Crítica: Cisne Negro

Se o primeiro mês do ano foi rec­hea­do de lança­men­tos medi­anos no cin­e­ma, o mes­mo não pode ser dito de Fevereiro que ini­ciou com o esper­a­do, mas atrasa­do no Brasil, Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010). O lon­ga é basea­do no Lago dos Cisnes do com­pos­i­tor rus­so Tchaikovsky, dirigi­do por Dar­ren Aronof­sky, que car­rega por si só o peso de ter feito obras sen­sa­cionais no cin­e­ma atu­al como Pi, Requiem Para um Son­ho, A Fonte da Vida e O Luta­dor.

Nina (Natal­ie Port­man) é uma baila­r­i­na ded­i­ca­da e mes­mo sendo uma das mel­hores, ain­da son­ha em ser per­fei­ta e chegar ao pata­mar de Beth (Wynona Rid­er), que está no fim de sua car­reira. O mun­do de Nina gira em torno do bal­let e de sua vida famil­iar com a mãe repres­so­ra e exi­gente. Ela son­ha que está dançan­do o clás­si­co Cisne Negro e aca­ba por rece­ber o papel prin­ci­pal de uma nova adap­tação deste que propõe que uma úni­ca baila­r­i­na faça o dual papel dos cisnes. Então, a doce e meiga Nina pas­sa a sofr­er a difi­cul­dade de lidar com os dois lados.

Em Cisne Negro todos os ele­men­tos são usa­dos a favor do dra­ma da bail­ia­ri­na. Por si só acred­i­ta-se que uma baila­r­i­na viva num mun­do de meigu­ice e del­i­cadeza, mas o roteiro mostra uma face de com­pet­i­tivi­dade que qual­quer esporte e ativi­dade traz. Sabe-se por alto o que grandes com­pan­hias como o Bol­shoi, da Rús­sia, pas­sa com treina­men­tos inten­sos e pressões na exe­cução de movi­men­tos per­feitos e Nina é mais uma garo­ta queren­do ser a mel­hor. Natal­ie Port­man impres­siona nesse papel, seus tre­jeitos mei­gos fun­cionam de uma for­ma ímpar, jun­ta­mente com Vin­cent Cas­sel, que está óti­mo no papel de Thomas, o exi­gente e sacana dire­tor da com­pan­hia, sendo um dos trun­fos do lon­ga jun­ta­mente com Bar­bara Her­shey, uma típi­ca mãe que ten­ta sanar suas frus­trações na filha.

Cisne Negro é o retorno aos vel­hos con­heci­dos per­son­agens de Aronof­sky que são muito apaixon­a­dos por suas situ­ações e lev­am até as últi­mas con­se­quên­cias a tão esper­a­da redenção em bus­ca da per­feição ali­a­da ao auto-con­hec­i­men­to. A per­son­agem de Natal­ie Port­man, assim como Randy do filme O Luta­dor, agar­ra com todas as forças a opor­tu­nidade que surge, crian­do a per­gun­ta de até que pon­to se deve ir para o alcance de uma meta? O dra­ma psi­cológi­co que o dire­tor con­strói é prati­ca­mente per­feito, se sente através da imagem cada detal­he da meta­mor­fose de Nina. Somos os espec­ta­dores em um lugar pre­vile­gia­do da platéia, a vemos de todos os ângu­los, pelos dois lados do Cisne, a ten­ta­ti­va de Nina ser o yin-yang do jogo. 

Diga-se de pas­sagem, são cenas de uma beleza imen­su­ráv­el, com uma fotografia de pou­ca luz ali­a­da a tril­ha sono­ra de tirar o folê­go. Aliás, esta é um ele­men­to fun­da­men­tal nos filmes do dire­tor amer­i­cano, elas sem­pre são elab­o­radas e/ou orga­ni­zadas pelo mul­ti-instru­men­tista Clint Mansell que cria cli­mas sen­sa­cionais nos lon­gas. Em Cisne Negro ele optou por adap­tações inter­res­santes de músi­ca clás­si­cas, prin­ci­pal­mente Tchaikovsky, mesclan­do com ele­men­tos con­tem­porâ­neos como uso de sin­te­ti­zadores em algu­mas situ­ações. A importân­cia da sonori­dade nos lon­gas de Aronof­sky parte um pouco da téc­ni­ca, já car­ac­ter­i­za­da por ele, denom­i­na­da de hip hop mon­tage, uma sequên­cia de ima­gens em alta veloci­dade mescla­da com tril­ha sono­ra, larga­mente usa­da em Requiem para um Son­ho, mas bem pouco em Cisne Negro.

Dar­ren Aronof­sky é for­ma­do em cin­e­ma em Har­vard e está longe de ser mais um dire­tor com um cur­rícu­lo mera­mente acadêmi­co. Ain­da em 1998 criou um esti­lo bem par­tic­u­lar com o cult Pi que já dava con­torno às car­ac­terís­ti­cas mar­cantes do dire­tor que embeleza as sagas e cam­in­hos de pes­soas comuns em bus­ca do auto-con­hec­i­men­to. Essa bus­ca de com­preen­são humana é apre­sen­ta­da através de histórias e dra­mas comuns mas com uma aura tão fan­tás­ti­ca que nen­hum per­son­agem é um mero obje­to fic­cional e sim uma peça que movi­men­ta o roteiro. 

Cisne Negro não decep­ciona, o filme impres­siona do ini­cio ao fim com incríveis atu­ações e uma fotografia em tons escuros transpon­do a saga angus­tiante de Nina. Em muitos momen­tos ele se apre­sen­ta como um aper­feiçoa­men­to de vários ele­men­tos de O Luta­dor, mas com méri­tos próprios. Cisne Negro é um filme que vale o ingres­so, ou inclu­sive, muitas idas ao cinema.

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Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=gH3ul7q8HLg

Comments

One response to “Crítica: Cisne Negro”

  1. Mai Avatar
    Mai

    Muito dig­no de ser vis­to várias vezes! É um pra­to cheio pra quem goste de obser­var questões psi­cológ­i­cas. É bem vis­cer­al, ador­ei isso no filme, não desviei a atenção da tela em nen­hum momen­to! Espero que a Natal­ie gan­he como mel­hor atriz, foi exce­lente (e Mila Kunis foi uma sur­pre­sa pela atu­ação tão sol­ta, leve).

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