Lee Kang-shen é discípulo/protegido do cineasta Tsai Ming Liang (mais conhecido aqui por ter dirigido O Sabor da Melancia – um de seus trabalhos mais fracos, aliás), tendo aparecido em todos os filmes do mesmo. Devido a isto, não é de se estranhar semelhanças e influências de Tsai nesta segunda incursão de Lee à direção, Help Me Eros (Bang bang wo ai shen, Taiwan, 2007), como as tomadas longas e estáticas e, mais evidente, a experimentação com a sexualidade dos personagens.
Como é comum nesse tipo de cinema avant garde asiático, em momento algum somos introduzidos com clareza aos personagens e somos forçados a “deduzir” o papel de cada um dentro da história. Jie (interpretado pelo próprio Lee) é um recém-demitido negociante da bolsa de valores falido, que cuida de sua plantação caseira de cannabis, vende os objetos da casa para se sustentar e liga para uma espécie de Centro de Valorização da Vida taiwanês, onde é comumente atendido por Chyi. Jie anseia por mais contato com Chyi, idealizando a mulher de seus sonhos, enquanto Chyi, complexada por causa de seu peso, apesar de demonstrar certos sentimentos por Jie, tenta evitar o contato real.
E Shin, a outra personagem central da história, é uma vendedora de nozes e cigarros que trabalha seminua em um quiosque em frente ao apartamento de Jie (aparentemente, é uma profissão tradicional em Taiwan e as moças são chamadas de betel nut beauties). Shin e Jie se envolvem e sua primeira noite juntos culmina em uma absurda cena de sexo (que acabou se tornando a imagem mais conhecida do Help Me Eros), bem à escola de Tsai Ming Liang.
Mais cenas absurdas se sucedem, até sermos melhor apresentados à Chyi, aos problemas que ela enfrenta em seu casamento e às razões que a levaram a engordar. Certa cena dela em uma banheira, sobre os seus problemas consigo mesma, acabou se tornando icônica, de tão interessante que ficou.
Help Me Eros termina da forma como se mostrou o tempo todo: inconclusivo. Definitivamente, um filme de difícil digestão. O trabalho de Lee na direção é inegavelmente competente, o que fica evidente na linda cena que fecha o filme. Apesar do diretor ainda necessitar buscar uma identidade própria, seus personagens são convincentes em suas aparentes superficialidades, conformados com suas vidas miseráveis.
Mas, mesmo para os acostumados aos exercícios do bizarro comuns ao cinema asiático, a sensação que fica após Help Me Eros é, como o filme, inconclusiva. Não há indicações concretas de quais serão os destinos dos principais personagens, sequer há indicações concretas do que realmente aconteceu com os mesmos. E não sabemos o que mais podemos extrair.
É realmente difícil determinar se assistir a Help Me Eros é uma experiência boa ou ruim, mas, sem dúvida, é válida.
Trailer:
httpv://www.youtube.com/watch?v=Zg0ib1ryCl4
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