que exibe o resultado do trabalho pronto, iniciado nos poemas se transformando em fotos. A outra é a Sala Escura, toda preta, que traz instalações de luz e palavras trazendo um pouco das experiências dos artistas na fase da produção das foto-poesias. Ainda, há duas instalações com experiência da palavra-imagem-luz-movimento que define todo o processo do estático da palavra criando vida através da imagem.
Nenhum outro momento poderia ser tão oportuno quanto a semana que se comemora o dia mundial da Poesia para se discutir o que de fato ela é. A produção contemporânea talvez seja a mais híbrida da história da Arte e Literatura, já que tudo anda junto refletindo o cotidiano miscigenado dos grandes centros. LUZESCRITA é ao mesmo tempo contemporânea por ousar mudar o foco da palavra no papel, mas também tradicional por valorizar o trabalho manual e a a produção em seu formato coletivo e original.
Exposição LUZESCRITA
Paço da Liberdade, Curitiba
Espaço das Artes
22/03 a 19/06
Toda terça-feira das 10h às 21h, sábado das 10h às 17h
Gratuito
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