Palestra: Mário Manga fala sobre trilhas sonoras na Cinemateca de Curitiba

Em épocas de indús­trias cin­e­matográ­fi­cas como a de Hol­ly­wood, em que o som e tril­has sono­ras musi­cais de filmes são mais um pro­du­to a ser ven­di­do, o silên­cio tam­bém é uma inqui­etação que não per­mite que o espec­ta­dor preste atenção na imagem. Sem­pre há um ques­tion­a­men­to aos filmes ori­en­tais e seu silên­cio per­tur­bador, ou ain­da, ao cin­e­ma europeu que faz uso exces­si­vo do som natural. 

A vibração que causa o som, mes­ma em sua ausên­cia, é impor­tante pois as ima­gens pedem som, e mes­mo com o silên­cio de vozes humanas, sem­pre haverá um ruí­do qual­quer. Até mes­mo quan­do o cin­e­ma era mudo, se usa­va som orquestra­do den­tro da sala. E com um pouco dessa idéia de sen­ti­do que o som dá para a pelícu­la que no dia 28 de janeiro, na Cin­e­mate­ca de Curiti­ba, o com­pos­i­tor, entre out­ros tal­en­tos, Mário Man­ga, que esteve em Curiti­ba min­is­tran­do a ofic­i­na de tril­ha sono­ra durante a 29ª Ofic­i­na de Músi­ca de Curiti­ba, falou sobre o proces­so de cri­ação e dire­ciona­men­to da tril­ha sono­ra de Reflexões de um Liq­uid­i­fi­cador (2010), de André Klotzel.

O lon­ga tra­ta da relação de uma sen­ho­ra que pas­sa a man­ter lon­gas con­ver­sas com seu vel­ho liq­uid­i­fi­cador que cor­re­sponde com ques­tion­a­men­tos exis­ten­cial­is­tas. O obje­to, com o tem­po, vai se tor­nan­do cúm­plice dessa mul­her. Reflexões de um Liq­uid­i­fi­cador é um filme de humor áci­do e de con­cepções aparente­mente sim­ples, e é na tril­ha sono­ra, e prin­ci­pal­mente, no uso de sons aparente­mente banais, como uma torneira pin­gan­do ou uma janela baten­do, que o filme cria cli­mas sen­sa­cionais ao espectador.

Mário Man­ga ini­cia a fala com a pre­mis­sa de que somente assistin­do com atenção ao lon­ga é que o espec­ta­dor vai enten­der todos os nuances da tril­ha sono­ra com­pos­ta jun­ta­mente com o dire­tor e edi­tor de som. O com­pos­i­tor diz que é fun­da­men­tal a relação mútua dos cri­adores para que a sonori­dade se encaixe. Claro que há pas­sos na cri­ação que cabe somente ao com­pos­i­tor, afi­nal mui­ta infor­mação em um proces­so musi­cal pode destoar e acabar agin­do mais que a imagem. O próprio Marce­lo afir­ma que a tril­ha sono­ra sem­pre está a serviço do filme, e não ao contrário.

No caso de Reflexões de um Liq­uid­i­fi­ca­dor a sonori­dade é essen­cial, cada pequeno som se encaixa com a tril­ha que Mário Man­ga orga­ni­zou. Ele expli­ca que André Klotzel pediu para que ele pen­sasse numa tril­ha que remetesse a sonori­dade dos anos 50 e 60 e que tivesse o ar de roman­tismo desse momen­to, então o com­pos­i­tor optou pelo uso de instru­men­tos de cor­da orquestra­dos para cri­ar os cli­mas oscilantes do lon­ga. Já o liq­uid­i­fi­cador, o grande pro­tag­o­nista, teve uma ded­i­cação maior, Mário diz que o dire­tor que­ria um som úni­co que car­ac­ter­i­zasse o vel­ho eletrodomés­ti­co, e depois de inúmeras pesquisas foi dei­ci­di­do que o som do asso­bio era ide­al para isso, além de ser o tema sonoro do longa.

Ain­da, Mário Man­ga expli­ca que no Brasil o proces­so difere bas­tante do mer­ca­do amer­i­cano, por exem­p­lo. Aqui o proces­so é mais lento e con­ta com pouco mate­r­i­al, tor­nan­do o tra­bal­ho do com­pos­i­tor mais adap­ta­do e não tão livre para cri­ar, o que pode se con­sid­er­ar um belo mila­gre o que o com­pos­i­tor fez com o lon­ga de Klotzel, que fun­ciona numa har­mo­nia muito inter­es­sante entre os ele­men­tos silên­cio, som e tril­ha musi­cal. Nesse aspec­to ele diz, em tom de brin­cadeira, que tudo tem som, inclu­sive o silên­cio e que isso deve ser lev­a­do em con­ta no proces­so de com­posição, jun­ta­mente com as pausas e neces­si­dades do desen­volvi­men­to narrativo.

O tra­bal­ho do com­pos­i­tor é pau­ta­do em assi­s­tir o filme inúmeras vezes até decidir que tipos de ele­men­tos cada cena pede. Mário Man­ga diz que não é um tra­bal­ho sim­ples e que tem que apren­der a lidar com exageros e aceitação de que, em muitos casos, o silên­cio é a mel­hor opção. Ain­da, expli­ca que primeira­mente tra­bal­ha com sam­plers de acor­do com os temas e aí sim vai par­tir para o estú­dio, onde haverá o proces­so de perce­ber se as exper­iên­cias funcionaram.

Não é difi­cil enten­der a importân­cia desse proces­so que Mário Man­ga fala tan­to, na história do cin­e­ma tem-se inúmeros filmes que fun­cionaram prin­ci­pal­mente pelas tril­has musi­cais e sono­ras bem exe­cu­tadas. Com­pos­i­tores como Clint Mansell, Dan­ny Elf­mann e Yann Tiersen são fiéis a vários dire­tores e tra­bal­ham num proces­so mági­co em favor da Diegese cin­e­matográ­fi­ca. Além de imagem, Cin­e­ma tam­bém é som e silêncio.

Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

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