Crítica: Tropa de Elite 2

O dire­tor José Padil­ha não tem medo de ousar, com um cur­rícu­lo con­tendo filmes que tratam da vio­lên­cia da cidade do Rio de Janeiro, e mais uma vez, chega para acer­tar no cerne da feri­da de todo um país. O aguarda­do Tropa de Elite 2 – O inimi­go ago­ra é out­ro (Brasil, 2010) vem em um perío­do bem a cal­har, mostran­do que o prob­le­ma do trá­fi­co não nasce de den­tro das favelas.

Tropa de Elite 2 traz o Capitão Nasci­men­to (Wag­n­er Moura) que após mais de 10 anos ded­i­ca­dos ao BOPE, por con­ta de uma morte em rebe­lião no presí­dio de Ban­gu I, pas­sa a ser Sub Secretário de Segu­rança do Rio de Janeiro. Com­preen­den­do que essa subi­da de car­go é uma manobra políti­ca, ele con­tin­ua acred­i­tan­do que nes­sa posição con­tin­uará for­t­ale­cen­do o BOPE, mas se dá con­ta que dessa vez o inimi­go vem dos altos car­gos do poder, e que real­mente, o bura­co é mais embaixo.

O destaque de Tropa de Elite 2 são os con­tornos em que o enre­do tomou após toda a con­tro­ver­sa apolo­gia à vio­lên­cia em relação da polí­cia com o trá­fi­co nas fave­las do primeiro Tropa de Elite. Nesse momen­to, o per­son­agem de Wag­n­er Moura se dá con­ta que o sis­tema é que é a cabeça-pen­sante de todo o esque­ma de cor­rupção que chega através do trá­fi­co e do prob­le­ma recor­rente nas fave­las do país: a ação imi­nente das milí­cias agin­do como gru­pos de poder e exter­mínio den­tro das fave­las. O tripé política/mídia/corrupção é a base do roteiro que soma­do com uma óti­ma pro­dução de arte e efeitos espe­ci­ais, cria um cli­ma extrema­mente realista.

As atu­ações em Tropa de Elite 2, mais uma vez, não deix­am a dese­jar. Wag­n­er Moura retor­na como um Capitão Nasci­men­to mais envel­he­ci­do, expe­ri­ente e com um olhar que beira ao extremo do niil­is­mo. Ele não está ali somente para matar, como em Tropa de Elite, e sim para lutar con­tra todo um sis­tema. Out­ras duas atu­ações de destaque são as do bem cota­do Irand­hir San­tos como o pro­fes­sor Fra­ga, e San­dro Rocha, inter­pre­tan­do o cor­rup­to poli­cial Russo.

José Padil­ha acer­ta nes­sa sequên­cia por tirar o foco no anti-human­is­mo do Capitão Nasci­men­to e traz­er a tona uma situ­ação de âmbito nacional. Isso tudo com um humor negro e real­is­mo de inco­modar o espec­ta­dor, me lem­bran­do muito o filme Amem do dire­tor grego Cos­ta-Gravas. Os efeitos espe­ci­ais estão bem ao esti­lo amer­i­cano de se faz­er ação, e mes­mo que em Tropa de Elite 2 tudo transcor­ra com mais mod­er­ação, em relação ao primeiro filme, em nen­hum momen­to deixa de causar o mes­mo efeito de indig­nação, impos­si­bil­i­tan­do o espec­ta­dor a ficar alheio das situações.

Em épocas de Ficha Limpa e eleições em que o deses­pero dos can­didatos parece pre­dom­i­nar, Tropa de Elite 2 chega para deses­ta­bi­lizar o espec­ta­dor que vai às salas de cin­e­ma. Mes­mo que o filme mostre no íni­cio um avi­so de que é uma obra de ficção, ape­sar de ser muito pare­ci­do com a real­i­dade, é impos­sív­el não sair da sala de cin­e­ma com um sen­ti­men­to de fal­ta de dev­er cumpri­do e que no Brasil, ou você desafia o sis­tema, ou ele engole você.

Out­ras críti­cas interessantes:

Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=rfKRvqTvTuo

Comments

2 responses to “Crítica: Tropa de Elite 2”

  1. This Lonely Crowd Avatar

    Óti­ma críti­ca, Emanuela. Tropa 2 é um filme 5 estre­las com certeza, e, assim como o primeiro, dá uma dor de cabeça des­graça­da (no bom sen­ti­do). Ago­ra é torcer pro Spiel­berg dis­tribuir pra valer o filme nos EUA. Abração!

  2. Nicolly Avatar
    Nicolly

    Esse filme é muito bom!
    Dá pra perce­ber no olhar frag­iliza­do do Capitão, des­de o começo do filme, que cada vez mais ele se sente descon­fortáv­el. E o que diz­er sobre a exposição da real­i­dade em relação ao val­or da vida em cer­tas situ­ações? Lev­ou um tiro, mor­reu. Não impor­ta se você sabe de algo, se você já fez algo mar­cante. Ressalto que a tril­ha sono­ra faz parte de man­ter o envolvi­men­to. Não há quem não estremeça ao ver a ban­deira do Brasil com um fun­do musi­cal marcante!

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