Crítica: Olhos Azuis

olhos azuis

Olhos Azuis (Brasil, 2010), de José Joffi­ly, é uma pro­dução bem difer­ente das out­ras já feitas no cin­e­ma nacional. Abor­dan­do temas como vio­lên­cia e pre­con­ceitos, mas sem o típi­co cenário (para não diz­er bati­do) favela/prisão, ele é um óti­mo thriller psi­cológi­co, gênero ain­da raro por aqui.

Mar­shall (David Rasche) está no seu últi­mo dia de tra­bal­ho como chefe da imi­gração do Aero­por­to de JFK, de Nova Iorque, e pre­cisa escol­her um sub­sti­tu­to para seu car­go. Afim de pas­sar uma últi­ma lição a seus sub­or­di­na­dos, assim como testá-los para saber quem pode­ria estar mais apto a sua sub­sti­tu­ição, decide exager­ar um pouco mais no seu proces­so de seleção de quem vai poder ou não entrar no “paraí­so” amer­i­cano. Nona­to (Irand­hir San­tos), é um brasileiro rad­i­ca­do nos EUA, aca­ba sendo o alvo prin­ci­pal de Mar­shall, em uma luta entre “olhos azuis” e “olhos negros”, que não poderá acabar muito bem para um dos dois.

É difí­cil não ficar inco­moda­do com as situ­ações apre­sen­tadas em Olhos Azuis. Quem já sofreu (alguém por aca­so não?) qual­quer tipo de dis­crim­i­nação pela ignorân­cia de uma pes­soa a respeito de algu­ma coisa, sabe muito bem do que se tra­ta. O inter­es­sante é que o filme abor­da o pre­con­ceito de ambos os lados, onde não há uma úni­ca ver­dade. Mas a grande per­gun­ta que fica é: estaria esse pre­con­ceito (o xeno­fo­bis­mo, neste caso em par­tic­u­lar) geran­do mais pre­con­ceito? Como seria pos­sív­el con­frontar argu­men­tos pura­mente irra­cionais de out­ra pes­soa? Como evi­tar que não ocor­ra esse proces­so de retroalimentação?

O filme teve como inspi­ração o doc­u­men­tário Blue Eyes, de Jane Elliot, uma fil­magem de um exper­i­men­to feito por uma ped­a­goga amer­i­cana que con­duz situ­ações ger­ado­ras de pre­con­ceitos irra­cionais (algum não é?) entre seus par­tic­i­pantes. Só que des­ta vez inver­tendo os papéis, as víti­mas são os “olhos azuis” e não os “olhos negros”. Com isso ela pre­tende mostrar, tan­to para eles quan­to para quem assiste, como que com peque­nas atitudes/gestos somos pre­con­ceitu­osos em relação os out­ros, e que todo mun­do tem sua parcela de pre­con­ceitos, mes­mo sem perce­ber muitas vezes. É um mate­r­i­al muito inter­es­sante para qual­quer um que se inter­esse pelo assun­to, o recomen­do muito.

Toda a mon­tagem de Olhos Azuis é muito bem fei­ta, alter­nan­do sem­pre entre momen­tos de ten­são e out­ros mais tran­qui­los, que ape­sar de darem um pouco de espaço para res­pi­rar ain­da assim não con­seguem aliviar em nada toda aque­la car­ga emo­cional que vai se acu­mu­lan­do cada vez mais, que con­tin­ua pre­sente até mes­mo depois do fim do filme. A história é exibi­da total­mente alter­na­da, por muito tem­po não se sabe o que é pas­sa­do ou pre­sente e ape­sar de já ter des­de o começo uma idéia de um final trági­co, é difí­cil saber exata­mente o que vai acon­te­cer até o últi­mo momen­to do filme.

O elen­co tam­bém foi muito bem escol­hi­do, se pre­zou por encon­trar atores que tivessem a mes­ma nacional­i­dade do seu per­son­agem, resul­tan­do em uma grande sen­sação de real­is­mo per­ante as telas. O con­venci­men­to da tra­ma, e dos per­son­agens prin­ci­pal­mente, cos­tu­ma ser um dos maiores prob­le­mas no out­ros filmes do mes­mo gênero pro­duzi­dos nacional­mente. Nor­mal­mente fica algo ou exager­a­do demais, as vezes tan­to que fica até patéti­co, ou vazio demais, as coisas vão acon­te­cen­do e você não se envolve emo­cional­mente com nada. Por con­ta dess­es motivos acred­i­to que Olhos Azuis, é um grande difer­en­cial para a pro­dução brasileira.

Em Hotel Ruan­da, de Ter­ry George, um per­son­agem reflete sobre as ima­gens de genocí­dio exibindo a guer­ra nos noti­ciários de out­ros país­es, onde as pes­soas ao ver as ima­gens ficavam chocadas por alguns segun­dos, mas depois con­tin­u­avam cal­ma­mente a com­er a sua jan­ta, como se nada tivesse acon­te­ci­do. Acred­i­to a mudança de ati­tude em relação à um assun­to cabe a cada pes­soa. Com Olhos Azuis, a mes­ma situ­ação pode se repe­tir após o final do mes­mo, se uma ver­dadeira mudança não for almejada.

O filme, assim como o doc­u­men­tário no qual foi basea­do, pos­sui um mate­r­i­al muito rico para se abor­dar questões a respeito do pre­con­ceito, patri­o­tismo e tam­bém políti­ca, mas sem cair em moralizações.

Out­ra críti­cas interessantes:

Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=ZybTJVGxF6Q


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