Crítica: Alice no País das Maravilhas

alice no país das maravilhas

Alice no País das Mar­avil­has (Alice in Won­der­land, EUA, 2010) é cer­ta­mente um dos filmes mais esper­a­dos do começo do ano. Não somente pelo fato de Tim Bur­ton ter dirigi­do o filme, o que em si já lev­an­ta as orel­has de mil­hões de fãs/seguidores/apreciadores, mas tam­bém por ele ser basea­do em dois “con­tro­ver­sos” livros de Lewis Car­roll (“As Aven­turas de Alice nos País das Mar­avil­has” e “Alice Através do Espel­ho”).

É inter­es­sante deixar já bem claro no começo: Alice no País das Mar­avil­has não é nem um livro, nem o out­ro. Muito menos ape­nas a junção de ele­men­tos dos dois. O filme é uma releitu­ra das duas histórias, e de difer­entes ver­sões já feitas por out­ras pes­soas, pelo Tim Bur­ton. Que tam­bém é bem difer­ente do desen­ho lança­do em 1951 pela Dis­ney. Ou seja, quan­do você for assistí-lo, tente ir sem qual­quer tipo de pré-con­ceitos/­ex­pec­ta­ti­vas em relação a ess­es ele­men­tos (e con­fes­so que não foi muito fácil faz­er isso. Algu­mas vezes perce­bi que fiquei na expec­ta­ti­va de ver uma “remon­tagem” de algo que eu já conhecia).

A releitu­ra está bem inter­es­sante, ape­sar de ter cau­sa­do ini­cial­mente um grande estran­hamen­to. Além de um ar mais sério e adul­to, assim como O Labir­in­to do Fauno, de Guiller­mo Del Toro, tudo é muito som­brio e melancóli­co, beiran­do total­mente o góti­co, car­ac­terís­ti­ca chave do próprio dire­tor. Esti­lo que reme­teu á uma ver­são de “Imag­ine”, de John Lennon, fei­ta pela ban­da A Per­fect Cir­cle, onde o tom de alegria/diversão foi total­mente trans­for­ma­do em tristeza/angústia.

Nes­ta ver­são, Alice (Mia Wasikows­ka) fez 19 anos e está procu­ran­do por sua própria iden­ti­dade, não queren­do se con­for­mar e seguir a vida bur­gue­sa que querem lhe impor a todo cus­to. Alice no País das Mar­avil­has é sobre a descober­ta de si mes­mo, do eu inte­ri­or, que muitas vezes aca­ba sendo esquecido/ignorado dev­i­do à “vida adul­ta”. E, assim como no cur­ta A Gra­va­ta, de Ale­jan­dro Jodor­owsky, obe­de­cer aos dese­jos de uma out­ra pes­soa para sat­is­faz­er as suas próprias neces­si­dades, tor­na-se uma bus­ca total­mente vazia, sem sen­ti­do. Tudo isso acon­te­cen­do em um mun­do tam­bém total­mente sur­re­al­ista, cheio de pequenos detal­h­es e sim­bolo­gias, com per­son­agens total­mente inusi­ta­dos e car­i­catos. Que, aliás, é um fator mar­cante nos livros de Car­roll. E como muitos proces­sos des­ta bus­ca, ele tor­na-se uma ver­dadeira jor­na­da de uma saga de um herói que, neste caso, é a própria Alice. (quem quis­er se apro­fun­dar neste assun­to, recomen­do assi­s­tir o episó­dio “A saga do Herói” do documentário/entrevista O poder do mito, com Joseph Camp­bell)

Tim Bur­ton con­seguiu de maneira extra­ordinária traz­er todo o seu mun­do do stop-motion para a “real­i­dade”, em Alice no País das Mar­avil­has. Você fica eston­tea­do ven­do toda a riqueza dos detal­h­es não só dos cenário, mas dos per­son­agens em si. Mes­mo os mais excên­tri­cos e bizarros, não pare­cem tão dis­tantes do que você pode­ria encon­trar em um lugar mais exóti­co. Prin­ci­pal­mente através da óti­ma inter­pre­tação do Chapeleiro Malu­co (John­ny Depp) e da Rain­ha Ver­mel­ha (Hele­na Bon­ham Carter) que, ape­sar de serem per­son­agens de cer­ta for­ma secundários, se desta­cam bas­tante. Tudo é tão bem encaix­a­do que todos ess­es ele­men­tos sim­ples­mente pare­cem nat­u­rais. E, segun­do o próprio filme, tudo que é impos­sív­el tor­na-se pos­sív­el no Under­land (assim que é chama­do o “mun­do” onde Alice vai parar). Sem con­trar na bela tril­ha sono­ra pro­duzi­da por Dan­ny Elf­man, que cria uma imer­são ain­da maior, sem ser em nen­hum momen­to apel­a­ti­va e “arti­fi­cial”.

Muito se tem crit­i­ca­do a adap­tação de Alice no País das Mar­avil­has para 3D, e eu con­cor­do que este aspec­to ficou bem fra­co. O efeito é bas­tante sutil, sem nada pulan­do para “cima” de você, focan­do prin­ci­pal­mente nos ele­men­tos do cenário em si. Mas as vezes, apare­cem um ou out­ro ele­men­to que foi forçosa­mente (leia-se: gam­biar­ra mes­mo) trans­for­ma­do em 3D. Então, se você assistí-lo em 2D, sai­ba que não está per­den­do mui­ta coisa.

Assi­s­tir ele no Cin­e­mark 3D do Muller, em Curiti­ba, me cau­sou mui­ta dor de cabeça. Esta é a segun­da vez que fui assi­s­tir um filme lá e, da out­ra vez acon­te­ceu a mes­ma coisa. Além de mim, uma ami­ga tam­bém teve o mes­mo prob­le­ma. Mais alguém sen­tiu isso tam­bém após ver algum filme 3D lá?

Só uma coisa ain­da ficou marte­lando na min­ha cabeça. Afi­nal, alguém sabe “Por que um cor­vo se parece com uma escrivan­in­ha”?

Esta críti­ca tam­bém foi pub­li­ca­da no site da Revista Movie.

Out­ra críti­cas interessantes:

Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=R7ygoQRaWYY


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